Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

02/08/2015

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA:«O horizonte cor de rosa»


«O novo cartaz da pré-campanha eleitoral do Partido Socialista parece inspirado na melhor estética da revolução cultural maoísta ou, indo mais atrás, no "realismo socialista" da era soviética. O cartaz retrata uma jovem com ar sonhador a puxar uma cortina que, por um lado, tapa um céu carregado de nuvens negras e, por outro, abre para um sol radioso em fundo de céu azul. 

A frase inscrita neste amanhecer maravilhoso tem igual inspiração: "É Tempo de Esperança". Podia ser "o horizonte é cor de rosa" (adaptação do maoísta "o horizonte é vermelho"), mas ficou mais próximo dos "amanhãs que cantam", surripiada ao Partido Comunista. Em qualquer caso, o que lá está é todo um programa. Um passado tormentoso, em que o Partido Socialista não se revê, um futuro de felicidade, que o Partido Socialista antecipa.

Este cartaz não é só propaganda, o que já seria irónico. É o PS. Um partido que, para usar a imagem deste simbólico cartaz, passa pela tempestade dos últimos quatro anos e aparece no final sem um pingo de chuva no fato. Um partido que esteve na origem da bancarrota e passou por ela a assobiar para o ar, como se nada tivesse a ver com isso.

Um partido que assina um memorando com os credores e levou os anos seguintes a criticar muitas das medidas que ele próprio assinou. Um partido que chega às eleições de outubro insistindo que foi a reprovação do PEC 4 que nos trouxe a troika. Que era possível mudar sem austeridade. Que alimenta a ilusão que tudo estaria melhor sem cortes. Que era possível passar por esta crise sem dor. Ou seja, o Partido Socialista pretende chegar às eleições imaculado, sem qualquer vestígio de culpa nas tormentas que os portugueses foram obrigados a viver nos últimos quatro anos. Isto não é só propaganda. É política, mas não da melhor.

Se omitir o passado já é mau; enganar sobre o futuro é bem pior. É verdade que há um raio de sol a espreitar entre as nuvens negras. Daí a garantir que a partir de outubro, qualquer que seja o resultado eleitoral, o sol brilhará para todos vai uma longa distância. A mesma que separa o PS do seu passado. Infelizmente não será assim. Em Portugal, na Europa e, já agora, no mundo. O futuro continua a ser incerto e as dificuldades tremendas. Dizer o contrário e prometer o contrário é, pura e simplesmente, mentir.

O Partido Socialista bem pode tentar que a cortina que se fecha esconda também o seu passado. Mas não é possível apagar o passado. O PS e António Costa teriam andado bem melhor se tivessem resistido à tentação de tomar os portugueses por tontinhos, por puro taticismo político.
»

Luís Marques no Expresso

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece que estão (ou vão) retirar os cartazes, tantas bocas foram as nas "redes sociais".
Tal como com o leão.