Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/01/2020

Estado empreendedor (108) - o aeroporto que só abria, abre ou abrirá aos domingos (12) - Encontrou a sua vocação

[Continuação de outras aterragens: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui]

Recapitulação

Ao princípio era o verbo do Eng. José Sócrates: mais de um milhão de passageiros até 2015 e o investimento seria recuperado nos 10 anos seguintes. Era o multiplicador socialista a funcionar de acordo com o estudo «Plano Regional de Inovação do Alentejo» da autoria de Augusto Mateus, um ex-ministro socialista da Economia do 1.º governo de Guterres. Segundo o estudo, o aeroporto de Beja iria constituir uma «plataforma logística para a carga a receber e a expedir de/para a América e África, incluído o transporte de peixe, utilizando aviões de grande porte e executando em Beja o transhipment para aviões menores para a ligação com os aeroportos europeus».

Passados onze anos e depois de imensos projectos de inspiração evangélico-socialista do tipo se o construímos eles virão, o aeroporto de Beja pode ter descoberto a sua vocação.


Ontem, quinta-feira, um Airbus A380 de grande porte partiu do aeroporto de Beja para Wuhan, na China, para repatriar 17 portugueses de um total de 350 europeus em risco de serem contaminados com o coronavírus e que irão ser transbordados para os respectivos países. Lá está a visão premonitória do Dr. Mateus, trocando o peixe por repatriados: «transporte de peixe, utilizando aviões de grande porte e executando em Beja o transhipment para aviões menores para a ligação com os aeroportos europeus».

Dúvidas (287) – Irá o Brexit consumar-se? (XVIII) - Done

Spectator

Não sei se o Brexit tem benefícios líquidos para a Reino Unido, sobretudo resultados económicos líquidos positivos, mas não vale a pena discutir porque o povo britânico já falou nas urnas. Se tenho dúvidas quanto ao Reino Unido, não as tenho no caso da União Europeia que perde uma voz liberal nos campos económico, político e social que foi o contraponto ao intervencionismo dirigista continental.

30/01/2020

"Eleições faz de conta" continuam a premiar e a punir os mesmos

Negócios

Em relação às sondagens do mês passado que comentei aqui não se verificaram alterações significativas. É mais do mesmo. O PS continua a cair poucochinho, o PS-D de Rio continua a coxear devagarinho atrás do PS, o Floco de Esquerda a facturar as pusilanimidades socialistas, o PCP a aproximar-se do museu arqueológico, o Chega a capitalizar a alergia dos eleitores à paranóia das causas fracturantes, o PAN parece estar a esgotar o stock dos amigos dos animais, o IL também parece estar a esgotar o stock liberal, o CDS a caminhar cada vez mais depressa para o partido não já do táxi mas da trotinete e o Livre parece estar a capitalizar a vitimização da Dr.ª Joaquina.

CASE STUDY: O falhanço do feminismo como engenharia social

Com base nos inquéritos do PISA, a OCDE publicou um estudo sobre as aspirações de carreira profissional dos adolescentes de onde extraí o quadro seguinte.

Dream Jobs? Teenagers' Career Aspirations and the Future of Work

Este quadro mostra-nos duas coisas: (1) em dezoito anos as preferências dos adolescentes mantiveram-se relativamente estáveis, mais nos rapazes do que nas raparigas e (2) como sabe qualquer pessoa não contaminada pelas ideologias da identidade de género e do politicamente correcto, as preferências dos sexos continuam perfeitamente diferenciadas, apesar da imersão num ambiente escolar e social onde se pretende moldar as meninges dos jovens à medida dessas ideologias.

29/01/2020

Um dia como os outros na vida do estado sucial (42) - Estamos preparados para o pior, não estamos é preparados para o normal

Expresso

Um dia como os outros na vida do estado sucial (41) - Mudar de nome no Portugal dos Pequeninos

Era uma vez um rapaz farto do nome que lhe tinham prantado. Desde pequenote, na escola e em todo o lado, quando o chamavam pelo nome todos se riam.

Quando fez 18 anos tomou uma decisão: vou mudar de nome, disse para si próprio. No dia seguinte dirigiu-se ao registo civil, tirou a senha e aguardou pacientemente na fila que dava a volta ao quarteirão.

- O que é preciso para mudar o nome -  perguntou quando chegou a sua vez ao funcionário que falava distraidamente com o colega do lado sobre a próxima greve.

- Não se pode mudar o nome a não ser por casamento ou por o pai ou a mãe o terem reconhecido depois do registo do nascimento - respondeu com maus modos o funcionário, enquanto tirava cera do ouvido com o dedo mínimo e limpava a unha com um canivete suíço.

- Mas eu tenho um nome horrível. Toda a gente goza comigo - disse atormentado e com lágrimas nos olhos.

- Não pode mudar e se pudesse mudar teria de pagar os emolumentos - esclareceu o funcionário, enquanto extraía um macaco do nariz.

- E quanto seria? - perguntou desconsolado o rapaz.

- Duzentos euros - disse, enquanto perguntava a si próprio quando é que o miúdo se iria embora para ir aos sanitários fumar um charro.

- Pronto, desisto. Já percebi que tenho de ficar com este nome horrível.

- Ah, também pode mudar o nome se mudar de sexo e até li no jornal que vai ser grátis - acrescentou o funcionário, perguntando - afinal qual é mesmo o seu nome?

- João Penetra Murcho - respondeu com um soluço,

- OK, percebo-o. E o novo nome seria João quê? - perguntou, condoído pelo desgosto do rapaz.

-  Não seria João. Seria Pedro. Penetra Murcho é de família.

28/01/2020

ACREDITE SE QUISER: Luanda Leaks made in Luanda. Se non è vero, è ben trovato

«Manuel Vicente, é o maior rico entre todos os ricos angolanos, vence Isabel dos Santos e todos os demais bilionários que em Angola se acham. Manuel Vicente é o imenso craque do Luanda Leaks», garante o jornal online ANGOLA24HORAS, explicando que «o projecto do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação que colocou de rastos a figura internacional de Isabel dos Santos foi premeditado por Manuel Vicente».

Eu não garanto nada e até desconfio do tom encomiástico da peça que cheira a higienização da folha da Sr.ª Eng. Dos Santos, a Princesa Isabel. Ainda assim, dado o contexto da luta entre cleptocratas, nunca se sabe.

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (97) - Não tem emenda

Outras preces


Só um marciano recém-chegado ao planeta poderia esperar que S. Ex.ª guardasse de Conrado o prudente silêncio sobre a encenada e estrondosa queda em desgraça da Eng.ª Isabel dos Santos, a Princesa, queda que compromete as elites políticas e económicas do Portugal dos Pequeninos, incluindo S. Ex.ª, que ainda recentemente fez de midlleman nos acordos para a empresária trocar a sua participação no BPI por outra do BCP,

E foi assim que S. Ex.ª só desiludiu o marciano quando, regressado do estrangeiro - o que proporcionaria a alguém dotado de prudência e gravitas o pretexto para não responder -  falou pelos cotovelos sobre o caso, concluindo que «que não há razão para nem a economia nesses setores, nem os trabalhadores, nem os que têm a ver com as empresas, fornecedores ou clientes, estarem preocupados com isso».

Sabendo-se que o «isso», na situação de descapitalização em que se encontra o país, poderá representar mais um passo para transferir participações estratégicas de cleptrocratas actualmente politicamente inócuos para as mãos de uma nomenclatura chinesa ao serviço de uma potência hegemónica em rota de colisão com a aliança de que Portugal faz parte, «isso» dá uma ideia do pensamento estratégico de S. Ex.ª e, já agora, do seu patriotismo.

27/01/2020

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Ou, melhor, tiraram-me

Mal acabei de ler o artigo de opinião "Um terço da Suécia" de Sérgio Sousa Pinto no Expresso de sábado (sem link disponível)  resolvi digitalizá-lo com reconhecimento de caracteres para o publicar hoje como texto aqui no (Im)pertinências, e não sábado quando o digitalizei - por regra difiro a publicação do publicado.  Poderia subscrever quase tudo e vindo de um socialista (com um passado de causas fracturantes é certo) mereceria uma transcrição completa.

Porém, se Sousa Pinto me tirou palavras da boca, Bernardo Blanco de O Insurgente tirou-me o post do blog porque resolveu ele próprio, e bem, publicá-lo hoje aqui. Ainda assim, não resisto a citar a parte mais lúcida e crítica do socialismo provinciano dominante no Portugal dos Pequeninos. Aqui vai à guisa de teaser:

«Ora, em 2020 ainda se encontram socialistas que falam do sector privado como sector dos “negócios” com um esgar de repulsa. O sector público, instituído em nome do bem geral, é ontologicamente superior ao mundo dos negócios, da cobiça, da acumulação e da exploração. Nesta mundivisão, o atraso português deixa de existir e é substituído pelo atraso “nos direitos” dos portugueses face aos outros povos com os quais (felizmente) persistimos em comparar-nos. A diferença é toda. O progresso nos “direitos”, espalhafatosamente materializado em conquistas cada vez mais simbólicas ou pífias, num cortejo de bombos e cantigas de embalar, carece de recursos, a obter, forçosamente, “onde se estão a acumular”.

As classes médias cada vez gozam de mais “direitos” e subsidiações, para (alegadamente) acederem a bens e serviços que noutros países pagam tranquilamente do seu bolso, porque a punção fiscal é menos esmagadora. A fantasia dos “direitos” domina a boca de cena, e a política — da extrema-esquerda à extrema-direita — é uma grande feira de “direitos”, propostos por demagogos de todas as persuasões. Cada vez mais distante está o problema do atraso português, “the sick man of Europe” da Europa Ocidental, agora disfarçado pela chegada à União Europeia de países muito mais pobres e muito mais martirizados pela história

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (16)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Isabel? Isabel quê? Não conhecemos

«Permissão para entrar no BCP foi dada pelo primeiro-ministro António Costa, numa reunião com a empresária» (fonte), em troca, recordemos, da saída do BPI imposta pelo BCE.

Quem também mal deve conhecer a Princesa é o Dr. Teixeira dos Santos em cujo currículo se conta: (1) a nomeação para a Caixa da dupla de amigos e factótuns do Eng. Sócrates, Caixa que financiou a compra de acções do BCP e factótuns que a seguir para lá se trasladaram; (2) ter sido em 2008 o pior dos 19 ministros das Finanças da Zona Euro; (3) ter batido os recordes do défice orçamental e do défice de memória; (4) ter nacionalizado o BPN que era para não ter custado nada e o nada já vai em vários milhares de milhões; (5) por uma improbabilíssima coincidência, é hoje o presidente do EuroBic que comprou a parte sobrante do BPN, depois de expurgado dos activos tóxicos doados aos contribuintes; e (6) o EuroBic, por outra improbabilíssima coincidência, serviu para a Princesa movimentar as suas poupanças que já vêm do tempo em que vendia ovos. Tudo isso explica que o BdP não esteja a reavaliar a idoneidade do Dr. Teixeira dos Santos, com toda a razão porque o seu presente não acrescenta muito ao seu passado.

Porém, ainda que a conhecessem como poderiam saber? É certo que uma revista internacional em 2013 já tinha publicado o artigo «Daddy's Girl: How An African 'Princess' Banked $3 Billion In A Country Living On $2 A Day», mas quem é que, ocupado com a leitura da imprensa amiga do regime, tem tempo para ler a Forbes?

Entretanto, a Eng. Isabel, aborrecida com toda a confusão sobre como conseguiu chegar da meia dúzia de ovos até às 400 empresas e aos 2 mil milhões de euros de património, está a vender as suas empresas a "empresários" que, por acaso, também têm provavelmente a qualidade de membros do partido comunista chinês, de onde poderemos ter a nomenclatura chinesa a caminho de substituir a cleptocracia angolana.

Idiotas úteis

Uma referência especial ao Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação e à maioria dos jornais e dos jornalistas portugueses que se têm empenhado em expor os podres da Princesa, da família Dos Santos e daquela parte da cleptocracia que foi expulsa do poder, com grande júbilo do resto da cleptocracia que continua no poder, alimentando com zelo os crocodilos dos mídia na esperança de os manter afastados de si próprios.

Ministério à medida, disse ela

Quatro coisas que na Óropa pareceriam virtualmente impossíveis (1) ter um ministério da Coesão num país que é coeso há séculos; (2) ter uma ministra que confessa com grande à vontade que «o ministério foi feito um bocadinho à minha medida»; (3) ter um jornal que se confunde com o regime a dedicar-lhe no mesmo número três páginas formato broadsheet, duas para a entrevista e uma para anunciar 140 milhões que vão chover nas empresas do interior e (4) esse jornal intitular-se semanário de referência.

26/01/2020

Dúvidas (286) - Isabel dos Santos e a cleptocracia angolana só estão presentes deste lado do Atlântico?

Ao jornalismo de causas doméstico na modalidade justiceira que com tanta pertinácia escava os Luanda Leaks têm escapado os tentáculos de Isabel dos Santos do outro lado do Atlântico. E porquê?, perguntareis. Por causa das âncoras do outro lado - Lula, o PT e a clique do Lava Jato - que mais haveria de ser?

«A pujança financeira de Isabel se entrelaça com o Brasil a partir das relações entre Santos e o PT. Logo que Lula assumiu a Presidência, angolanos eram convivas frequentes na mansão em Brasília alugada por empresários amigos para promover festas e negócios — aquele casarão que foi palco da derrocada do ministro Antonio Palocci, usuário de uma das suítes. O próprio Palocci, no capítulo de sua delação premiada chamado “Negócios em Angola”, revelou que o PT recebera 64 milhões de reais em propinas da Odebrecht de modo a ampliar o crédito do BNDES para o financiamento de obras no país africano. (...)

A Odebrecht viria a se tornar sócia da Sonangol e a maior empresa privada de Angola. O próprio Lula esteve lá, em 2014, para destravar pagamentos que o governo local devia à empreiteira. Mais: o marqueteiro João Santana contou à Justiça que trabalhara para reeleger José Eduardo dos Santos em 2012 — campanha financiada por 50 milhões de dólares da onipresente Odebrecht. Trançando os pauzinhos na Sonangol, Isabel se tornou dona de 6% das ações da portuguesa Galp, do setor de energia, e se beneficiou enormemente de um malfadado projeto dela com a Petrobras para tirar combustível de óleo de dendê, no qual a brasileira enterrou nada menos que 270 milhões de dólares

Os tentáculos brasileiros da rede de corrupção de Isabel dos Santos, Revista Veja

25/01/2020

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (96) - A pesada herança que nos vai deixar

Outras preces

«Em Marcelo, vemos o clássico sintoma populista de uma preocupação excessiva em criar um vínculo emocional e uma ligação direta às massas, que torne desnecessária a intermediação dos partidos políticos e de outras instituições. Foi o facto de ter construído essa relação com os portugueses, ao longo de 20 anos de homilias televisivas, que lhe permitiu ser eleito sem fazer campanha nos moldes tradicionais e quase sem precisar do apoio do seu partido. E é também isto que explica a ânsia, quase caricatural, de aparecer em todos os assuntos que lhe permitam fazer boa figura, mesmo que os bombeiros e a GNR possam dar conta da ocorrência. (...)

Com a sua forma de fazer política, Marcelo aproximou os cidadãos da Presidência, mas ao mesmo tempo lançou bem fundo as sementes do populismo em Portugal. As consequências deste facto só serão completamente entendidas dentro de algumas décadas, mas os efeitos já começam a fazer-se sentir, como se viu na recente entrevista de Cristina Ferreira à ”Visão”. A apresentadora admite que não se sente tecnicamente preparada para estar num Governo, mas, inspirando-se no estilo de Marcelo, admite candidatar-se a Presidente da República. Cristina Ferreira é uma profissional de mérito reconhecido, mas o que concluímos desta entrevista é que a atuação de Marcelo está a baixar a fasquia em termos de competências políticas (e técnicas) tidas como necessárias para assumir a mais alta magistratura da Nação.

Depois do atual inquilino de Belém, qualquer celebridade com o dom de seduzir as massas poderá legitimamente aspirar à Presidência. A porta que Marcelo abriu não voltará a fechar-se e ninguém sabe o que daí virá.»

A porta que Marcelo abriu, Filipe Alves no Jornal Económico

24/01/2020

O problema da corrupção não é só moral (4) - Mais opacidade do que transparência

Continuação descontinuada de (1), (2), e (3)

No ranking do Índice de Percepção de Corrupção do sector público da Transparência Internacional, Portugal teve 62 pontos em 100 e a 30.ª posição em 180 países no ranking de 2019, uma redução relativamente aos 64 pontos de 2018, apesar de manter a mesma posição, e uma queda de uma posição em relação a 2017, continuando dois pontos abaixo da média da UE.


Repetindo-me: se a corrupção fosse grave apenas por razões morais e éticas já seria mais do que suficiente para merecer a nossa atenção. Mas não é grave só por isso. É igualmente grave porque a corrupção é um factor de distorção do racional das escolhas económicas, que passam a ser feitas, não com base dos benefícios líquidos previstos, empresariais ou públicos, que delas se esperam que resultem, mas com fundamento no interesse de pessoas ou grupos que não têm legitimidade para intervir nessas escolhas.

23/01/2020

De como o Mosquito de João Nuno Pinto é um exemplo a posteriori para o Otto e mezzo de Fellini

O realizador João Nuno Pinto confessou ao Público que Mosquito, o seu segundo filme, apresentado ontem na abertura do festival de Roterdão, «é uma forma de me redimir por ser filho de colonizadores».

Devemos relevar este propósito redentor de expiar a culpa dos pais colonizadores, por várias razões. E uma delas é que o mesmo jornal, precisamente no mesmo dia, anunciava que Fellini «vai estar no centro da programação da 13.ª edição da Festa do Cinema Italiano, que terá lugar de 1 a 9 de Abril».

Não será preciso explicar quem foi Federico Fellini, e não deveria ser indispensável lembrar que é italiano, nascido em Rimini,  o que faz dele um descendente dos colonizadores romanos da Lusitânia. Por coincidência, foi no fórum de Rimini que Júlio César apelou às legiões depois de ter atravessado o Rubicão.

A morte de Viriato, um herói da luta anticolonial, de José de Madrazo
É aqui que entra o Mosquito, João Nuno Pinto e a sua superioridade moral e da sua obra sobre um Fellini que em nenhum do seus filmes expiou a culpa das legiões romanas pela ocupação da Lusitânia, o massacre e escravização dos lusitanos, o que deveria e poderia muito bem tê-lo feito, por exemplo no auto-biográfico Otto e mezzo, em vez de celebrar as abundantes bundas e gloriosas tetas, como fez em muitos dos seus filmes, por exemplo em Amarcord, aqui devidamente evocado pelo outro contribuinte.

CASE STUDY: O pior dos melhores é melhor do que um dos melhores dos piores

«The Economist coloca Portugal na categoria de “país totalmente democrático», titula um dos jornais do regime (Público), acrescentando que «O estudo adianta que Portugal se encontrava já no limiar da categoria da plena democracia», o que, sendo verdade, não é toda a verdade.


O resto relevante da verdade é que Portugal subiu no ranking de 27.º, o 6.º das "democracias avariadas", para 22.º, o último das plenas democracias. E subiu devido à melhoria dos scores do "funcionamento do governo" e da "cultura política", subida ininteligível na minha humilde opinião, mas isso para o caso não interessa - eles lá saberão.


Conviria ainda acrescentar que só em 2010 atingiu foi atingido o overall score de 2010, dos tempos em que os portugueses se julgavam ricos, antes da troika lhes vir lembrar que não só eram relativamente pobres como estavam (e estão) absolutamente endividados.

Posts relacionados: CASE STUDY: Democracias defeituosas (1) e (2).

22/01/2020

É claro que é isso!

«Portanto Isabel dos Santos é garantidamente criminosa porque recebeu do pai o que não era dele mas sim do Estado angolano. Já José Sócrates que diz ter recebido da mãe o que ela claramente não tinha é um perseguido pela justiça.»

«É isto?» interroga-se Helena Matos. Ora, que pergunta!

O Dr. Costa está há quatro anos a tratar do "portsoc" e agora cabe ao Dr. Nuno Artur Silva montar o ministério da Verdade que garantirá "informação séria"

Governo lança em 2020 campanha de sensibilização que visa a informação séria

«O Governo anunciou esta segunda-feira o lançamento, no início de 2020, de uma campanha de sensibilização que visa a convivência democrática entre uma comunicação social livre e uma população formada e capaz de exigir e procurar informação séria.

"Além das medidas de fomento de literacia mediática, é essencial promovermos uma campanha alargada de sensibilização, difundida por vários meios, como televisão, imprensa, rádio e meios digitais (...) cujo objetivo seja alertar os cidadãos para o facto de que a produção de conteúdos informativos é fundamental, pelo que todos são chamados a contribuir e envolver-se", frisou Nuno Artur Silva. "Que não haja dúvidas que isto não é uma questão dos jornalistas, isto é uma questão dos cidadãos", argumentou o governante, para quem a desinformação "é uma ameaça séria que pode afetar a credibilidade das instituições democráticas, minando a confiança nessas instituições".»

Palavras do secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, aka ministro da Verdade, na sessão de encerramento da conferência "A palavra da imprensa portuguesa", promovida pela Associação Portuguesa de Imprensa

21/01/2020

A cleptocracia angolana do MPLA, os novos colonialistas de inspiração marxista-leninista

«Em Angola, a nova elite foi defendida, durante décadas, por um exército de ocupação cubano, contra a revolta da maioria da população. O aspecto do poder do MPLA como um poder colonial não podia ser mais claro. Por vezes, culpava-se disto tudo a Guerra Fria ou a África do Sul. Mas o fim do apartheid e da União Soviética não mudou o carácter autocrático do regime angolano. Ajudou apenas a esclarecer os objectivos dos novos donos de Angola: em vez da construção de sociedades marxistas-leninistas, o enriquecimento pessoal, com a colocação das fortunas a resguardo no Ocidente. Há quem, para explicar estas tragédias, argumente que as populações das antigas colónias não estavam ainda em condições de formar nações. Já era esse o argumento dos defensores europeus da colonização. Mas de uma coisa podemos estar certos: estas cleptocracias não estão certamente a preparar ninguém para a maioridade cívica. É esta a história por detrás dos Luanda Leaks: a de uma descolonização por fazer.»

Uma descolonização por fazer, Rui Ramos no Observador

A esta luz, a exposição do esquema empresarial da "Princesa" Isabel dos Santos, fundado na extracção de recursos públicos, é uma consequência da disputa do acesso a esses recursos entre as cliques que dominam o Estado angolano.

ACREDITE SE QUISER: Isabel dos Santos montou sozinha um império assente na corrupção. Não há um só cúmplice aqui no Portugal dos Pequeninos. A nomenclatura do regime está inocente

Rádio Renascença
E os vários governos que a trouxeram ao colo? E os seus parceiros portugueses, como os Amorim, os Azevedo e outros? E os consultores PwC, BCG, McKinsey e outros? E os inúmeros factótuns, como Teixeira dos Santos e outros?

20/01/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (15)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

A mercearia orçamental

No primeiro dia da discussão na especialidade do OE 2020 foram apresentadas 179 propostas de alteração pelos partidos que apoiam a passarola de Costa: BE (39), PCP (37), PAN (46), PEV (31), Livre (26), todos agarrados à toalha da mesa do orçamento a tentarem mostrar serviço aos seus eleitores.

Os casos mais deprimentes são os do PCP e BE que nos últimos quatro anos vem engolindo tudo e tudo justificando como «dois grupos de mentirosos coxeando atrás do PS», para usar as palavras de Vasco Pulido Valente. O PCP engole e ainda consegue arrotar umas greves como a dos funcionários públicos no próximo dia 31 (cada partido comunista tem a classe operária que pode). Já o BE, por falta de implantação sindical, não tem nada para arrotar, a não ser flatulências inócuas, ainda que mal cheirosas.

Cuidando da freguesia eleitoral

Os mais de 40 mil efectivos policiais (mais 36% do que a média da UE), organizados em 17 sindicatos, fazem de Portugal um dos países com mais polícias, mas não dos mais policiados porque a maioria desses polícias descansa nas esquadras. A adicionar a esse numeroso destacamento o MAI anunciou que recrutará até 2023 10 mil novos efectivos para a PSP, GNR e SEF, potenciais novos eleitores do PS, espera o ministro, mas talvez se engane porque o Dr. Ventura pode chegar primeiro e mexe-se bem nesses meios.

«Temos resultados, temos contas certas»

O nosso Ronaldo das Finanças, a atravessar um período difícil para o seu ego, tem sentido a necessidade de exaltar os seus feitos, conseguidos muito à custa da redução das taxas de juros pelo BCE e desvalorizar os feitos do governo PSD-CDS de quem diz que a «saída limpa foi, afinal, uma nódoa» (ler aqui a estória contada pelo outro contribuinte e «Uma comparação (im)possível» de Miranda Sarmento).

Com essa auto-exaltação não parece convencer a CE que aponta no OE 2020 um «risco de desvio significativo do ajustamento requerido» e considera não serem feitos progressos suficientes na redução de dívida.

19/01/2020

ESTÓRIA E MORAL: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

A estória do Dr. Centeno

Era uma vez um Dr. Centeno que há nove anos, dois meses antes do governo do seu Partido Socialista sem dinheiro para pagar os salários pedir o resgate a Bruxelas, dizia, entre outras coisas que um Dr. Centeno actual condenaria, «temos algumas instituições que protegem demasiado os insiders. Os sindicatos têm o monopólio constitucional da negociação do qual não estão obviamente dispostos a abdicar. E por mais reformas que se façam, numa tentativa de abrir a legislação a outros espaços de negociação dentro das empresas, há sempre essa prerrogativa constitucional

O actual Dr. Centeno entende que «a redução consistente nos juros pagos é um reflexo estrutural daquilo que acontece neste momento em Portugal» (Conferência da Ordem dos Economistas no passado dia 15), atribuindo a si próprio a redução geral das taxas de juros e colocando-se no lugar de uma espécie de Banco Central Universal.

Esqueceu-se de várias coisas, por exemplo, como recordou há dias Camilo Lourenço «no 1.º semestre de 2016 (...) os juros portugueses chegaram a encostar nos 4% enquanto Centeno e Costa defendiam uma política económica baseada nos estímulos orçamentais e no consumo... Só no segundo semestre, quando os mercados e as agências de rating perceberam que o Governo dizia uma coisa e fazia outra (cativações brutais de despesa, mesmo nas barbas de PCP e Bloco de Esquerda), é que as coisas mudaram.

E ao dizer no parlamento durante o debate orçamental que a «saída limpa foi, afinal, uma nódoa» esqueceu-se que foi essa nódoa e as políticas do BCE que permitiram «a redução consistente nos juros pagos» que ele hoje se atribui.

Passemos em revista a obra do Dr. Centeno.

Redução do défice estrutural: consequência da redução dos juros (que se deve ao BCE) e dos dividendos do BdP (uma consequência indirecta da redução dos juros)

Fonte

Aumento dos impostos: aqui sem dúvida temos obra do Dr. Centeno.


Fonte

O prometido e o cumprido: mais despesa, mais impostos menos investimento público e a grande ajuda do BCE.

Fonte

A moral da estória

«Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo»

Ortega y Gasset

18/01/2020

No futebol, como no resto, os melhores profissionais tenderão a emigrar para as melhores ligas

Economist

Poderão não ser todos os melhores, são certamente os mais inconformados. É assim desde o século XV e isso explica muita coisa.

É claro que no futebol tudo fica mais óbvio porque, como escrevi aqui, aqui e aqui, os jogadores são os únicos profissionais portugueses que trabalham num mercado verdadeiramente internacional a uma enorme distância de outras profissões.

17/01/2020

Mitos (301) - O contrário do dogma do aquecimento global (XXIII) - A outra Greta

Outros posts desta série

Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os negacionistas – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.

Ainda que negacionistas e activistas climáticos, como gostam de chamar-se os defensores do aquecimento global como obra humana, usem todos a demagogia, a vantagem pende claramente para os activistas que, seguindo a tradição do esquerdismo, a usam abundante e despudoradamente com as tácticas do agitprop. A instrumentalização de Greta Thunberg é um exemplo particularmente chocante mas tem um antecedente já apagado da memória cada vez mais curta dos tempos.

Severn Cullis-Suzuki, em 1992, na UN Conference on Environment and Development
no Rio de Janeiro e Greta Thunberg em 2019 na UN Climate Action (créditos)
Em 1992 os activistas climáticos de então usaram a jovem Severn de 12 anos para recitar no púlpito a sua agenda, como 27 anos depois os actuais activistas climáticos usam com o mesmo propósito Greta Thunberg com 17 anos.

16/01/2020

Vivemos num estado policial? (19) - Sim, vivemos. E por isso os efectivos policiais, cujo número não sabemos ao certo, precisam de ser reforçados

Outros casos de polícia.

Duas ou três coisas que já sabíamos sobre as polícias:

Portugal «tem 432 polícias por 100 mil habitantes, um valor que torna a polícia portuguesa 36% mais bem equipada do que as polícias na média dos países europeus» (jornal Eco citando um relatório da OCDE), número que incluiu os GNR que são polícias com outro nome e são contados como tais nas estatísticas da OCDE.

Existem 17 (dezassete) sindicatos de polícias (entre os quais um "Vertical", outro "Independente", outro "Autónomo", outro "Livre" e até um dos "Polícias do Porto"), tendo o 16.º 451 associados e 459 dirigentes e delegados e o 17.º sindicato 27 polícias todos dirigentes sindicais. Também já conhecíamos o quid da pletora de sindicatos: o «trabalho sindical» dos dirigentes dá quatro folgas por mês e o dos delegados sindicais 12 horas.

Apesar desta pletora policial, o país vive com um crónica falta de polícias, o que não admira porque se descontarmos os que estão de folga, de baixa ou em «trabalho sindical» restam muito poucos e desses só alguns estão aptos ao policiamento na rua.

250 polícias, incluindo oficiais, dedicaram-se à venda dos seus passes gratuitos dos transportes públicos, mostrando uma surpreendente veia empresarial e um gosto pela iniciativa privada.

O que ainda não sabíamos é que o Dr. Eduardo Cabrita, amigo e ministro do Dr. Costa, irá recrutar até 2023 10 mil novos efectivos para a PSP, GNR e SEF a acrescentar aos 40 e tal mil por lá estacionados, a pretexto de estarem previstas 6.800 saídas para a reserva e a reforma.

15/01/2020

SERVIÇO PÚBLICO: A política americana para o Médio Oriente é cristalina

Carta publicada pelo Daily Mail em 05-09-2014
O recorte acima chegou-me por WhatsApp ontem. A carta de Aubrey Bailey está tão actual hoje como há cinco anos quando foi publicada.

Declaração de interesse: este blogue apoiou em 2003 a operação Shock and Awe, o derrube de Saddam Hussein e a tentativa de instauração de um regime democrático no Iraque no pressuposto de que o regime iraquiano de então constituía uma séria ameaça para a paz. O tempo foi mostrando ter sido um erro estratégico porque o resultado parece ser uma ameaça para a paz ainda maior. A democracia liberal não é exportável e a emenda pode ter sido pior do que o soneto.

Aditamento:
Um agradecimento ao comentador e um esclarecimento a este comentário. Um agradecimento por nos ter promovido a «merceeiros reverenciados», nós que até aqui éramos apenas merceeiros. Um esclarecimento porque não é só à nossa considerável ignorância que se deve a falta de gosto pela política como arte milenar de mentir com arte, é mais pelo que a história nos mostra dos resultados nas nações governadas por essas caricaturas de Príncipes sem Maquiavel. Cristo está morto, Nietzsche está morto, Marx está morto e Maquiavel já estava morto há mais tempo. Sobra Vladimir Putin, Xi Jinping e vários palhaços.

14/01/2020

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (92) - A irrelevância dos candidatos a sucessores de Corbyn

Backward, comrades!
Depois de ter conduzido o Partido Trabalhista à maior derrota desde 1935, James Corbyn demitiu-se no dia em que foram conhecidos os resultados. Os candidatos à sua substituição têm de ter o apoio de pelo menos 23 deputados o que foi conseguido por Emily Thornberry, Rebecca Long-Bailey, Keir Starmer, Lisa Nandy e Jess Phillips. Ouviram falar deles? Não se preocupem, possivelmente nem mesmo os trabalhistas que irão votar os conhecem. São cinco irrelevâncias que sobraram dispostos a tomar conta dos destroços do Labour depois do desastre Corbyn (cfr os posts "Corbyn Hopeless").

Spectator
David Watson, o vice de Corbyn e uma espécie de contraponto ao seu esquerdismo senil, demitiu-se ainda antes das eleições e não era de todo irrelevante, até no peso. Fez uma rigorosa dieta e perdeu mais de 40 kg, o que explica a paródia no cartune acima.

13/01/2020

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (95) - Que fique tudo como dantes, quartel-general em Abrantes

Outras preces

No encerramento da sessão solene de abertura do ano judicial, uma cerimónia tão excitante como um funeral com a presença das figuras de cera da justiça do Estado Sucial, S. Ex.ª o PR, mostrando um grande sentido de oportunidade, elaborou sobre a dignificação dos magistrados e o «prestígio social da justiça» que na sua visão se atingirá aumentando-lhe os réditos que já excedem os do primeiro-ministro.

Ao contrário, S. Ex.ª entende que em relação às tenças dos «titulares de órgãos de soberania de base electiva» o que em presidencialês significa os deputados, os autarcas, etc., «é indesejável o reajustamento».

É mais um dos típicos equívocos presidenciais, pois que, do ponto de vista dos resultados da justiça, por um lado, e da produção legislativa e da governação, por outro, nenhuma dessas classes corporativas justifica qualquer reajustamento a não ser uma redução das tenças. Acontece, porém, que os magistrados já são soberbamente bem pagos e com os salários que se pagam aos políticos atraem-se principalmente imbecis, chico-espertos a trabalharem para o futuro e corruptos a trabalharem para o presente, ou, no plano do pensamento milagroso, ricos com espírito de missão.

Em consequência o que S. Ex.ª propõe é que fique tudo como dantes, quartel-general em Abrantes.

Em tempo: então S. Ex.ª, segundo a jornalista porta-voz, não iria fazer de quase morto até às eleições? Sabendo-se que estar quase morto é o contrário de estar quase vivo, parece que S. Ex.ª não consegue de todo manter o recato. Lá se vai o meu voto prometido se S. Ex.ª ficasse quase morto.

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (14)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Cada Estado tem a justiça que merece

No caso do Estado Sucial do Portugal dos Pequeninos a instrução dos processos de criminalidade grave ou organizada está entregue ao Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC, ou, na gíria do juridiquês, o Ticão) que dispõe de 2-juízes-2. Em média são produzidos processos que enchem vários milhares de páginas e consomem meia dúzia de anos para preparar a acusação. A distribuição dos processos pelos 2-juízes-2 é feita por um algoritmo que se suporia de Inteligência Artificial mas na verdade está mais próximo da Estupidez Natural porque, segundo o jornal SOL, «chega a dar erro oito vezes antes de escolher o nome do juiz».

Perante este estado de coisas da justiça, em boa verdade co-responsabilidade dos socialistas do PS e dos socialistas do PS-D, não é preciso ser-se adepto das teorias da conspiração para suspeitar que há  razões inconfessáveis da nomenclatura governativa que podem explicar a falta de vontade de mudar esse estado da justiça.

O passado persegue o Dr. Costa

No tempo em que o Dr. Costa foi MAI do Eng. Sócrates adjudicou a compra dos helicópteros russos Kamov de combate aos incêndios florestais, compra que foi decidida por um júri de que fez parte o Dr. Lacerda Machado, um conhecido amigo do Dr. Costa que também foi administrador da Geocapital, parceira da TAP na compra catastrófica da Varig Engenharia e Manutenção, advogado da Motorola que venceu o concurso do SIRESP e actualmente reside no conselho de administração da TAP, depois de ter aconselhado o governo sobre a reversão da privatização parcial.

Desde então, os benditos Kamov estiveram quase sempre avariados e estão absolutamente parados há dois anos. Como se fosse pouco, a Everjets, a empresa que foi contratada em 2014 para a operação dos helicópteros apresentou em 2018 por exigência da Protecção Civil uma garantia bancária falsa, descobriu agora o semanário de reverência, com dois anos de atraso em relação à TVI.

«O verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre»

Só o futuro poderá confirmar se o pensamento em epígrafe de Aristóteles se aplica inteiramente a Medina. Por agora, podemos garantir que o discípulo se esforça e disso são exemplos o programa de renda acessível, essencialmente operação de propaganda sem resultados práticos, e agora a Lisboa Capital Verde Europeia que, entre outras iniciativas importantíssimas, inclui a construção de uma praia artificial no Tejo, cuja falta era sentida por todos os que vivem e se deslocam em Lisboa, sobretudo quando sob a canícula de Verão dentro de um carro encalhado num dos frequentes engarrafamentos na 77.ª cidade mais congestionada do mundo (em 403), a par com Nizhny Novgorod na Putinlândia.

12/01/2020

Vícios privados reais sem as virtudes públicas imaginárias


Autoridade da Concorrência encontrou dados confidenciais de crédito à habitação trocados pelos grandes bancos. BES incluído. Cartel durou 11 anos

Dúvidas (285) - Intrigante coincidência


Em 2002, o Dr. Ferro Rodrigues, líder do PS entre 2002 e 2004, várias vezes ministro, actualmente a segunda figura do Estado, foi denunciado no âmbito do caso de pedofilia da Casa Pia e, por isso, foi alvo de escutas telefónicas que mostraram as suas tentativas de obter informação e influenciar o processo, como a escuta a que se refere o vídeo acima. Nunca foi constituído arguido.

Dezoito anos depois, o Dr. Ventura, em nome do partido Chega, apresenta no parlamento um projecto de lei para a «criação da pena acessória de castração química» para os pedófilos. Projecto em relação ao qual o Dr. Ferro Rodrigues produziu um despacho admitindo-o mas apontando eventual inconstitucionalidade por violação do n.º 1 do artigo 30.º da Constituição.

Sendo certo que referido número resulta que «Não pode haver penas nem medidas de segurança privativas ou restritivas da liberdade com carácter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida», é igualmente certo que a castração química de pedófilos poderia enquadrar-se no número seguinte do mesmo artigo:
Em caso de perigosidade baseada em grave anomalia psíquica, e na impossibilidade de terapêutica em meio aberto, poderão as medidas de segurança privativas ou restritivas da liberdade ser prorrogadas sucessivamente enquanto tal estado se mantiver, mas sempre mediante decisão judicial.
Não quero insinuar que o Dr. Ferro Rodrigues na sua produção de um discutível despacho foi atraiçoado por uma parapraxia ou lapso freudiano porque, apesar de não se poder considerar infalível a justiça portuguesa, na verdade não faço a menor ideia se as denúncias tinham algum fundamento. Sobre este caso, a única a certeza é que a segunda figura do Estado há 18 anos desprezava um dos princípios que a maioria das figuras do Estado tem considerado essencial no Estado de Direito, et pour cause.

11/01/2020

Afinal quem matou?

Enquanto a SOS Racismo, sucursal do Bloco de Esquerda dedicada a açular o racismo, aproveitando a morte do cabo-verdiano assassinado em Bragança, mais se adensa a cortina de fumaça sobre quem são os assassinos.

Apesar daquela sucursal referir «15 homens armados com cintos, ferros e paus» - podia ser um grupo, ou uma dezena ou uma dúzia, mas não, são exactamente 15 -, a identidade dos responsáveis permanece um misterioso mistério, e por isso os "activistas", não podendo agitar as bandeiras do costume e promover uma manif de indignação contra o racismo, o fascismo, o nazismo, o supremacismo, promovem uma homenagem ao jovem Luís Giovani.

Para as brigadas da esquerdalhada umas vezes é mais importante quem mata, noutras, como neste caso, o importante é quem é morto.

DIÁRIO DE BORDO: O caso de Richard Jewell

 Paul Walter Hauser (fazendo de Richard Jewell), Sam Rockwell (fazendo do advogado Watson Bryant) e
Clint Eastwood (fazendo dele próprio)
É melhor dar corda aos sapatos e ir ver O caso de Richard Jewell. Eastwood vai fazer 90 anos e não haverá muito mais oportunidades de ver novos filmes de um dos poucos realizadores politicamente incorrectos ainda vivos.

Politicamente incorrecto? Sem dúvida. Ora leia-se o que ele disse há três anos nesta entrevista à Esquire:

«But he's onto something, because secretly everybody's getting tired of political correctness, kissing up. That's the kiss-ass generation we're in right now. We're really in a pussy generation. Everybody's walking on eggshells. We see people accusing people of being racist and all kinds of stuff. When I grew up, those things weren't called racist. And then when I did Gran Torino, even my associate said, "This is a really good script, but it's politically incorrect." And I said, "Good. Let me read it tonight." The next morning, I came in and I threw it on his desk and I said, "We're starting this immediately."»

10/01/2020

ARTIGO DEFUNTO: Todas as causas são boas para o jornalismo de causas lusitano exorcizar os seus ódios de estimação


Qualquer notícia nos mídia portugueses (e noutros, mas trato agora dos portugueses) que envolva os Estados Unidos é objecto de uma distorção raramente subtil e frequentemente grosseira. Sobretudo nos períodos em que os Estados Unidos são presididos por alguém que a esquerda residente nas redacções não gosta e, por via de regra, a esquerda não gosta dos presidentes republicanos e apenas tolera os presidentes democratas. Barack Obama é um caso especial porque a sua negritude bloqueou as meninges dos jornalistas de causas.

Um exemplo recente desse tratamento é o caso da execução de Qassem Soleimani, o comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, e das suas sequelas. Quanto à execução, os mídia portugueses adoptaram na generalidade uma abordagem próxima da propaganda dos aiatolás, só por vergonha não lhe chamaram mártir (o semanário de reverência até usou a expressão) e poucos cuidaram de saber do currículo de Soleimani como líder responsável de assassinatos em massa.

Quanto à retaliação do Irão, quase todos a justificaram e glorificaram, caindo no ridículo de não perceberem que os aiatolás escolheram com pinças alvos inócuos e imediatamente após os ataques com mísseis anunciaram que não pretendiam escalar. Além disso, sabe-se agora pelo New York Times, um dos jornais que mais encarniçadamente escrutina Trump (escrutinar é um understatement, o verbo adequado seria combater) que o ataque do Irão com mísseis foi conhecido da administração americana com três horas de antecedência, tudo apontando para uma deliberada fuga dos serviços secretos iranianos para dar tempo aos americanos se protegerem.

Percebeu-se claramente que a retaliação era para consumo interno tentando salvar a face do despotismo clerical e que as alegadas mortes de 80 "terroristas" americanos não passavam de bazófia. Contudo, o jornalismo de causas atribuiu à versão dos aiatolás ao mesma credibilidade do que a de Trump que negou ter havido vítimas. Estupidamente, visto qualquer pessoa com um resíduo de lucidez percebe que enquanto os aiatolás podem contar as estórias mais mirabolantes que serão repercutidas pela imprensa iraniana, Trump seria devorado pela generalidade dos mídia americanos se a sua estória estivesse mal contada.

Na sua ânsia de vilipendiar Trump, o jornalismo doméstico de causas passou ao lado do seu erro estratégico ao aprovar a execução de uma peça importante mas secundária no jogo com o Irão, inviabilizando a aproximação Arábia Saudita-Israel e dando aos aiatolás, apertados pelo descontentamento popular, um mártir para entreter o povo iraniano.

OBSERVAÇÃO:
Reparo agora que os últimos quatro post são sobre o enviesamento dos mídia portugueses. Não deve ser por acaso, pois não?

09/01/2020

SERVIÇO PÚBLICO: Unintended consequences, ou os duplos critérios da SIC a trabalharem para o Chega do Dr. Ventura

Recebi ontem de um amigo uma mensagem WhatsApp transcrevendo a carta de Luís Alves Monteiro que me parece de interesse público divulgar.

«Acabei de enviar este texto para a SIC sobre o assassínio de um Jovem no Campo Grande 

Exmos Senhores,

Ouvi atentamente o vosso noticiário de hoje das 20h e prestei especial atenção à notícia sobre a trágica morte de um jovem estudante português morto barbaramente à facada no Campo Grande, por 3 jovens segundo a vossa notícia, já agora vale a pena mencionar que os ditos “jovens “ referenciados por pelo menos 20 roubos violentos na zona, confirmados hoje pela PJ.

E é precisamente aqui que reside o busílis, o tratamento deste tipo de notícias com pinças, quando envolve as chamadas minorias étnicas, ciganos, negros etc estando tão imbuídos do politicamente correcto, que esqueceram-se de mencionar, que aqueles jovens, são de origem africana, mais concretamente guineense!

Perguntarão e então? Pois na notícia imediatamente a seguir jovem morto em Bragança, cabo-verdiano (aqui já merece a pena divulgar a origem) pois alvo de racismo, relatos de manifestações de jovens oriundos dos Palops, o governo de Cabo Verde pasme-se a exigir a resolução rápida do caso.

Dois pesos e duas medidas, 2 formas diferentes de abordar a notícia, com evidente medo da SIC de susceptibilizar os progressistas modernos do burgo, uma vergonha Senhora SIC, não me revejo neste tipo de informação. Tratem os “bois” pelos nomes!!!

P.S. Já agora a utente que agrediu a médica em Setúbal, convém mencionar que era de raça cigana, sim utente e cigana!!! Aí os complexos.

Aguardo os vossos comentários e mais imparcialidade!»

Luís Alves Monteiro

ACTUALIZAÇÃO:
Já depois de ter publicado este post, li este outro do Portugal Profundo que revela «alegadamente» ter sido o assassinato do jovem cabo-verdiano de Bragança obra de um grupo de rapazes ciganos. Procurei e não encontrei qualquer referência nos mídia a esta versão o que, em boa verdade, não quer dizer nada, porque, a confirmar-se, poucos teriam coragem de chamar os bois pelos nomes como escreve Luís Alves Monteiro.

08/01/2020

Dúvidas (284) - É impressão minha ou a ironia de Ricky Gervais foi censurada pelo jornalismo de causas?

No final da sua apresentação da entrega dos Globos de Ouro, Ricky Gervais atira-se com ironia politicamente incorrectíssima à plateia de celebridades a abarrotar de gente que vai de jacto aos eventos ambientalistas e crentes do metoo que durante anos beijocaram Weinstein para entrar nos seus filmes:
«Se ganharem um prémio esta noite, não o usem como uma plataforma política para fazer um discurso também ele político. Vocês não estão em posição alguma de leccionar o público sobre o que quer que seja porque não sabem nada sobre o mundo real. Muitos de vós passaram menos tempo na escola do que a Greta Thunberg. Por isso, se ganharem, aceitem o vosso pequeno prémio, agradeçam ao vosso agente e ao vosso deus e pirem-se. Ok?»
Curiosamente, com excepção do Observador e pouco mais, a maioria dos jornais passou ao lado da notícia do homem que mordeu o cão e descreveu abundantemente a notícia do cão que mordeu o homem.

Títulos inspirados (89) - A arte de titular com objectividade

Segundo palavras do próprio Diário de Notícias: «Os deputados parlamentares chavistas elegeram este domingo, 5 de janeiro, Luis Parra como presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, perante o protesto do anterior líder, Juan Guaidó, impedido de entrar, durante horas, pela polícia. Com vários deputados da oposição ao regime do Presidente eleito, Nicolas Maduro, detidos fora do edifício do parlamento pela polícia, Luis Parra, antigo elemento do partido Primeiro Justiça (opositor de Maduro e rival de Guaidó) foi hoje escolhido presidente da Assembleia Nacional.»

Qual o título mais adequado que um diário da manhã escolheria para esta peça? «Luis Parra eleito líder da Assembleia Nacional da Venezuela na ausência de Guaidó», pois claro. Então não é verdade que Juan Guaidó estava ausente? Sem dúvida e é evidentemente mais objectivo e apropriado para um título de uma notícia que se quer neutra e imparcial do que «impedido de entrar pela polícia».

07/01/2020

ARTIGO DEFUNTO: O mártir é do Expresso ou do regime despótico dos aitolás?

Título do Expresso Diário
É discutível se a execução de Qassem Soleimani tem sentido estratégico (não parece ter) e se não foi um erro executá-lo (foi), além, evidentemente, de ter sido uma violação do direito internacional comparável, ainda que a uma escala mínima, com as violações de que o próprio Soleimani foi agente.

Porém, é um poucochinho exagerado chamar mártir ao comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária que entre outros feitos apoiou Bashar al-Assad na guerra civil síria que fez meio milhão de vítimas e organizou o terrorismo e a guerra por procuração no Médio Oriente.

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (13)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

O choque da realidade com a Boa Nova

Anunciada em Fevereiro a redução do preço dos passes sociais para reduzir as emissões de dióxido de carbono, um resultado bastante duvidoso como aqui se tem mostrado, a coisa tem vindo a ser sucessivamente adiada na Área Metropolitana do Porto (AMP) e a última promessa do presidente da AMP e do entertainer do ministério do Ambiente de arrancar em 1 de Janeiro voltou a ser adiada para as calendas. Sem problema, digo eu, porque é uma poupança mais de despesa pública do que se reduzem as emissões de CO2.

«Em defesa do SNS, sempre»

Cansados de esperas e de falta de resposta pela degradação do SNS, revoltam-se os «utentes», expressão que em socialês designa os contribuintes que não têm seguro de saúde nem meios de recorrerem aos hospitais privados. Revoltam-se e, em vez de tentarem darem umas galhetas ao Dr. Costa e umas palmadas na ministra, agridem os médicos e os enfermeiros. Segundo a Ordem dos Médicos foram quase mil casos até Setembro e segundo a Direcção-Geral de Saúde no primeiro semestre a média mensal foi superior a 100 casos

Enquanto deixa degradar-se o tão amado SNS, a ministra da Saúde responde com tretas e discurso ideológico aos problemas e depois de defender a «dedicação exclusiva» substituiu-a por «dedicação plena recompensada», que nem ela saberá o que seja, e promete «trabalhar no sentido de ter uma estratégia até ao final do mês de Janeiro» para tratar da violência contra os profissionais de saúde, ou seja, mais tretas e mais ideologia ao som da Internacional Socialista hino que a temível Dr.ª Temido confessa ouvir aos berros para se acalmar.

Privados? E não se pode exterminá-los?

A semana passada foi marcada pela arremetida de leão do ministro Santos Silva, o tal que gosta de malhar na direita e, talvez por falta de direita para malhar, resolveu investir contra a «fraquíssima qualidade da gestão» das empresas portuguesas que responderam pela boca da CIP que o ministro deveria estar calado porque fez e faz parte da «fraquíssima administração política de sucessivos governos», ao que o ministro reagiu com uma saída de sendeiro penitenciando-se hipocritamente.

06/01/2020

ARTIGO DEFUNTO: O importante não é quem é morto, é quem mata

Créditos: Blasfémias
Barack Obama manda abater um líder de assassinos e faz justiça. Donald Trump manda abater outro e provoca uma catástrofe para todos. Um exemplo da doutrina Somoza na imprensa de causas.

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: O programa em curso de asfixia da sociedade civil

«Sem que se perceba, neste orçamento continua indigitado o caminho para a regionalização. Com as invenções de Costa e Cabrita, não se chama regionalização, chamar-se-á outra coisa qualquer. Talvez descentralização. Não se criarão regiões, mas entidades. Não se farão eleições, mas serão eleitos uns representantes para fazer companhia a uns nomeados: não serão uma coisa nem outra. Tudo será feito para evitar o veto do Presidente da República e para afastar a hipótese de referendo. Mas é este o mais intenso programa com o qual o PS pretende criar um Estado à sua imagem.

Com um palavreado onírico sobre a democracia de proximidade e a sustentabilidade autárquica, o que o governo e o PS propõem é simples. Aumentar o Estado. Aumentar os orçamentos públicos. Criar novas competências para a Administração. Duplicar competências e confundir funções entre o local, o autárquico, o regional e o nacional. Aumentar a despesa. Aumentar a dependência dos concelhos, das freguesias e das comunidades locais. Aumentar a dependência da sociedade civil e dos cidadãos. Na verdade, trata-se de dar mais um passo no alargamento da Administração Pública e do Estado e no enfraquecimento da sociedade civil. (...)

O Governo e seus grandes, médios e pequenos funcionários procuram obsessivamente definir estratégias nacionais, elaborar planos nacionais e construir programas nacionais para organizar a vida de todos. O Governo pretende até elaborar planos para promover Portugal como destino turístico LGBTIQ! O ideal deixou de ser a liberdade, para ser a integração. Tudo é Estado, nada é civil. Tudo é Administração, nada é cidadão.

Os casos aberrantes da Educação e da Saúde são excelentes exemplos. Ambos os sectores estão em crise, sobretudo a saúde. Há cada vez mais médicos e enfermeiros, há cada vez mais professores por aluno, há cada vez menos alunos, nada disso tem importância: o que os partidos do governo e acessórios querem são mais professores, mais médicos e mais enfermeiros, quando é evidente que o essencial é um problema de organização. Portugal é um dos países da Europa com mais médicos por habitante, mas continua a procurar-se mais médicos. Se o Serviço Nacional de Saúde tem um gravíssimo problema de organização, a resposta é vociferar contra a saúde privada! Apesar de haver funcionários a mais, o atendimento dos serviços públicos na segurança social, nos papéis de identidade, no registo de estrangeiros e nas autorizações e licenças é ineficiente, moroso e desigual. Graças às delícias da Internet e da administração digital, há cidadãos pobres, nacionais ou estrangeiros, que são enviados de Lisboa para os Açores ou do Porto para Faro, “a fim de serem recebidos mais depressa”.

O Leviatã, grande monstro marinho, dragão, serpente, demónio e devorador de cidadãos é o Estado forte que se constrói diante de nós. Dia após dia»

Excerto de «Mais Governo, mais Estado», António Barreto no Público (também disponível no seu blogue Jacarandá)

05/01/2020

Descoberto o caminho para o sucesso empresarial e o crescimento económico: mais delegados sindicais

Do estudo "The Macroeconomic Impacts of Employee Representatives: Evidence from Membership Thresholds" de Pedro Martins, ex-secretário de Estado do Emprego do governo PSD-CDS e actual professor do Queen Mary College da Universidade de Londres, concluiu o Expresso citando o autor que «os delegados sindicais têm um impacto positivo significativo sobre o desempenho das empresas».

O estudo que incide sobre 2010 e abrange 6.500 empresas e 800 mil trabalhadores permitiu concluir que «um aumento de um ponto percentual no rácio entre delegados sindicais e o número de trabalhadores sindicalizados traduz num aumento das vendas por trabalhador em pelo menos 7%». Ora cá está, outra vez, o multiplicador. Desta vez o multiplicador sindical.

Por estranho que pareça, ao professor Pedro Martins não lhe ocorreu a clássica diferença entre correlação e causalidade que lhe teria despertado a dúvida cartesiana sobre se não seriam as empresas de maior dimensão, maior produtividade e em geral maior sucesso, podendo mais facilmente suportar os créditos de horas, que atrairiam os delegados sindicais cujo número (artigo 463.º do Código do Trabalho ) é até aproximadamente proporcional ao número de trabalhadores sindicalizados e acima de 500 é 6 + [(n - 500): 200]. Terá o professor Pedro Martins algum dia entrado numa micro ou pequena empresa, que representam, respectivamente, 96,2% e 3,2% do total, a maioria delas no limiar da sobrevivência, e visto algum delegado sindical que nessas empresas é mais raro do que o lince da serra da Malcata?

Desconfio que o professor Pedro Martins se fizesse um estudo à Quinta da Marinha com esta abordagem concluiria que, sendo o rendimento familiar médio um múltiplo (cá está, outra vez, o multiplicador) da média nacional, o segredo para as famílias melhorarem o seu nível de vida seria mudarem-se para lá.

PAN discrimina passarinhos e outros animais

Em defesa do uso do fogo de artifício silencioso, uma causa a que sou particularmente sensível, o PAN justifica «todos ganhamos: nós humanos que continuamos a usufruir de um espectáculo luminoso, e os nossos amigos de quatro patas que têm uma noite descansada». (jornal SOL)

E os passarinhos, não são gente? E os artrópodes, os octópodes e as centopeias?

04/01/2020

Se fosse vivo, Pessoa não receberia o Prémio Pessoa

Confesso que o nome do último Prémio Pessoa, Tiago Brandão Rodrigues, não me dizia nada, possivelmente, vim depois a descobrir, porque a criatura segundo a Wikipedia é actor, dramaturgo, produtor teatral e encenador e actual director artístico do Teatro Nacional D. Maria II e eu não sou frequentador do chamado teatro independente que é o teatro que depende do estado; o teatro a quem o estado diz «toma lá dinheiro e faz qualquer coisa» (A. Feio).

Foi por isso com curiosidade que li este artigo de Paulo Tunhas e tomei conhecimento que o premiado revelou na sua entrevista à Revista do Expresso - não li, talvez por ter visto a foto do homem na capa e confiar nas minhas primeiras impressões -  que está a preparar um espectáculo de sua autoria inspirado no juiz Neto Moura que se chamará «Catarina e a beleza de matar fascistas» e tem aqui uma explicação destinada a mentecaptos.

Desconhecendo os critérios do júri que atribuiu à criatura o Prémio Pessoa, desconfio que não o atribuiriam a Pessoa, se fosse vivo.

03/01/2020

Winston Churchill avisou. Ajustemos as expectativas


A eleição de Trump nos EUA, o referendo do Brexit no Reino Unido ou a vitória eleitoral do PS em Portugal, são alguns dos muitos exemplos de processos democráticos em que os protagonistas mistificaram, exacerbaram e atraíram as suas clientelas eleitorais com mentiras e meias verdades e puderam governar com políticas que talvez nem sejam boas para essas clientelas mas são certamente más para os respectivos países como um todo.

02/01/2020

A aldrabice é universal mas há uns mais aldrabões do que outros

Três investigadores inseriram uma secção num inquérito a 40.000 estudantes adolescentes em nove países de língua inglesa para descobrir quem são os campeões da aldrabice. Nessa secção perguntava-se aos alunos o seu entendimento de 16 conceitos matemáticos dos quais três eram inexistentes: “proper number”, “subjunctive scaling” and “declarative fraction”.

Who are the biggest bullshitters?
Os resultados do inquérito mostraram diferenças significativas, como se pode ver no diagrama. Os adolescentes canadianos e americanos mostraram-se os maiores aldrabões, em contraste com irlandeses e escoceses que admitiram frequentemente a sua ignorância sobre os três conceitos falsos. A mesma admissão se verificou com as raparigas, os pobres e os naturais do país em contraste com, respectivamente, os rapazes, os ricos e os imigrantes, que frequentemente tentaram esconder a sua ignorância.

Até a contar tretas os sexos, os ricos e os pobres são diferentes e as idiossincrasias nacionais divergem.

01/01/2020

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (31) - P'ra mentira ser segura... (IV)

Outras botas para descalçar

Este post é uma continuação de (I), (II) e (III)

Quando em Fevereiro o governo anunciou 104 milhões de euros (três quartos dos quais destinados à área metropolitana de Lisboa) para permitir reduzir o preço dos passes sociais, justificou que daí resultariam mais 100 mil pessoas por ano nos transportes públicos, mais 63 milhões de viagens e menos 72 mil toneladas de dióxido de carbono, escrevi aqui que se tratava de mais um exercício de planeamento milagroso porque as famílias com menores rendimentos já então privilegiavam o transporte público e tinham um passe social.

Os meses foram passando e os resultados milagrosos não aparecerem ou só apareceram do lado dos passes que têm vindo a aumentar, o que se explica pelo acréscimo da procura induzido pela redução dos preços de quem não é passageiro regular, nomeadamente as centenas de milhar de reformados nas zonas metropolitanas.

Veja-se o diagrama seguinte com dados do ano passado, anteriores à redução do preço dos passes. Tomemos o exemplo da ponte 25 de Abril por onde entravam diariamente 73 mil veículos.

Expresso
Seis meses depois qual foi o impacto da redução do preço dos passes nas entradas pela ponte 25 de Abril? Vejam-se no gráfico seguinte as médias de 6 meses de Abril a Setembro dos anos de 2018 e 2019 do número de veículos que atravessam diariamente a ponte 25 de Abril nos dois sentidos. 


Expresso
A redução média nos dois sentidos não ultrapassou os 5 mil veículos ou o equivalente a 2.500 entradas em Lisboa, ou seja 3,4% dos 73 mil antes da redução do preço dos passes (ver o primeiro diagrama). Isto na entrada de veículos provenientes de uma zona que deveria ser mais sensível ao custo dos passes, em contraste com a entrada pela A5, por exemplo. Se a redução total das entradas em Lisboa rondar os mesmos 3,4%, e provavelmente será menos, podemos esperar uma redução de cerca de 13 mil dos 370 mil veículos que diariamente entram em Lisboa.

A montanha da propaganda socialista do Largo do Rato pariu mais um.