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10/01/2020

ARTIGO DEFUNTO: Todas as causas são boas para o jornalismo de causas lusitano exorcizar os seus ódios de estimação


Qualquer notícia nos mídia portugueses (e noutros, mas trato agora dos portugueses) que envolva os Estados Unidos é objecto de uma distorção raramente subtil e frequentemente grosseira. Sobretudo nos períodos em que os Estados Unidos são presididos por alguém que a esquerda residente nas redacções não gosta e, por via de regra, a esquerda não gosta dos presidentes republicanos e apenas tolera os presidentes democratas. Barack Obama é um caso especial porque a sua negritude bloqueou as meninges dos jornalistas de causas.

Um exemplo recente desse tratamento é o caso da execução de Qassem Soleimani, o comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, e das suas sequelas. Quanto à execução, os mídia portugueses adoptaram na generalidade uma abordagem próxima da propaganda dos aiatolás, só por vergonha não lhe chamaram mártir (o semanário de reverência até usou a expressão) e poucos cuidaram de saber do currículo de Soleimani como líder responsável de assassinatos em massa.

Quanto à retaliação do Irão, quase todos a justificaram e glorificaram, caindo no ridículo de não perceberem que os aiatolás escolheram com pinças alvos inócuos e imediatamente após os ataques com mísseis anunciaram que não pretendiam escalar. Além disso, sabe-se agora pelo New York Times, um dos jornais que mais encarniçadamente escrutina Trump (escrutinar é um understatement, o verbo adequado seria combater) que o ataque do Irão com mísseis foi conhecido da administração americana com três horas de antecedência, tudo apontando para uma deliberada fuga dos serviços secretos iranianos para dar tempo aos americanos se protegerem.

Percebeu-se claramente que a retaliação era para consumo interno tentando salvar a face do despotismo clerical e que as alegadas mortes de 80 "terroristas" americanos não passavam de bazófia. Contudo, o jornalismo de causas atribuiu à versão dos aiatolás ao mesma credibilidade do que a de Trump que negou ter havido vítimas. Estupidamente, visto qualquer pessoa com um resíduo de lucidez percebe que enquanto os aiatolás podem contar as estórias mais mirabolantes que serão repercutidas pela imprensa iraniana, Trump seria devorado pela generalidade dos mídia americanos se a sua estória estivesse mal contada.

Na sua ânsia de vilipendiar Trump, o jornalismo doméstico de causas passou ao lado do seu erro estratégico ao aprovar a execução de uma peça importante mas secundária no jogo com o Irão, inviabilizando a aproximação Arábia Saudita-Israel e dando aos aiatolás, apertados pelo descontentamento popular, um mártir para entreter o povo iraniano.

OBSERVAÇÃO:
Reparo agora que os últimos quatro post são sobre o enviesamento dos mídia portugueses. Não deve ser por acaso, pois não?

4 comentários:

Anónimo disse...

Ai agora Trump já é mal tratado pelos media?

Pensei que aqui o sr. Impertinências estivesse do lado dos media (nunca, mas nunca mídia, vá lá pá!) e que Trump era mau mau mau, tão mau que roubou a vez da Hillary ser presidente...

... estou confuso

Cumprimentos,
IRF

Anónimo disse...

Quando a esquerdalhada nem em paz deixa o pobre Fernando Pessoa, como é que se pode ser Pertinente ou Impertinente neste cantinho da Óropa?
(chamo a isto o cu da Europa)

abraço
Penso que por pouco tempo o possa fazer... Felizmente ainda há luar... perdoem, há NET.

Anónimo disse...

Caros senhores, aconselho-os a lerem com atenção o artigo assinado por Manuel Rezende na penúltima página do “Diabo” de hoje. E, ao que julgo saber, não se pode considerar esse jornal como pertencente ao jornalismo de causas, nem o autor é suspeito de esquerdismo. E não partilha das vossas opiniões, como é óbvio.

Anónimo disse...

Para o Anónimo das 10/01/2020, 23:59:00,

Não acredito que seja tão ignorante que não saiba que a internet se apoia em anúncios e que muitos centros de notícias se apoiam em pagamentos. As edições em papel, por ora não dão lucro. Talvez quando acabarem os jornaleiros e aparecerem os jornalistas.

Nos tempos que correm, não estou disposto a pagar por umas folhas de jornal. Aliás, não gasto um tostão em jornais desde 1980.
Desculpo-lhe a calanzice, mas pouco trabalho lhe daria prantar um, dois, ou mesmo três parágrafos ilustrando a divergência que atribui ao Diabo (o Jornal).

Que não tenha um bom ano.