Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/12/2006

ARTIGO DEFUNTO: todos diferentes, todos iguais (2)

Se o Diário Económico e o Jornal de Negócios se esmeraram a trombetear os 8 (oito) contratos de investimento que ascendem a (no valor total de) 1,69 mil milhões de euros aprovados pelo executivo (governo) liderado por José Sócrates, o Sol transcendeu-se com o título na página 9 do Confidencial: Governo investe 1,7 milhões mil de euros.

Se levado o título ao pé da letra, significaria que ainda o novo ano não tinha começado e o governo já teria torrado quase 30% do investimento previsto no OE de 2007, em coisas tão pouco solidárias como o Ácido Tereftálico Purificado. Nem o próprio governo no seu comunicado foi tão longe na mistificação.

[Já ia a caminho e voltei atrás para cravar mais este prego no caixão da defunta imprensa]

29/12/2006

ARTIGO DEFUNTO: todos diferentes, todos iguais

Governo aprova 8 contratos de investimento que ascendem a 1,69 mil milhões de euros
O Executivo liderado por José Sócrates aprovou esta quinta-feira em Conselho de Ministros oito contratos de investimento com um valor total que ultrapassa os 1,69 mil milhões de euros. A concretização dos projectos em causa - Visabeira, Plêiade, Altri, VGMM, Hikma, La Seda, ENR e Repsol – vai criar quase 500 empregos
, escreveu Pedro Latoeiro no Diário Económico.

Governo aprova oito contratos de investimento no valor total de 1,69 mil milhões
O Governo liderado por José Sócrates aprovou na reunião de hoje oito contratos de investimento cujo valor global supera os 1,69 mil milhões de euros. Com a concretização dos projectos em causa - com a Visabeira, Plêiade, Altri, VGMM, Hikma, La Seda, ENR e Repsol - serão criados mais 494 empregos
, escreveu Sara Antunes no Jornal de Negócios.

Cada um deles continua a seguir a sua redacção, esforçando-se muito pouco para disfarçar a fonte comum, não citada, a quem ambos, e os seus jornais, estavam a fazer o frete.

Nenhum deles se deu ao trabalho de perceber e nos explicar o papel do executivo/governo liderado por José Sócrates - usar o dinheiro dos contribuintes para fazer uns descontos nos impostos e conceder uns subsídios cujos montantes, certamente por pudor, não foram informados. Com esses montante não especificados, habitualmente avantajados, o governo irá baixar a taxa de desemprego de 7,2% para 7,1905%.

27/12/2006

CASE STUDY: study those fellows but don't follow them for god's sake (1)

Depois dos anos do bom aluno cavaquista, vêm os pódios [(1), (2) e (3)] dos cábulas e o exemplo do mau aluno que não deve ser seguido pelos recém-chegados, Eslovénia et alia.

Amanhã, com mais tempo, trato disso em detalhe (o diabo está nos detalhes).

26/12/2006

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: chamada de Melmac a pagar no destino

- Alô! É você seu impertinente?
- Sou. Quem fala?
- É o Alf. Você se lembra? (*)
- Sim, claro. Não estava a conhecer a sua voz. Está com uma pronúncia diferente?!
- Até pode ser. Estou chegando a Melmac, voltando de Manaus. Tem lá gato gostoso dimais. Olha, também estive lendo suas bobagens nesse seu blogue Imprevidências.
- Impertinências.
- Pode ser. Mi conta uma coisa, rapais. Estou morrendo de curiosidade. Essa Maria José que está tratando do pito dourado é aquela mesma Maria José, a justiceira?
- Não é Pito, é Apito, e é essa mesmo.
- Olha aí
, isso quer dizer que voismicês não querem investigar o pito?
- O apito!
- O apito, se você faz questão.
- Claro que queremos investigar até ao fim. Todos apoiam a Maria José.
- Como até ao fim? Ela vai se demitir loguinho.
- Você acha isso?
- Está na cara.

(*) Um simpático alienígena, chamado Gordon Shumway, oriundo do planeta Melmac. O Impertinente teve o privilégio de conhecer pessoalmente Alf no verão de 2002, durante as suas férias com os Tanners na Quinta da Balaia. Desde então, Alf passou a acompanhar regularmente a vida política e cultural portuguesa (ver mais no Glossário).

25/12/2006

NÓS VISTOS POR ELES: hoje não há conquilhas, amanhã não sabemos

O governo e o jornalismo de (certas) causas tratam os portugueses como atrasados mentais atormentados por um infantilismo que os inibe de encarar a realidade. Segundo esta visão, os aborígenes, esmagados pelo falhanço da convergência real, depois de muitos milhares de milhões de euros dos contribuintes europeus torrados ingloriamente, precisam desesperadamente de boas notícias que lhes dêem lustro ao ego e lhes injectem a auto-estima perdida depois de 6 aumentos das taxas de juros que elevaram a um nível estratosférico as prestações da casinha, do chaço e do écran de plasma.

Talvez o governo e o tal jornalismo tenham razão, mas entretanto é melhor ir procurar por outras bandas uma percepção desapaixonada e desinteressada do que se passa cá no burgo. Por exemplo a percepção de Portugal pelos investidores internacionais.

Fonte: Portuguese Attractiveness Survey 2006, Ernst & Young. A percepção de Portugal pelos investidores internacionais baseou-se em entrevistas telefónicas em Março de 2006 duma amostra de 105 executivos de empresas internacionais que incluiu os investidores estrangeiros mais significativos.

24/12/2006

DIÁRIO DE BORDO: a cada um o seu natal - o natal lascivo

«... mas aqueles figos secos, com o interior avermelhado e repleto de minúsculas grainhas e, como se fosse pouco, abertos ao meio, com a noz a aparecer, são a minha paixão. Nesta espécie de sanduíche extra-seca e agridoce, encontro uma boa conjugação de sabores e de 'texturas': a noz estaladiça contrasta com uma certa esponjosidade do figo, apesar das grainhas crocantes. O figo começa por ser doce, mas acaba por ter um sabor ligeiramente acre e o mesmo se passa com a noz. Talvez a combinação feliz se deva a essa harmonia inesperada de sabores: a glicose do figo e da noz torna-se uma certa acidez, que precisa de algo mais doce para compensar e assim sucessivamente.» (Carla Hilária Quevedo, Sabores Natalícios, Cinco Sentidos, na Tabú do Sol)

É por essa, e por outras, que nunca digo Santo Natal.

23/12/2006

DIÁRIO DE BORDO: a cada um o seu natal (3)

Um Natal impertinente:
  • Santo Natal e um beijinho (Lapa, Boavista e classe A em geral)
  • Bom Natal e dois beijinhos (Telheiras, Antas e classe B em geral)
  • Feliz Natal e dois ou três beijinhos (choldra).

22/12/2006

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: sabemos, mas fazemos por esquecer

Secção Óbvio Ululante
«Portugal entrou para um clube de ricos, que tem exigências muito elevadas. E entrou sem ser rico, sem gostar de trabalhar e sem medir as consequências»
Três afonsos para José Miguel Júdice que nos lembrou hoje no PÚBLICO aquilo que todos sabemos mas não gostamos de encarar.

20/12/2006

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: perguntar ofende?

«Vistas assim as coisas, dir-se-ia que, do ponto de vista liberal, muito, ou quase tudo, está por fazer em Portugal. Por conseguinte, se assim é, devemos começar por tentar compreender como chegámos a um ponto destes ao fim de oito séculos de história, ou, em alternativa, porque nunca conseguimos passar disto? Por que razão Portugal continua a ser um país estatizado, onde não existem sequer instituições civis de defesa da cidadania? A resposta, temo, não será agradável de ouvir.» (blasfémia do blasfemo Rui no Blasfémias)

SERVIÇO PÚBLICO: o pódio, em retrospectiva (*) (3)

(*) uma vez mais

19/12/2006

SERVIÇO PÚBLICO: o pódio, finalmente (*) (2)

(*) outra vez
Evolução do PIB per capita, em paridade do poder de compra (quadro no Destak de hoje)

18/12/2006

SERVIÇO PÚBLICO: o pódio, finalmente

«Número de funcionários públicos: A confirmação de uma certeza», Miguel Frasquilho (no Jornal de Negócios)

16/12/2006

ARTIGO DEFUNTO: fazer o lugar do outro

Via Abrupto, cheguei a esta inacreditável recomendação da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Não faço a menor ideia sobre quem são e, sobretudo, o fazem pela vida as luminárias do Conselho Regulador, mas a recomendação que produziram podia perfeitamente ser escrita por um qualquer gabinete de comunicação dum qualquer partido.

Fiquei desapontado porque «o Conselho Regulador dá por encerrado este "diálogo", tão picaresco como pouco edificante», segundo as suas próprias palavras. Tão pouco edificante quanto bastante esclarecedor sobre o propósito da coisa chamada ERCS. Tivesse a coisa sido filha do cérebro daquele desajeitado braço direito do doutor Santana Lopes para os mídia, cujo nome não recordo, e teríamos a horda do jornalismo de causas assediando as canelas das luminárias da ERCS.

15/12/2006

SERVIÇO PÚBLICO: a insanidade mental do islamismo fundamentalista persa

O Irão nazi

por Nuno Rogeiro, no JN

A República "Islâmica" do Irão decidiu patrocinar uma reunião de nazis e racistas (incluindo David Duke, ex- "Grande Dragão" do Ku Klux Klan), elementos da extrema-esquerda "anti - ianque" europeia e japonesa, antigos membros dos "exércitos vermelhos" que semearam o terror na Europa (um dia falar-se-á sobre os mesmos, e os seus agentes em Portugal, sejam mais ou menos gordos).

A intenção era a de deslegitimizar o Estado de Israel, de negar a existência de um Holocausto nazi contra os judeus europeus e contra a civilização ocidental, nos anos 30. Por esse processo, pensavam a presidência e o Governo iraniano reunir, sob a sua bandeira, o mundo dos árabes de boa fé, criar um novo motivo de aliança dentro do Islão, e aproveitar os trunfos aparentes, gerados desde o relatório Baker.

Ver mais aqui.

13/12/2006

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: a ecoanomia portuguesa

Já se sabia que não temos uma economia, temos uma economia de pedintes, que não apenas vive da esmola de Bruxelas como gasta mal o óbolo. Segundo a comissária da filantropia Neelie Kroes, dos cerca de mil milhões de euros de ajudas apenas uma pequena parte foi aplicada no ambiente, educação, PME e Investigação e Desenvolvimento, que representam mais de 80% na média europeia. No nosso caso, o grosso da massa foi torrado em subsídios às empresas e benefícios fiscais na zona franca do Bokassa das Ilhas.

Será preciso explicar à comissária da filantropia que a economia portuguesa é uma ecoanomia?


Ecoanomia é um sistema económico em que não são válidas as leis da economia; os agentes ecoanómicos encontram-se num estado de dissonância cognitiva não se-governando-se, nem se-deixando-se governar, pelas regras económicas correntes nas economias.

12/12/2006

DIÁRIO DE BORDO: parecidos, todavia diferentes

Se comparar os curricula de Augusto Pinochet e de Fidel Castro, considerando os anos de exercício de ditadura (15 contra 50), o número de mortos pelos quais directa ou indirectamente são responsáveis (três mil e tal contra vários milhares) e last but not least o resultado das suas políticas (um dos dois países mais avançados da América Latina e uma versão tropical da Coreia do Norte), é-me difícil compreender a euforia da esquerdalhada pela morte do primeiro e o desgosto pela doença do segundo.

11/12/2006

ESTADO DE SÍTIO: mais anúncios

A lógica imparável do estado napoleónico-estalinista está bem patente em dois anúncios que hoje fizeram notícia nas secções de economia dos jornais.

O primeiro, é o anúncio pelos CTT de que deixou de valer o seu anterior anúncio de parceria com a Caixa para criar o banco postal. Enquanto isso, os CTT deitaram pela borda uma parceria já negociada pela anterior administração com o Banif, um dos poucos parceiros a quem poderia interessar tal parceria, por dispor de uma insuficiente rede de balcões. Ao deitar fora esta hipótese viável e procurar um parceiro baseado na equívoca solidariedade estatal, aquele senhor que ficou de presidente dos CTT, cujo nome agora não me ocorre, e que eu pensava que sabia tanto de negócios e de empresas como o Impertinente sabe de electrotecnia, aquele senhor, dizia, demonstrou que sabe ainda menos do primeiro tema do que eu do segundo. Ao procurar tal parceiro aquele senhor chamou implicitamente de besta ao finório que preside à Caixa, convidando-o a dar um tiro nos pés e arruinar o seu próprio negócio. Passado o período de nojo que estes coisas entre vizinhos exigem, o finório deixou aquele senhor anunciar a morte dum cadáver já frio há um ano.

O segundo, é o anúncio pelo governo (convenientemente apresentado como um documento a que o DN teve acesso) da criação da Empresa de Serviços Partilhados da Administração Pública (ESPAP) que irá gerir e acompanhar os supranumerários, ao mesmo tempo que prestará serviços (compras? logística? processamento de salários? gestão da frota automóvel?) à Administração Pública. Parecendo à primeira vista um modelo da plataforma de backoffice adoptado por inúmeros grupos e grandes empresas, as parecenças abortam, ainda antes das 10 semanas, quando se antecipa o resultado de atulhar na ESPAP os supranumerários alijados pelos outros serviços, por invalidez e/ou incompetência, que terão que ser duplicados por gente mais expedita a recrutar nas longas listas de espera do PS. Todo este aparato acabará devidamente ancorado em empresas de consultoria que no final farão o trabalho e poderiam dispensar os supranumerários e até os numerários.

10/12/2006

CASE STUDY: 5% de inspiração e 95% de transpiração

Ao ler o post do maradona sobre o inspirado pontapé livre de Ronaldinho (vídeo aqui), lembrei-me de What it takes to be great publicado na Fortune há uns tempos.

O jornalista Rob Hughes citado por maradona parece acreditar que o génio de Ronaldinho surge miraculosamente dentro do crânio do homem, por obra e graça do divino espírito santo. Se for assim, peço licença para discordar da luminária. Se a coisa fosse tão simples, da lei dos grandes números deveria resultar que entre o Seixal e Alcochete já teriam surgido um ou dois Ronaldinhos. Suspeito que será preciso acrescentar algo mais. No caso do Ronaldinho, dizem-me, é o seu cão com quem brinca com uma bola de ténis incontáveis horas por dia (os colegas de equipa já não estão para o aturar).

Chegados a este ponto, temos um bom ponto de partida para perceber porque diabo, havendo tanto talento em Portugal e tantas mentes brilhantes à espera de serem descobertas (*), se encontra a pátria em permanente declínio desde o século XVI, com dois curtos períodos que se seguiram à adesão à EFTA no princípio dos anos sessenta e à adesão CEE no meio da década de oitenta (think about).

É aqui que entra Geoffrey Colvin fazendo o ponto de situação das pesquisas sobre a relação entre o talento natural e a excelência no desempenho, seja ele no desporto, nas artes, nas ciências ou no negócio. A conclusão curta e grossa é: the lack of natural talent is irrelevant to great success. The secret? Painful and demanding practice and hard work.

A leitura de «What it takes to be great» pode assim ajudar a perceber melhor que uma cultura que desvaloriza o esforço, o trabalho duro, o saber fazer, a procura (obsessiva) da excelência, os resultados práticos e privilegia a oratória, os elaborados rendilhados intelectuais, a elegância imaterial do processo contra a rude materialidade do produto, dificilmente transforma talentos naturais em grandes performers. Mais facilmente transforma talentos naturais em brilhantismos pueris e amaneirados. E sem ovos não há omeletas, ou sem grandes performers não há grandes performances.

(*) Como nos recordam todas as semanas as inumeráveis páginas do Expresso e do seu alter ego Sol, onde jornalistas separados à nascença se esfalfam por melhorar a nossa auto-estima.

09/12/2006

CASE STUDY: quem dá o pão, dá o pau

Nas suas reflexões sobre o Estado Moderador, Rui Ramos responsabiliza a esquerda moderna pelo intervencionismo moralista do estado napoleónico-estalinista que invade o domínio privado dos cidadãos pretendendo iluminá-los para «os levar a valorizar o serviço» (nacional de saúde) ou querendo impor-lhes um contrato bilateral com o Estado, para os levar a aceitar o ónus dos seus putativos deveres face ao mesmo estado napoleónico-estalinista.

A primeira é a versão doméstica das taxas moderadoras do engenheiro Sócrates, inventada depois da falência inescapável do SNS. A segunda é a versão de Tony Blair, inventada vários biliões de libras depois despejados sobre o NHS.

A mim não me parece que a esquerda, seja a moderna ou a tradicional, tenha especiais culpas neste estado de coisa. Em Portugal, pelo menos, é especialmente evidente que, à parte pequenas miudezas, a direita propõe e tem aplicado a mesma medicina e nunca pôs em causa a panaceia do serviço nacional de saúde tendencialmente gratuito. A direita (e a esquerda, quanto está atascada no atoleiro das finanças públicas) discute, quanto muito, o que seja tendencialmente.

Na Grã-Bretanha, afora os tempos longínquos da Iron Lady, também não me parece que os tories se distingam especialmente dos trabalhistas a este respeito. Isso é especialmente evidente com o actual líder conservador David Cameron aka Dave the Chameleon, cujas propostas, neste domínio como noutros, não são muito diferentes das de Blair.

Também não me parece que as responsabilidades se esgotem nos políticos, das direitas ou das esquerdas, que foram livremente eleitos para aplicar tais políticas. Políticas que, reconheça-se, são as políticas que os cidadãos esperam que apliquem, mas cujos custos parecem pouco dispostos a suportar.

E esses custos vestem diferentes roupagens, todas elas bastante chocantes para os sujeitos passivos, por umas razões, e para as elites bem-pensantes, por outras. Se o peso da carga fiscal é já asfixiante (Portugal) ou começa a sê-lo (GB), o que incomoda a generalidade dos contribuintes, a intrusão do estado napoleónico-estalinista na vida sexual, nos hábitos de consumo e nos vícios privados incomoda sobretudo as elites. Incómodo que, se é hipoteticamente genuíno no caso das luminárias liberais, é repulsivamente hipócrita no caso das luminárias colectivistas, de esquerda ou de direita.

07/12/2006

SERVIÇO PÚBLICO: a notícia da retoma é um pouco exagerada ou a economia não se deixa impressionar com sound bites do governo

Teixeira dos Santos considera que números do PIB confirmam retoma económica (DE). Pois.

O aumento dos juros da dívida nacional pública e privada ao estrangeiro que este ano já estava em quatro mil milhões de euros, deve atingir cinco mil milhões de euros com o impacto nas Euribor do aumento da taxa de refinanciamento para 3,50% que o BCE decidiu hoje.

O aumento previsto pela OCDE do défice da balança de transacções correntes para 9,2% em 2007 e 9,9% em 2008, talvez se explique porque «anda muita gente a financiar o consumo com dinheiro que não é seu».

Apesar da grandiloquência dos governos dos senhores engenheiros Guterres e Sócrates e do senhor doutor Durão Barroso aka José Barroso, das agendas Lisboa e dos Planos Tecnológicos, nenhum destes senhores se incomodou a obrigar os operadores TMN, Optimus e Vodafone a investir os quase mil milhões de euros «que se comprometeram investir no desenvolvimento da Sociedade de Informação (SI) durante os 15 anos de duração da licença para exploração do UMTS (ou terceira geração), aquando do concurso público de atribuição das licenças». (JN)

06/12/2006

DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (16)

E o espermatozóide? Não é para aqui chamado?

E o dono do espermatozóide? Não tem direitos? E, já agora, não tem obrigações?

Exercícios anteriores de maiêutica em (0), (1), (2), (*), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14) e (15)

(*) O n.º 3 abortou.

05/12/2006

BREIQUINGUE NIUZ: Madonna crucificada

A performer Madonna, Louise Cicciolina na vida real, vai representar pendurada numa cruz no próximo domingo, em Roma, a versão softcore de «Live To Tell» durante um espectáculo de karaoke, que é o primeiro depois da sua tentativa falhada de comprar um rapazinho no Malawi .

Por alguma razão, não são esperadas manifestações de protesto dos movimentos politicamente correctos, condenando a ofensa, implícita na prestação, aos fiéis de uma religião cujas origens remontam à Palestina ocupada pela potência imperial da época, dois mil anos atrás. Por alguma outra razão, não se prevê que os fiéis dessa religião venham a queimar viva a promíscua performer, como no passado os seus antecessores fizeram com outras blasfemas, por muito menos (ver mais aqui).

04/12/2006

BLOGARIDADES: esadof, o homem é humano!

«Esadof! Como é grande o poder do capitalismo para fazer dissolver os bons velhos costumes, tementes à Obra, do Millenium BCP, fazendo-o, esadof!, falar assim para vender uns servicinhos à malta do dito...» (Abrupto)

03/12/2006

ESTÓRIA E MORAL: para que servem as leis?

Estória

Na sequela das supostas declarações do ministro da Propaganda, «o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recusa a ideia que a ERC seja uma entidade com competências censórias. ... Azeredo Lopes chama a atenção para o facto de os artigos da lei que determinam a capacidade de a ERC mandar suspender programas e a emissão serem, na prática, inaplicáveis. "Se considerarmos que uma operadora está a passar um programa claramente pornográfico, poderemos notificar a estação para suspender esse programa. Mas a operadora pode recorrer judicialmente da decisão e o caso pode prolongar-se na justiça por mais de três anos, até que transite em julgado e se possa aplicar alguma coima"». (Expresso)

Moral

As leis em Portugal são duras, mas a prática é mole (Filipe II de Espanha, I de Portugal)

02/12/2006

DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (15)

Pode legitimar-se o aborto com vários fundamentos. O mais honesto de todos é o dos direitos da mulher. A mulher é dona do seu corpo, logo a remoção do embrião ou do feto é uma decisão da qual não tem que dar satisfações - é equivalente à remoção dum pólipo. Neste caso, Sócrates (o da maiêutica) perguntaria: sendo assim, porquê limitar o aborto às 10, ou 12 ou 16 semanas? Ou ainda, e o embrião ou o feto não têm direitos?

Há também o fundamento científico que está quase sempre implícito nos que não têm a ousadia de usar o fundamento absoluto dos direitos da mulher. O embrião ou o feto só é um ser humano quando há vida cerebral e esta começa às 12, às 16 semanas, mais tarde ou mesmo muito mais tarde, segunda a seita. Até lá, o embrião ou o feto não teria direitos. A estes Sócrates (o da maiêutica) poderia perguntar onde estão as provas disso, se não há consenso na comunidade científica? E, na dúvida, será razoável esperar 10 semanas se a mulher sabe está grávida, em média, depois de 4/5 semanas e, em caso de dúvida, pode fazer um teste que custa o equivalente a um ou dois carregamentos de telemóvel?

Temos os argumentos utilitaristas. A liberalização do aborto até às 10 semanas irá diminuir o número de abortos, dizem uns. Como assim? Quem hoje faz um aborto clandestino não o faria podendo fazê-lo gratuitamente num hospital? E quantas mulheres que hoje ponderam o risco e o desconforto material e moral contra o desconforto de um filho não desejado e acabam por aceitar a segunda alternativa, não recorreriam ao aborto gratuito em hospital?

A liberalização do aborto irá diminuir a criminalidade associada aos filhos indesejados em famílias disruptivas que mais tarde serão delinquentes, alegam outros. Talvez sim. Mas então porque não prolongar um pouco mais a lógica e a moral subjacente e aceitar a eutanásia dos jovens presumíveis futuros delinquentes?

A penalização do aborto não evita que os abortos se continuem a fazer em más condições sanitárias, com maior risco para a mulher e adicionando a sanção moral e jurídica da sociedade ao sofrimento da própria mulher (um argumento particularmente repugnante), defendem alguns. É provavelmente verdade. Mas, uma vez mais, porque não prolongar um pouco mais a lógica e a moral subjacente e defender despenalização do crime passional (por exemplo, o assassinato do marido por ciúme) cuja sanção moral e jurídica se acrescenta ao sofrimento da própria mulher?

Exercícios anteriores de maiêutica em (0), (1), (2), (*), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13) e (14).

(*) O n.º 3 abortou.

01/12/2006

BREIQUINGUE NIUZ: desde que, disse ele

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação da extrema-direita de natureza xenófoba o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"». (Augusto Santos Silva, ministro da Propaganda, citado pelo Expresso, posteriormente corrigido)

Outras doutrinas que outros ministros da Propaganda poderiam ter estabelecido se tivessem a oportunidade e o Expresso lhes desse guarida:

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação da extrema-esquerda de pró-aborto o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"»

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação comunista de natureza internacionalista o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"»

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação da centro-esquerda de natureza colectivista o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"»

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação do centro-direita de natureza pró-europeia o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"»

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação da esquerda libertária de natureza anarquista o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"»

«Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, "no final de uma reportagem sobre uma manifestação da direita de natureza capitalista o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação"»