Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/01/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Há fundadas dúvidas se será e parece-o cada vez menos

Secção Sol na eira e chuva no nabal
O professor Freitas do Amaral já fundou um partido que abandonou; já esteve sitiado durante um congresso desse partido por alguns dos suas actuais amigos do BE; já teve como adversário político nas presidenciais a sua actual alma gémea, que à época pouco faltou para lhe chamar fascista; já deixou de ser deputado para voltar a sê-lo por uns mesitos só para completar os 8 anos que lhe deram direito a uma confortável reforma para arredondar o seu pecúlio. Fez um longo caminho até chegar à declaração de apoio ao PS e ao engenheiro Sócrates. Para perceber o seu percurso, explicam-me, é preciso compreender as sucessivas humilhações a que foi sujeito o seu inchado ego. Pelo doutor Cavaco e pelo PSD, que não lhe pagaram a campanha presidencial e pela administração americana durante o seu mandato de presidente da AG da ONU, onde foi, como os seus antecessores e sucessores, pouco mais do que um mestre-cerimónias tentando pôr alguma ordem em reuniões dominadas por uma sólida maioria de representantes de ditadores corruptos.

Com boa vontade consegue-se perceber a coisa. Não se consegue perceber que, sendo presidente da mesa da assembleia geral da Caixa, tenha aceite dar um parecer sobre a integração do fundo de pensões da própria Caixa na CGA. É irrelevante que o parecer tenha sido contra ou a favor (foi contra) ou que tenha sido pedido pelo governo ou pelos sindicatos (foi pelos sindicatos).

Mesmo que seja sério (e com um passado deste, parece pouco) seria preciso também parecê-lo. Ficará ainda mais difícil parecê-lo se aproveitar a eventual vaga do engenheiro Guterres para ser o candidato do engenheiro Sócrates a PR.

Leva três ignóbeis e ainda quatro bourbons, porque, pelos vistos, a coisa ameaça tornar-se um hábito.

30/01/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O rei do futebol é um emigrante

Só num país merdoso pode ser olhado de lado um treinador, por causa da má cara e de ser pouco dado a falas. Um treinador que sem exagero é considerado, no país que inventou o futebol, por uns gajos um bocado xenófobos, o «rei» do dito. Um país que, ao mesmo tempo, venera uns treinadores piolhosos e umas nulidades bem falantes que vestem uns armanis.

Cinco afonsos para o professor doutor Zé Mourinho.

SERVIÇO PÚBLICO: «O que pode acontecer ao PS é trágico»

«Sala Roma do Hotel Altis. 19 de Janeiro de 2005, 21:45 h. Novas Fronteiras - Cultura.

Dirigi-me para o cantinho onde estavam vários directores gerais e assessores culturais que pareciam divertidos. Ouvimos com atenção o painel que defendeu a impulsão do investimento na Cultura, com o argumento de que a Cultura é "produtora de riqueza", que se deve estruturar, proteger, manter ou mesmo aumentar o financiamento do Estado à actividade cultural...
Saí, em silencioso protesto, depois da loooonga e narcísica intervenção do ex-ministro da cultura mais famoso do PS, que defendeu, mais uma vez e cegamente, o modelo francês para lidar com as artes, modelo que, como toda a gente sabe, só se aplica à França porque que esta se julga herdeira e depósito da cultura universal (embora as melhores bibliotecas e museus do mundo estejam na América e sejam quase todos privados).

O que pode acontecer ao PS é trágico: só ser aconselhado culturalmente pelo próprio Estado, nos seus vários planos opressivos: debordianos, adornianos, deleuzianos, etc., e não por uma juventude "cool" * (bastava "semi-cool") ou cenas com onda.»
[ler o resto do texto de Pedro Estilita aqui]

29/01/2005

DIÁRIO DE BORDO: Homofóbico? Moi?

«A insinuação e a calúnia são obra dos cobardes. Levar este comportamento para a política é colocar uma ventoinha no meio da lama. Suja todos. Os que recusam esta postura e os que começaram a fazer dela um instrumento de combate político», escreveu o doutor Coelho no seu artigo de opinião «O indigno estratagema do boato».

O doutor Coelho escreve uma página A4 sem nomear uma única vez o santo ou o milagre. É claro que todos percebemos que deve estar a falar do caso do engenheiro Sócrates, que se diz ser homossexual.

Um pergunta inocente: se o boato insinuasse que o engenheiro Sócrates é um Casanova, um arrache-coeur do mulherio, o doutor Coelho escreveria o seu libelo contra a cobardia dos caluniadores? Não o fez, durante os vários anos em que o inner circle do engenheiro Sócrates espalhou exactamente esse boato. Porque não o fez, nem certamente o faria? Talvez simplesmente porque sofra da homofobia dos cobardes. No fundo daquela alma tortuosa, ele acha que ser homossexual é censurável, mas não tem coragem de o assumir. E talvez o engenheiro Sócrates lhe faça companhia.

O Impertinências, homofóbico conservador, se tivesse que votar no engenheiro Sócrates não deixaria de o fazer por ele ser talvez homossexual, mas começa a desconfiar que mais importante do que ele ser talvez homossexual é ele ser talvez cobarde.

28/01/2005

TRIVIALIDADES: Um enigma socialista (a revelação)

A resposta certa a esta pergunta é Adolfo Hitler. Foi ele quem disse as palavras citadas num discurso pronunciado no dia 1 de Maio de 1927 [lembrado por ¡No Pasarán! neste post].

Além dum amigo italo-português (só podia ser) que me enviou 7 mensagens, cada uma delas com uma resposta diferente, as outras falharam vergonhosamente. Um dos respondentes escolheu uma oitava possibilidade: o saudoso deputado Américo Duarte, a voz da classe operária na assembleia constituinte. Houve também um provocador que sugeriu o doutor Ferro Rodrigues, que poderia ter proferido aquelas vibrantes palavras num comício, num momento de grande exaltação socialista.

Aqui ficam, outra vez, para a posteridade, as palavras do camarada Adolfo:
«Nós somos socialistas, nós somos inimigos do actual sistema económico capitalista para a exploração dos economicamente fracos, com os seus salários injustos, com a valorização imprópria dos seres humanos com base na riqueza e no património, em vez da responsabilidade e da produção. Nós estamos determinados a destruir este sistema em quaisquer condições.»


[diferentes, mas iguais]


27/01/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Por uma vez o doutor Calimero está carregado de razão

Só num país terceiro-mundista é possível ver políticos a navegarem de secretarias de estado para autoridades de regulação, ou para administrações de empresas públicas e vice-versa, saltitando de campanha em campanha perorando sobre os desígnios da nação.

É o caso do doutor Teixeira dos Santos, actual presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e antigo secretário de estado do doutor Sousa Franco.

É claro que o doutor Calimero, antes de denunciar este mau costume, devia olhar para dentro da sua casa, cujos armários estão entulhados de esqueletos.

São práticas deste tipo que nos afastam da Europa e nos mantém próximo das antigas colónias (ou PALOPs se gostarem mais assim).

TRIVIALIDADES: Milagres eleitorais - a banha da cobra «delirante» (5)

Confesso, até mesmo eu fiquei surpreendido com o programa do PSD. Esqueci tudo o resto e retive apenas o aumento da produtividade de 64% para 75% da média europeia, em 4 anos. Disseram as gentes do PS que o programa é irrealista. Até mesmo «delirante», disse o doutor Silva Lopes que, de caminho, confessou que, também ele, não acredita muito nos socráticos 3% de crescimento.

Estão enganados. Vamos supor que produtividade de que fala o PSD é o PIB/hora trabalhada. Nesse caso só temos que deixar de trabalhar (ir ao serviço) à sexta-feira. Se a produtividade de que fala o PSD é o PIB/empregado, só precisamos mandar os funcionários públicos todos para casa descansar (em vez de o fazerem na repartição). No primeiro caso precisamos de trabalhar um bocadinho mais rápido para irmos mais cedo de fim de semana. No segundo caso, nem isso.

É só fazer as contas. E pronto. Como vêem, é fácil.

26/01/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O render do guarda

Secção Res ipsa loquitor
aqui me queixei do engenheiro Jardim Gonçalves, responsável pelo «infortúnio da destruição de valor dos últimos cinco anos» a que sujeitou o BCP.

Até já aqui dei voz ao senhor Paolo Borsalino que, também ele, se queixava do mesmo, acusando o engenheiro de usar «velhas técnicas da "Contra-informação" aplicadas pelo velho KGB».

Apesar disso, tenho que reconhecer que foi preciso coragem e competência para limpar os cacos e arrumar a casa, em vez de dar à sola. Ainda há muito trabalho pela frente, mas a herança do doutor Teixeiro Pinto, tutelada do alto do Conselho Geral pelo omnipresente engenheiro, é um banco razoavelmente sólido, um bom exemplo do que o talento e a iniciativa privada, livres da sufocante presença da vaca marsupial pública, podem fazer num mercado concorrencial.

Agora o BCP Millennium está pronto para um takeover ou para ser engolido pela Caixa.

Cinco merecidos afonsos para o engenheiro

TRIVIALIDADES: Um enigma socialista

«Nós somos socialistas, nós somos inimigos do actual sistema económico capitalista para a exploração dos economicamente fracos, com os seus salários injustos, com a valorização imprópria dos seres humanos com base na riqueza e no património, em vez da responsabilidade e da produção. Nós estamos determinados a destruir este sistema em quaisquer condições.»

Quem disse estas verdades eternas?

  1. Lenine ou os camaradas barnabés
  2. Professor Salazar ou o doutor Francisco Rolão Preto
  3. Estaline ou o camarada Jerónimo de Sousa
  4. Adolfo Hitler ou o doutor Joseph Goebbels
  5. Trotsky ou o camarada doutor Anacleto Louçã
  6. George W. Bush ou Irving Kristol
  7. Mao Ze Dong ou o ex-camarada José Manuel aka doutor Durão Barroso

[Resposta para o correio impertinente]

Entre os eruditos acertadores, será escolhido por sorteio o felizardo a contemplar com uma edição de 1964 de «A origem da família, da propriedade privada e do Estado» de Friedrich Engels, editorial Vitória, Rio de Janeiro, com uma bela capa extraída de «O Escudo de Aquiles, uma gravura anagliptográfica de Flaxman, publicada em Londres, em 1846».

Boa sorte, camaradas.

25/01/2005

TRIVIALIDADES: Irreflexões impertinentes

A leitura de fim de semana do Semanário Económico, um jornal decentemente banal, inspirou-me duas irreflexões.

A primeira a propósito do título na 1ª página «Joe Berardo interessado na Lusomundo - Como investe o Warren Buffet português». Citando-me:
«Warren Buffett é o presidente da Berkshire Hathaway e um dos maiores investidores do mundo. Para ele não há bear market. Nos 40 anos de 1964 a 2003 o book value por acção da Berkshire Hathaway aumentou em média mais de 20% por ano. WB (é) também conhecido como o Sage de Omaha.»
Porque têm os portugueses a obsessão de se compararem constantemente com o pessoal de outras galáxias? O que é que um gajo que escreve uma carta aos accionistas como esta tem de comum com um Sábio do Machico?

A segunda irreflexão foi-me inspirada por uma foto do doutor Paulo Azevedo, presidente executivo da Sonae.com, filho do engenheiro Belmiro (que me lembre, de momento, um dos poucos empresários portugueses com eles no sítio). Nessa foto, o doutor Paulo aparece, como frequentemente noutras fotos, com o nó da gravata um pouco desconchavado e ligeiramente descaído. É um óbvio contraste com todas as luminárias cujas fotos também aparecem no mesmo jornal, com gravatinhas aprumadinhas e nós estilosos. A avaliar pelas performances do grupo Sonae e a independência de espírito dos Azevedos, tenho a impressão que um dos nossos problemas é que temos demasiados empresários engomadinhos que imaginam que um nó górdio se corta com a mesma facilidade com que se desfaz um nó double-windsor.


[Descubra as diferenças]

24/01/2005

SERVIÇO PÚBLICO: O monstro que nos devora e se devora

Dois terços dos «produtos» que constituem o output da Administração Pública têm como «clientes» a própria Administração Pública, segundo «o relatório sobre a «Caracterização das Funções do Estado» elaborado pela Inspecção-Geral das Finanças (IGF) em 2003, sob a liderança da então ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite». [Diário Económico]

Esta vaca marsupial pública engole 50% da palha que produzimos e rumina, rumina, rumina, e não faz nada. Só bosta, só bosta, só bosta. Só bosta um terço do que engole.

Perguntas impertinentes:
  • Por onde tem andado o sacana do relatório desde 2003?
  • Será possível que os amantes do estado social não percebam isto?

23/01/2005

DIÁRIO DE BORDO: Economia mediática

Talvez inspirado no relevo que a economia parece assumir cada vez mais nos discursos milagreiros dos políticos, à medida em que nos afundamos na fossa abissal da nossa paralisia, acrescento mais um termo ao Glossário das Impertinências.

Economia mediática
Aquilo de que falam os «200 palhaços que vão à televisão falar de economia» (professor João César das Neves). Disciplina que compreende desde uma caldeirada de desconchavos e demagogia (worst case) até às maiores banalidades (best case) e que em média é bastante medíocre.


PUBLIC SERVICE: Conservative standpoint about homophobia - sound common sense

«Homosexual behaviour is using sexual organs in an abnormal way so it seems to me simply accurate to call it perverted or deviant or queer but if people don't have a right to do what they want with their own bodies then the state of liberty is very bad indeed. So I see no reason whatever why their private behaviour should earn homosexuals any kind of punishment or hurt or bad treatment. And as far as I can see, that is overwhelmingly both the normal view and the normal practice throughout the Western world today. I do however have the perfectly mainstream belief that homosexual advocacy should be kept away from children. As far as I can see, some homosexual behaviour is innate and some is learned. So some kids could go either way. And all parents want the happiest life possible for their children so do not want them lured into a lifestyle associated with much unhappiness and loss -- including early death. The average life expectancy of homosexuals is around 40 years. And "gay men were six times more likely to suffer adult sexual abuse or rape
["HOMOPHOBIA", Dissecting leftism]

22/01/2005

TRIVIALIDADES: Milagres eleitorais - a banha da cobra operária (4)

O camarada secretário-geral Jerónimo de Sousa é o milagreiro do dia. O programa eleitoral do PCP dá-nos o maná ainda antes de chegarmos à terra prometida, ou seja àquela ilha do camarada Fidel ou ao outro paraíso que ainda resta à guarda do camarada Jong.

Ao camarada secretário-geral repugnam os «sacrifícios» a que o companheiro Sócrates pretende sujeitar-nos. O PCP, diz-nos ele, dá-nos tudo o que sempre ambicionámos mas temos vergonha de exigir. Para começar «a "dinamização do consumo", que passa por um "crescimento do rendimento das famílias de forma sustentada". O que significa, nas medidas apelidadas de "urgentes" pelos comunistas, um aumento intercalar em 2005 do salário mínimo nacional, fixando-o em 400 euros, assim como dos vencimentos da Administração Pública em 3%.»

«Em matéria de segurança social, o PCP defende aumentos das pensões e reformas, fixando a pensão social em 178 euros, a pensão agrícola em 214 euros. Na área da fiscalidade, os comunistas querem, por exemplo, o regresso das taxas do IVA de 19% para 17% e o desagravamento do IRS sobre os rendimentos do trabalho com o aumento progressivo, entre 2005 e 2008, da dedução específica, fixando-a em 80% e 100% do salário mínimo nacional.» [DN]

E essa coisa do crescimento de 3% não é coisa para homens. O camarada Jerónimo visa mais alto: 4%, nem menos um tostão.

E como chegaremos lá? Já que perguntam, sempre vos digo que não é muito importante. São as medidas do costume, acrescentadas duma «eficiente utilização dos dinheiros comunitários» que é a maneira que o PCP vê de chupar as espórtulas da Europa dos monopólios.

Falta alguma coisa? Falta. O camarada não nos promete o fim da seca.

21/01/2005

BLOGARIDADES: A melhor marretada da semana

«Jerónimo de Sousa disse isto durante um debate na SIC Notícias: "Esta eleição é para 230 deputados, não é para eleger um primeiro-ministro." Ai o caraças... Então em Julho, Santana Lopes não era o gajo a quem faltava legitimidade porque não tinha sido eleito primeiro-ministro nas eleições de 2002? O marxismo-leninismo moderno é como a alta costura. O que se usa na colecção de Verão não se repete na de Inverno.» [do Marreta STATLER]

CASE STUDY: Subsídios para o programa do governo do engenheiro Sócrates (3)

Ao ler «O princípio da Não Escolha» de Helena Matos no Público, texto para o qual os sempre atentos blasfemos chamaram a atenção, ocorreu-me mais um subsídio para mitigar o deserto de ideias inundado de palavras da campanha do engenheiro Sócrates.

Desta vez trata-se de melhorar o estado deplorável do ensino básico. Não é um cheque-educação para os pais. Nada disso. Nem mesmo fazer depender uma parte variável da remuneração dos professores das notas dos seus alunos nos exames nacionais. Nada dessas medidas «neo-liberais» que, aliás, seriam «fracturantes» da base de apoio do PS.

Actualmente a matrícula dos alunos do ensino básico está limitada à escola da residência dos pais ou, quanto muito à escolha, sujeita a vaga, de uma outra escola do mesmo agrupamento. Quanto a exames nacionais (os únicos não manipuláveis pelas escolas) têm lugar apenas nas disciplinas de português e matemática no 9º ano. Em vez deste sistema perpetuador da preguiça dos alunos e da incompetência dos professores, trata-se, simplesmente de fazer exames nacionais em todas as disciplinas relevantes no final de cada um dos 3 ciclos do ensino básico, publicar o ranking das escolas, dar aos pais a opção de escolher livremente a escola onde matricularão os seus filhos e colocar os professores em linha com o número de alunos matriculados.

20/01/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um presidente todo o terreno

Secção A título póstumo
«Quando o Jorge Sampaio era presidente da câmara, apareceu na televisão a passear pelo Casal Ventoso com uma série de delegados de Bruxelas. Quando foi abordado por um drogado, disse-lhe: "É pá, afasta-te, que estou aqui a ver se sacamos algum dinheiro a estes tipos, revelou o filósofo José Gil ao Público. [via uma referência d'A Praia]

Merece o doutor Sampaio, retroactivamente, na sua antiga encarnação de presidente da CM Lisboa, três ignóbeis pelo mimetismo e pela falta de vergonha de assumir a qualidade de presidente dos pedintes alfacinhas e quatro chateaubriands por não ter percebido que o sucesso dos pedintes é o sucesso do insucesso.

19/01/2005

PUBLIC SERVICE: «The charms of a Disneyland with the worst of the Soviet gulag prison camp»

«The facility - part amusement park, part open air museum - is circled by barbed wire and guard towers, and dotted with some 65 bronze and granite statues of former Soviet leaders Vladimir Lenin and Josef Stalin, and assorted communist VIPs.
Stalin World is on the edge of the village of Grutas, 120 kilometers southwest of Vilnius, and a few kilometers from the town of Druskininkai. From Vilnius, take the A-4 highway. The park’s open from 9:00-19:00. For more info, call tel. 33-55511, with area code 370 from abroad and 82 from within Lithuania
» [CITY PAPER magazine]

Communists who miss the good old days go east to Stalin World

TRIVIALIDADES: Milagres eleitorais (3)

Decididamente o engenheiro Sócrates não gosta de coisas fáceis. No último Fórum Novas Fronteiras ele anunciou a criação de uma «prestação extraordinária» para «todos os pensionistas com rendimento abaixo do limiar da pobreza», limiar que ele próprio não soube explicar o que fosse, quando foi questionado pelos jornalistas. Com a «prestação extraordinária» os velhinhos vão poder desfrutar dum rendimento mensal de 300 euros, maquia que lhes permitirá aceder a um écran de plasma de 11 polegadas, com o qual as quintas das celebridades ficarão indistinguíveis dos programas culturais da 2:.

Para financiar os 200 milhões que custará a felicidade dos velhinhos, o engenheiro Sócrates irá combater a «evasão nas contribuições, a fraude no subsídio do desemprego e no subsídio da doença». Supunha-se que os combates dos seus colegas de governo doutores Ferro Rodrigues e Pedroso deveriam ter limpo o terreno de batalha, mas ele próprio não parece muito certo disso. Seja como for, prevê «poupar 500 milhões de euros por ano, só através da fiscalização». Com os 300 milhões excedentários poderá ainda fazer-se o upgrade dos écrans das 11 para as 19 polegadas, reduzindo as consultas de oftalmologia e poupando no orçamento do SNS.

Também poderá poupar o bestunto a imaginar soluções para aumentar a produtividade. O engenheiro João Proença, secretário-geral da UGT, aliviou-lhe a preocupação ao declarar no Fórum que «a produtividade se crescer muito pode provocar perda de postos de trabalho». Portanto, senhor engenheiro Sócrates, faça favor de não se pôr para aí a desatinar com a produtividade. Em vez disso, porque não incluir no programa de governo o fim da seca que, devido à incúria do doutor Calimero, nos aflige desde há 2 meses?

18/01/2005

DIÁRIO DE BORDO: Igualdade? Qual igualdade?

No último domingo, o doutor António Carrapatoso, presidente da Vodafone Portugal e promotor do Compromisso Portugal, durante uma entrevista no programa «Diga lá excelência» na 2:, disse, referindo-se ao papel do estado, que «é necessário para assegurar a igualdade de oportunidades».

Não terá sido por acaso, suponho, que disse «igualdade de oportunidades» perante uma aparente surpresa das duas jornalistas que o entrevistavam. Tem toda a razão, para mim que sou um liberal pragmático que defendo o estado mínimo mas acho pueris as fantasias anarco-libertárias, este é um dos poucos papéis inquestionáveis que só estado pode e deve assegurar.

Retomarei o tema, em breve, a propósito das graves ameaças à meritocracia na sua própria pátria - os EU.

CASE STUDY: Subsídios para o programa do governo do engenheiro Sócrates (2)

Num deserto de ideias, um dilúvio de palavras, continua a ser uma boa síntese do pensamento político do engenheiro Sócrates.

Depois da reforma fiscal, a política de subsídios do Impertinências ao líder do PS trata hoje da reforma da justiça e, de caminho, do cumprimento do seu voto piedoso de crescer 3% por cento anualmente durante a legislatura.

Tudo isto se (um se de tamanho médio) o estudo da doutora Célia Costa Cabral, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, for um pouco mais rigoroso do que o estudo duma outra investigadora que detectou vestígios de não sei o quê, nos cigarros da marca não sei qual, vestígios que todos os outros, não sei quem, não encontraram.

Segundo a doutora Célia, «um melhor desempenho do sistema judicial levaria a um crescimento da produção de 9,3 por cento, o volume do investimento cresceria 9,9 por cento e o emprego 6,9 por cento. Tudo somado, teríamos um acréscimo de 11 por cento na taxa de crescimento do PIB e uma economia seguramente mais pujante».

Claro que para conseguir estes resultados o engenheiro Sócrates teria que comprar umas boas brigas com várias corporações, tais como magistrados, PJ, funcionários judiciais, funcionários públicos em geral e todo o aparelho sindical com as suas dezenas de milhar de aparatchiks que veriam o ataque ao bastião da justiça como uma séria ameaça às suas barbacãs. A coisa, portanto, não será fácil. Mas se fosse fácil, costuma dizer um gajo que conheço, não seria para o engenheiro Sócrates que é um homem que tem um rumo (só que não sabe ainda qual seja).

17/01/2005

DIÁRIO DE BORDO: Telefonou-me o Gordon Shumway

A chamada de Melmac foi a pagar no destino (quero dizer por mim). Alf, sem dar notícias desde a altura em que me falou a propósito dos mamilos do Zé, ligou-me a comunicar os resultados das suas análises à nossa complicada conjuntura política. Deu-me conta do que seriam os melhores resultados eleitorais para o país que ele conhece bem desde que passou umas férias escondido com os Tanners na Quinta da Balaia, onde comeu todos os gatos das redondezas. Diz ele que, considerando a pouca disposição das portuguesas e dos portugueses (ele usa esta expressão desde que a ouviu num discurso do doutor Sampaio) para aceitarem os apertos de cinto e o desconforto que as circunstâncias exigem, os melhores cenários serão, por ordem decrescente de preferência e por razões que ele teria explicado se eu não me preocupasse com as contas do telefone, os seguintes:

1) Coligação pós-eleitoral do PS sem maioria absoluta com o PCP, a UDP e a LCI, via os seus veículos CDU e o BE, respectivamente;

2) Coligação pós-eleitoral igual à anterior sem o PCP;

3) PS sem maioria absoluta, com acordos pontuais com o BE e/ou o PCP, ou com deputados do queijo;

4) PS com maioria absoluta;

5) Coligação do PSD (liderado pelo doutor Calimero) e PP.

Segundo Alf de Melmac, a cada um desses cenários corresponde um diferente período de carência para introduzir as temidas reformas necessárias.

1) A meio da legislatura a coligação desfaz-se, o governo demite-se e o PR em exercício nomeia um novo governo PS que não passa na AR; o PR dissolve a AR; o estado caótico das finanças públicas e da economia, deixa os eleitores dispostos a qualquer solução que lhes dê garantias de poder comprar o écran de plasma (ou equivalente, segundo a classe social) ao fim de 3 anos de fome (ou de férias só na Quarteira ou só na Quinta do Lago, conforme a classe social);

2) A coligação aguenta-se até ao final da legislatura com «medidas sociais»; o resultado final é ainda pior do que o do cenário 1) e tão obviamente caótico que os eleitores percebem que só ao fim de 7 anos de vacas magras conseguirão o almejado écran de plasma (ou equivalente) que, aliás, nessa altura, já terá sido substituído por um beamer de hologramas; a acreditar em Alf , este seria para si o pior cenário porque até ele passaria fome se viesse cá de férias - os gatos desapareciam comidos pelos pobres, enquanto os ricos ainda conseguiriam chegar às lebres caçadas em reservas de luxo;

3) O PS aguenta-se até ao final da legislatura discorrendo sobre as soluções miríficas que adoptaria se tivesse uma maioria; no final da legislatura a situação só não está tão má quanto a dos cenários 1) e 2) porque o governo não fez nada;

4) O PS aguenta-se até ao final da legislatura dando umas no cravo e outra na foice; as reformas não foram feitas, as finanças estão exangues e a economia continua anémica, mas o governo diz ao povo que só não foi ainda possível comprar o écran de plasma pelos sacrifícios que as reformas (que não foram feitas) exigiram e que a terra prometida está à vista no segundo mandato que segue; volta tudo ao princípio; este cenário é ligeiramente menos mau do que cenário 5) , o qual já não será possível por lhe faltar um elemento essencial - o doutor Calimero, que entretanto é descartado da candidatura a PR pelo doutor Cavaco;

5) O governo PSD-PP dissolve-se por si próprio; o doutor Calimero compensa-se com uma nova namorada e passa a dedicar três noites por semana às discotecas; o novo PR dissolve a AR e convoca eleições. Este cenário, segundo Alf, seria o pior para os portugueses (e o segundo pior para si próprio) porque seria preciso rebobinar o filme todo e voltar ao princípio só com os 4 cenários anteriores.

15/01/2005

TRIVIALIDADES: Milagres eleitorais (2) - A banha da cobra

Quando o Impertinências era pequenino, as feiras por esse país eram assaltadas por chusmas de criaturas apregoando em cima dum banco as propriedades miraculosas dum qualquer unguento que aliviaria o reumatismo, firmaria as partes moles, estancaria a soltura, ou curaria outras maleitas. O povo desconfiado de tanta fartura apelidava esses unguentos de «banha da cobra».

Depois dos milagres da semana passada, passo em revista algumas das banhas da cobra vendidas nas últimas feiras (da 4ª até à 6ª):

O doutor Calimero Lopes promete a todos e ameaça alguns:
«reduzir IRS e diminuir peso da Função Pública»

O engenheiro Sócrates promete:
aos idosos, «subir os rendimentos dos idosos mais pobres do País para o limiar da pobreza, que actualmente se situa nos 300 euros por mês. Esta medida beneficiará cerca de 300 mil pessoas.»
aos empresários, um «conjunto de investimentos» no valor de 20 mil milhões de euros, para os próximos anos, «maioritariamente privados».

O doutor Anacleto Louçã promete a toda a gente «um "choque de qualificações para o emprego estável" que passa por dezassete "medidas de emergência" distribuídas por cinco áreas.»

Classificação provisória (nº de boiões oferecidos como amostras sem valor):
1º doutor Anacleto Louçã
2ºs ex aequo engenheiro Sócrates e doutor Calimero Lopes

14/01/2005

ARTIGO DEFUNTO: O mergulho dos média na fossa abissal da mediocridade

Enquanto o doutor Sarmento Rodrigues mergulhava nas águas de S. Tomé os média da paróquia mergulhavam na fossa abissal da sua mediocridade e falta de profissionalismo.

Não vou gastar muita cera com ruins defuntos. Remeto para a cera que a Joana já gastou aqui. O que se passou em meia dúzia de linhas: o ministro da Presidência foi a S. Tomé assinar um protocolo qualquer, levando à boleia o presidente da Galp para tentar negociar a participação nas concessões do pitról de S. Tomé - aparentemente com algum resultado. Para não ficar dependente dos 2 voos semanais o ministro afretou um avião à Heliávia cujo frete custou 60 e tal mil euros. Num sábado, no intervalo das conversas, o ministro foi convidado a dar um mergulho e mergulhou. E pronto.

Num país normal os média dariam a notícia (omitindo, por irrelevante, o mergulho, bem como as idas ao mictório ou até uma queca eventual do ministro) e os comentadores e analistas avaliariam o output da viagem.

No país do jornalismo empenhado e de causas os jornalistas fazem o frete da campanha para os seus camaradas de partido, refocilam no mergulho, oferecem uma oportunidade ao doutor Calimero para dar mais tiros nos pés, e outra ao engenheiro Sócrates para balbuciar trivialidades (disparando, sem se dar conta, tiros que irão em poucos meses furar-lhe os sapatos), dão tempo de antena para o PS mostrar a sua profunda inépcia, contam os feijões gastos e fazem estudos comparativos dos custos da viagem, e tentam construir um caso da ultrapassagem ao ministro Álvaro Barreto.

E o povo gosta. Como escreveu a Joana a «mesquinhez miserabilista mantém-se como uma das mais imutáveis e gloriosas virtudes da grei».

13/01/2005

CASE STUDY: Subsídios para o programa do governo do engenheiro Sócrates (1)

Num deserto de ideias, um dilúvio de palavras, é o que têm sido as intervenções programáticas do engenheiro Sócrates a propósito seja do que for. E contudo não seria preciso muito para encontrar boas ideias, mesmo copiadas. Por exemplo a proposta de reforma fiscal que Jorge Martínez-Vàzquez e José Felix Sanz Sanz apresentaram ao seu correlegionário Zapatero.

Aqui sumariamente descrita, essa reforma consiste essencialmente na simplificação do sistema fiscal com uma taxa única sobre os rendimentos das famílias.

Animado da maior boa vontade, o Impertinências sugere humildemente ao engenheiro Sócrates que vá mais longe e copie algumas das ideias de países que têm uma experiência de socialismo real um pouco mais profunda do que a do PS, que só sabe de socialismo imaginário.

Por exemplo:
  • a Eslováquia que aplica uma taxa única de 19% para IRS, IRC e IVA
  • a Roménia que aplica uma taxa única de 16% para IRS, IRC e IVA
  • a Plataforma Cívica polaca (provável vencedor das próximas eleições) que propõe a mesma taxa única de 15%
Uma taxa única poderia e deveria ser aplicada a partir do primeiro cêntimo, sem quaisquer deduções. Se o senhor engenheiro ficar chocado com a morte do sagrado princípio da progressividade das taxas para sustentar o segundo termo da trilogia jacobina, pode introduzir um rendimento mínimo garantido pagável a qualquer família, desde a do Jaquim que vive na Pedreira dos Húngaros até à do senhor doutor Ricardo Salgado.

Com esta simplicidade limita drasticamente a evasão fiscal e pode dispensar grande parte dos efectivos das repartições de finanças e, em cascatas sucessivas, alijar um ror de outros utentes da vaca marsupial pública.

12/01/2005

TRIVIALIDADES: A quinta-essência da capelinha

A doutora Filomena Mónica escreveu, com apropriada falta de respeito, sobre "O Sociólogo-Poeta Boaventura Sousa Santos" no Público de 04-12-2004. Meteu-se com ele a propósito das masturbatórias actividades poéticas da juventude do conhecido pensador, tema da maior irrelevância que não vale dois tostões furados, para além da paródia que, essa sim, é sempre bem vinda.

Por incrível que pareça, mais de um mês depois, com as rabanadas do natal já rançosas pelo meio, 20 e tantas-luminárias-20 e tantas da nossa praça escreveram aqui um abaixo-assinado choramingas de desagravo do Sociólogo-Poeta. Mais valia que organizassem o costumeiro jantar de desagravo, o que sempre puxaria pelo deprimido sector da restauração.

Inevitavelmente entre as luminárias encontra-se o incontornável professor Anacleto Louçã, na companhia de várias escritoras suficientemente idosas para terem um módico de juízo e não alinharem na chanchada.

Se o ridículo fosse mortal, teria sido uma carnificina na intelligentzia da paróquia.

11/01/2005

BLOGARIDADES: A minha bela KROPATSCHECK nunca existiu?

Nem queria acreditar. Na minha visitação matinal ao Abrupto, encontrei aqui um artefacto bélico chamado KROPATSCHECK. Comovido, retive, com esforço, as lágrimas da comoção - tinha privado durante 3 meses com ela - a «espingarda do exército português no final do século XIX».

Final do século XIX? Hum, hum. E as vezes que o Impertinências e mais umas dezenas de marmanjos andaram com o canhangulo a fazer ombro-arma nos cursos de cadetes da EPAM, no Lumiar, na viragem da década de 60 para a de 70 do século XX, não contam? A minha bela Kropatscheck, inconfundível com a sua personalizada racha sensual na madeira meticulosamente encerada da coronha a deixar adivinhar o latão amarelo, nunca existiu?

10/01/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Pequena inconfidência fiscal

Secção A título póstumo
«Vou fazer uma pequena inconfidência sobre uma conversa, até um pouco desagradável, que tive uma vez com António Guterres, ainda era ele primeiro-ministro. Disse-lhe que a carga fiscal em Portugal sobre as empresas era muito elevada e ele não gostou. Por isso mostrei-lhe uma folha do World Economic Fórum sobre a competitividade dos países onde se via que, nessa altura - agora as coisas melhoraram -, entre 59 países, éramos a 57ª carga fiscal mais elevada. Pode ser desagradável ouvir isto, mas nenhum investidor em nenhum canto do mundo acha atractivo um país que oferece uma carga fiscal assim.»
[Pequena inconfidência do professor Daniel Bessa ao Público]

Três afonsos para o professor Daniel Bessa (dois pelo dito e um pela inconfidência) e três urracas e quatro bourbons para o engenheiro Guterres, pela frouxidão e por ter sido igual a si próprio, respectivamente.

ARTIGO DEFUNTO: Quem não parece ter as dúvidas

Quem não parece ter as dúvidas do Impertinências é o semanário Expresso. Na primeira página publica uma foto 28x12cm do putativo vencedor absoluto das próximas eleições. Essa foto bem poderia ter sido tirada por uma neta da Leni Rifensthal inspirada no Triumph des Willens da sua avó.

Para não deixar quaisquer dúvidas aos leitores sobre quem apoia, o Expresso publica, em contraponto àquela foto do engenheiro Sócrates, duas outras criteriosamente escolhidas do doutor Calimero Lopes, com aquele ar vagamente ridículo que ele pendura quando hesita entre a pose de pensador e a de estadista. O doutor Calimero é acompanhado no ridículo pela sua ajudante na educação - a inefável doutora Carmo - que posa com o dedinho espetado apontando para o seu belo nariz grego.

Em contraponto à foto da doutora Carmo está uma bela foto cuidadosamente descuidada da viúva do professor Sousa Franco, candidata pelo PS, com uma legenda por baixo onde se garante que foi social-democrata desde o berço.

A coisa é tão óbvia que o arquitecto Saraiva no seu editorial confessa que o «calvário» do doutor Calimero o «começa a incomodar». Se o «lesma do casaquinho cor de merda», como lhe chamou o doutor Rangel (episódio que aqui recordei), quando escreveu o editorial já tivesse lido o 1º caderno, certamente teria escrito «me acaba» em vez de «me começa».

09/01/2005

DIÁRIO DE BORDO: Digam-me lá como é que eu posso votar neles que

Além de não darem garantias nenhumas que farão algumas das reformas indispensáveis, ainda têm um líder, quero dizer um santo milagreiro, que se passeia, com as câmaras atrás, a correr aos saltinhos, ao lado da Rosa Mota, vestido com um fatinho de treino cor vestido de noiva, com manguinhas compridas a tapar as mãozinhas friorentas, a abanar, a abanar.
Sim, digam-me lá. Façam-me esse favor.

08/01/2005

TRIVIALIDADES: Milagres eleitorais (1)

Segundo o doutor Constâncio, Portugal está «condenado a um crescimento medíocre» se não fizer as reformas necessárias (que sabemos ninguém quer fazer).

Enquanto isso, o engenheiro Sócrates «comprometeu-se ontem com um crescimento de 3% do PIB, "de forma sustentada" e "sem receitas extraodinárias", no horizonte de uma legislatura»

E como seremos bafejados pelo milagre do engenheiro Sócrates? Simples, basta «através do plano tecnológico, da guerra à burocracia e da recuperação dos postos de trabalho perdidos nos últimos três anos - voltar a criar emprego e estabilizar as contas públicas».

Razão tinha o doutor Sampaio para dissolver a AR. E ainda nos falta o programa com que o doutor Calimero vai arrasar a modéstia do engenheiro Sócrates.

Nada como eleições para dissolver os problemas. Sem reformas, sem sacrifícios, sem desemprego, sem nada. Assim, just like that.

07/01/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Boas notícias e más notícias

As más notícias

Menos liberdade económica
O score de Portugal no índice de liberdade económica da Heritage Foundation piorou em 2004 (de 2,38 em 2003 para 2,44), devido a:

[Download maior do que a légua da Póvoa disponível aqui]

Menos produtividade
Segundo o Gabinete de Estratégia e Estudos, do ministério dos Assuntos Económicos, a produtividade voltou a descer em 2003 e 2004, qualquer que seja o indicador: PIB per capita, PIB/hora trabalhada e PIB/empregado. [DN]

Uma boa notícia

Menos estado, mais iniciativa negocial
«Patrões e sindicatos fecham acordo sem Governo» - há males que vêm por bem. Um bom exemplo a contrario sensu para mostar como a presença asfixiante do governo é um tropeço para a contratualização da economia.

Uma talvez boa notícia ou o adiamento duma má notícia

A Buchholz afinal não está em "pré-falência"
Disse ao Público, o novo director da Buchholz que admite estar «apenas a recuperar de uma fase crítica», ao contrário do que referia o «e-mail que em poucas horas se espalhou por centenas de endereços», entre os quais o meu. Se assim for, ainda bem. Receio, porém, que se as notícias da pré-falência eram algo exageradas as notícias da recuperação sejam muito exageradas. A Buchholz viveu durante cinco décadas essencialmente dos seus stocks de edições estrangeiras de livros técnicos e de arte, que num mercado de procura limitadíssima como o nosso se transformam rapidamente em monos. Noutros tempos, isso não seria o problema, mas é hoje é um handicap inultrapassável. A venda online nos sites da Amazon, Blackwell, Barnes & Noble, Prentice Hall, e tantos outros, retira as vantagens competitivas à Buchholz e coloca-a em concorrência directa com os outros livreiros que, contudo, trabalham com stocks muito menores e com uma facturação por metro quadrado e por empregado muito superior. Para agravar há ainda a localização fora das "rotas" de compras e a imagem de inacessibilidade que cria barreiras instransponíveis para o consumidor comum.

Para sobreviver a Buchholz terá que se reinventar - se isso for possível.

06/01/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Buchholz, lugar de referência

O JARF reencaminhou-me o email que transcrevo sobre a Livraria Buchholz. Não sei se o mercado tem uma solução para estas dificuldades, mas gostaria que tivesse, por várias razões sentimentais. Talvez seja preciso mudar muita coisa, para que alguma coisa fique na mesma.


A Livraria Buchholz, lugar de referência do nosso (pequeno) universo cultural encontra-se em situação de pré-falência. Agradece-se a todos quantos a frequentaram que a voltem a visitar, de vez em quando.
Comprar um livro que não se encontra em mais lado nenhum pode, eventualmente, ajudar a reerguê-la.
Agradece-se que passem esta informação aos amigos e interessados.

Livraria Buchholz

A Buchholz é uma livraria com história. Foi fundada em 1943 pelo livreiro alemão Karl Buchholz, que deixou Berlim depois da sua galeria de arte e livraria terem sido destruídas pelos bombardeamentos. A actividade de Buchholz era incompatível com o regime de Berlim, nomeadamente a venda de autores considerados proscritos, como Thomas Mann. No entanto, a relação de Buchholz com o regime era algo dúbia pois tanto compactuava em manobras de propaganda alemã como salvava da fogueira obras de Picasso e Braque, condenadas pela fúria nazi.

No início, a livraria estava situada em Lisboa na Avenida da Liberdade e só em 1965 se instalou na rua Duque de Palmela.
O interior foi projectado pelo próprio livreiro ao estilo das livrarias da sua terra natal. O espaço estende-se por três andares unidos por uma escada de caracol, com recantos e sofás que proporcionam uma intimidade dos leitores com os livros. A madeira das escadas, chão e estantes torna o espaço acolhedor e agradável. Durante os anos 60, a tertúlia artística lisboeta - entre eles, Escada, Noronha da Costa, Eduardo Nery e Malangatana -, passou pela cave da Buchholz que funcionou como galeria até 1974. Hoje, a galeria continua a ser uma referência cultural com um público fiel que preza o espaço de convívio que a livraria sugere. A selecção dos títulos é vasta e inclui várias áreas: artes, ciência, humanidades, literatura portuguesa e estrangeira, livros técnicos e infantis, na cave funciona uma secção de música clássica e etnográfica. Apesar de não ser especializada em nenhuma área, a secção dedicada à ciência política é frequentada por muitos políticos da nossa praça. A Buchholz acolhe ainda eventos especiais como lançamentos de livros, sessões de leitura, e o "Domingo Especial" que são os saldos anuais da livraria, uma vez por ano, no último domingo de Novembro. Na Buchholz on-line pode percorrer as estantes da livraria sem sair de casa e ainda encomendar livros nacionais e alguns estrangeiros.

TELEFONE 213170580

LOCAL Lisboa, R. Duque de Palmela, 4

HORÁRIOS Segunda a sábado das 09h00 às 18h00 (encerra sáb. às 13h).

OBSERVAÇÕES Especialidades: livraria generalista.

SÍTIO OFICIAL www.buchholz.pt

05/01/2005

ESTÓRIAS E MORAIS: Nenhum deles tem emenda

Uma estória
«Não tem para mim credibilidade nenhuma» e «quem não tem força para dominar o partido, não domina um governo» foram dois juízos que o doutor Pôncio Monteiro, um conhecido caudilho do futebol tripeiro, partilhou com um magote de jornalistas instalados em sua casa, a propósito das trapalhadas do doutor Calimero Lopes nos convites que lhe fez e desfez para dar colorido local às listas do PSD.

Duas morais
A cão fraco acodem as moscas.
Quem com cães se deita, com pulgas se levanta.
[sabedoria popular]

SERVIÇO PÚBLICO: Kofi break (*)

«No dia 5 de Dezembro último, um domingo, sete diplomatas - todos americanos - reuniram-se no apartamento do antigo embaixador dos Estados Unidos na ONU Richard Holbrooke, em Manhattan. Presente ao encontro esteve o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan». [DN]
Segundo um dos participantes, o propósito da reunião foi, por incrível que pareça, «salvar Annan e socorrer a ONU». Annan que bem precisa de ser salvo, depois dos escândalos do programa petróleo por comida no Iraque e do programa sexual dos capacetes azuis no Congo. Annan precisa até de ser salvo de si próprio - esperou até ao dia 29 para interromper as férias para coordenar a ajuda às vítimas do maremoto.

Como se tanta boa-vontade já não fosse suspeita, a ajuda privada americana às vítimas do maremoto já ultrapassou os 350 milhões de USD que o governo americano disponibilizou. No conjunto a ajuda americana representará cerca de um terço da ajuda total. [ver aqui]

O que andam eles a tramar?

(*) uma ideia roubada ao ¡No Pasarán!

04/01/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Obituário atrasado de Susan Sontag - a que fingia ter zelos

Susan Sontag faleceu a semana passada e só hoje me ocorreu este obituário, ao ler no Causa Liberal o que sobre ela escreveu Srdja Trifkovic no Chronicles Magazine:
«All of which is one way of saying that Ms. Sontag has made a solid contribution to the degrading of our cultural and intellectual standards over the past four decades. But unlike some other purveyors of bad ideas, such as Voltaire, who could present them in eloquent prose, Sontag was unable to write a decent sentence.»
Para quem tem juízo e não passa cartão ao pensamento politicamente correcto, se não tiver nada de interessante para fazer, pode ficar a conhecer aqui uma sumária biografia laudatória de Susan Sontag pelos seus admiradores da CNN.

Sontag considerava-se uma «zealot of seriousness», o que poderia traduzir-se por «zelote da seriedade». De acordo com o meu dicionário de plástico, «zelote» é aquele «que finge ter zelos».

02/01/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Se ele o diz

«Em todos os ministérios há figuras poderosas, ao mais alto nível, que são homossexuais e que favorecem os seus amigos, os seus compadres, as pessoas com quem foram para a cama, as pessoas com quem querem ir para a cana, ou aquelas pessoas que sabem com quem eles vão para a cama e precisam de ser caladas. Mas é um lóbi secreto e clandestino que tem vergonha de se chamar a si próprio como tal. Nós que somos pela transparência, pela verdade e pela visibilidade não o podemos aceitar enquanto lóbi. É uma capelinha.»
[António Serzedelo, presidente da Opus Gay, em entrevista ao Independente de 31-12]

«Nós» também somos pela transparência. Se não é censurável, porque se escondem?

Eu também não gosto dessa capelinha. Como não gosto das outras que pululam por aí, desde a dos maquinistas da CP até à dos artistas de teatro, sem esquecer a dos bloguenautas, as almas penadas que escrevem tretas na Bloguilha - a paróquia ponto pt.

01/01/2005

LOG BOOK: I am an unusual thing.

I am an unusual thing.
I have no soul and no body.
One cannot see me
but can hear me.
I do not exist for me alone.
Only a human being can give me life
as often as he wishes.
And my life is only of short duration,
for I die almost at the moment 1 am born.

And so, according to man's caprice,
I may live and die untold times a day.
To those who give me life I do nothing,
but those on whose account I am born
I leave with painful sensations
for the short duration of my life;
of my life till I depart.
[Michael Nyman's song inspired in Mozart life and sung by Ute Lemper]