Há um tempo atrás, assinalei aqui o exercício patético de uma peça do Expresso com o título "Quem são os 'fundos abutres' que investem quase €300 milhões para a bolsa nacional se afundar?" em que o jornalista concluiu que existe um enorme risco de uns fundos que controlam menos de 0,5% da capitalização bolsista das 11 empresas portuguesas onde detêm posições afundarem uma bolsa que está há muito afundada na sua própria irrelevância.
O mesmo exercício patético foi agora replicado por outro jornalista, provavelmente por encomenda da putativa vítima do abutre, com o título «Mota-Engil foi a “vítima perfeita para um fundo abutre”, diz administrador financeiro». Desta vez, o abutre é o Muddy Waters Capital Domino Master Fund com uma posição curta (*) de 0,65% que, segundo o roteiro, conseguiu afundar as cotações em quase 40% reduzindo a posição de 0,65% para 0,57%.
Em vez de "vulture" o jornalista de causas financeiras deveria classificar o fundo Muddy Waters (o nome de um famoso guitarrista fundador do Chicago blues - ouça aqui Mannish Boy) como fundo "sorcer" visto que, com apenas uns gramas de uma barra que pesa quilos, está a transformar em chumbo essa barra de suposto ouro. Nesse caso deveria acrescentar que o feitiço, supondo que é a causa da queda, só estará a resultar porque o free float da Mota-Engil são peanuts ou, dito em português corrente, é insignificante a percentagem das acções transacionáveis na bolsa porque os "donos" da Mota-Engil não confiam no mercado e olham para os outros accionistas como silent partners ou, em português corrente, uns parolos a quem permitem deter acções para manter a empresa cotada.
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(*) Por memória: os "fundos abutres" praticam o short selling ou venda a descoberto que consiste em vender um activo esperando comprá-lo mais tarde a uma cotação menor, o que só faz sentido para o fundo se tiver expectativas que o activo em causa está sobreavaliado. Em mercados evoluídos considera-se que esta prática reduz o risco dos investidores e aumenta a liquidez e a estabilidade dos mercados.