Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

21/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (7a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

O Dr. Medina, Mestre em Ilusionismo, não aprecia a independência das instituições…

... e insultou a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) por esta instituição ter assinalado as suas manobras para conseguir que o rácio da dívida pública fosse inferior a 100%.

Certo é que o Dr. Medina, mais do que queixar-se da UTAO, deveria queixar do seu camarada e antecessor no cargo Dr. Teixeira dos Santos que nacionalizou o BPN, nacionalização que era para não custar nada, na última contagem ia em 6,2 mil milhões e no ano passado ainda torrou 915 milhões o que teria permitido ao Dr. Medina fazer o brilharete do excedente sem precisar de extorquir 115 milhões à Águas de Portugal, à Casa da Moeda e à NAV.


… e tem o Dr. Medina razões para não apreciar

Não é só a UTAO, também o Conselho de Finanças Públicas (CFP) vem diminuir os seus feitos explicando que é a inflação que explica mais de metade da queda da dívida pública em 2023.

PS & Chega querem que as portagens sejam pagas por quem não as utiliza

mais liberdade

A família socialista tem imenso jeito para o negócio (também no Brasil)

Ficámos a saber com os negócios da joint venture do governo do Eng. Sócrates com o Dr. Ricardo DDT Salgado e a turma do Lava Jato para trocar a Vivo, um operador de sucesso, pela Oi, um refúgio de Aspons, que os governos socialistas se moviam com à-vontade nos negócios brasileiros. Esse à-vontade mantém-se, como agora se ficou a saber com a auditoria à operação de “internacionalização” da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em que um administrador brasileiro da sucursal da Santa Casa no Brasil fez transferências de 10 milhões de reais para uma sua empresa de publicidade - deveria o governo socialista ter-lhe concedido a nacionalidade e o PS oferecer-lhe um cartão de militante honorário.

Por falar em negócios da joint venture Animal Feroz-DDT…

Em Portugal a justiça é lenta, mas falha. Mais de dez anos depois dos acontecimentos só em Julho do ano passado ficou concluído o inquérito aos subornos de gente do chávismo venezuelano pelo BES para a Petróleos de Venezuela comprar papel comercial. O homem de mão do BES nas operações com o socialismo bolivariano está agora no Dubai a usufruir da generosidade do Dr. Ricardo DDT Salgado.

(Continua)

Onde se explica que (podendo fazê-lo) os proprietários deste blogue não costumam apagar os comentários (nem mesmo os que deveriam sê-lo por razões de higiene)

Um comentador anónimo publicou o seguinte comentário ao post Mitos (337) - A proliferação das florestas é sempre óptima para o ambiente (MODIFICADO):

Pela primeira e última vez, os proprietários do blogue esclarecem:
  1. Este blogue não é uma instância onde os comentadores adquirem um direito de comentar; este blogue é pessoal e intransmissível e os seus proprietários escrevem o que lhes der na realíssima gana;
  2. De onde decorre que, quando lhes der na realíssima gana, os seus proprietários poderão apagar os comentários que bem entenderem sem prestarem contas a ninguém;
  3. Não obstante, os proprietários não costumam apagar os comentários, nem mesmo os que, em vez de simplesmente comentarem as mensagens que não gostam, insultam os mensageiros (os comentários a este post são bons exemplos); por razões de higiene, isto não é uma promessa;
  4. No caso presente, o comentário em causa não foi apagado e a explicação para não ser visível é tratar-se provavelmente de um erro da app que gere o Blogger; aliás, esse comentário continua visível aos proprietários na lista de comentários do blogue; a imagem desse comentário está no final deste post; 
  5. De tudo isto, decorre o nosso comentário ao comentário do comentador: 
O comentador anónimo, talvez projectando o que faria no lugar dos proprietários, insinua que o seu comentário foi apagado, o que não é verdade, como se pode confirmar no post que hoje publicamos. Não concluímos que o comentador perdeu toda a credibilidade porque ao semear insultos inúteis e despropositados nos comentários já a tinha perdido.

20/05/2024

Crónica de um Governo de Passagem (2)

Navegando à bolina
(Continuação de 1)

O novo aeroporto será em "jamais" Alcochete e não custará nada

Uns quinze anos depois do Eng. Mário Lino ter decretado o célebre “jamais” à opção Alcochete e, não obstante, o seu chefe Eng. Sócrates ter anunciado que o novo aeroporto seria lá no Campo de Tiro e ficaria pronto entre 2013 e 2014, o primeiro-ministro em exercício anunciou o mesmo, desta vez com uma quase total unanimidade, possivelmente resultante de um compreensível cansaço da nomenclatura, do comentariado e do povo em geral que aguardavam desde 1969, quando foi criado pelo Decreto-Lei n.º 48902 do Dr. Marcelo (não o que está de PR, mas o seu padrinho Caetano) o “Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa”.

Juntamente com o aeroporto, foram anunciados uma nova ponte sobre o Tejo e o TGV até Madrid. O governo garante que o custo dessas infraestruturas (uns vinte e tantos mil milhões de euros que com o rácio de derrapagem das obras públicas poderão facilmente atingir uns cinquenta mil milhões ou quase um quinto do PIB de 2023) não seria pago pelos contribuintes. É caso para ficarmos preocupados porque, como a história mostra, o grátis é uma das coisa mais caras no Portugal dos Pequeninos.

O governo da AD é parecido com um do PS com uma pequena diferença 

A diferença é que o primeiro não tem as políticas certas e o segundo tem as políticas erradas. [Isto é uma boutade; a coisa é bem mais complicada, a começar por saber o que sejam as políticas certas e as políticas erradas.] 

ESTÓRIA E MORAL: Liberdade de expressão não é poder dizer o que acham que pode ser dito

 Estória

O Dr. Ventura e o Chega pretenderam criminalizar o Dr. Marcelo por traição à pátria por este ter expressado a sua opinião de que Portugal deveria reparar a prática de escravatura de que foram vítimas africanos dos territórios coloniais.

Todos os partidos representados no parlamento rejeitaram a queixa por traição à pátria apresentada pelo Chega. 

No mesmo parlamento, o Dr. Ventura disse que «os turcos não são conhecidos por serem os mais trabalhadores do mundo», expressão que indignou deputados dos partidos que se tinham indignado pela queixa-crime do Chega contra o Dr. Marcelo.

Os mesmos ou outros deputados também se indignaram pelo presidente da AR ter permitido a expressão de juízos, como aquele, que eles consideram racista. E um spin-off do PSR, um partido de que foi líder o Dr. Louçã, apressou-se a considerar que o presidente não tinha condições para se manter na presidência da AR, por ter consentido e afirmar que «A liberdade expressão está constitucionalmente consagrada, não é uma liberdade sob ponderação do juízo de uma qualquer pessoa faça em relação àquilo que no discurso político é dito. Não haverá condicionamento na liberdade de expressão. A avaliação do discurso político que seja feito nessa casa será feito pelo povo em eleições se se revê nas suas posições.»

Moral

Os deputados dos partidos representados na AR, com a excepção conhecida do Dr. Aguiar Branco, parecem estar de acordo que liberdade de expressão significa o direito de dizer o que eles acham que pode ser dito e, por isso, parecem não estar de acordo com George Orwell a quem possivelmente teriam proibido de dizer o que disse:

«Se liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir.» 

19/05/2024

Há vários Portugais no Portugal dos Pequeninos. Aparentemente próximos, estão muito afastados

No dia 24 de Abril o Expresso publicou vários artigos de opinião sobre as mudanças que o novo regime introduziu em Portugal. Dois desses artigos foram sobre o sistema educativo e, possivelmente não por coincidência, publicados na mesma página por dois comentadores, um conotado com a esquerda bem-pensante (Luís Aguiar-Conraria) e outro de direita fora da caixa (Henrique Raposo). Como notou Ortega y Gasset, os eus e as circunstâncias são inseparáveis, e por isso convirá recordar que o primeiro comentador faz parte das elites nascidas nos sítios certos (o hífen está lá para confirmar) e estrangeiradas (doutorou-se em Economia em Cornell, USA) e é professor da universidade do Minho; o segundo faz parte das elites nascidas no sítios errados, tem um mestrado em ciência política, é jornalista, escritor e, apesar de viajado, não é de todo um estrangeirado.

Por isso, as visões de ambos são, mais do que diferentes, antagónicas, o que desde logo é visível nos títulos dos artigos, «Cinquenta anos depois, estamos preparados» e «O grande fracasso».

Aguiar-Conraria, mostrando que é da facção bem-pensante, não pinta em cores demasiado escuras o ensino do Estado Novo, vê as mudanças educacionais das últimas cinco décadas como enormes progressos, sobretudo no ensino universitário, festeja os 3l,5% da população activa com um grau superior e o facto de na faixa etária 20-34 anos estarmos acima da média europeia de licenciados. Reconhece como único handicap a percentagem da população activa com o ensino secundário completo não atingir 60% em Portugal - passa-lhe ao lado o facto desta percentagem ser baixa porque a dos licenciados é excessiva para um país com uma economia pouco sofisticada. Aguiar-Conraria revela-se assim como mais um adepto de uma das crenças mais populares em Portugal - a de que o ensino por si promove o desenvolvimento - que tem imensos seguidores e, que me lembre, apenas o falecido Vasco Pulido Valente foi um notório detractor público.  

Contrariamente, Henrique Raposo não vê essas mudanças como milagrosas, passa ao lado dos sucessos universitários, e denuncia as profundas desigualdades entre as escolas dos privilegiados da Foz e da Linha e as do morro onde ele viveu e aponta o dedo às Excelências («os leitores do Expresso e dos jornais de referência, a classe média e alta»), que mantiveram «as bolsas de pobreza e exclusão de um país assimétrico e estático do ponto de vista social» situação que resulta de falhas da esquerda («o seu dogmatismo só contempla este sistema de escola pública») e da direita («nunca pensou a sério a escola pública, fechando-se a si mesma nos colégios privados»).

Aguiar-Conraria e Henrique Raposo não descrevem dois países diferentes, descrevem o mesmo a partir de duas visões forjadas em circunstâncias de vida radicalmente diferentes, uma mais fruto do pensamento milagroso do esperma sortudo, como lhe chamou Warren Buffett, de quem teve lugar cativo no elevador, lugar que atribui ao seu talento, e outra visão mais crua e realista, por vezes ressabiada, de quem teve de subir as escadas a pé. E isto, só por si, revela uma das grandes falhas do novo regime (maior talvez do que a do Estado Novo), a incapacidade de usar o sistema educativo para diminuir a diferença de oportunidades entre os sítios certos e os sítios errados para se nascer.

18/05/2024

A inteligência artificial está ainda longe de ser uma ferramenta confiável e sem defeitos, mas produz melhores resultados do que a ignorância natural (e poupa-nos à presunção e arrogância)

Albedo is a measure of how much light that hits a surface is reflected without being absorbed. It's expressed as a ratio or percentage, with 0 meaning no reflection (all absorption) and 1 meaning total reflection (no absorption).

Albedo is a crucial concept in climatology and environmental science because it affects the Earth's energy balance. Surfaces with high albedo, such as snow and ice, reflect a large portion of incoming solar radiation back into space, which can have a cooling effect on the planet. Conversely, surfaces with low albedo, such as dark asphalt or forests, absorb more solar radiation, contributing to warming.

The albedo of various surfaces is influenced by factors such as color, texture, and composition. Understanding albedo helps scientists predict and model climate patterns, assess the impact of land use changes, and study feedback loops in the Earth's climate system.

_____________

The energy reflected by soils with high albedo is essentially bounced back into the atmosphere or into space. When sunlight hits a surface with high albedo, such as light-colored soils, snow, or ice, a significant portion of that solar radiation is reflected rather than absorbed. This reflected energy can have several consequences:

Cooling effect: Surfaces with high albedo reflect a large portion of the incoming solar radiation, which reduces the amount of energy absorbed by the surface itself. As a result, these surfaces tend to remain cooler than surfaces with lower albedo, which absorb more solar radiation and thus heat up more.

Global energy balance: Reflected energy contributes to the overall energy balance of the Earth's atmosphere. When energy is reflected back into space, it does not contribute to warming the planet's surface. This balance of incoming and outgoing energy influences Earth's climate and temperature patterns.

Albedo feedback: Changes in surface albedo, such as melting snow or ice, can contribute to feedback loops that affect climate. For example, as snow and ice melt due to warming temperatures, they expose darker surfaces underneath (such as soil or ocean water), which have lower albedo. This leads to increased absorption of solar radiation and further warming, creating a positive feedback loop that amplifies temperature changes.

Regional climate effects: The reflectivity of surfaces with high albedo can influence local and regional climate patterns. For example, large expanses of snow and ice in polar regions reflect a significant amount of sunlight, contributing to the cooling of those areas. Changes in the extent of these high-albedo surfaces can therefore impact regional climate dynamics.

Overall, the energy reflected by soils with high albedo plays an important role in Earth's energy balance and climate system, influencing temperature patterns, feedback processes, and regional climate effects.

17/05/2024

Ciência no Novo Império do Meio. O caso da covid-19

«Com o surgimento da covid-19 há mais de quatro anos na cidade central de Wuhan, o Partido Comunista tornou a vida miserável para aqueles que buscam estudar a doença e compartilhar suas descobertas com o mundo. Veja Zhang Yongzhen, virologista chinês cuja equipa sequenciou o genoma do vírus que causa a covid no início de 2020. Dias depois, ele concedeu permissão para que um cientista britânico publicasse o trabalho inovador. Isso permitiu que o mundo preparasse testes de covid e começasse a desenvolver vacinas. Mas para os funcionários do partido, empenhados em desviar a culpa por seus erros na gestão do surto, foi uma traição. O laboratório de Zhang foi investigado por irregularidades.

Hoje, a China continua mal preparada para um surto semelhante ao da covid – e o partido continua a atormentar cientistas cujo trabalho pode expor suas deficiências. No final de abril, Zhang foi informado de que seu laboratório em Xangai, que examinava as origens da covid, seria fechado. Em uma publicação no Weibo, uma plataforma de mídia social chinesa, ele disse que foi impedido por guardas de entrar no estabelecimento. Assim, em 28 de abril, ele e alguns colegas iniciaram um protesto na porta do laboratório. "Não vou sair nem desistir", escreveu. "Estou buscando a ciência e a verdade!" Fotos que circulam online parecem mostrar Zhang sentado desafiadoramente em uma cadeira de vime ou dormindo no chão do lado de fora do laboratório, enquanto os guardas o vigiam ao fundo.

Zhang é um dos muitos cientistas chineses que colocaram suas carreiras em risco ao buscar respostas sobre a natureza da covid e sua disseminação. Depois de sequenciar o genoma, ele alertou as autoridades chinesas sobre a gravidade da doença. Seu laboratório foi rapidamente ordenado a fechar temporariamente para "retificação". Mas levaria duas semanas até que o governo confirmasse que a transmissão entre humanos estava ocorrendo.

Os líderes da China trabalharam incansavelmente para evitar a culpa pela pandemia. Eles detiveram e puniram denunciantes, promoveram uma teoria da conspiração de que os EUA eram a fonte do vírus e bloquearam os esforços globais para estudar de onde ele veio. Ao mesmo tempo, afirmam ter feito um alerta oportuno ao mundo sobre os perigos da covid, ao mesmo tempo em que apresentam a China como um modelo de controle de doenças infecciosas.

O caso do Dr. Zhang desmente essas bazófias. As autoridades de saúde de Xangai afirmam que seu laboratório está sendo reformado e que sua equipe recebeu outro espaço. Sua postagem original nas redes sociais foi apagada. Um deles, em 1º de maio, afirmou que havia chegado a um acordo para continuar seu trabalho e que os funcionários poderiam ter acesso livre, mas temporário, ao laboratório. Sua determinação é admirável. Mas parece improvável que ele ou qualquer outro cientista que opere na China tenha permissão para descobrir e compartilhar novas verdades sobre as origens da covid.»

(The Chinese scientist who sequenced covid is barred from his lab)

16/05/2024

Mitos (337) - A proliferação das florestas é sempre óptima para o ambiente (MODIFICADO)

Plantar árvores é possivelmente a única medida que no domínio do ambiente é apoiada por quase todos, desde os mais ferozes ambientalistas até aos mais furiosos adeptos da economia do petróleo. Porém, como quase tudo na vida e à superfície do planeta, plantar árvores pode ser bom, pode ser mau ou pode ser pouco relevante ou mesmo irrelevante.

Como este é um tema raramente abordado e praticamente desconhecido da opinião pública, a publicação do artigo Plantar Árvores Ajuda a Reduzir o Aquecimento Global? Nem Sempre! de Tiago Domingos, Professor de Ambiente e Energia no IST, é um serviço público. Aqui fica um excerto.

«A plantação de árvores é frequentemente apresentada como uma das soluções para o aquecimento global, dada a sua capacidade de retirar dióxido de carbono da atmosfera. À partida, a lógica é simples: as árvores fazem fotossíntese, e essa fotossíntese corresponde a utilizar a energia da radiação solar para retirar dióxido de carbono da atmosfera para sintetizar compostos orgânicos, ricos em carbono (como açúcares ou madeira). No entanto, existem múltiplas ressalvas que devemos acrescentar a este raciocínio, que atenuam e, nalguns casos, invertem o seu efeito.

Em primeiro lugar, como qualquer outro ser vivo, as plantas precisam de usar compostos orgânicos para fornecer energia para os seus processos vitais. Nesse processo, que todos conhecemos, da respiração, transformam os compostos orgânicos ricos em carbono outra vez em dióxido de carbono, libertando a energia de que precisam. Só enquanto a fotossíntese é superior à respiração, isto é, enquanto as árvores estão em crescimento, é que há, em saldo, uma remoção de dióxido de carbono da atmosfera. Isto significa, portanto, que uma floresta madura, no que se chama o estado clímax, em que já não há crescimento das árvores (ou, para ser mais rigoroso, em que o crescimento de algumas árvores é balanceado pela morte e decomposição de outras), é uma floresta que não retira dióxido de carbono da atmosfera. Claro que, se deixarmos uma floresta degradar-se, por doenças, por pestes ou por incêndios, vamos ter a pior situação de todas: uma emissão de dióxido de carbono para a atmosfera (como aconteceu, por exemplo, em Portugal, no ano de grandes incêndios de 2017).

Mas, para além deste efeito, mais generalizadamente conhecido, sabemos hoje que há outros efeitos que reduzem, anulam ou até contrabalançam o efeito das florestas de arrefecimento do clima. O mais significativo e claro destes efeitos refere-se ao albedo. Albedo é a palavra que usamos para designar a capacidade que uma superfície tem de reflectir a radiação solar. A neve, por exemplo, tem um albedo elevado, enquanto que a vegetação verde tem um albedo baixo; vegetação seca ou solo nú têm albedos intermédios.

Num artigo publicado na revista Nature em 2020, Richard Betts, cientista no famoso Met Office, no Reino Unido, mostrou que, a latitudes elevadas (como no norte da Rússia e do Canadá), em biomas como a tundra, em que o solo está coberto de neve durante uma parte significativa do ano, a existência de árvores tem um efeito significativo de redução do albedo: em vez de um manto contínuo de neve, altamente reflector da radiação solar, temos uma manto descontínuo de neve, pontuado pelo verde escuro das árvores (que nestas latitudes, são coníferas, com folhas, isto é, agulhas, durante todo o ano). Concluiu assim que, em certas zonas boreais, se plantarmos árvores, o seu efeito de aquecimento, por via do albedo, é superior ao seu efeito de arrefecimento, por via da remoção de dióxido de carbono da atmosfera!

Mais recentemente, constatou-se que este efeito é também significativo a latitudes mais baixas.  Este ano, num artigo publicado na revista Nature Communications a 26 de Março, numa análise global deste problema, concluiu-se que este problema existe por todo o mundo, com especial incidência nas áreas boreais, como já se sabia, mas também em zonas semi-áridas. Por exemplo, no bioma Mediterrânico, em 60% da área ocorre o mesmo problema. Essencialmente, estamos em situações em que, por exemplo, pastagens, que secam no Verão, ficando a vegetação seca e com menos cobertura do solo, teriam um albedo mais baixo. Ao plantarmos árvores, vamos ter um albedo mais alto, mais absorção de radiação e, portanto mais aquecimento.

Significam estes resultados que não devemos plantar árvores para sequestrar carbono? Não, de todo (nomeadamente quando considerando também os outros benefícios associados aos ecossistemas florestais). Significam, sim, que devemos ter atenção na escolha dos locais onde esta plantação é feita, de forma a minimizar os efeitos negativos em termos de albedo (não deixando nunca de o contabilizar, nomeadamente para efeitos de geração de créditos de carbono). Existem amplas oportunidades para tal, pois o artigo referido conclui que, numa amostra dos projectos de florestação actualmente realizados por todo o mundo, 84% estão localizados em pontos onde o saldo é positivo, isto é, o sequestro de carbono supera o efeito negativo do albedo. Adicionalmente, em 33% destes projectos, o efeito negativo do albedo é pouco significativo.

Temos ainda um caso pontual onde a plantação de árvores é tipicamente favorável. Trata-se das áreas urbanas, onde o efeito de albedo é até vantajoso, pois o verde das árvores absorve menos radiação solar que o negro do alcatrão (adicionalmente, as árvores retêm poluentes atmosféricos e pela sua transpiração reduzem localmente a temperatura). No entanto, do ponto de vista de sequestro de carbono, trata-se de extensões reduzidas em termos de áreas.

Em suma, a plantação de árvores para sequestro de carbono é um instrumento útil, mas as condições em que é feita têm de ser cuidadosamente analisadas, garantindo que só é feita quando de facto há benefícios, o mais significativos possível, quer para o clima, quer do ponto de vista mais amplo da sustentabilidade..»

_____________

Aditamento:

Os comentários à versão original deste post onde apenas citava um excerto do artigo do professor Tiago Domingos, levaram-me a concluir duas coisas:

(1) que seria conveniente citar a totalidade do artigo, o que já está feito e

(2) confirmaram o que escrevi em quase 30 posts sobre a dogmática ambiental; o debate sobre os temas ambientais é muito mais um debate ideológico do que um debate científico e nesse debate ideológico as posições tendam a extremar-se existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, em consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predominam as crenças e as teorias da conspiração.

15/05/2024

Putin has an underground war going on with Europe and Europe doesn't even realize it

«The fire that broke out in the Diehl Metall factory in the Lichterfelde suburb of Berlin on May 3rd was not in itself suspicious. The facility, a metals plant, stored sulphuric acid and copper cyanide, two chemicals that can combine dangerously when ignited. Accidents happen. What raised eyebrows was the fact that Diehl’s parent company makes the iris-t air-defence system which Ukraine is using to parry Russian missiles. There is no evidence that this fire was an act of sabotage. If the idea is plausible it is because there is ample evidence that Russia’s covert war in Europe is intensifying.

In April alone a clutch of alleged pro-Russian saboteurs were detained across the continent. Germany arrested two German-Russian dual nationals on suspicion of plotting attacks on American military facilities and other targets on behalf of the GRU, Russia’s military intelligence agency. Poland arrested a man who was preparing to pass the GRU information on Rzeszow airport, the most important hub for military aid to Ukraine. Britain charged several men over an earlier arson attack in March on a Ukrainian-owned logistics firm in London whose Spanish depot was also targeted. The men are accused of aiding the Wagner Group, a mercenary group that has been active in Ukraine and is now under the GRU’s control. On May 8th Britain announced that in response to “malign activity” it was, among other steps, expelling Russia’s defence attaché, an “undeclared” ´GRU officer.

A number of Baltic states have also accused Russian intelligence services of recruiting middlemen to attack property and deface monuments. In February Estonia said it had arrested ten people and broken up a plot to attack the cars of the country’s interior minister and the editor of a news website. Latvia’s security service said it had detained an Estonian-Russian citizen who had poured paint on a memorial to Latvian soldiers who fought the Red Army in the second world war. In March an ally of Alexei Navalny, the Russian opposition leader who died in Russian custody in February, was attacked with a hammer in Lithuania’s capital, Vilnius.

14/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (6b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 6a)

O não é sim. Chega salta em andamento para o calhambeque socialista

A coligação PS-Chega aprovou o pagamento das portagens nas SCUT por quem não as utiliza e votou o projecto de lei do PS para aumentar para até 800 euros a dedução das rendas no IRS. A proposta do governo no IRS não foi votada e baixou à especialidade.

Pare, escute e olhe! A luz no fundo do túnel Ferrovia 2020 pode ser um comboio espanhol

Perguntado sobre o futuro do transporte ferroviário na Europa no contexto dos planos da Comissão Europeia, Óscar Puente, ministro dos Transportes do governo espanhol, não enganou ninguém e disse «a Renfe vai operar onde tiver oportunidade». Ora, oportunidades são o que não faltam quando se faz o ponto de situação do Ferrovia 2020 que em 2024 tem um atraso total em todos os troços de 33.074 dias.

O Dr. Pedro Nuno quer corrigir a governação do PS com o grupo parlamentar do PS

Provavelmente insatisfeito com os resultados de oito anos de governos de socialistas onde participou, o Dr. Pedro Nuno apresentou uma proposta de alterações ao IRS com o fim do adicional de solidariedade e criando um 10.º escalão.

Take Another Plan. De volta ao velho normal

Depois do celebrado lucro de 177 milhões em 2023, inteiramente resultante de um “empréstimo” a fundo perdido sem juros de 3,2 mil milhões, que aos juros correntes representa duas centenas de milhões por ano, a TAP voltou no 1.º trimestre ao seu normal com 72 milhões de prejuízos.

A insustentável leveza da sustentabilidade

mais liberdade

Para quem conheça o Institute Global Pension Index da Mercer que situou o sistema português de pensões em 41.º lugar em 44 países no que respeita a sustentabilidade, o diagrama anterior que situa Portugal em sétimo lugar nos 27 países da UE no que respeita ao peso das responsabilidades futuras em relação ao PIB, não constituirá surpresa.

13/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (6a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

Afinal o Dr. Medina não é economista, é engenheiro e Mestre em Ilusionismo

À pala da classificação como contabilidade pública ou contabilidade nacional, podemos relevar ao Dr. Medina uma parte das despesas extraordinárias que, segundo o Dr. Miranda Sarmento, o anterior governo aprovou no valor de 1.080 milhões de euros, quase todas depois das eleições legislativas, mas não todas. Nem se pode relevar a manobra de extorquir um total de 115 milhões a vários títulos à Águas de Portugal, à Casa da Moeda e à NAV para a arredondar o rácio da dívida pública.

A pesada herança da autoestrada mexicana do PS

«Entre 2016 e 2023, o investimento público foi apenas de 2,2% do PIB, muito abaixo da média entre 2000 e 2010 (4,2% do PIB) e, mais chocante ainda, abaixo da média do período da “troika” (2,5% do PIB). Aliás, este padrão de sub-investimento prolongou-se até ao final do anterior governo. Dos 1,2% do PIB de “excedente” orçamental de 2023, 1,0% do PIB corresponde a investimento público orçamentado e não executado.» ( Pedro Braz Teixeira)

Em 2023 do investimento público orçamentado de 8,6 mil milhões apenas foram executado 78,2% (6,7 mil milhões), equivalente a 2,5% do PIB, o segundo rácio mais baixo da UE, e uma boa ajuda para o brilharete do superavit do Dr. Medina.


O diagrama anterior mostra-nos na cauda da Óropa em termos de investimento público, a anos-luz dos sobreviventes do colapso do Império Soviético que, por esta e por outras razões, nos estão a ultrapassar um após outro e ano após ano.

Choque da realidade com a Boa Nova

Recordam-se do plano do Dr. Costa para apoiar com 200 euros o pagamento da renda de professores deslocados – o que foi identificado como um grave problema – nos contratos celebrados a partir de Setembro do ano passado? Foram aprovadas até agora 10 (dez) candidaturas.

(Continua) 

Crónica de um Governo de Passagem (1)

Navegando à bolina
Um Governo de Passagem 

O governo AD só não é um governo provisório porque não será seguido por um governo definitivo. Está lá para fazer tempo à espera das eleições europeias e depois verá se cai o governo ou se cai a coligação PS-Chega. Entretanto, ainda que quisesse governar e soubesse como, o calhambeque socialista informal com o Chega a bordo não o deixaria. Portanto, estamos nisto. 

 À procura do astrolábio

São problemas de comunicação, como os 1.500 milhões de descida do IRS que afinal eram só 150 milhões, como a incorporação de delinquentes juvenis, como o pingue-pongue entre os ministros das Finanças actual e anterior sobre o défice deste ano - em contabilidade pública ou em contabilidade nacional? 

São problemas de coordenação como o de um ministro a garantir aos professores as “promoções” e outro a desmenti-lo ou ainda uma ministra a despedir uma provedora e obrigá-la a manter-se no lugar. Assim, estamos nisto.

12/05/2024

CASE STUDY: Construir ciclovias com os dinheiros de Bruxelas é mais fácil do que convencer o povo a usá-las

Expresso

Em três anos mais 450 mil veículos particulares. Apesar do enorme crescimento da frota automóvel, se acreditarmos nas declarações oficiais, com o investimento em ciclovias e a endoutrinação ambiental, a utilização de outros meios de transporte deveria estar a aumentar e a intensidade de utilização dos veículos privados a diminuir, o que visivelmente não está a acontecer.

Fonte: Economist

Um estudo recente envolvendo 850 milhões de pessoas de 794 cidades, entre as quais sete cidades portuguesas, em que foi medida a intensidade da caminhada a pé e da utilização de bicicleta, caracteriza as cidades portuguesas com baixa ou média intensidade desses meios de transporte e também sem predominância do transporte colectivo. Note-se que o ranking é o mundial, que inclui as cidades dos EU e Canadá com alta intensidade de utilização do veículo privado; num ranking europeu as cidades portuguesas ficam pior classificadas. Mais uma vez, a realidade não acompanha o pensamento milagroso.

11/05/2024

Anatomia de uma "cleptocracia etnonacionalista gerida por um pleonexíaco com uma mesa demasiado longa"

«John Sweeney is a writer and reporter, old school. He remained in the Ukrainian capital throughout the Battle of Kyiv and his latest book, Killer In The Kremlin, reveals Vladimir Putin to be the monster he is. Sweeney's philosophy is: ‘I poke crocodiles, if crocodiles they be, in the eye with a stick.’

He’s helped free seven people falsely accused of killing babies, starting with Sally Clark, reported on wars, revolutions and trouble around the world, gone undercover to Zimbabwe, Chechnya, twice, and North Korea. He upset Donald Trump by asking him about his links with the mob - Trump walked out on him - and upset Vladimir Putin by asking him about Russia's role in the shooting down of MH17. But he is probably best known for shouting at the Church of Scientology.

After 17 years at the BBC for Panorama and Newsnight, he is now a free spirit, up for the right kind of trouble.» 

 
Leitura dedicada em especial aos Putinversteher e em geral a quem possa sentir-se fascinado pelo "homem forte" imaginado pelos idiotas úteis do mundo ocidental como exemplo de líderes que evitariam a degeneração dos costumes e exterminariam o wokeism. Sim, é possível que esses homens fortes fizessem isso no caminho para eliminar todas as liberdades.

10/05/2024

CASE STUDY: Os resultados da IA da Google influenciada pela doutrina woke são difíceis de distinguir da Estupidez Natural

«Quando solicitado a mostrar imagens de papas, nazis, cavaleiros e dos fundadores da América,
 Gemini produziu imagens que retratavam exclusivamente pessoas de cor. (Imagens geradas pela Gemini)»

«Foi uma exibição que teria impressionado até mesmo Orwell: a busca por imagens de “nazis” e o chatbot de IA do Google mostra quase exclusivamente nazis negros gerados artificialmente; pesquise “cavaleiros” e você encontrará cavaleiros asiáticos femininos; pesquise “papas” e são papas mulheres. Peça-lhe para partilhar o slogan Houthi ou definir uma mulher, e o novo produto do Google diz que não o fará, a fim de evitar ofensas. Quanto a saber se Hitler ou Elon Musk são mais perigosos? O chatbot AI diz que é “complexo e requer uma consideração cuidadosa”. Faça-lhe a mesma pergunta sobre Obama e Hitler e dir-lhe-á que a pergunta é “inapropriada e enganosa”.» 

(De uma newletter da Freepress)

09/05/2024

ARTIGO DEFUNTO: Títulos que são todo um programa de indução subliminar

Expresso

Será preciso recordar que este ministro das Finanças foi nomeado há cinco semanas, sucede ao Dr. Medina que no primeiro trimestre deste ano emitiu OT no valor de 9.125 milhões de euros, que a emissão a que o artigo se refere fazia parte do plano de colocação da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, que os juros vêm aumentando há dois anos e que, portanto, o Dr. Miranda Sarmento tem tanto a ver com estes juros e esta emissão quanto o papa Francisco? Note-se que origem da notícia é da Lusa mas o título é do jornalista de causas de serviço no semanário de reverência.

Dúvidas (372) - O que move o Dr. Ventura ao pretender limitar o direito de expressão do Dr. Marcelo, um notório picareta falante?

É pouco frequente escrever sobre o Chega ou o seu líder Dr. Ventura, principalmente porque as minhas críticas iriam acrescentar-se, ainda que por razões e pressupostos muito diferentes, à enxurrada que o jornalismo de causas e a comentadoria do regime lhe dedica, ou mesmo, para os distraídos, confundir-se com essa enxurrada.

Abro mais uma excepção para comentar a iniciativa aprovada ontem pelo grupo parlamentar do Chega de apresentar uma queixa-crime contra o Dr. Marcelo "por traição à Pátria", fundada no facto deste último ter defendido as reparações às ex-colónias num jantar com jornalistas estrangeiros. 

Sobre o fundo da questão não vou agora discorrer porque em várias ocasiões (por exemplo aqui ou aqui) já disse o que tinha a dizer, como disse sobre o Dr. Marcelo, em quem não votei. O que pretendo salientar é que, por muitos disparates que o Dr. Marcelo produza e nem mesmo pelo exercício deplorável dos seus dois mandatos, exercício que faz dele um dos piores presidentes da República, se não mesmo o pior, ele não perde a liberdade de os exprimir.

Pretender inventar um crime de expressão que obviamente não existe (por enquanto), como sabe muito bem o Dr. Ventura, pode ter dois propósitos, ambos para mim preocupantes, não pelos efeitos que são com toda a probabilidade inócuos, mas pelo que isso pode indiciar: ou bem se pretende intimidar a criatura, ou bem se pretende excitar os piores sentimentos da turba num exercício demagógico tão ao gosto do Dr. Ventura. Em ambos os casos, isso revela tiques totalitários de mau prenúncio.

08/05/2024

ESTÓRIA E MORAL: Pode-se servir a dois senhores, mas não ao mesmo tempo (salvo no caso dos espiões duplos)

Estória
 
João Abel Manta

Nas últimas duas semanas, a Revista do Expresso publicou duas peças (*) sobre Lima de Carvalho uma personagem relativamente conhecida, pelo menos de quem tivesse visitado a Galeria de Arte do Casino Estoril, mas com uma vida durante o Estado Novo desconhecida de quase todos - a de funcionário discreto do  Serviço de Leitura Especializada da Direção dos Serviços de Censura encarregado das publicações não periódicas em acumulação com redactor anónimo do jornal "A Voz", uma das vozes do regime. Desconhecida de quase todos, mas não de todos. A célula local do PCP no Casino Estoril sabia do seu passado e manteve-se um prudente silêncio tirando vantagem dessa informação, como fazia habitualmente com "arrependidos" do regime.

O interessante desta estória é que Lima de Carvalho serviu com igual zelo, ou mesmo melhor, a democracia, que o condecorou com o grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e a ditadura que os jornalistas do Expresso, talvez para exorcizar os seus fantasmas, chamam "fascismo",  o que o antigo regime nunca foi, como qualquer alma que conheça história saberá.  

Moral

Quando Jesus disse (Mateus 6:24)  «Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro», referia-se, obviamente, a servi-los ao mesmo tempo. 

Como o pintor e cartunista Abel Manta, muito bem retratou, os tempos que se seguiram à queda do Estado Novo foram pródigos em conversões maciças. Eu próprio já recordei várias vezes ter então descoberto que o país estava coalhado de democratas, socialistas e comunistas. Em cada empregado servil, venerador, de espinha dobrada e mão estendida, havia um heróico sindicalista pronto a lutar pelos direitos dos trabalhadores e pelo «saneamento» do patrão.

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(*) ‘Frei’ Lima de Carvalho e os seus dois regimes: a história secreta do censor que se tornou patrono das artes após o 25 de Abril e O camaleão: como o PCP ajudou a reabilitar um antigo censor do Estado Novo.

07/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (5b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 5a)

A Hidra de SEF, como a de Lerna, tem sete cabeças e nenhuma delas funciona

Em vez de apurar as responsabilidades pela má gestão do SEF e pelas arbitrariedades que culminaram com o homicídio de um imigrante ucraniano, o governo do Dr. Costa criou a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e a Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros (UCFE) e ainda transferiu outras funções para a PSP, a GNR e a PJ, o Instituto dos Registos e Notariado (IRN), o Sistema de Segurança Interna (SIS) e as autarquias. Resultado, nas palavras do semanário de reverência: «em apenas seis meses de existência, a AIMA foi alvo de mais de 7600 processos judiciais pelos atrasos na legalização de migrantes. Há 400 mil pedidos pendentes para resolver».

«Pagar a dívida é ideia de criança»

Esgotada a engenharia do brilharete de redução do rácio no final do ano, a dívida pública voltou a aumentar no 1.º trimestre 2,4 mil milhões para 270,9 mil milhões, ou de 99,1% para 100,5% do PIB, e os depósitos em bancos reduziram-se quase mil milhões de euros em Março (fonte).

A família socialista tem imenso jeito para o negócio. Trapalhadas até ao fim

Foi assinado antes da decisão da compra um contrato-promessa de compra de um edifício do Centro para a Economia e Inovação Social da Guarda que só teve lugar depois de conhecido o resultado das eleições.

«A educação é a nossa paixão»

Segundo a Fenprof, seis meses depois do início do ano lectivo ainda há 30 mil alunos que não têm pelo menos um professor, isto apesar dos governos do Dr. Costa terem aumentado em 10 mil o número de professores no ensino não universitário e do número de alunos se ter reduzido em 75 mil.

O PS acusa o governo da AD de imitar o governo do PS

O governo AD demitiu a presidente da Santa Casa da Misericórdia que estava há um ano no cargo e ainda procurava de uma solução para um problema, que também não sabia qual fosse, e só agora descobriu que as receitas previstas no orçamento de 2024 eram fantasistas. O deputado Dr. Tiago Barbosa Ribeiro, uma estrela em ascensão no firmamento socialista, acusou o governo da AD, de procurar substituir «um conjunto de dirigentes nas diferentes instituições do Estado, procurando domesticá-las e procurando colocar pessoas politicamente alinhadas com o Governo.» Se calhar tem razão e, a ser assim, o governo actual estaria a adoptar as best practices da governação socialista.

PS & Chega querem que as portagens sejam pagas por quem não as utiliza

Luís Afonso no Jornal de Negócios

As portagens que com o Eng. Guterres eram SCUT e quando acabou o dinheiro passaram a ser pagas, agora, com os votos do PS (seis meses depois de ter considerado que não havia condições) e do Chega (sim, leu bem) o parlamento decidiu que passarão novamente a SCUT, ou seja, serão pagas por quem não as utiliza, o que custará 1,5 mil milhões de euros até ao fim das concessões em curso.

Prescrição, o removedor de crimes do Estado sucial

Prescreverão até Janeiro do próximo ano 42 crimes de falsificação de documentos e de infidelidade imputados a Ricardo Salgado e a mais 12 arguidos no caso GES praticados entre 2009 e 2014, ou seja, todos eles há mais de 10 anos.

50 personalidades descobriram agora que a Justiça precisa de reformas…

… e assinaram um Manifesto, sendo a maioria socialistas e incluindo umas 2 dezenas de ex-ministros de governos PS e PSD e de vários outros famosos.

A insustentável leveza da sustentabilidade

O excedente da Segurança Social, que não é excedente nenhum porque terá de ser afectado às reservas para garantir a sustentabilidade a longo prazo, caiu em termos homólogos 11% no 1.º trimestre.

06/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (5a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

Estará o novo governo a ter efeitos retroactivos?

Como se pode ler neste número das Sequelas da Nau Catrineta, o primeiro trimestre registou a degradação das contas públicas e de outros indicadores, degradação que ainda não foi atribuída ao governo AD que tomou posse no segundo trimestre porque o Dr. Pedro Nuno e a sua equipa de consultores ainda estão a procurar um especialista na aplicação do princípio da reversibilidade na gestão governamental.

Depois do Dr. Costa, o Dr. Medina

No comentário como no resto, o Dr. Medina é o legítimo herdeiro do Dr. Costa. Poucos dias depois deste último ser empossado comentador no novo canal de televisão da Medialivre, o Dr. Medina seguiu-lhe os passos e foi ele próprio empossado comentador de finanças públicas no mesmo canal.

A convergência com a Óropa segundo o Dr. Costa

Iniciando a sua nova actividade de comentador, o Dr. Costa enfeitou-se com o que chamou a convergência com a Óropa que para ele é crescer mais depressa do que a Alemanha ou a França, que têm um PIB per capita PPP 40% ou 22% superior, respectivamente, e ser ultrapassado por oito sobreviventes do colapso do comunismo.

Por modéstia, ele não mencionou o honroso oitavo lugar nos países da OCDE da carga fiscal total sobre os salários.

mais liberdade

E também não mencionou que essa carga fiscal total é em termos relativos precisamente mais pesada nos salários mais baixos, como se pode ver no diagrama.

Um dos motores da economia portuguesa está a gripar

No primeiro trimestre as exportações de bens caíram 4,2% em relação ao mesmo trimestre de 2023, apesar disso, o saldo melhorou porque as importações caíram 6%. Enquanto o turismo continuar em alta não será um problema para as contas externas, mas como tudo quanto sobe, desce…

A economia no 1.º trimestre teve um crescimento homólogo de apenas 1,4% e 0,7% em cadeia e, ainda assim, puxado pelo consumo porque o investimento caiu.

O socialismo é uma fábrica de pobres

Os dados do mercado de trabalho divulgados pela Pordata a semana passada revelam que Portugal é o quinto país da UE com os salários médios a paridades do poder de compra mais baixos, apenas acima da Eslováquia, Grécia, Hungria e Bulgária, que Portugal é o país em que o patronato tem menos escolaridade e que a população activa em 20 anos registou um envelhecimento notável e se reduziu em mais de cem mil.

Afinal o Dr. Medina não é economista, é engenheiro ou a morte das “contas certas”

Segundo as contas da UTAO a engenharia orçamental do Dr. Medina ao colocar o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) a comprar OT, que assim deixaram de contar para o rácio da dívida pública retirou-lhe quase 8%.

mais liberdade

Entretanto, desde que o governo socialista entrou em gestão e começou a preparar-se para tentar ganhar as eleições, o Dr. Medina, antes disso um cativador de verbas, abriu as comportas e inundou a despesa corrente que excedeu em muito o orçamento e segundo a Direção Geral do Orçamento aprovou mais de 1,2 mil milhões de euros de despesas não orçamentadas. Quanto ao investimento, foi executado menos de metade do orçamentado, outra vez a autoestrada mexicana. O resultado, em conjunto com a quebra de 108 milhões da receita fiscal, foi o superavit transformar-se num défice de 259 milhões de euros (contas do Fórum para a Competitividade) ou 418 milhões (contas do DN/Dinheiro Vivo).

(Continua)


05/05/2024

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (22) - Perdoam, perdoam

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

«Os portugueses, desta vez, talvez não lhe perdoem. A Presidência estará contaminada por tanta leviandade, que pode ser servil ou não. Pedir a um país pobre e empobrecido que acolhe centenas de milhares de imigrantes brasileiros, e os integra sem esforço, e bem, que acolhe muitos milionários brasileiros que usam o país como entreposto europeu e investimento imobiliário, e nada mais, que pague indemnizações a um país riquíssimo e de endémica corrupção como o Brasil, onde o obstáculo à redistribuição social é essa corrupção e não a míngua de recursos, é pedir demais. Não lhe perdoarão os portugueses das ex-colónias, cujo rancor estava neutralizado pelo tempo. E não lhe perdoarão os que acham que não sabe o que diz e que não pode achar que pode dizer tudo porque tem graça.»

Escreveu a Dr.ª Clara Ferreira Alves, a Pluma Caprichosa, uma das almas mais desalinhadas no planeta mediático, capaz do pior, como sucumbir ao charme do Dr. Soares e fazer uma entrevista apologética ao Sr. Eng. Sócrates, o Animal Feroz, ou do melhor, como reconhecer que o Dr. Costa pode ter sido um dos piores primeiros-ministros desde Dona Maria II. Suspeito que esteja enganada, porque o Bom Povo Português verga-se aos afectos, mesmo que fingidos, e adora uma criatura popularucha que se faz passar por um deles.

04/05/2024

Uma esperada e merecida derrota esmagadora do partido anteriormente conhecido como Conservador

Fonte

Para ajudar a perceber a génese da hecatombe vejam-se os posts da etiqueta Brexit. E não, o problema não está no Brexit, o problema está no processo e os processos são verdadeiramente o que mais importa numa democracia. Como escrevi em tempos, a decisão do governo conservador britânico de David Cameron de submeter a um referendo a saída da UE tinha como propósito não perder as eleições para o UKIP de Nigel Farage que fazia uma campanha para a saída e a premissa de que o eleitorado britânico acabaria por recusar a saída. O propósito foi conseguido, à custa de demagogia e distorção dos factos e dos números que não ficou atrás do UKIP e teve um resultado inesperado que foi a aprovação do Brexit. O que se passou a seguir confirmou que o Brexit não resolveu nenhum problema e criou outros, o que já foi percebido pela maioria do eleitorado.

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (102) - O Portugal dos Pequeninos sempre em contramão

As ondas que percorrem ciclicamente a Europa e o Mundo chegam a Portugal com décadas de atraso. Assim de repente, lembro uma ditadura que sobreviveu à segunda guerra, quando no mundo ocidental só restavam as ditaduras nos países do império soviético, lembro a chegada da democracia, lembro que se seguiu um putsch, quando não havia putschs na Europa há trinta anos, para implantar um regime comunista-esquerdista, seguido de um outro putsch para afastar a clique que tentara o anterior, e alguns anos depois o bombismo esquerdista das FP25, já a Brigate Rosse e a Rote Armee Fraktion tinham arrumado as botas no sótão.

Fast-forward e mudando de assunto, na primeira década deste século quando a Óropa assumia a rectitude fiscal os governos portugueses praticavam a libertinagem orçamental e o endividamento compulsivo.


E chegamos aos dias de hoje em que a maioria dos governos ocidentais saíram da recessão da Covid aumentando a despesa e criando défices pletóricos (ver o diagrama acima) e dívida pública e, ao invés, os governos socialistas portugueses reduziram os défices e a dívida pública à pala das "contas certas", um expediente em que investimento público não era executado e as despesas sociais eram cativadas, e de outros expedientes de engenharia orçamental.

03/05/2024

The case against right-wing racialism

«As a practical matter, too, the politics of colorblind equality is vastly superior to the politics of “white identity.” Whatever one’s judgment on mass immigration, America is now a mixed, multiracial republic, and any successful political movement will need to build a coalition beyond any single racial group. The good news for conservatives—and a point against arguments for demographic determination—is that many racial minorities, most notably Latinos and Asians, oppose critical race theory-style discrimination, support the principle of colorblind equality, and have begun to shift politically to the right. By contrast, the advocates of “white racial consciousness” have a track record with the opposite results: from the late author Sam Francis to the racialist website VDare, such efforts have failed to garner an audience, much less a political coalition, beyond the fringes. Such a politics is perceived, rightly, as victim-oriented and antithetical to deeply held American principles.

The vision of racialists, whether on the left or right, is pessimistic: the first is driven by a spirit of vengeance, the second by a sense of inferiority. They are two sides of the same coin. Despite real tensions and disparities, Americans are, on the whole, a tolerant, cooperative people who aspire to a colorblind standard, derived from the natural rights tradition, that remains the best guidepost for the country’s future. The temptation of racial politics must be resisted. The solution is not to mirror the frame of left-wing racialists, but to persuade strong majorities to abolish racialism from public life and entrench the higher principle of colorblind equality. That is our fight. Slowly but steadily, we can win it.»

Excerpt from «No to the Politics of “Whiteness” - The case against right-wing racialism» by Christopher F. Rufo, from whom I quoted several excerpts of his "America's Cultural Revolution: How the Radical Left Conquered Everything"

02/05/2024

Mitos (336) - Os jovens vivem pior do que os seus pais e avós

Fonte

Não vivem pior, vivem melhor, pelo menos os jovens americanos. Como se pode ver nos diagramas acima, não só os mais jovens têm nas últimas décadas sistematicamente aumentos salariais mais elevados (diagrama da esquerda) como, para as mesmas idades, o rendimento mediano a preços constantes das gerações mais recentes é sistematicamente mais elevado do que das gerações anteriores.

01/05/2024

O preconceito pode fazer parecer estúpido quem pode ser inteligente. A economia de causas

Outros exemplos de pessoas inteligentes que o preconceito fez passar por estúpidas.

Era uma vez a professora de Economia Susana Peralta, geralmente identificada com a esquerdalhada (1), que escreveu no Avante! da Sonae o artigo «Quando Portugal era mesmo pobre» onde, num exercício muito comum entre os praticantes da sua disciplina, se aplicou a distorcer a história usando a economia de causas, especialidade da ciência de causas, ignorando os dados disponíveis que contrariam a sua tese que consistia em tentar demonstrar que o Estado Novo, além de ser uma ditadura, foi uma fábrica de pobres mais produtiva do que o regime actual.

Para demonstrar a sua tese de que o Portugal dos finais do Estado Novo era «mesmo pobre», a Dr.ª Peralta usou o melhor da sua ciência económica a qual, contudo, não convenceu Henrique Pereira dos Santos que, como arquitecto paisagista especialista em conservação da Natureza, não tinha obrigação nenhuma de desmontar a tese da professora de economia como o fez fundamentadamente em três acutilantes posts (2) que a mim, economista por acidente, me pareceram irrefutáveis. 

No lugar da Dr.ª Peralta, se fosse professor de economia, pediria transferência para o departamento de Economia mediática.

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(1) Escreve regularmente no Esquerda Net o que a indicia como pertencente à mesma escola de pensamento do tele-evangelista professor Louçã e da Dr.ª Mortágua.

(2) "Concordo com o viva o 25 de Abril...", "Como é possível, Susana?",  "E por último"