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03/08/2014

A atracção fatal entre a banca do regime e o poder (24) – Ficou outra vez provado que as coisas nunca estão tão más que não possam ainda piorar

[Mais atracções fatais]

Há tempos escrevi aqui que a demonstração definitiva de que o BES é um banco de todos os regimes estava à beira de ser feita a confirmarem-se os rumores da troca por uma participação no capital da Rioforte e da Espírito Santo International do papel comercial detido pela Petróleos da Venezuela, uma empresa estatal que é um dos instrumentos da política chávista. A ser assim, acrescentei, confirmar-se-ia ainda o entranhado pendor que o GES tem para os socialismos, incluindo o socialismo “revolucionário” bolivariano.

Nessa altura ainda não sabia, nem imaginava, que o Dr. Ricardo Salgado precisamente um mês antes, no dia 9 de Junho, tinha assinado em nome do BES uma carta de garantia de pagamento de 800 milhões de euros desse papel comercial vendido à Petróleos da Venezuela, à revelia da comissão executiva do banco e ao arrepio das instruções do BdeP para não serem assumidos mais compromissos relacionados com empresas do GES.

Cada vez mais, é um caso de polícia. Neste contexto, é difícil perceber que uma criatura como Miguel Sousa Tavares, que teve o bom senso de ficar até recentemente calado sobre este tema – supõe-se por via do conflito de interesses decorrente de ter uma filha casada com um filho de Ricardo Salgado – tenha quebrado esse silêncio da pior maneira possível inventando uma teoria da conspiração na sua coluna no Expresso. Segundo essa teoria, os prejuízos de 3,6 mil milhões no 1.º semestre justificar-se-iam à custa de manobras do BdeP e da nova administração com fins inconfessáveis que ele no final da peça insinua poder ser vender o banco barato a «algum predador de passagem». Infelizmente, é pouco provável o fundamento da teoria e, depois de tudo o que já vimos, o meu prognóstico a respeito de imparidades e de prejuízos é: a procissão ainda vai no adro.

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