«Acompanhando as notícias, como sempre vamos fazendo, não evito sentir-me usado e abusado quando ouço políticos falar de nós, jovens emigrantes. Viemos nós trabalhar para outro país, muitas vezes com a missão de um dia voltar e trazer algo mais para o nosso país, e, sem dar por ela, de repente somos estatísticas de arremesso político desses que vão entretendo as massas votantes com falsas juras de amor.
É verdade que alguns de nós se podem aproveitar e, em busca de atenção, se fazem também de vítimas. Mas, talvez se ouçam mais queixumes dos que ficaram em Portugal e dizem “obrigam-nos a emigrar” do que os que efectivamente saíram de Portugal. Porque acredito que os que saem não são do tipo de ficar e queixar, são mais do tipo de fazer e acontecer.
E, então, creio ser legítimo que, assumindo a decisão de arriscar e emigrar, e sujeitando-me a todas as incertezas e dificuldades, me possa sentir abusado ao ver alguns na televisão — com quem não me identifico nem tão pouco concordo – virem falar em meu nome e afirmar-se como fiéis defensores da causa do jovem emigrante. Perdoem-me se isto me revolta um pouco mas não me metam nas vossas quezílias politiqueiras. Não quero ser argumento nas guerras com os vossos inimigos que nem são os meus. Não quero, muito menos, ser usado precisamente por aqueles defensores dos “direitos adquiridos”, proteladores da sociedade acomodada, irreformável e retrógrada que representam exactamente o oposto daquilo em que eu acredito.
Senhores políticos: experimentem por de lado essa arrogância paternalista, que às vezes vos consome aí no conforto do nosso belo país, e talvez venham a descobrir que os motivos para emigrar vão muito além da vossa simplista argumentação. Talvez descubram que os emigrantes, especialmente o jovens qualificados, não são assim tão infelizes e vítimas como os fazem.
Talvez descubram que grande parte de nós decidiu emigrar por vontade própria, por ambição, por espírito aventureiro e curioso, ou por sentir que o percurso da sua missão neste mundo passa por essa etapa de enriquecimento pessoal. Talvez sintamos que teremos mais valor a acrescentar a Portugal quando um dia voltarmos com mais conhecimento, experiências e competências.
Não tenham pena de nós que tivemos o discernimento, a coragem e a capacidade de seguir os nossos sonhos e emigrar. Não tenham pena de nós que somos do tipo de português que faz mais do que se queixar e que luta pelo que quer.
E não julgue um qualquer político aí em Portugal que pode proclamar em meu nome que eu fui obrigado a emigrar por culpa deste ou daquele outro.»
Diogo Lucas, «Eu, jovem emigrante, não sou arma de arremesso político»», no Público
[Via a emigrante RR, que também não se faz de desgraçadinha]
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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