Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

28/02/2005

BLOGARIDADES: Más notícias e boas notícias

A secção Baixas em combate - o obituário dos links impertinentes - não pára de aumentar. Agora foi a vez do Intermitente que anuncia a liquidação total, ficando a jazer na fatídica secção em companhia do desaparecido, faz tempo, VALETE FRATES.

A boa notícia é que ambos os desaparecidos ressurgem n'O Insurgente, na companhia do Causa Liberal e de outros eméritos bloguenautas menos frequentados pelo Impertinências, não por falta de motivo, mas por falta de tempo.

Não são precisas mais recomendações para que O Insurgente entre directamente para a secção Repositório Liberal.

SERVIÇO PÚBLICO: À primeira vista não se percebe, mas depois

«Os governos de Teerão e Moscovo assinaram um acordo de cooperação para construir o primeiro reactor nuclear iraniano, segundo fontes oficiais. O compromisso estipula que a Rússia facilite o combustível nuclear necessário para que Teerão possa pôr em marcha a central nuclear. O combustível que sobrar terá que ser devolvido a Moscovo.»

Não é caso para estarmos preocupados. Se fosse, as esquerdalhadas domésticas e globais estariam a preparar as suas maninfestações de protesto. Mas não haveria razão para isso. Trata-se de países amantes da paz e das liberdades, com governos sujeitos ao mais rigoroso escrutínio pelos média e por opiniões públicas muito activas. Sem esquecer que, à míngua de pitról - é só o 3º ou 4º produtor mundial - o Irão precisa imenso de centrais nucleares. E se sobrar plutónio, será devolvido.

27/02/2005

LOG BOOK: Oscar for the best shot

«"Michael Moore and I actually have a lot in common - we both appreciate living in a country where there's free expression", Eastwood told the star-dotted crowd attending the National Board of Review awards dinner at Tavern on the Green, where Eastwood picked up a Special Filmmaking Achievement prize for "Million Dollar Baby."
Then, the Republican-leaning actor/director advised the lefty filmmaker: "But, Michael, if you ever show up at my front door with a camera - I'll kill you."
The audience erupted in laughter, and Eastwood grinned dangerously.
"I mean it," he added, provoking more guffaws.»
[New York Daily News]


The Good, the Bad and the Ugly

26/02/2005

TRIVIALIDADES: O futuro dos Anacletos são os pastéis de Tentúgal

«O eleitorado do Bloco já não se resume a intelectuais, quadros superiores e jovens urbanos. Além do voto de protesto inorgânico e flutuante, o Bloco conquistou um novo tipo de eleitores. Vêm dos grupos sociais mais desesperançados: trabalhadores jovens e precários, funcionários públicos desmotivados ...» escreveu na sua coluna Choque e Pavor, no Expresso, o doutor Daniel Oliveira, o megafone evangélico dos Anacletos.

«Funcionário público desiludido é hoje capaz de produzir 100 mil pastéis (de Tentúgal) por dia», titulou aquele semanário, no Caderno de Economia, onde procurando com persistência, se podem também encontrar peças de jornalismo.


[o futuro da produção dos Anacletos]

ARTIGO DEFUNTO: Percepção extra-sensorial

Vitorino e Costa no Governo
«José Sócrates está a reservar absoluto segredo no processo de formação do novo Governo. ... o Largo do Rato está transformado num verdadeiro bunker informativo e nem os homens mais influentes do aparelho socialista conhecem os planos do próximo primeiro-ministro.»
[1ª página do Expresso, um semanário que também publica algumas peças de jornalismo]

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Os cinquentas e os sessentas segundo a Pluma Caprichosa

Secção Padre Anchieta
«Por volta dos anos 50, as pessoas sonhavam. As pessoas continuam a sonhar, mas, por qualquer razão, ou por muitas razões, os sonhos dos anos 50 passaram de moda. Talvez por causa da Grande Guerra que tinha acabado, ou por causa da Grande Depressão que tinha acabado, e era no tempo em que Guerra e Depressão e Grande se escreviam com letra grande, as pessoa sonhavam em ter vidas melhores e acreditavam nesses sonhos. Os sonhos cresciam por cima da raiz de uma ideia que entretanto se perdeu; ideia da decência. A ideia de que o sucesso se atingia mediante o trabalho, e esforço, o mérito, o sacrifício e a luta contra os demónios próprios. Sabemos o que aconteceu: por volta dos anos 60, a contestação a este sonho começou e a ideia de trabalho e esforço começou a esfumar-se nos eflúvios da marijuana.»
Para quem, como a doutora Clara Ferreira Alves, deve ter entrado para a primária no final da década de sessenta, escrever assim sobre essa década e a anterior, como se lá tivesse estado, explica porque é a Pluma Caprichosa uma das poucas páginas que vale a pena ler na sacada de papel que todas as semanas o Expresso nos oferece por 3 euros. Até lhe perdoo aquelas derivas esquerdizantes, que podem muito bem ser apenas eflúvios.

Merece 3 afonsos por um escrito politicamente incorrecto.

25/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: Danos punitivos

Ontem fui ver Million dollar baby. O velho Clint está cada filme mais refinado e este seu último é um produto duma oficina depuradíssima. Devia ser obrigatoriamente visto 100 vezes por todas as criaturas que vão pedir um subsídio ao IPC - quero dizer, antes da extinção do IPC, que ocorrerá o mais tardar no ano 2057 quando o primeiro governo liberal tomar posse.

Million dollar baby, que é uma história de amor segundo Clint Eastwood (para mim é mais sobre a redenção), está a anos-luz duma outra história de amor, xaroposa e piegas, «The Bridges of Madison County» que ele fez há 10 anos, ainda com a oficina em construção. Não sei se é por acaso, mas era alemã a cabra que mandou Mo Cusha para o hospital com os seus golpes sujos. Mo Cusha ou Maggie Fitzgerald, o sangue do sangue do treinador Frankie Dunn - Clint himself. O destino, ou o script, mandou que Mo Cusha não tivesse tempo de dar cabo do coiro da cabra, infligindo-lhe danos punitivos, à força de lhe esmurrar a ciática.

Madison County? Lembra-me alguma coisa. «Erin Brockovich». Mas o que tem «Erin Brockovich» de Steven Soderbergh a ver com Madison County de Clint Eastwood?

O filme de Soderbergh conta a estória real (enfim, mais ou menos real) duma heróica mãe solteira e desempregada (o casting na vida real era mais perfeito do que no filme) que quase sozinha conduziu uma luta contra a Pacific Gas & Electric Company. Tratou-se de conseguir que esta indemnizasse os habitantes duma localidade cujas águas foram criminosamente contaminadas por resíduos tóxicos emitidos pela PGEC. Erin conduziu com sucesso uma class action (uma espécie de acção popular no direito português, creio). A PGEC que foi condenada não só pagar os danos causados, como ainda a pagar pelo conceito de punitive damages milhares de milhões de dólares.

[Punitive damages]
Este singular dispositivo do direito americano, em absoluto alheio ao legítimo ressarcimento dos danos sofridos, foi inventado por advogados, pagos a peso de chorudos success fees, coligados com as brigadas do politicamente correcto (alguns dos advogados são membros das brigadas, tal como os nossos guerreiros ambientalistas que a seguir às batalhas vão dar pareceres de impacto ambiental). Na divisão de trabalho as brigadas ajudavam a arregimentar os supostos lesados aliciando-os com os milhões que iriam receber. O sucesso da operação dependia das brigadas conseguirem aliciar também as mentes dos jurados (coisa fácil porque se tratava de punir os «capitalistas»).

É aqui que entra o Madison County de Clint Eastwood, que aliás nada tem a ver com o assunto, salvo que Madison County é um dos counties onde o esquema de extorsão dos «capitalistas» estava mais bem montado e, por isso, o seu tribunal foi inúmeras vezes palco de circos punitivos donde saírem muitos milhões.

Tem sido assim. Vai deixar de ser. Nos intervalos das guerras, o presidente Bush também se ocupa de outras coisas como inspirar o Class Action Fairness Act, aprovado a semana passada no Senado por uma maioria que incluiu muitos democratas que perceberam a importância de mitigar a extorsão organizada. Extorsão que é paga no preço dos produtos pelos clientes das empresas condenadas.

A solução não é perfeita, mas pelo menos os casos de lesados de diferentes estados quando o pedido total exceder US$ 5 milhões serão julgados em tribunais federais, mais imunizados à chantagem politicamente correcta, reduzindo a extorsão a proporções mais modestas.

24/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: Carpe diem

Há dias escrevi «que os portugueses não querem reformas é coisa que até um cego poderia ver». Inocente, pensava que era uma sentença chocante e politicamente incorrecta. Erro meu.

Longe de ser chocante, foi a premissa básica de Luís Paixão Martins, o spin doctor da campanha do engenheiro Sócrates, que revelou à TSF como foram criados os «argumentos, imagens e peças de comunicação que foram sendo testadas em focus group». Isso explica, segundo ele, que «o desemprego apareceu destacado como a grande prioridade, enquanto uma questão como a justiça foi remetida para segundo plano. Aliás os portugueses não querem as tão faladas reformas políticas se elas trouxerem instabilidade à sua vida.»

Agora, filhos, ides descansar durante quatro anos (talvez menos, talvez mais) no sossego da estabilidade. Depois entrareis em depressão.

Carpe diem.

SERVIÇO PÚBLICO: Cheiros fétidos exalam dos fundilhos de Moloch

«Não sei se o senhor Joaquim Oliveira, irmão do ex-jogador e treinador António Oliveira, empresário «self made man» que fez fortuna no futebol, que ostenta amizades duvidosas e mantém amizades menos recomendáveis, não sei se podia ser banqueiro neste país.
Mas sabemos que, à partida, é o mais forte candidato, o preferido do BES e do management da PT, à aquisição da unidade de media do grupo. E que, de um momento para o outro, por um valente punhado de euros, pode ficar em cima de um império mediático formado pelo DN, JN e TSF, só para falar dos mais importantes.
Certezas poucas temos, a não ser aquelas que as tremendas suspeições que rodeiam o mundo em que o senhor Oliveira prosperou. Não há um Banco de Portugal para certificar os patrões de media no nosso país. Mas, seguindo os avisos do accionista BES, é importante que a PT saiba a quem venda. E, se vender, que não venda apenas a quem mais paga.
A democracia já está suficientemente doente. A vigilância deve ser permanente sobre o poder político. Sobre as relações que ele mantém com o poder económico. E sobre quem faz de intermediário em todas estas relações. Pelo ar que respiramos. Que não tem preço.
»
[Sérgio Figueiredo, «Pelo ar que respiramos», Jornal de Negócios]

CASE STUDY: O peso do Moloch

Agora que uma das seitas de adoradores de Moloch vai ocupar o poder nos próximos 4 anos (talvez menos, ou talvez mais) é oportuno avaliar o peso do animal - tomar o peso à mochila, como se dizia quando servi a pátria nas fileiras.

Segundo a news release de 28-01 do Eurostat foi em Portugal que a carga fiscal (impostos/PIB) mais aumentou de 1995 até 2003, passando de 34,5% para 38,1%, comparada com a redução na EU15 de 42,0% para 41,8%. Recorde-se que 1995 foi o início do consolado do engenheiro Guterres, emérito adorador de Moloch e musa do engenheiro Sócrates, actual grão-sacerdote do culto.

Paradoxalmente, os países ex-comunistas, onde seria suposto existirem ainda uns restos pantagruélicos de cinco décadas do Moloch dos sovietes, têm quase todos uma carga fiscal inferior, ou mesmo muito inferior, à de Portugal que só teve sovietes durante 9 meses.

Entre os países de economia avançada com carga fiscal inferior, encontramos (inevitavelmente) o Reino Unido e a Irlanda, os países da EU15 com maior crescimento. A Irlanda realizou o feito notável de reduzir o peso do Moloch de 35,2% para 31,2%, e, por isso mesmo, foi o recordista do crescimento.

Como seria de esperar (*), há uma visível elevada correlação negativa entre o peso do Moloch e o crescimento do PIB. Aceitam-se apostas para o tax burden que o governo PS, acossado pela esquerdalhada externa e pelas cliques internas da mesma família e acolitado pelos adoradores de Moloch espalhados pelos outros partidos, vai deixar ao seu sucessor.

(*) Esclarecimento: seria de esperar pelos 417 linces da malcata da variedade liberal, segundo a última contagem.

23/02/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Investimento quê?

«Segundo o Relatório anual do Conselho Superior da Ciência, Tecnologia e Inovação, as empresas portuguesas investem um quarto dos valores do Reino Unido, metade dos valores da Espanha e Irlanda, cerca de 20% da média comunitária e 12% dos valores registados nos EUA e no Japão. No investimento público, pelo contrário, Portugal apresenta níveis próximos da média europeia.»

«As empresas portuguesas investiram 16 milhões de euros na criação de núcleos de investigação e desenvolvimento tecnológico em 2003 e 2004, a que corresponderam apoios públicos de seis milhões de euros, segundo anunciou a Agência de Inovação (ADI).»
[síntese de notícias da Ordem dos Economistas]

Algum dia o colectivismo nacional compreenderá que não precisamos de mais estado? Precisamos de menos de estado. Não escrevi esquerdalhada, escrevi COLECTIVISMO. Não escrevi melhor estado. Escrevi MENOS estado.

CONDIÇÃO MASCULINA: Quanto mais me bates mais gosto de ti

«São cada vez mais os homens que se queixam de violência doméstica, representando 15% das participações na GNR e PSP em 2004, segundo o Gabinete Coordenador de Segurança (GCS). A percentagem das vítimas masculinas é idêntica nos meios rurais e urbanos, o que revela uma alteração das mentalidades, defendem autoridades policiais e os técnicos. No ano passado registaram-se 14 959 processos no total, menos 2468 do que em 2003.
Os perfis das vítimas são muito semelhantes, quer sejam do sexo masculino ou feminino. As pessoas que sofrem maus tratos têm entre 30 e 50 anos, estão economicamente e emocionalmente dependentes do agressor e têm problemas de auto-estima e de falta de confiança.
» [DN de 22-02-2005]
A falta de auto-estima, sempre ela. São as empresárias e os empresários, são as trabalhadoras e os trabalhadores, são as desempregadas e os desempregados, são as prostitutas e os prostitutos, são as proxenetas e os proxenetas, são as governantas e os governantes, são as portugueses e os portugueses. Somos todos nós com mais um défice de auto-estima e confiança a acrescentar ao défice orçamental.

Infelizmente o programa do PS não prevê medidas para pôr cobro à violência doméstica sobre os homens (o sexo fraco do nosso tempo). Temos que aguardar que, com a nova vaga de optimismo que vem a caminho, os portugueses melhorem a sua auto-estima e, se não conseguirem evitar levar porrada das portuguesas, pelo menos lhes dêem com o pau - um merecido troco para equilibrar as coisas.

22/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: Mandaram-nos vir? Agora aturem-nos

Que os portugueses não querem reformas é coisa que até um cego poderia ver. Mas após esta eleição é mais do que isso que está em causa. Foi um novo paradigma que emergiu. Quem viu o programa Prós e Contras na RTP1 esta noite pode ter assistido a uma antevisão, no microcosmo do estúdio, do que serão os próximos 4 anos (ou menos).

O PS a ouvir com sorrisos de Mona Lisa o discurso do realismo e da competência, representado na circunstância por Sérgio Figueiredo e Vítor Bento. Um discurso afogado pelos dislates alarves e ruidosos da esquerdalhada.

Um PS a debitar a cassete do discurso vazio do optimismo e da confiança (melhor lhe chamariam fé), das reformas indolores, do sol na eira e da chuva no nabal.

Um PS acossado pela esquerdalhada, na circunstância protagonizada por um doutor Miguel Portas, acreditando representar o Bloco de Esquerda e mais um milhão de eleitores que votaram por engano no PS, e protagonizada por um travesti, acreditando representar o Partido Comunista e o povo inteiro, incluindo este vosso criado que por certo vai ter pesadelos esta noite.

Tenho, porém, que conceder que o doutor Miguel Portas, no meio dos seus delírios, disse, por outras palavras, uma coisa absolutamente certa: o voto no PS é uma caldeirada.

É uma caldeirada porque o discurso do engenheiro Sócrates foi o discurso da ambiguidade. As expectativas que ele, por manha ou por incompetência (vem a dar o mesmo), deixou que se criassem são tão divergentes que, faça o que fizer, não faça o que não fizer, vai ser penalizado. Essa base eleitoral vai começar a desfazer-se na primeira esquina da governação e jamais será uma base social de suporte a reformas indispensáveis. A seguir à base eleitoral, desfaz-se por dentro a federação de cliques ideológicas que é o PS, com algumas das suas seitas a fazerem coro com a esquerdalhada.

Até amanhã, camaradas.

SERVIÇO PÚBLICO: A culpa não pode morrer solteira e faz parte da herança

«Muitos países..., ainda hoje, desfrutam do trabalho produzido pela escravatura. Portugal incluído (e) até hoje ... ainda não foram apresentadas desculpas oficiais pelas atrocidades cometidas», disse Joaquim Chissano, ex-presidente da República de Moçambique. durante a cerimónia de doutoramento Honoris Causa em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade do Minho.

Tem razão o doutor Honoris Causa Chissano, no que toca às atrocidades. Na verdade, a história da humanidade é um longo rosário de atrocidades, a maior parte delas nem sequer associada à escravatura. Apesar de tudo, os escravocratas cuidavam, pouco é certo e só até certo ponto, mas cuidavam da vida dos escravos, que eram mais úteis vivos do que inválidos ou mortos. Na generalidade das outras atrocidades cuidava-se mais da morte e das formas de matar.

Quanto ao costume de pedir desculpas, não tenho nada contra, mas, se queremos ser equitativos, todos os povos vão ter que dedicar as próximas décadas a absolverem-se uns aos outros, pelas atrocidades mutuamente infligidas. Só à nossa conta temos que aceitar desculpas de uma turba que inclui desde os godos até aos franceses, sem esquecer os árabes, os romanos, etc.

Um outro ponto de vista ad hominem, ou, se preferirem, um assassinamento de carácter (eu hoje acordei assim), absolutamente condenável pelo código do politicamente correcto, é o cometido pelos leitores que comentaram a notícia do Público, escrevendo coisas que Maomé nunca escreveria sobre os chouriços:

«os escravos que a gente mandava para o Brasil eram sobretudo de Angola e São Tomé (olha o trabalhão que seria naquela altura trazê-los de nau de Moçambique, que fica do outro lado do continente africano!). Aliás, eram sobretudo comprados a outros patrícios seus, que vendiam os prisioneiros de tribos inimigas para a escravatura. Por que não pedem desculpas a eles mesmos primeiro? Portugal não é culpado do subdesenvolvimento das ex-colónias, as guerras civis, corrupção e desvios de dinheiros pertencentes ao povo para bancos na Suíça que se deram depois da independência é que são.»

«Quem devia pedir desculpa era ele e a família pelo desvio de milhões (que devem estar em grandes contas no estrangeiro) pertencentes ao povo de Moçambique e pelo mal que fez ao mesmo povo e não só ao longo destes anos. Um país belíssimo e o mais miserável do Mundo! Isto é que merece pedido de desculpas por parte dele! Isto é o que se chama cuspir contra o vento!»

Não é bonito estes leitores ressabiados atirarem-se ao homem, mesmo estando ele a pedi-las. Será que lhe deverão apresentar desculpas oficiais?

21/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: Uma vitória do PXG

O Partido do Xis Grande foi o segundo que mais cresceu e passou a ser o 6º partido, em ambos os casos logo a seguir ao PDA (partido dos anacletos). Ganhou um não deputado em Lisboa.

Eleições.........2005...........2002
Brancos... 103.555 1,81%....54.999 1,01%
Nulos...... 63.765 1,12%....50.465 0,93%
PXG....... 167.320 2,93%...105.464 1,94%


Há fundadas suspeitas que entre os seus 167.320 não eleitores se encontrarão 341 dos 417 linces da malcata da variedade liberal, segundo a última contagem.

20/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: Um voto com xis grande

De que outro modo poderia votar nas reformas para resumir o monopólio do estado às suas funções essenciais, reduzir o seu peso em quase-mercados abertos à concorrência e libertar assim a sociedade civil do peso sufocante do estado criado pelo salazarismo e engordado pelas sucessivas coligações social-colectivistas dos adoradores de Moloch?

[Este Moloch não é fenício, é genuinamente lusitano; não é construído de bronze, é latão do mais rasca; na sua fornalha ardente não são imolados só os nossos filhos, somos também nós, e são aconchegados os utentes da vaca marsupial pública]

19/02/2005

SERVIÇO PÚBLICO: O estado do cinema do Estado

Na véspera das eleições parece à primeira vista despropositado citar uma entrevista ao Independente de ontem de Mário Dorminsky, o criador e promotor do Fantasporto, que seguramente, quando fala de cinema em Portugal, sabe do que fala. São fragmentos sobre a factura do cinema estatal, vêm na sequência do post Os programas não são para se cumprir (4) - a Cóltura (com maiúscula) e são uma boa preparação para o regresso do professor Carrilho e dos seus discípulos.
Porque é que os filmes portugueses têm poucos espectadores?
Por vários motivos. Para já, o processo de atribuição de apoios ao cinema português está errado. O Estado sacode a água do capote e passa uma responsabilidade que é sua - atribuir apoios directos em função do valor cultural de cada evento - para júris que são falíveis e influenciáveis. Digo isto porque já saí a meio de um júri do ICAM. Perguntei aos outros jurados quantos telefonemas tinham recebido e de quem. Ninguém quis dizer nada - e eu saí. Quem faz cinema em Portugal são sempre os mesmos. Não se abre porta a novos cineastas. Isso tem a ver com...
...cunhas?
Não. Tem a ver com "lobbys". O cinema em Portugal é feito de "lobbys". Há uns mais fortes e outros menos. O produtor Paulo Branco fez um acordo com a Fundação Calouste Gulbenkian para pagar a produção dos Cahiers du Cinéma aos próprios Cahiers du Cinéma. A partir daí cinema português passa a ser conhecido em e França através do Le Monde, do Libération, dos Cahiers du Cinéma e de todas as revistas que a intelectualidade do cinema lia. A imagem que passou para Portugal foi a de que o cinema nacional era um grande sucesso em França porque fazia semanas consecutivas na sala Action-République. Mas fazia semanas consecutivas de salas vazias. Isso levou a que se criassem nomes como Manoel de Oliveira e outros.
E a qualidade dos filmes portugueses?
Há bons e maus filmes. Mas a grande maioria - e isto é generalizar o que também não é muito fácil de generalizar - dos cineastas portugueses olha demasiado para o umbigo. Fazem filmes para que os seus colegas digam muito bem. Não os fazem a pensar no público.
Faz sentido o Estado pagar filmes que ninguém vê?
Esse é o problema dos júris. Eu, se fosse Estado diria: "O júri é que decidiu." É isso que o Estado faz. Mas é evidente que não devia ser assim. Portugal é o único país onde o cinema é integralmente pago pelo Estado.

18/02/2005

CASE STUDY: Subsídios para o programa do governo do engenheiro Sócrates (4)

Foi divulgada a sondagem da UC que dá a vitória absoluta ao engenheiro Sócrates e fundadas preocupações às criaturas com siso. Depois deste, deste e deste é tempo do último subsídio impertinente para o programa do PS.

Estou a falar de Cóltura (com maiúscula). Proponho ao engenheiro Sócrates que implore ao professor Carrilho, que já estudou o modelo de financiamento do cinema português, se digne estudar também com carácter de urgência o modelo de financiamento dos blogues portugueses.

Deve ser um modelo que estimule a diversidade da bloguilha e compatibilize três instrumentos principais:

  1. os concursos para financiamento de vários géneros, linguagem e formas artísticas, decididos por júris;
  2. os planos de apoio plurianual a blogonautas, para execução de programas coerentes e relevantes de produção;
  3. co-participação do MC em fundos de investimento em que participem também outros intervenientes na cadeia de valor, tais como os ISPs, os operadores de telecomunicações, os operadores de hosting de blogues, etc.
Sabendo que o senhor engenheiro não tem tempo para os pormenores, eis mais alguns detalhes para a concretização das condições administrativas e financeiras do modelo:
  1. criar no ministério da Cóltura uma secretaria de estado dos Blogues
  2. nomear júris para cada género
  3. nomear uma equipa de assessores por cada género para apoio técnico e artístico aos júris
  4. definir a alocação dos subsídios na cadeia de valor
  5. regulamentar as condições a que devem obedecer os conteúdos:
    - predominância de temas cólturais
    - pelo menos 80% das palavras em língua portuguesa
    - pelo menos 80% das imagens referentes a temas portugueses
  6. o financiamento do blogonauta terá a natureza dum subsídio vitalício que só poderá ser extinto se o blogue for fechado, ou se estiver inactivo mais que 45 dias úteis consecutivos por ano ou 90 interpolados
  7. o montante do subsídio, calculado com base no vencimento da letra A da função pública, será independente do nº de visitas, dependendo apenas do horário de navegação escolhido pelo bloguenauta na bloguilha, entre as seguintes modalidades: horário completo, matinal, vespertino, nocturno e flexível
  8. o subsídio terá periodicidade mensal (14 meses por ano)
  9. o bloguenauta terá isenção de IRS, IRC, IVA e IMI, nos termos do Decreto-Lei 404/90.
Pede deferimento

17/02/2005

TRIVIALIDADES: O apóstolo da mentira

O doutor Anacleto Louçã deve ter alguns méritos. Se não os tivesse como poderia inspirar as melhores alcunhas do mercado político? Primeiro foi o «tele-evangelista», facturado pelo doutor Sarmento Rodrigues, que nos seus tempos de boxista o teria fulminado com um uppercut, agora infelizmente caído em desuso.

Agora foi a vez do doutor Bagão Félix ter arrincado das profundezas da sua alma indignada com a demagogia do doutor Anacleto um «apóstolo da mentira» , que lhe assenta igualmente como uma luva.

Para as criaturas mais sensíveis ficarem tranquilas quanto à justeza do cognome, recordo a cena montada pelo apóstolo na noite de 3ª Feira, durante o debate dos frouxos, a propósito do suposto privilégio de que teria beneficiado o banco Santander, e para me poupar explicações remeto para quem com mais autoridade explica tudo aqui.

16/02/2005

TRIVIALIDADES: O desgraçadinho e o vilão

Será preciso dizer que o vencedor do debate de ontem à noite foi a afonia de Jerónimo de Sousa?

Não houve novidades, apenas confirmações. Duas das confirmações merecem referência especial por serem notavelmente reveladoras do que vai na alma dos nossos líderes partidários.

Com excepção do engenheiro Sócrates, que, de tão rígido na sua pose, tentando controlar aquelas mãozinhas esvoaçantes, se esqueceu, os outros líderes fizeram questão de mostrar a mais piedosa solidariedade com o infortúnio de Jerónimo de Sousa. É o nosso entranhado desvelo pelo desgraçadinho no seu melhor, a ternura por aqueles que já não sentimos como uma ameaça e de quem, por isso, temos pena. Possivelmente tal desvelo vai também ser sentido pelos eleitores hesitantes e reflectido nos votos. É caso para o doutor Anacleto ficar preocupado pelos efeitos no seu depósito geral de adidos.

Se tivemos um desgraçadinho, tínhamos que ter um vilão. Uma vez mais, com suspeita unanimidade, o vilão foi o sector mais competitivo da economia portuguesa e que mais se aproxima das best practices, dos níveis de excelência no serviço e dos padrões internacionais de produtividade: a banca.

Não merece referência a enorme ignorância e incompetência do demagogo doutor Anacleto Louçã, ao invocar um privilégio inexistente na aplicação do DL 404/90, já aplicado nos últimos 15 anos vezes sem conta na reestruturação de empresas de todos os sectores. O que merece ser relevado é o seguidismo com que as outras luminárias quiserem mostrar os galões e aproveitaram a oportunidade para cascar no vilão de serviço. Fizeram-no com a fundada expectativa de dividendos eleitorais, porque se há coisa que os eleitores portugueses, consumidos pela inveja e apertados pelos passivos, gostam de ouvir, é cascar no sucesso, nos poderosos, no «capital financeiro» (Vicente Jorge Silva nos comentários na RTP N, recuando subitamente 30 anos até ao Comércio do Funchal).

Ainda vamos assistir a uma campanha liderada pelo BE, apoiada pela acção ou omissão dos outros partidos, a exigir o perdão da dívida dos inadimplentes de carteiras prenhes de cartões de crédito, cravejados de dívidas para comprar o chaço, a casinha e as férias no nordeste brasileiro, que precisariam de duas vidas para pagar. A seguir podemos nacionalizar outra vez a banca.

[o desgraçadinho e o vilão]

DIÁRIO DE BORDO: O grande chefe apache e as traições do cardeal trânsfuga

Nestes tempos do paradigma do político mediático plastificado, o único líder partidário que me inspira confiança e simpatia é Jerónimo de Sousa. Chefe duma tribo em extinção, tal como o seu homónimo Geronimo da tribo apache chiricahua, o homem tem o carisma e a coragem dos lutadores de causas perdidas. Sucedendo ao chefe songamonga doutor Carvalhas, percebeu rapidamente que para salvar a tribo da extinção teria que unir os índios à volta duma liderança forte e inspiradora, combater os trânsfugas (os renegados «renovadores») e atacar a outra tribo que ocupa o mesmo território - os esquerdistas do BE, que sofrem daquela doença infantil de que falava o camarada Ulianov. Inspirado no agit-prop vintage, baptizou magistralmente o Bloco de Esquerda de «depósito geral de adidos». Quase tão boa, só a boutade do doutor Sarmento Rodrigues ao baptizar o chefe do depósito, doutor Anacleto, de «tele-evangelista».

Além dessas qualidades intrínsecas, o nosso Jerónimo tem o aspecto recomendável dum ser sexualmente ortodoxo - um gajo que já deu umas cambalhotas com as camaradas, mas capacitado para uma relação estável com uma camarada companheira. Nada de troca de namoradas. Nada de ficar do lado errado na guerra dos sexos. Nada daqueles meneios de mãozinhas e de ancas, daquelas volubilidades e inconstâncias próprias de emasculados e de homens efeminados, que talvez façam babar as leitoras da Caras e as gajas do politicamente correcto, mas deixam indiferentes as sólidas camaradas sempre prontas para a brincadeira. Estou mesmo a ouvi-lo dizer para a camarada companheira, quando vê aqueles líderes que a gente sabe (que são quase todos os outros e que se encaixam numa daquelas duas categorias): lá estão aqueles maricas a enganar o povo.

Só não voto nele porque ainda me obrigaria a trabalhar numa empresa pública (outra vez) e mandaria o Copcon engavetar-me por ter um blogue «desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e homofóbico».

Por falar em trânsfugas, quem é que pode dar crédito ao doutor Pina Moura? De zeloso apparatchik do PCP, passou a cardeal do senhor engenheiro, e passou-se a seguir para o lado do inimigo capitalista, ainda para mais espanhol. Trocou as migalhas que papava do orçamento pelas côdeas comidas na mão da castelhana Iberdrola, que «conta com Sócrates para expandir-se».

Ficámos agora a saber que, alem das outras traições ao proletariado já conhecidas, o cardeal «Pina Moura "retirou" dívidas dos clubes das certidões fiscais» quando esteve ao serviço do governo da burguesia (e dos coronéis do futebol) chefiado pelo senhor engenheiro.

ESCLARECIMENTO a quem possa não interessar:
Comecei a escrever este post antes do combate dos chefes na RTP1. Como se viu, o nosso Jerónimo participou diminuído por uma aflitiva afonia - ainda não foi desta que se vez ouvir a voz da classe operária. Aos olhos da tribo apache (onde momentaneamente o Impertinências se inclui), isso só o engrandece. Em vez de andar a mastigar aquelas pastilhas que os maricas chupam ou a engolir colheradas daqueles xaropes que os maricas lambem, o Jerónimo enfrentou a afonia até que a voz lhe doeu. É dómem.

15/02/2005

CASE STUDY: Os programas não são para se cumprir (5) - a intercedência da irmã Lúcia

Depois disto, daquilo e daqueloutro, e em seguida à Cóltura (com maíscula), é tempo de falar de milagres - dos milagres prometidos pelos dois partidos com aspirações a governar o país. Estes milagres, como todos os milagres, exigirão uma intervenção divina.

PS

  • Milagre - 150.000 novos postos de trabalho em 4 anos
  • Intervenção divina - PIB a crescer anualmente 4% ano nos próximos 4 anos, numa conjuntura europeia de crescimento moderado, com as exportações chinesas aqui tão perto e mil Vales do Ave a fenecerem
  • Milagre - Passar dos CCTUs para os SCUTs
  • Intervenção divina - extrair da caixa das esmolas 5,5 mil milhões até 2015
  • Milagre - Pensões mínimas acima do «limiar da pobreza»
  • Intervenção divina - espremer 1,3 mil milhões por ano da caixa das esmolas

PSD

  • Milagre - Aumento da produtividade de 64% para 75% da média europeia
  • Intervenção divina - PIB a crescer 5% ao ano durante os próximos 10 anos (se a UE crescesse 2% por ano e a produtividade europeia aumentasse 1% por ano), no contexto referido a que se pode acrescentar a redução previsível do fluxo de subsídios comunitários
  • Milagre - Despesa pública reduzida de 48% para 40% do PIB em 4 anos
  • Intervenção divina - congelamento da despesa pública (reduzir a despesa corrente? reduzir o "investimento público"? fazer as duas coisas?) e o PIB a crescer 5% ao ano.

É claro que há sempre imponderáveis e a fé remove montanhas. Quem sabe se a irmã Lúcia, que agora nos deixou vitimada por "falência cardio-circulatória", não nos vai ajudar, uma vez mais. Ela que, com os outros pastorinhos, já nos ajudou a salvar da ameaça comunista, primeiro, e da bancarrota e da anarquia, depois, mandando-nos o Enviado que nos salvou da falência, recuperou as nossas finanças comatosas e tomou conta do país, como um pai extremoso que protege os filhos da sua própria infantil incúria.

E por tudo isto se fica a perceber o alcance das coisas. Que o governo decrete o luto. Que os partidos, unidos pela fé que encendeia as almas e pela esperança que alumia os corações dos militantes, resolvam suspender a campanha uns, acompanhar a suspensão outros, e até alguns decidam ficar sóbrios.

14/02/2005

CASE STUDY: Os programas não são para se cumprir (4) - a Cóltura (com maíuscula)

Prosseguindo a saga dos programas de governo (capítulos anteriores aqui, aqui e aqui), é tempo agora de falar de Cóltura (com maíuscula). O Expresso no suplemento Actual perguntou aos partidos com representação parlamentar «Qual deve ser o modelo de financiamento do cinema português?»

Descubra as diferenças nas seguintes respostas:

PSD
«A Lei das Artes Cinematográficas dá essa resposta, ao prever a manutenção do financiamento do Estado e a criação de novas fontes de investimento e financiamento para o sector. A lei prevê, ainda, a diversificação de sistemas de apoio e a participação de todos os agentes do sector do cinema e do audiovisual, designadamente através da participação de entidades privadas num fundo de investimentos.»

PS
«No quadro do MC (e não, por exemplo, do Ministério da Economia...) deve ser um modelo que estimule a diversidade do tecido cinematográfico e compatibilize três instrumentos principais: a) os concursos para financiamento de vários géneros, linguagem e formas artísticas, decididos por júris; b) os planos de apoio plurianual a produtores, para execução de programas coerentes e relevantes de produção; c) co-participação do MC em fundos de investimento em que participem também outros intervenientes na cadeia de valor, tais como operadores televisivos, distribuidores e exibidores de cinema.»

CDS/PP
«É necessário um equilíbrio entre a criação de autor e o grande público, ou seja, entre o especializado e a grande difusão. O actual modelo assenta numa redistribuição de receitas provenientes do audiovisual e serve de impulso ao investimento, necessitando de regulamentação breve.»

PCP
«Defendemos um sistema de financiamento do cinema português que diversifique, tal como está previsto na lei, as fontes de financiamento, desde que a sua diversificação não signifique a desresponsabilizaçâo do Estado e a perda de rigor e transparência na gestão è atribuição dos apoios ao cinema português.»

BE
«Aumento das verbas concedidas pelo ICAM através da taxação da publicidade nos canais por cabo em língua portuguesa, nos canais de acesso pago e no aluguer de vídeos, bem como mediante uma taxação de 5% nos preços de bilheteira de filmes produzidos fora da União Europeia e da CPLP. Isenção da licença de distribuição para os filmes nacionais que apenas tenham seis cópias em exibição em sala.»

Deve haver muitas poucas áreas com tamanha convergência nas políticas. É difícil atribuir um Óscar, mas arrisco o PS, onde se mistura o mais bolorento intervencionismo estatista com a treta pós-moderna (mãozinha do doutor Carrilho, pela certa).

No mesmo suplemento Actual, umas páginas mais à frente, podemos tomar conhecimento do resultado do modelo de financiamento do cinema português:

  • Os 18 filmes portugueses exibidos em 2004 tiveram no total menos espectadores do que o vigésimo filme do ranking dos mais vistos (194.132 contra 197.843)
  • O número de espectadores que viram filmes portugueses representou 1,23% (um vírgula vinte e três por cento) do número total de espectadores
  • A média de espectadores desses filmes foi 10.785, o que a preços correntes terá rendido uns míseros 50.000 euros por filme (percebe-se agora que cadeia de valor significa o local onde se aprisionam os valores dos contribuintes)
  • A média dos 7 filmes com mais 10.000 espectadores é 24.162
  • A média dos restantes 11 é de 2.273 espectadores por filme
  • Entre estes 11 filmes há 3 que não atingiram 100 espectadores, incluindo um da autoria de Laurence Ferreira-Barbosa que atingiu o número astronómico de 62-espectadores-62, o que deu para encher as primeiras 3 filas duma sessão.
  • Os subsídios que o MC paga com o dinheiro dos contribuintes são geralmente da ordem das várias centenas de milhares de euros, o que corresponderá a um subsídio por bilhete equivalente a várias vezes o seu preço.

Estamos a falar de 2004 e da doutora Burtorff. Apertem os cintos que o pior está para vir. Imaginem o resultado das políticas culturais do doutor Carrilho a inspirarem o modelo de financiamento do cinema português.

13/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: A maiêutica da esquerda, segundo Ann Coulter

«De acordo com as minhas nebulosas recordações "maiêutica" significa em grego, mais coisa menos coisa, "arte de ajudar a parir". Sócrates, filho de uma parteira, aplicou as competências da mãe para extrair dos seus discípulos a verdade que, segundo ele, lá preexistia nas suas mentes, soterrada nas profundezas. A essa operação chamou - ou alguém por ele - maiêutica.
Deve reconhecer-se que extrair seja o que for duma mente é um propósito que requer mais engenho, e, sobretudo, é bem mais perigoso, do que ofício de parteira. Talvez por isso, Sócrates sucumbiu à cicuta antes do tempo que lhe era devido, enquanto a sua mãe esperou por Thanatos na sua vez.
Lembrei-me de usar a maiêutica para tentar extrair alguma coisa da minha mente, verdade ou mentira, sobre o tema do aborto em que a minha única certeza são imensas dúvidas, a que acrescento mais esta: será a arte de ajudar a parir adequada para discorrer sobre o aborto?
À medida que os trabalhos de parto forem prosseguindo aqui prestarei a devida conta.»
[revisitando a maiêutica do aborto, aqui e aqui]

Não tendo a minha mente produzido nada entretanto, socorro-me do novo livro de Ann Coulter [Treason: Liberal Treachery from the Cold War to the War on Terrorism], onde provocadoramente ela escreve: "the fundamental difference between liberals and conservatives is conservatives believe man was created in God's image while liberals believe they are God - liberals believe they can murder the unborn because they are gods".

[Aviso aos incautos: a coisa mais parecida, aqui na paróquia, com os liberais da Ann Coulter é a esquerdalhada e alguns dos seus conservadores até poderiam ser liberais na nossa paróquia]

12/02/2005

CASE STUDY: Os programas não são para se cumprir (3) - O choque tecnológico e os sobreviventes do comunismo

Quase tão incansável como o doutor Anacleto Louça, o Impertinências prossegue, passo a passo, a saga dos programas de governo.

Ao ver, uns destes dias, pela janela do meu escritório uns serventes acartarem baldes de cimento e tijolos, ocorreu-me uma ideia para ajudar o engenheiro Sócrates a preencher os famosos mil lugares para Investigação & Desenvolvimento que ele diz que vai criar na administração pública. É mais um subsídio, uma mãozinha impertinente para cumprir o seu programa.

Os serventes em causa são cidadãos do leste, sobreviventes das ruínas do socialismo real. Têm um ar diligente, limpo (dentro do possível) e educado, que contrasta com o aspecto boçal comum no pessoal das obras. Como muitos outros imigrantes do leste, têm provavelmente uma formação universitária e competências técnicas e científicas que os habilitariam a preencher os tais mil lugares.

A não ser assim, esses lugares terão que ser preenchidos com recurso à chusma de analfabetos funcionais provenientes da JS, carregados de diplomas de humanidades e ciências ocultas, que teriam de ser depositados em cima da camada anterior dos analfabetos funcionais provenientes da JSD, que, por sua vez, por força da alternância, jaziam sobre um estrato mais antigo de JS's, e assim sucessivamente.

11/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: A inveja e a ambição

Tenho andado a ruminar o seguinte fragmento da muito citada entrevista do historiador Rui Ramos ao Público:
«É que ainda está por saber o que é que os portugueses querem. Até pode ser que quisessem todos o "partido Estado", onde 56 por cento já estão inscritos. [«Isso (não) seria insustentável economicamente no quadro europeu»] «se a maioria da população preferir o empobrecimento às desigualdades sociais que estão inerentes a sistemas mais dinâmicos de crescimento económico. Às vezes a inveja é mais importante do que a ambição como motivação das escolhas, e num sistema democrático temos de admitir essas alternativas distintas e aceitar a escolha da maioria.»
Há fortes razões para suspeitar que o que os portugueses querem para si é muito diferente do que querem os liberais nas suas diferentes encarnações, desde os anarco-libertários até aos liberais pragmático-social-pessimistas como o Impertinências. E as suspeitas, desde sempre confirmadas pelo voto, também são fundadas na observação mesmo superficial das emanações dos usos e costumes, crenças e valores domésticos.

Os portugueses sempre demonstraram que se tiverem que escolher entre inveja e ambição, ou entre colectivismo e individualismo, ou entre o eles (*) e a responsabilidade individual, ou entre o estado e o mercado, ou entre um medíocre emprego para toda a vida e trabalho exigente com risco decentemente pago, ou entre o certo e o incerto, escolhem sem remédio o primeiro termo da alternativa. Circunstâncias económicas e políticas absolutamente irrepetíveis, concederam aos portugueses o acesso, sem esforço, a um nível e um estilo de vida que lhes alimentou a ilusão que era possível continuar a viver assim, a ter sol na eira e chuva no nabal para toda a vida.

[É por isso é que o discurso socialista do estado providência é aceite acriticamente, mesmo quando o eleitorado desconfia da fartura. Ao contrário, o discurso das reformas, do mercado, deixa o eleitor comum à beira dum ataque de nervos. Isso mesmo leva os nossos tímidos reformistas a embrulhar as reformas em eufemismos que lhes tolhem primeiro as ideias e depois as acções.]

Será preciso muito tempo e uma crise muito mais profunda do que a que vivemos para que os eleitores comecem a perceber que as coisas têm que piorar muito mais, antes de talvez começarem a melhorar. E, mesmo percebendo, podem querer continuar a ficar-se pela inveja e pela inscrição no partido do estado. Se assim for, talvez os inconformados devam zarpar para outros mares. Afinal não é isso que os inconformados têm feito desde há cinco séculos?

(*) Eles (socialês)
(1) Os culpados da nossa miséria (dos fascistas aos liberais, passando pelos comunistas e, sempre, os espanhóis, e, em alternância, o governo e a oposição).
(2) Os responsáveis pelo trânsito da miséria para a felicidade (quase todos os referidos).
Antónimos: EU (que não sou parvo e não tenho nada a ver com isso) e NÓS (EU, a minha MÃE, a minha patroa, os putos, os amigos, talvez o clube, e o partido, às vezes).

10/02/2005

PUBLIC SERVICE: «There is cause for optimism, though we have been here before»


«"The calm which will prevail in our lands starting from today is the beginning of a new era,” declared Mahmoud Abbas after his first summit as Palestinian leader with the Israeli prime minister, Ariel Sharon

TRIVIALIDADES: Passou-se alguma coisa ontem à noite? (epílogo)

A muito custo, o Impertinências não imitou o doutor Anacleto Louçã e absteve-se de comentar sem ter visto o «Combate dos Chefes», como foi baptizado pelo Expresso o debate entre o doutor Santana Lopes e o engenheiro Sócrates.

À míngua dum "resumo" ciciado ao ouvido pela doutora Ana Drago, e apenas apetrechado com o suplemento especial extraído do quilograma de papel daquele semanário, o Impertinências, após uma leitura atenta das 12-páginas-12 da acta do combate, está agora em condições de dar o seu veredicto impertinente.

O doutor Calimero consegue transmitir a impressão dum (relativo) conhecimento dos problemas e de os tratar com um módico de (relativo) rigor. É surpreendente para quem deixa que se dê de si próprio a imagem pública que ele deixou que se desse.

O engenheiro Sócrates confirma os piores receios. Não domina os dossiers, está pouco à vontade em quase tudo (excepto talvez no tema da co-incineração), não tem ideias novas e não apresenta nem uma velha boa ideia.

Na sua declaração final o doutor Santana Lopes faz uma boa síntese do programa socialista: «não se querem comprometer com nenhuns objectivos que dependam de si próprios».

09/02/2005

ARTIGO DEFUNTO: Jornalismo freudiano (ACTUALIZADO)

Deitado no divã do Público, o doutor Cavaco Silva abriu aos jornalistas a sua alma e expôs-lhes os dilemas que o dilaceram. Durante a sessão, os jornalistas quiseram ouvir a opinião do reconhecido especialista em estados de alma doutor Anacleto Louçã. Não se sabe como, mas o próprio paciente aproveitou a conferência dos jornalistas com o doutor Anacleto, levantou-se do divã e foi, pé ante pé, confessar-se a uma «fonte próxima» (talvez a doutora Maria, que o acompanha sempre nas consultas).

Quando alguns pensavam que o jornalismo português não poderia descer mais baixo, eis aqui um desmentido formal, com um exemplo de mergulho em apneia nas profundezas da alma cavaquista.

08-02-2005 - 09h25 (Público Última Hora)
«O ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva aposta numa maioria absoluta do PS nas legislativas de dia 20 e considera que esse é o melhor cenário para o lançamento da sua candidatura à Presidência da República.»

08-02-2005 - 15h13 (Público Última Hora)
«O dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã considerou as notícias sobre a preferência de Cavaco Silva por uma maioria do PS, nas próximas eleições legislativas, sinal de que "grande parte da direita quer uma maioria do PS".»

08-02-2005 - 17h01 (Público Última Hora)
«Fonte próxima do ex-primeiro-ministro Cavaco Silva, não identificada pela Lusa, desmentiu hoje que o antigo chefe de Governo tenha assumido qualquer aposta na hipótese de o PS conseguir uma maioria absoluta nas eleições legislativas de 20 de Fevereiro.»

09-02-2005 (Público)
«Aníbal Cavaco Silva vai manter silêncio até dia 20, data das eleições, mas ontem mostrou-se incomodado com a notícia do PÚBLICO que tinha por título "Cavaco aposta em maioria absoluta de Sócrates".
O ex-primeiro-ministro não gostou que fosse recordado, nesta altura, que defende que o melhor para o país são executivos de maioria absoluta e que prevê que o PS possa vir a conseguir governar nessas condições.»

[ACTUALIZAÇÃO]
09-02-2005 - 11h13 (Público Última Hora)
«O ex-primeiro-ministro Cavaco Silva reafirmou hoje que se recusa envolver "em qualquer tipo de jogadas ou manobras eleitorais ou partidárias" e negou qualquer fundamento à notícia avançada ontem pelo PÚBLICO, de que aposta numa maioria absoluta socialista.»
Sugiro ao engenheiro Belmiro, dono do jornal, que mude o título de «Público» para «Privado».

08/02/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Uma Alemanha de cócoras apazigua o fundamentalismo islâmico

Ler a denúncia (tradução inglesa) de Matthias Dapfne, CEO da Axel Springer AG, no DIE WELT, da atitude de cobardia do governo alemão que culmina na ideia de criar um «feriado islâmico» [via Dissecting Leftism]

Ler a denúncia (em inglês) do alemão David Kaspar (blogue Davids Medienkritik] da forma grotesca e humilhante como foi representado George W. Bush no desfile de carnaval da cidade de Mainz, que receberá o presidente americano no próximo dia 23. O desfile foi expressamente apoiado pelo presidente da câmara local (do SPD). A figura de Bush parece inspirada na posição da esquerda alemã perante a ameaça soviética - better red than dead.

07/02/2005

ESTÓRIA E MORAL: O evangelho segundo o Analecto

Estória
«"É uma vergonha", comentou Francisco Louçã sobre o apelo do pároco de São João de Brito. O líder do Bloco de Esquerda acha condenável que um "padre utilize a Igreja para fazer campanha pelo PSD e pelo CDS/PP"» querendo dizer na dele que o padre exortava «os católicos a "aprovar por voto" a ética cristã que "promove a vida humana desde a concepção até à morte natural"».

O doutor Louça, ele próprio portador do petit nom «tele-evangelista», não acha natural que um sacerdote profissional, que faz pela vida a difundir a doutrina em que acredita, aconselhe as suas ovelhas a escolher de acordo com essa doutrina. O doutor Louçã acha natural que os seus correligionários jornalistas, a quem pagam para difundir factos objectivos, duma forma o mais possível neutra e imparcial, em vez disso produzam doutrina e sirvam de caixa de ressonância dos dislates que o doutor Louçã e outras luminárias produzem incansavelmente.

Moral
A fanatic is one who can't change his mind and won't change the subject (W. Churchill)

[o tele-evangelista proferindo a sua homilia, acolitado por dois camaradas - imagem confiscada ao representante da burguesia, o marreta WALDORF]

06/02/2005

CASE STUDY: Os programas não são para se cumprir (2) - zero à esquerda

aqui confessei a minha irremediável falta de pachorra para ler com atenção os programas de governo. Para evitar sucumbir definitivamente à preguiça, forcei-me a ir dar uma outra olhadela ao Semanário Económico da semana passada. Na página 5 desenterrei «a aposta num "orçamento de base zero"» do Bloco de Esquerda .

Não acreditei no que li. Os jornalistas do Semanário Económico, aproveitando a proximidade do carnaval, divertiram-se à custa do BE. Só podia ser. Como é que as almas bloquistas foram desenterrar, com trinta anos de atraso, uma ferramenta de «gestão capitalista» que se, aplicada à letra, exigiria fundamentar a partir do primeiro tostão cada departamento, cada funcionário, cada projecto, cada despesa? Como é que essas criaturas conciliariam a prescrição duma técnica orçamental que, se aplicada com um módico de honestidade e competência, levaria a eliminar as banhas da vaca marsupial pública e despachar para o desemprego umas centenas de milhares dos seus utentes, com a primeira («CRIAR EMPREGO E REDUZIR A PRECARIEDADE») das suas «10 prioridades para os primeiros 100 dias»?

Saberão eles o que é o orçamento de base zero? Talvez saibam, o que tornará as coisas ainda mais tenebrosas. Sabendo, o que o BE nos propõe é o regresso dum estado soviético com 5 milhões de funcionários e 10 milhões de «cidadãos-utentes» trabalhando com uma utópica eficiência garantida pelo orçamento de base zero.

05/02/2005

SERVIÇO PÚBLICO: O elevador da assembleia da República

O dia 9 de Dezembro de 2004 foi especialmente prolixo para a AR. Nesse dia as ejaculações deste órgão legislativo foram especialmente abundantes, esguichando sobre a nossa geografia administrativa 21 pingos que alteraram profundamente a vida de outras tantas paróquias. Ou mais, porque alguns pingos molharam várias paróquias elevando-as a patamares mais altos na hierarquia da nação.

Para os incréus que julgam os deputados uns aparatchiks inúteis, aqui vai a longa lista de trabalhos de elevação desse longo dia:

Lei n.º 16/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Pardilhó à categoria de vila

Lei n.º 17/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Salreu à categoria de vila

Lei n.º 18/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação da Gafanha da Encarnação à categoria de vila

Lei n.º 19/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Bouro de Santa Maria à categoria de vila

Lei n.º 20/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação da povoação de Taveiro à categoria de vila


Lei n.º 21/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Vila Franca das Naves e povoações contíguas à categoria de vila

Lei n.º 22/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Monte Redondo à categoria de vila

Lei n.º 23/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Perafita à categoria de vila

Lei n.º 24/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Carvalhosa à categoria de vila

Lei n.º 25/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Vilar dos Prazeres à categoria de vila

Lei n.º 26/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação do Samouco à categoria de vila

Lei n.º 27/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Arcozelo à categoria de vila

Lei n.º 28/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Santo Estêvão à categoria de vila

Lei n.º 29/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Fonte Arcada à categoria de vila

Lei n.º 30/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Elevação de Tremês à categoria de vila

Lei n.º 31/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Altera a denominação de Vila de Covas

Lei n.º 32/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Altera a denominação de Estói

Lei n.º 33/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Altera a denominação de Vale da Amoreira

Lei n.º 34/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Alteração dos limites territoriais dos municípios de Benavente e Salvaterra de Magos

Lei n.º 35/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Fixação dos limites territoriais do município de Alcochete e das freguesias de Alcochete e de Samouco

Lei n.º 36/2005. DR 20 SÉRIE I-A de 2005-01-28
Alteração dos limites territoriais das freguesias de Santa Maria da Graça e São Sebastião, no município de Setúbal

04/02/2005

TRIVIALIDADES: Passou-se alguma coisa ontem à noite?

Os blasfemos dedicaram 18 écrans à coisa, os marretas gastaram 7. No final das contas o que é que eu perdi? Foi isto?

Mas não ter visto não impede que não tenha opinião sobre o que não vi, se seguir o exemplo do doutor Anacleto Louça, «que não viu o debate mas recebeu um "resumo" por parte dos seus serviços de campanha» e ficou horas a perorar do seu púlpito homílias para os seus prosélitos que trabalham nos jornais.

Esclarecido isto, qual é a minha opinião? Só digo se a doutora Ana Drago antes vier aqui ao meu ouvido ciciar-me o "resumo".

CASE STUDY: Os programas não são para se cumprir (1)

Afinal o que é para a teoria da gestão um programa? Um plano com determinadas premissas, com objectivos (que são finalidades dos planos), com estratégias (que são caminhos para atingir essas finalidades), com políticas (que são critérios para decisão) e orçamentos (que são planos quantificados). Neste sentido nenhum dos «programas» apresentados pelos partidos pode ser considerado um programa. São amálgamas de boas com más ideias, listas de votos piedosos, resmas de medidas avulsas, colecções de números arremessados por crânios aleatórios.

Ainda não tive a pachorra de os analisar. Por agora só ganhei coragem para me punir com um resumo que o Semanário Económico publicou. Ao cumprir penosamente essa penitência, lembrei-me de um seminário de direcção participativa por objectivos (um tema muito na moda em França a seguir ao bouleversement du mai 68 e que chegou cá com 10 anos de atraso, como tudo o resto). Um dos participantes do seminário contou uma estória deliciosa para ilustrar a ideia de que os planos não são para se cumprir (à letra).

A primeira parte da estória seria história segundo ele: um deputado qualquer gritou com grande exaltação numa sessão da assembleia que «os planos são para se cumprir!» - não sei quais os planos a que se referia, mas planos, em todo o caso. Uma parte da assembleia reagiu aplaudindo de pé (não sei que parte, nem interessa para o caso). A partir daí entramos no domínio da ficção. Segundo o contador da estória, algum tempo depois esses deputados embarcaram todos num mesmo voo da TAP. O comandante explicou detalhadamente o plano de voo a tão ilustres passageiros, referindo a rota, a altitude, o tempo previsto de chegada, etc. Ao fim de algumas horas de voo, o comandante recebeu novas informações meteorológicas (as premissas alteraram-se) e instruções do controlo aéreo para mudar de rota, evitando previsíveis e perigosas turbulências na rota inicial. Apressou-se a informar os senhores deputados de que iria alterar o plano de voo. Escutou embasbacado o coro de uma centena de vozes alucinadas gritando: «os planos são para se cumprir!».

Quais as semelhança entre um plano de voo e estes «programas» de governo? Duas. Os programas de governo apesar de não terem um destino, nem uma rota, nem uma altitude, nem uma hora de chegada, também têm uma hora de partida e não são para se cumprir.

[Sequelas possíveis nos próximos tempos, dependendo da meteorologia]

03/02/2005

SERVIÇO PÚBLICO: «Um fenómeno psicológico curioso»

Não se pode esperar grande coisa duma classe política que tem «senadores», como o doutor Almeida Santos, que já foi ministro, presidente da AR e é o actual presidente do PS, que justifica o tráfico piolhoso na constituição das listas de deputados numa entrevista à Antena 1 explicando que os candidatos, além dos motivos habituais («destaque, relevo e projecção» e uma sinecura, acrescento eu), são vítimas dum «fenómeno psicológico curioso»:
«vir 3 ou 4 dias por semana a Lisboa permite uma liberdade, nomeadamente conjugal, que é muito sedutora».
[lido no editorial «A liberdade conjugal dos deputados da Nação» de João Vieira Pereira, no Semanário Económico de 28-01]

A mim parece-me bastante mais difícil admitir a existência deste «fenómeno psicológico curioso» do que falar abertamente dos boatos a que se referiu o doutor Coelho nas suas redondilhas.

02/02/2005

DIÁRIO DE BORDO: Eleições no Iraque - o falhanço das profecias

Duma maneira ou doutra, o marxismo inspirou e inspira toda a esquerda e, notoriamente, a esquerdalhada, nas suas diversas modalidades. Sendo o marxismo uma doutrina escatológica e messiânica, construída sobre uma base pretensamente científica, que atribui à história um sentido e um desfecho, é natural que os marxistas, e com eles a maior parte da esquerda, antecipe o seu devir não com os falíveis instrumentos de análise das ciências mas com o expediente das profecias.

A frequência com que as profecias desses profetas falham seria, se o marxismo fosse uma teoria científica, o desmentido cabal da sua utilidade como instrumento de previsão. Desde o falhanço da previsão do local de nascimento do socialismo, que Marx situava na Inglaterra da revolução industrial, ou em França, e que veio a ter lugar no país mais atrasado do mundo civilizado de então, até aos dias de hoje não faltam inúmeros exemplos que ilustram a completa inutilidade desta «teoria» para antecipar o futuro económico, social e político e a sua falta de aderência aos factos históricos. O Impertinências não resiste à facilidade e lembra uma profecia recente dum marxista menor doméstico, o professor de estórias Fernando Rosas, que profetizou para breve o fim do capitalismo quando o barril de petróleo chegasse ao 80 dólares.

As profecias da esquerdalhada em relação ao Iraque, parte delas agora convenientemente esquecidas, começaram com o previsão do levantamento contra o invasor ianque do povo iraquiano seguido do dos povos islâmicos. Isto conduziria, segundo a profecia, a uma longa e sangrenta batalha que levaria o invasor ianque a lembrar o Vietname com saudade. Por muito que o derrube do regime de Saddam não tenha sido uma parada militar, só um esquizofrénico veria parecenças com o cenário dantesco figurado por essas mentes. Falhada aquela, partiram para outras profecias: adiamento sine die das eleições ou o seu fracasso por serem uma farsa ou porque as urnas conteriam os corpos dos ianques e não os votos iraquianos.

Se falássemos de ciência, a «teoria» marxista teria, com a realização das eleições iraquinas. mais um exemplo da sua falsidade como teoria e da sua inutilidade como instrumentos para compreender e prever seja o que for.



[Demonstração in vivo do falhanço do marxismo como ferramenta de previsão dos profetas da desgraça]


01/02/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O Zé e os bandalhos ianques

O meu amigo Zé, um convicto detractor do império do mal, de onde acabou de regressar, enviou-me (e a mais 319 outros seus amigos) uma rajada de 4-quatro-4 mensagens. Por ordem de chegada diziam o seguinte:

31 de Janeiro de 2005 10:46
Sabia que...
a última edição do grande dicionário Webster de língua inglesa, com 350.000 entradas e 2.264 páginas a 3 colunas, custa ... 3 contos de reis?

31 de Janeiro de 2005 10:48
Sabia que ...
o acesso ilimitado á internet custa, nos USA ... 1.500 paus?

31 de Janeiro de 2005 10:53
Sabia que...
com um cartão de 5 dólares que se compra em qualquer lado, pode falar para todo mundo de um posto telefónico qualquer por uma eternidade de tempo?

31 de Janeiro de 2005 10:58
Sabia que . ..
Com as liberdades que têm, o ensino que têm, o acesso à informação que têm, os media que têm, ... AQUELES BANDALHOS FORAM REELEGER O G. W. BUSH POR MAIS QUATRO ANOS ?????????!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Fiquei sem respiração. Assim que recuperei enviei-lhe esta resposta (não exactamente esta, mas uma outra quase igual com mais vernáculo):

Foi por causa das liberdades, do ensino e do acesso à informação que têm, E QUE NÃO QUEREM PERDER PARA OS TERRORISTAS, OS MARICAS, OS GAJOS DO POLITICAMENTE CORRECTO, OS HERDEIROS DOS COLABORACIONISTAS, ETC. (UM ETC. MUITO GRANDE), que os bandalhos preferiram, ao bem-pensante do ketchup, o disléxico George W. que disse há uma semana ao Washington Post o seguinte [omiti da lista das mordomias os media ianques porque, como qualquer observador neutro já terá reparado estão infestados de esquerdalhada e não são, por isso, um bom exemplo]:
« Okay, let me start off a little bit by answering some questions. I'm looking forward to the inauguration. I'm going to be able to absorb a lot more of the sights, sounds, the drama this time. I think last time I was in awe of the whole moment. Having done it once, if experience is any judge -- the convention experience is any judge about this, I'm really looking forward to kind of being as much a participant and observer at the same time -- a much more heady observer.
I'm excited about the second term. I worked hard to get there, and campaigned on some specific issues that I'm looking forward to working with the Congress on. Priorities for the second term: of course, win the war on terror, spread freedom and democracy. And at home, reform systems that will say that we have recognized we've got problems for future generations that we intend to deal with. One is Social Security, one is the tax system. As well, I'm mindful of the twin deficits we face. The fiscal deficit -- we will address the fiscal deficit in two ways: one, by submitting a budget that will continue to keep the pledge of cutting the deficit in half by five years, and secondly, addressing some of the unfunded liabilities inherent in the fiscal budget.
In terms of the current account deficit, the best way to deal with that is to, one, ensure that currencies around the world are market driven, not controlled by state, and secondly, at home, is to make America an attractive place for people to take risk, a place to invest. That's one of the reasons why I've started talking about legal reform early. One way to make sure America is the best place in the world to do business and the best place in the world to attract capital, therefore, is to reform our legal system.
I'm taking on three issues: asbestos reform, class action and medical liability reform. Today I'm going to be talking about education. We need an energy bill. I'm looking forward to working with the Congress to get an energy bill. We'll continue to be a free trade administration. So those are issues I'm looking forward to working with Congress on, as well. And I'm excited about it -- you can clearly see where I think the country needs to go. I told that to the people when I was running, and I'm looking forward to leading the Congress.»
Quantas páginas A4 os prolixos engenheiros Sócrates/Guterres, doutores Calimero e Sampaio, precisariam para dizer vacuidades acerca de um só destes temas que o disléxico tratou em quatro parágrafos?