Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/11/2012

NÓS VISTOS PELOS ELES: Imagens de miséria

O New York Times publicou 16 imagens de miséria e de revolta (por acaso dos que não são miseráveis, porque esses não se revoltam) e alguns indicadores do estado depressivo em que o país se encontra depois de décadas de financial folly, como lhe chamaram Reinhardt e Rogoff.

Nós que vivemos cá sabemos que as imagens retratam apenas um dos Portugais. Há outros. Por exemplo o Portugal da nomenclatura parasitária que ocupa o Estado e as empresas do regime que passam ao lado da crise. Ou o Portugal que trabalha duramente e concorre no mercado global, longe do Terreiro do Paço e de S. Bento.

BREGUINGUE NIUZ: À atenção dos sujeitos passivos

Um dia destes foi concluída mais uma autoestrada. Trata-se da A33 que liga a via rápida da Caparica ao Barreiro. A coisa ficou pela módica quantia de 985 milhões, a pagar em suaves prestações durante os próximos 30 anos. Parece que foi feito um desconto de 240 milhões à pala de duas intervenções que não se farão.

A partir de agora, os utentes do campo de golfe e da urbanização da Aroeira poderão circular com mais comodidade. O presidente das AE prevê 25 a 28 mil veículos diários em quase todos os troços, mas provavelmente essa previsão faz parte do pensamento mágico do regime. Por isso, além dos milhões já previstos, ó sujeitos passivos, preparai-vos para pagar as devidas compensações ao concessionário. Quanto a vós, ó utentes da Aroeira, preparai-vos para pagar além disso uma bela portagem, já deduzida da contribuição dos sujeitos passivos.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (57) – Os guantanameros

Ao princípio era o verbo: «Yes, we can!». Guantánamo fecharia logo depois da inauguration. Passadas apenas semanas já seria para fechar no meio do mandato. Já estávamos no «Change».

Dois anos depois «it's probably gonna be a while». Changing all the time.

Quatro anos depois, Guantánamo «pode ser encerrado e os 166 detidos que continuam no presídio transferidos com segurança para prisões nos Estados Unidos, indica um relatório do Governo

Os detidos já deverão ter adquirido o estatuto de guantanameros (os naturais de Guantánamo) e quando de lá saírem será ao som da célebre canção.

29/11/2012

SERVIÇO PÚBLICO: o défice de memória (14)

«Não me parece que em 2013 que nós possamos repetir aquilo que aconteceu em 2012 sob pena de prejudicarmos, eu diria quase de forma irreparável, as hipóteses de regressarmos aos mercados» disse ontem, com uma enorme falta de pudor, num qualquer colóquio, Teixeira dos Santos, o ex-ministro das Finanças, o mesmo que durante 6 longos anos foi cúmplice de José Sócrates na criação de condições para não podermos recorrer aos mercados da dívida e termos sido forçados a abdicar de uma parte da soberania.

Entre outras realizações, devemos a Teixeira dos Santos o recorde da derrapagem dos défices, nomeadamente o de 2009 que começou em 2,2% e acabou em 10,0%, que deixa a longa distância as derrapagens de Vítor Gaspar, num contexto económico e financeiro muito mais difícil. E no entanto muitos dos que hoje rasgam as vestes de indignação são os mesmos que aplaudiram ou silenciaram o caminho que percorremos.

Para quem precise de refrescar a memória, aqui fica uma retrospectiva dos 2 anos de Novembro de 2009 a Outubro de 2011: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) e (13).

LEMA: «Os cidadãos deste país não devem ter memória curta e deixar branquear as responsabilidades destas elites merdosas que nos têm desgovernado e pretendem ressuscitar purificadas das suas asneiras, incompetências e cobardias.»

Mitos (91) – Os hábitos dos portugueses dependem do dinheiro torrado na Cóltura

«Estado gasta pouco em Cultura e isso nota-se nos hábitos dos portugueses», escreve o Público. Posso estar enganado, mas os hábitos dos portugueses resultam pouco do que governo gasta em «Cultura» com maiúscula, porque a cultura depende pouco ou nada disso. O que depende dos gastos do governo é a Cóltura e essa tem estado bem servida com organigramas e durante décadas custou aos contribuintes milhares de milhões para pagar aos apparatchiks da cóltura, a artistas sem público e até a um Berardo.

Berardo a quem foi cedida uma galeria de exposições no CCB e outra em Sintra para lhe albergar as obras menores de artistas maiores e obras maiores de artistas menores, além de lhe ser prometido meio milhão de euros durante 10 anos. O mesmo Berardo que em troca fez o trabalho sujo de participar no assalto ao BCP e por isso ficou depenado e a ter que se desfazer da quinquilharia.

DIÁRIO DE BORDO: O masoquismo tuga

Um maior número de portugueses considera que António Guterres, uma criatura que só ficou atrás de José Sócrates no contributo para o estado de insolvência em que nos encontramos e encontraremos nas próximas décadas, é o melhor primeiro-ministro da 3.ª república. Isso não impede que quase dois terços defendam que devemos cumprir o acordo com a troika, imposto em boa parte pela governação desses dois figurões.

28/11/2012

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Mais investigadores e mais dinheiro não significam necessariamente mais resultados

«O país tem hoje um número de investigadores por cada 1000 habitantes activos superior à média da UE. Falta fazer com que esta surpreendente capacidade de gerar conhecimento passe para a sociedade e influencie o seu futuro», afirmou Santos Silva na abertura da conferência Portugal em Mudança, no Instituto de Ciências Sociais de Lisboa.

Santos Silva podia acrescentar que Portugal também gasta mais dinheiro em «investigação» do que a média, também tem funcionários públicos por 1000 habitantes em número superior à média da EU e nem por isso os serviços públicos têm melhor qualidade do que a média; que tem mais professores por número de alunos, mais kms de autoestradas, que tem mais uma montanha de coisas e nem por isso consegue crescer. E por isso tem uma dívida pública de 120% e uma dívida externa 2,5 vezes o PIB.

Santos Silva podia igualmente acrescentar que «esta surpreendente capacidade de gerar conhecimento» parece não passar de «capacidade», porque os resultados mensuráveis dessa capacidade não são nada surpreendentes, como aqui no (Im)pertinências já se concluiu várias vezes. Por exemplo, nos seguintes posts:
  • 02-02-2011 «As notícias sobre o surto inovativo são um pouco exageradas»
  • 28-11-2010 «A fábula do surto inventivo que nos assola»
  • 04-01-2009 «E pur non si muove»

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (22)

Bill Clinton & John F. Kennedy (When I'm grown up I want to be like you, Sir)

27/11/2012

Bons exemplos (42) – Ao arrepio da vaga fiscal

Não se esperem amanhãs que cantam, porém o facto puro e simples de ter sido proposto pelo governo e aceite pela CE a redução da taxa de IRC para 10% nos novos projectos de investimento, ao arrepio da vaga de aumento de impostos, é só por si uma boa notícia.

E não me venham com o bla bla dos ricos porque o IRC não é um imposto pago pelos ricos, é um imposto pago pelas empresas. Quem paga o IRC são, pois, os consumidores no preço dos produtos que poderiam ser mais baixos com um IRC mais baixo. Os ricos pagam um IRS sobre os lucros distribuídos, líquidos de IRC. Se querem extorquir mais dinheiro aos ricos acabem com as taxas liberatórias de IRS.

É um ponto a favor do ministro da Economia, que deveria aplicar-se a reduzir os custos de contexto e a convencer o governo a aliviar a fiscalidade, em vez de pôr-se a adivinhar onde as empresas devem investir, ou a subsidiar negócios de cuja viabilidade o governo não tem a mínima ideia.

BREQUINGUE NIUZ: E se de repente Alexandre Tombini for nomeado governador do Banco de Portugal?

Se os portugueses acordassem um dia com a notícia da nomeação de Alexandre Tombini, actual governador do Banco do Brasil, para governador do Banco de Portugal o que aconteceria? A histeria nacional, moções de censura ao governo, manifestações promovidas pelos comunistas e berloquistas, acusações do PS de falta de patriotismo, fervores de indignação dos jornalistas de causas e dos comentadores do regime.

Na verdade, o que aconteceu foi parecido, mas parece ter sido aceite com normalidade pelos mídia e opinião pública britânicos. Após um anúncio público e um recrutamento aberto, Mark Carney, actual presidente do banco central do Canadá, uma ex-colónia britânica, foi escolhido, aceitou, depois de uma primeira recusa em Agosto, e foi nomeado governador do Banco de Inglaterra, em substituição de Mervyn King, à frente do banco há mais de 10 anos. Mark Carney tomará posse em Junho do próximo ano (onde é que já se viu tanta antecedência), será responsável pela regulação e pela política monetária e terá um salário total, incluindo contribuição para o fundo de pensões, de 624 mil libras por ano.

É exemplo do cosmopolitismo e da procura de excelência em contraste com o paroquialismo e a procura de conformidade.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Avaliando a avaliação do avaliador

Secção Universos paralelos

Quando li a chamada na 1.ª página do suplemento de Economia do Expresso «Empresário e economistas chumbam OE – A análise do Budget Watch do ISEG e Deloitte voltou a dar negativa do documento», pensei com os meus botões: querem ver que a coisa ainda é pior do que eu pensava.

De tão preocupado, fui ao site do Budget Watch confirmar que é uma iniciativa do ISEG em parceria com a Deloitte, o Expresso e o Público que visa avaliar o OE segundo dez dimensões, sendo a primeiro «transparência, rigor e análise de sensibilidade».

Lá estava a nota negativa do OE 2013, apenas 8 décimas acima da nota do OE 2010, o tal de Teixeira dos Santos que começou com um défice que no programa eleitoral do PS de Abril de 2011 já era 6,8% e acabou em 9,8%. E que se seguiu ao OE 2009, infelizmente não avaliado pelo Budget Watch, cujo défice começou 2,2% e acabou em 10,0%. Fiquei a cismar: qual teria sido a avaliação do Budget Watch a este último orçamento que deve ter batido todos os recordes de derrapagem do défice da 2.ª e da 3.ª Repúblicas?

Receio ter que avaliar os esforços equívocos do Budget Watch para avaliar os OE com 3 ou 4 chateaubriands.

Lost in translation (162) – Eu não faço ideia do que os empresários portugueses querem e podem fazer, mas não vou ficar calado

Segundo o ministro da Economia, o governo vai esforçar-se por «apoiar a agenda de reindustrialização» com políticas do Governo «viradas para voltar a apostar nos setores produtivos, no setor exportador, na nossa indústria». Deve ser uma coisa parecida com o regresso ao Mar ou o regresso à Lavoura (uma bela palavra que Paulo Portas deixou cair em desuso).

Agora que o ministro parece querer fazer o lugar dos empresários, espero que não resolvam estes fazer o papel dele.

26/11/2012

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: Os comunistas portugueses deveriam fazer uma viagem ao passado dos sovietes

«Está neste momento em Portugal, um país onde um partido comunista, o PCP, representa pelo menos um décimo do eleitorado. O que gostaria de dizer aos apoiantes desse partido, tendo em conta a experiência que viveu na Polónia?

Diria que não compreendo sequer como se pode apoiar um partido comunista perante a experiência daquilo que aconteceu noutros países, perante o fracasso económico, o facto de não haver nada nas lojas e de haver todo o tipo de constrangimentos, as perseguições, as humilhações, a proibição da livre expressão e pensamento...


A via chinesa para a regulação dos mercados

«In the aftermath of the Asian financial crisis in 1999, the head of financially troubled Ping An Insurance pushed Chinese officials to relax rules that required the company to be broken up. Insurance executives made a direct appeal to the vice premier at the time, Wen Jiabao, as well as the China’s central bank — two powerful officials with oversight of the industry.

In the end, Ping An was not broken up and went on to become one of China’s largest financial services companies, a $50 billion powerhouse. Behind the scenes, shares in Ping An that would be worth billions of dollars once the company rebounded were acquired by relatives of Mr. Wen, who became prime minister in 2003.

The New York Times reported last month that the relatives of Mr. Wen had grown extraordinarily wealthy during his leadership. The greatest source of wealth, The Times reports, came from the shares in Ping An bought about eight months after the insurer was granted a waiver to the requirement that it be broken up.»

Lobbying, a Windfall and a Leader’s Family, NYT

CONDIÇÃO MASCULINA: Minoria mentalmente diminuída

Sabendo-se que a maioria dos estudantes que entram nas universidades e a maioria cada vez mais esmagadoras dos licenciados são do sexo feminino não deveria ser surpresa que sejam igualmente raparigas a maioria dos vencedores de bolsas de estudo para o ensino superior atribuídas pelo programa «Quero Estudar Melhor» promovido pelo Expresso e a Prébuild .

25/11/2012

A maldição da tabuada (13) – se não sabe fazer contas, não devia querer governar

Em alternativa ao corte de 4 mil milhões na despesa pública que o governo se propõe fazer, António José Seguro tem defendido crescimento em vez de austeridade, aumentando o PIB e assim baixando o rácio défice/PIB para 4,5%. Se reduzirmos esta conversa encantatória e o raciocínio miraculoso que lhe subjaz à aritmética mais elementar, a coisa não resiste a meia dúzia de contas. Contas que o blogue «Será que os anjos têm sexo?» fez e que aqui reproduzo e subscrevo:

«O PIB 2012 previsto para 2012 é de 166.341,1 milhões de €.
Se o PIB cair 1% em 2013, como previsto, será nesse ano de 164.677,7 M€.
A meta do défice é de 4,5% deste último valor, ou seja 7.410,5 milhões de €.
Se são necessários 4.000 milhões de cortes na despesa para atingir essa meta, é que o défice previsto sem essa correcção seria de 11.410,5 milhões, o que corresponde a 6,93% do PIB de 2013.
Para que este défice de 11.410,5 milhões corresponda, sem a correcção, a apenas 4,5% do PIB, este teria de crescer em 2013 até 253.566,6 milhões de €, ou seja, o crescimento do PIB teria de ser de 88.888,9 milhões de euros, o que representa um crescimento de 54%.»

Em conclusão, não estou satisfeito com este governo, mas o que posso esperar de um hipotético governo liderado por um sujeito que não sabe fazer contas e não encontra entre os seus prosélitos alguém que saiba? É o trilema de Žižek.

DIÁRIO DE BORDO: O Grande Auditório Gulbenkian, não é apenas o Met dos tesos

Também é o cabaré dos tesos dos remediados, como ontem com a Ute Lemper a fundir o mundo da música erudita com o mundo da chanson, na sua própria definição, interpretando com um estilo pessoalíssimo Michel Emer, Weil, Piazzolla para só citar os mais conhecidos, acompanhada pelo quarteto Vogler e pelo homem-orquestra Stefan Malzew, e a fechar com um encore de Weil, um «Speak low» com muita improvisação e swing. Desta vez os bárbaros que deixaram os telemóveis tocar num seu espectáculo no CCB há uns anos ficaram em casa ou desligaram-nos.

Graças à providência ou ao acaso, o grande corruptor Calouste Gulbenkian resolveu um dia ir dormir ao Hotel Avis.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (21)

John F. Kennedy

24/11/2012

LOGBUCH: Ich bin kein Berliner. Ich bin Portugiesisch, die mehr oder weniger die gleiche ist (2)

aqui tinha concluído que o vídeo promovido pelo picareta falante professor Marcelo era um disparate em todas as dimensões.

A propósito de uma discussão tida com um amigo sobre o endividamento pantagruélico da cidade de Berlim, admiti que a cidade de Lisboa pudesse em termos relativos estar ainda mais endividada, pelo menos antes de o governo central ter dado uma mãozinha a António Costa, «comprando» à Câmara os terrenos do aeroporto, do CCB e do Parque das Nações o permitindo-lhe assim reduzir a dívida que estava antes dessa «compra» em 700 milhões.

ESTÓRIA E MORAL: Os arrependidos

Estória

Haverá uma boa explicação para o CDS ser um viveiro de socialistas eméritos que ao aproximar-se a terceira idade fazem o coming out? Talvez seja o «S». Seja como for, assim de repente, para só citar la crème de la crème, ocorrem-me o professor Adriano Moreira, o professor Freitas do Amaral, o Dr. Basílio Horta. Tenho esperança de um dia poder acrescentar a esta lista o Dr. Paulo Portas.

Talvez o caso mais exemplar seja o de Freitas do Amaral a quem o (Im)pertinências já identificou várias fases: cristão-democrata, rigorosamente centrista, social-democrata, socialista e indeciso. Ultrapassada esta última fase, surgida das angústias da sua participação no governo que mais arruinou o país, Freitas do Amaral retornou à casa socialista fazendo coro com Mário Soares nas suas críticas ao governo de Passos Coelho.

Numa das suas últimas aparições com a persona socialista, Freitas do Amaral deu mais um salto na sua evolução e revela o seu desvelo pela democracia directa declarando em entrevista ao DN que «o povo tem de dizer se concorda ou não com este caminho».

Para quem possa ter dúvidas, o «caminho» a que o emérito socialista se refere não é o caminho feito pelos sucessivos governos, incluindo os que ele participou, que nos conduziram à insolvência onde nos encontramos, «caminho» percorrido com o seu aplauso ou silêncio, conforme as ocasiões, mas um outro «caminho» feito por imposição dos credores.

Moral

«O arrependimento é um segundo pecado» (Baruch Spinoza).

RETROSPECTIVA: Um breve historial impertinente de algumas das muitas ressurreições do professor Freitas do Amaral.

LEMA: «Os cidadãos deste país não devem ter memória curta e deixar branquear as responsabilidades destas elites merdosas que nos têm desgovernado e pretendem ressuscitar purificadas das suas asneiras, incompetências e cobardias.»

23/11/2012

SERVIÇO PÚBLICO: Podia ser muito pior (4)

[(1), (2) e (3)]

Pela primeira vez desde há décadas os défices gémeos (défice primário das contas públicas e défice das contas externas) estão quase anulados. À custa de uma austeridade duríssima, dirá em coro a oposição e com ela o jornalismo de causas. Claro. No pain, no gain.


Fonte: Economist
Clique para ampliar
E somos o menos pig dos PIGS, salvo no crescimento. Porém, como disse Mário Soares em 1984, durante a 2.ª intervenção do FMI, «não se fazem omoletas sem ovos. Evidentemente teremos de partir alguns».

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (20)

Albert Einstein, com ar ligeiramente perdido, durante uma palestra
na American Association for the Advancement of Science in 1934.

22/11/2012

O pior dos melhores é o melhor dos piores (ou vice-versa)

Deve haver uma explicação para a discrepância entre os juízos do jornalismo de causas doméstico e dos comentadores do regime sobre o ministro das Finanças Gaspar e os juízos que nas instâncias políticas e jornalísticas europeias se fazem sobre um Gaspar que parece outro. Vou limitar-me aos factos.

No mesmo dia em que o ministro alemão das Finanças Schäuble, que não precisaria nada de engraxar Gaspar, releva o seu desempenho, o Financial Times coloca-o no 10.º lugar entre os 19 ministros da Zona Euro, depois de o ter classificado em 12.º no ano passado.

Dirão os jornalistas de causas e os comentadores do regime, quanto ao 10.º lugar, e daí? Pois se o homem tem 9 à frente dele. Pois tem, direi eu, e tem 9 atrás dele: o holandês, o dinamarquês, a austríaca, o britânico, o francês, o grego, o húngaro e o espanhol, por esta ordem.

Pode Gaspar não ser uma estrela no firmamento financeiro, mas, que diabo, e o que dizer de Teixeira dos Santos, durante 6 anos levado num andor pelo jornalismo de causas e os comentadores do regime, a quem o FT colocou em último lugar em 2008, em 15.º em 2009 e em 16.º em 2010?

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A novela RTP continua a ser transmitida

Secção Musgo Viscoso

Se há coisa em que o governo falhou fragorosamente foi quanto à «reforma» da RTP. Escrevo reforma à míngua de saber qual o propósito das trapalhadas à volta deste elefante branco cuja única utilidade parece ser a de servir de megafone. Em primeiro lugar, das mais de 2 mil criaturas que o cavalgam, em segundo lugar dos governos em exercício e subsidiariamente dos lóbis das múltiplas corporações que parasitam o Estado.

A adicionar à confusão já instalada, muito bem aproveitada pelos controleiros das tais 2 mil criaturas, vem agora o presidente do CA da RTP manifestar a «convicção» que, por outras palavras, tudo ficará na mesma, no que foi admoestado pelo inefável Relvas que nos esclareceu que «a seu tempo será tomada» uma decisão, que tudo indica seja ficar tudo na mesma, talvez reduzindo uns trocos nas indemnizações compensatórias.

Pela produção desta novela bafienta, leva o governo 4 urracas e 5 pilatos e o inefável Relvas leva 4 bourbons por continuar igual a si próprio. O gestor das cervejas leva 3 chateaubriands, por razões que não será preciso explicar e, mesmo que fosse, não estou para aí voltado a esta hora da noite.

21/11/2012

Pro memoria (81) - Vamos pôr a crise em perspectiva

Segundo a Autoridade para as Condições de Trabalho, em Setembro deste ano havia cerca de 17 mil trabalhadores com salários em atraso. Segundo a Sociedade Portuguesa de Neurologia, a crise está a fazer-nos engordar devido ao consumo de alimentos mais baratos.

Durante a crise e intervenção do FMI em 1983-4, na vigência de um governo de Mário Soares, havia 100 mil trabalhadores com salários em atraso e o bispo vermelho de Setúbal falava em fome. Dizia o então primeiro-ministro que «os problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto». O mesmo Soares que agora acusa o governo de Passos Coelho de levar o país à miséria, apela à insubordinação e à demissão do governo.

Não há pachorra

Não há pachorra para ouvir as luminárias, silenciosas, a maioria, ou, quanto muito, produzindo discursos redondos, enquanto caminhámos durante décadas para o nosso «fiscal cliff», virem agora partilhar connosco as suas angústias existenciais. Como é o caso da presidente do Conselho de Finanças Públicas, doutora Teodora Cardoso, que disse ao canal ETV:
«Os mercados financeiros sabem que o défice parece uma coisa, mas é outra. Nessa perspectiva é muito difícil aliviar a austeridade. O erro foi no início ter-se subestimado o efeito das medidas de austeridade. O programa foi feito admitindo que o efeito da austeridade seria menor do que foi.»
Os défices ou, mais exactamente, a abundância deles, mesmo aldrabados pelos vários governos, com especial destaque para os de José Sócrates, sempre me pareceram que só podiam conduzir-nos onde nos encontramos. A mim, que não sou luminária, parece-me muito mais difícil antecipar o efeito das medidas de austeridade do que o efeito do acumular dos défices desde o tempo da outra senhora.

LEMA: «Os cidadãos deste país não devem ter memória curta e deixar branquear as responsabilidades destas elites merdosas que nos têm desgovernado e pretendem ressuscitar purificadas das suas asneiras, incompetências e cobardias.»

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (19)



Martin Luther King Jr.

20/11/2012

BREQUINGUE NIUZ: Lá se foram mais 3 ases

Apesar da conversão de Hollande ter levado o redressement a ficar cada vez mais parecido com a austerité, isso não evitou a Moody’s retirar à dívida francesa o triple A, a exemplo da Standard & Poors. Resta assim, por agora, o triple A da Fitchs, uma agência da qual é accionista maioritário a Fimalac, uma holding francesa de Marc Ladreit de Lacharrière, enarca com um château com o seu nome de família.

Por falar em agências de rating, já tenho saudades do tempo em que os problemas da dívida portuguesa resultavam dessas criaturas diabólicas.

Talvez eles tenham razão, mas não é evidente

Talvez Luís Fazenda, o marxista-leninista da UDP agora em serviço no BE, tenha razão e seja mesmo necessária uma nova lei (a coisa não vai lá sem mais leis) para «saber exactamente quem são os donos dos media em Portugal». Mas não é evidente, porque o que podemos verificar, independentemente de quem são actualmente esses donos, e encontramos donos que vão do governo português à cleptocracia angolana, passando por toda a espécie de grupos empresariais, é o domínio absoluto do jornalismo de causas que com muito mais impudor do que o mais despudorado dos donos passa e repassa a agenda da esquerda adoradora do Estado.

ESTÓRIA E MORAL: Tudo por uma boa causa

Estória

«A vida de José Dirceu dava um romance, um extraordinário romance por cujas páginas passaria a história dos últimos quarenta e tal anos do Brasil. Ouvi falar em Dirceu, como um mito da esquerda brasileira que corajosamente enfrentou a ditadura militar, muito antes de ele se ter tornado o todo-poderoso ministro político de Lula. Mas só o conheci pessoalmente bem mais tarde, já o "Mensalão" o tinha obrigado a sair do governo e estava ele reconvertido a uma actividade difusa, entre o Brasil, Portugal e Angola - em cujos países, todavia, a sua lista de amizades revelava melhor do que qualquer de visita ao que se dedicava ele: tráfico de influências político-empresariais. Pareceu-me que esse destemor, associado à impopularidade de que gozava no Brasil, só podia significar que ele não levava a sério a hipótese de vir a ser julgado e condenado pelo seu papel de mentor do "Mensalão".

19/11/2012

Mitos (90) - «Os ricos que paguem a crise»

Quando chega a altura de fazer os ricos pagar, conforme a bíblia da esquerdalhada, aumentando a «taxa adicional de solidariedade» (esta criatividade ao serviço do esbulho estatal comove-me) de 2,5% para 5% nos rendimentos superior a 250 mil euros o resultado são 25 milhões de euros. Os 2,5% adicionais valem menos de 1/4 de uma redução de 1/8 da percentagem da taxa de solidariedade, de 4% para 3,5%.

Conclusão, os ricos nunca pagaram nem pagarão a crise. Quem paga a crise é a classe média, como se sabe desde pelo menos o Cardeal Mazarino.

«Colbert : Nous ne pouvons pas taxer les pauvres plus qu’ils ne le sont déjà.

Mazarin : Oui, c’est impossible.

Colbert : Alors, les riches?

Mazarin : Les riches, non plus. Ils ne dépenseraient plus. Un riche qui dépense fait vivre des centaines de pauvres.

Colbert : Alors, comment fait-on?

Mazarin : Colbert, tu raisonnes comme un fromage (comme un pot de chambre sous le derrière d’un malade) ! il y a quantité de gens qui sont entre les deux, ni pauvres, ni riches… Des Français qui travaillent, rêvant d’être riches et redoutant d’être pauvres ! C’est ceux-là que nous devons taxer, encore plus, toujours plus ! Ceux là ! Plus tu leur prends, plus ils travaillent pour compenser…C’est un réservoir inépuisable.»

LE DIABLE ROUGE" de Antoine RAULT

Mitos (89) – A climatologia de causas tem duas modalidades

Parece-me difícil negar estarem em curso mudanças climáticas. Agora e sempre, no passado, no presente e no futuro. Por exemplo, no século XI na península do Iucatão, secas extremas e prolongadas atiraram os maias para os manuais de história (Fontes: Science; Science Daily).

Por isso os negacionistas podem acabar como os maias. Onde ficarão a fazer companhia aos cientistas de causas que à força de querem atribuir as mudanças climáticas exclusivamente às acções humanas passam uma esponja sobre o passado turbulento da terra.

18/11/2012

Eles, os jornalistas

Nós, os contribuintes do (Im)pertinências (o Impertinente também subscreve), que não somos jornalistas, nem temos pena, e até roubámos a Baptista-Bastos o conceito de jornalismo de causas para classificar as criaturas que usam a carteira profissional para promover uma ou, mais frequentemente, várias causas, ficámos gratificados pelo facto de José António Saraiva, antigo director do Expresso e actual director do SOL, ter publicado o editorial «Nós, os jornalistas» na passada 6.ª feira. Quase todos os itens da vulgata descrita por JAS ficariam a preceito num manual de agitprop do marxismo-leninismo, o que surpreenderá só os distraídos.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (18)

Audrey Hepburn & Fred Astaire

17/11/2012

SERVIÇO PÚBLICO: Foi aqui que chegámos…

apesar de por causa das políticas públicas estatizantes.

Carlos Moedas e a sua lápide

Já escrevi por várias vezes (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) sobre a saga do aeroporto de Beja, uma obra de José Sócrates, que só abre aos domingos. Fiquei agora a saber pelo Público que «depois de um aeroporto sem aviões, Beja inaugura escola sem alunos», escola que não é bem uma escola é a 2.ª fase do edifício da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja, cujo projecto foi aprovado nos primeiros tempos de José Sócrates e agora concluído.

Como já se percebeu, o mausoléu vai ficar às moscas e passará a ser um «espaço do país» segundo o presidente da dita escola, o qual, diga-se em seu abono, não concordou com o elefante branco. O que deveria um governo sensato, alheio ao elefante, fazer na sua inauguração? Fugir dele a sete pés e mandar o chefe de repartição da escola descerrar uma placa do tipo «Aqui jaz um animal inventado pelo Eng. José Sócrates e o seu ministro da Inducação».

Em vez disso, apareceu na inauguração, a pretexto de ser da terra, Carlos Moedas, secretário de estado adjunto do primeiro-ministro, a descerrar uma lápide com o seu nome, ligando-se indelevelmente ao elefante e branqueando com a sua presença mais esta tumba para 6 milhões de euros.

16/11/2012

ARTIGO DEFUNTO: Golpe de Estado – governo decreta estado de sítio à revelia do parlamento

«Governo proíbe greve às exportações

Serviços mínimos hoje definidos unilateralmente pelo Governo para mais um período de greve dos estivadores passam a incluir a "movimentação de cargas destinadas à exportação»

Escreve-se assim no Acção Socialista Expresso. De onde se conclui, segundo o jornalista de causas, que houve um golpe de Estado e o governo decretou estado de sítio suspendendo o direito à greve consignado no n.º 1 do artigo 57.º da Constituição.

O jornalista não explica qual a razão por que o governo não recorreu ao n.º 3 do mesmo artigo que lhe permitiria definir os «serviços mínimos» sem o golpe de Estado. Também não explica como poderiam os serviços mínimos ser definidos «bilateralmente».

Títulos inspirados (11) - «Portugal vence a 'guerra da cerâmica' contra a China»

Gostava de percebe a alegria dos escribas pela aprovação da Comissão Europeia de uma «proposta portuguesa de tributar a loiça cerâmica chinesa que entra na União Europeia, aplicando-lhe taxas alfandegárias que vão até 58,6%».

Será que esta gente julga que é este o caminho para um país e uma zona económica que precisa de exportar para todo o lado e em particular para a economia que em breve será a maior do mundo e, potencialmente, um dos nossos maiores clientes?

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (17)

Richard Nixon & Leonid Brezhnev, este sucumbindo às delícias do capitalismo
 aqui representado por Jill St John (Bond girl em «Diamonds Are Forever»)

14/11/2012

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Completo ou acabado?

No dictionary has been able to adequately explain the difference between COMPLETE and FINISHED. However, in a recent linguistic conference held in London, England, and attended by some of the best linguists in the world: Samsundar Balgobin, a Guyanese, was the clear winner.

His final challenge was this: Some say there is no difference between COMPLETE and FINISHED. Please explain the difference between COMPLETE and FINISHED in a way that is easy to understand.

Here is his astute answer: "When you marry the right woman, you are COMPLETE. But, when you marry the wrong woman, you are FINISHED. And when the right one catches you with the wrong one, you are COMPLETELY FINISHED!"

[Enviado por JARF, que já esteve completamente acabado em diversas ocasiões]

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (16)

Marlene Dietrich, Anna May Wong & Leni Riefenstahl

13/11/2012

Títulos inspirados (10) – Temos que procurar outro culpado das nossas misérias

«Merkel não é responsável pela crise portuguesa», titula definitivamente o semanário de referência Expresso, que aos dias de semana nos dá estes títulos também de referência. Agora que já tínhamos o problema resolvido, teremos que voltar à saga do neoliberalismo, das agências de rating, etc. Felizmente vamos ter a ajuda dos muitos comentadores, analistas e cronistas do Expresso e de muitos outros.

LOGBUCH: Ich bin kein Berliner. Ich bin Portugiesisch, die mehr oder weniger die gleiche ist

O vídeo marcelista «Ich bin ein Berliner» é um disparate em todas as dimensões. A começar pelo propósito megalómano-infantil de querer convencer um povo, seja lá qual for e seja lá do que for, através de um vídeo e querer fazê-lo exibindo-o para umas dezenas de pessoas encolhidas com o frio numa praça. A continuar por tratar os portugueses como desgraçadinhos que trabalham muito e ganham pouco (falta dizer porquê) o que não inspira respeito seja a quem for, e muito menos aos alemães. A continuar porque trata os alemães como ricos que têm a obrigação moral de se deixarem esmolar pelos desgraçadinhos. E a terminar porque a sua produção não é de amadores - porque amadores são os que fazem bem feito aquilo que gostam – a produção é má e poderia ser feita por maus amadores ou por maus profissionais, o que vem a dar no mesmo.

Como se tudo isso fosse pouco, o vídeo, pelo seu título, dirige-se mais directamente aos berlinenses. Ora, como deveriam saber os seus promotores, Berlim oriental e toda a grande zona urbana envolvente esteve sob a tutela soviética durante 45 anos, isto é mais ou menos o mesmo período em que Lisboa esteve sob a tutela salazarista (vou esquecer o período posterior), e com efeitos não muito diferentes.

Efeitos que o Eurostat sumariza desta forma: «Lisboa (Portugal) and Berlin (Germany) were the only EU-15 regions containing capital cities to report primary income per inhabitant below the EU-27 average». Lá foram bater à porta errada. Se ao menos tivessem escolhido, Dusseldorf, Munique ou Estugarda…

Percebe-se agora o porquê da minha declaração de ontem: se tivesse de escolher entre o tele-evangelista e o picareta falante para presidente dos desgraçadinhos votaria no primeiro? Estou a exagerar. Hesitaria, pelo menos.

ADITAMENTO: Confesso que não tive pachorra para verificar em detalhe os factos e dados referidos no vídeo. JCD fê-lo e bem feito, como é costume, no Blasfémias, apontando uma dúzia de asneiras o que nos leva a acrescentar os conteúdos aos restantes disparates.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (64) – Deverão pedir desculpa, só não sabem a quem

Depois de meses a bramar contra desvalorização fiscal através da redução da TSU, António José Seguro viu os seus argumentos completamente desautorizados por son ami Hollande (lembram-se de Soares e de son ami Mitterrand?). É o que resulta do anúncio do governo francês que decidiu aumentar o IVA para compensar a redução da «contribution sociale généralisée», isto é a TSU francesa das empresas, uma medida de carácter «imoral e indigno» segundo seguro.

Espera-se a todo o momento um pedido formal de desculpas do Partido Socialista ao governo francês e… ao governo português.

12/11/2012

DIÁRIO DE BORDO: O autêntico picareta falante

Nos primeiros tempos como primeiro-ministro António Guterres  aparecia todos os dias nos primeiros minutos dos telejornais a debitar um sound bite, frequentemente apenas um balão-sonda para ver como reagia o povinho, ou, mais precisamente, como reagia a corporação dos comentadores oficiais e dos jornalistas de causas. Com este débito regular, inaugurou uma fórmula com bastante sucesso na corporação, logo de seguida copiada pelo seu sucessor José Sócrates, com ainda maior sucesso, possivelmente pela ousadia na retórica, amiudadamente temperada com a mentira pura e dura.

Presunção de inocência ou presunção de culpa? (9)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) e (8).

Bem dizia Ricardo Salgado que o BES é o «banco de todos os regimes», e de todos os governos, acrescento. E de muitos casos, alegadamente. Foi o caso da Herdade dos Salgados alegadamente para financiar o CDS, foi o caso dos Submarinos com a alegada participação na lubrificação das engrenagens, foi o caso da alegada ajuda no financiamento do assalto ao BCP pela tropa socrática e os seus amigos, foi o caso do presidente do BES Angola alegadamente envolvido em branqueamento, foi o caso Monte Branco de transferências ilegais e branqueamento em que várias pistas alegadamente apontam para o mesmo deus ex machina, esquecendo os vários outros casos em que alegadamente participou a Ongoing, alegados procuradores do deus ex machina, como lhe temos chamado.

Nos últimos dias ficou conhecido outro alegado envolvimento com dois sátrapas da cleptocracia angolana – Manuel Vicente e Kopelipa – que compraram 24% das acções do BES Angola.

Tudo isto, alegadamente, bem entendido.

11/11/2012

ARTIGO DEFUNTO: «Contra argumentos não há factos»

Com o supracitado título escreveu Miguel Sousa Tavares mais um dos seus artigos habituais no Expresso, desta vez com duas particularidades invulgares. A primeira está a segunda metade do artigo, com que tenho de concordar no essencial, em que dá conta de duas inevitabilidades e quem o lê regularmente sabe que MST, tal como a maioria dos comentadores «progressistas», odeia as inevitabilidades. São elas a falência do Estado Social, pelo menos tal como o conhecemos hoje, e a de o PS vir a tomar posse, mais cedo do que tarde, da herança que os socialistas amealharam em 13 dos últimos 17 anos. De passagem, MST conclui que, nem por isso, o líder socialista percebeu o que o espera, a ele ou ao seu sucessor in waiting.

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Monsieur de La Palice do Banco de Portugal

Se fossemos um país normal, seria normal apelidar Carlos Costa, o governador do BdeP, de Monsieur de La Palice por nos dar informações triviais. Porém, o que é trivial num país normal não o é num habituado durante décadas a viver da mama dos empréstimos, em condições mais adequadas, pelo menos na década passada, a países solventes do que aos liderados por bandos de trampolineiros caminhando alegremente para o bailout.

Por isso, neste Portugal, quem lembrar trivialidades tais como
  • «o país tem uma insuficiência crónica de poupança interna e, por causa disso, a prazo tem um problema de gestão macroeconómica», ou
  • «uma economia só cresce em função da poupança que gera», ou ainda
  • «a poupança não é produtiva. É só uma abstenção do consumo. Mas se essa abstenção for transformada em investimento, não só se protege a si, porque poupa, como protege a sociedade, porque permite depois um crescimento económico»,
corre o risco de não ser entendido, ou ser até insultado, desde logo porque usa uma palavra que não faz parte do vocabulário do homo lusitanicus, enquanto subespécie vocacionada para o consumo a crédito.

Apelidar Carlos Costa de Monsieur de La Palice não será, portanto, ofensivo para o próprio. Sê-lo-á, contudo, para o Monsieur que nunca terá dito o que se diz que disse, como aqui se recorda.

10/11/2012

Resoluções de teor eco-bucólico

Num país que carrega um nível de endividamento líquido que «pode ser considerado insustentável» (Previsões Económicas de Outono da Comissão Europeia), o que fazem 230-deputados-230 encafuados no mausoléu de S. Bento? Discutem e aprovam  resoluções de teor eco-bucólico.

DATA : Quarta-feira, 7 de novembro de 2012
NÚMERO : 215 SÉRIE I
EMISSOR : Assembleia da República
DIPLOMA / ATO : Resolução da Assembleia da República n.º 136/2012 (Rectificações)
SUMÁRIO : Recomenda ao Governo que regulamente a produção de energia hidroelétrica por via do aproveitamento e transformação de moinhos, azenhas, açudes ou outros engenhos hídricos já existentes

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (15)

Jean-Paul Sartre & Ernesto “Che” Guevara, avós da patrulha do PC,
 apesar de o 1.º considerar a mulher inferior e o 2.º ser um assassino confesso

09/11/2012

Se a patrulha do politicamente correcto governasse o país, os espíritos livres seriam internados num gulag

Se, numa situação como a que Portugal atravessa de endividamento terminal e com o futuro que se antecipa de décadas para pagar a dívida até proporções sustentáveis, alguém dissesse «vamos ter que empobrecer muito, mas sobretudo vamos ter de reaprender a viver mais pobres … vivíamos muito acima daquilo que eram as nossas possibilidades … há uma necessidade permanente de consumo e de bens para uma satisfação das pessoas e que conduz à felicidade que não é real», qualquer criatura com bom senso e juízo concordaria - talvez deixando cair a felicidade que até nem vem para o caso.

Se houvesse dúvidas sobre se a patrulha do politicamente correcto que policia os mídia é composta por criaturas com bom senso e juízo, as dúvidas evaporar-se-iam ao saber das reacções e petições e insultos que visam declarações de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, na SIC-Notícias.

DIÁRIO DE BORDO: 9 de Novembro de 1989…

… a queda do muro de Berlim, simbolicamente o princípio do colapso do império soviético e com ele o fim do mito do comunismo e dos amanhãs que cantam. Soterrados por esse colapso estão talvez mais de 50 milhões (*) de vítimas de purgas, perseguições, gulags, grandes saltos em frente, fomes devastadoras.


«Mr. Gorbachev, tear down this wall!», tinha dito Reagan dois anos antes, em 23 de Junho de 1987, do outro lado da Cortina de Ferro. Palavras que foram amplificadas pelos altifalantes da base de Brandenburg Gate perto do muro e ouvidas pelos berlinenses sob o jugo soviético.

(*) Foi um cálculo mental a olho por cento. O número andará perto do dobro corrige-me este comentário. Obrigado.

Será este país irreformável? A Grande Instância.

O município de Chaves tem uma população de 41.243 habitantes (Censo de 2011) espalhados pela cidade de Chaves, com 16.466 habitantes, e por 51-freguesias-51. Chaves tem um tribunal, sede de círculo judicial, que até agora tinha a chamada Grande Instância Civil e Criminal, uma bela e pomposa etiqueta para designar julgamentos com custos superiores a 50 mil euros e julgamentos de coletivos de juízes e júri.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (14)

Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes aka Cantinflas & Jack Lemmon

08/11/2012

Salvos pelo gongo, outra vez

Na Grécia, o Portugal do berloquismo, a poucos dias de se acabar o dinheiro para pagar salários, pensões e as despesas para manter o motor estatal a funcionar ao ralenti, o parlamento grego aprovou à justa mais 18 mil milhões de cortes nas despesas até 2016, para receber dos seus benfeitores mais 31,5 mil milhões.

Cá fora, a greve geral de dois dias e umas dezenas de milhares de manifestantes excitados pelo agitprop lançavam petardos e cocktails molotov, como habitualmente. No meio da manifestação era visível pelo menos uma bandeira portuguesa – seriam estagiários do luso esquerdismo infantil?

Nós por cá todos bem, à espera da dentada de um novo haircut na dívida grega detida pelos bancos portugueses.

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CH'ENTRATE: O fim do estado social (6)

[Continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)]

Os Fundos de Segurança Social apresentaram em 2008 um saldo positivo de 1.647 milhões, de 390 milhões em 2009, de 785 milhões em 2010, de 438 milhões em 2011 e têm previsto deste ano um saldo negativo de 694 milhões, pela primeira vez desde 2002, em resultado da redução das contribuições devido ao desemprego e do aumento das prestações com pensões e com subsídios de desemprego. (Destaque sobre Procedimento dos Défices Excessivos do INE).

07/11/2012

DIÁRIO DE BORDO: Grande Saltitão contra Grande Parlapatão (4)

Fonte: WSJ

O Grande Parlapatão levou a melhor sobre o Grande Saltitão que à força de querer parecer outro deixou de saber quem era. Ou, como agora se diz, o eleitorado americano preferiu o diabo conhecido ao desconhecido.

Delírios megalómanos incontornáveis

Jerónimo de Sousa, de quem se esperaria ser um sujeito sensato com os pés na terra, parece ser levado, uma vez ou outra, pela doutrina mal assimilada a ter delírios megalómanos. Foi agora o caso ao propor limitar os juros da dívida pública a 2,5% das exportações.

Trilema de Žižek
A argumentação é irresistível. Segundo o líder comunista, a despesa com os juros da dívida pública será de 7,2 mil milhões de euros ou 4,3% do PIB, ou seja «quase o dobro do valor de todas as prestações sociais e o equivalente ao previsto para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), mais do dobro do que os gastos com a educação», pelo que negociação com os credores «é crucial, é incontornável».

Vamos esquecer as contas erradas (por exemplo a educação pesa o praticamente o mesmo do que os juros e não metade), questionemos apenas o que se passa nas meninges do líder comunista que acha incontornável o preço do dinheiro emprestado pelos nossos credores dever basear-se nas nossas exportações ou nas nossas pensões e subsídios de desemprego ou em quaisquer despesas que fazemos financiadas com o dinheiro que eles nos emprestam.

06/11/2012

DIÁRIO DE BORDO: Grande Saltitão contra Grande Parlapatão (3)

Aceitam-se apostas

Pro memoria (79) – Foram avisados e estão a ser avisados

«O modelo social europeu ou muda ou desaparece. Não podemos esquecer que toda a lógica do modelo social europeu saiu de um período excepcional da História, que vai de 1947 a 1973, durante o qual o PIB das economias desenvolvidas cresceu cinco por cento ao ano, consistentemente. Isso hoje esqueça…», disse Ernâni Lopes numa entrevista ao Público em 2004, recordada por José Manuel Fernandes.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (13)

Pablo Picasso

05/11/2012

Um governo à deriva (6) – Se não funciona, faz-se outro ao lado (II)

Primeiro o BdeP propôs, depois o governo criou um grupo de trabalho para «estudar a criação de um banco de fomento, destinado a financiar a economia, em particular as pequenas e médias empresas». A seguir o presidente da Caixa Faria de Oliveira diz que não sabe de nada e dois dias depois acha que é uma boa ideia.

Pretenderá o governo fechar ou vender a Caixa, que se supunha existir para isso mesmo, e o seu presidente acha que é uma boa ideia perder o lugar?

CASE STUDY: O multiplicador orçamental (2)

[Continuação de (1)]

A saga do multiplicador orçamental continua. A imprensa portuguesa fez eco de mais um estudo de Dawn Holland e Jonathan Portes com base no modelo econométrico do National Institute of Economic and Social Research.

O estudo «Self-defeating austerity?», cujos resultados foram publicados no blogue Vox, apresenta uma particularidade importante que é a de ter em conta as medidas de política monetária já adoptadas, a fase do ciclo económico e os efeitos da simultaneidade de uma consolidação orçamental em vários países da Zona Euro. Além disso, procurou estimar também os efeitos da consolidação fiscal no rácio de dívida pública.

04/11/2012

DIÁRIO DE BORDO: Mãos desajeitadas mexendo numa bomba-relógio (2)

[Sequela de (1)]

Era inevitável.

Por um lado, como escrevia o jovem Henrique Raposo, na sua alegre inconsciência, «somos os explorados: com a nossa precariedade, a segurança laboral dos mais velhos, alimentamos um sistema de segurança social que, daqui a 30 anos, não vai ter dinheiro para as nossas reformas e … ainda temos que criar os nossos filhos.»

Por outro, a «geração de Maio de 68, essa brigada angelical que, de manhã grita, “ai, ai, o FMI” para depois andar, à noite, no El Corte Inglés a gastar o seu dinheirinho garantido pelo tal FMI», como também escreveu Raposo, começa a aprender que, depois de pagar durante décadas as pensões dos seus pais e avós e dar cama, mesa e roupa lavada aos seus filhos até idades avançadas, o mítico Estado Social iniciou uma redução das pensões e nada garante que o processo algum dia termine. Pior que isso, já hoje os filhos (por enquanto apenas os seus porta-vozes), confrontados com o facto de terem eles próprios tardiamente de pagar a sua cama, mesa e roupa lavada, se queixam de ser «explorados». Em breve queixar-se-ão os netos.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (12)

Leon Trotsky, Diego Rivera & André Breton

03/11/2012

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (3)

«A Europa vai esfrangalhar-se, vem aí a guerra inevitavelmente… (por causa da) … destruição do estado social … (e da) … falta de solidariedade que está a haver na Europa», disse o «capitão de Abril» Coronel Vasco Lourenço.

É provável que a Europa se esfrangalhe. É pouco provável que venha aí a guerra, quanto mais inevitável. O «capitão de Abril» ainda não percebeu a diferença entre a Europa da segunda década do século 21, envelhecida, acomodada por décadas de conforto e bem-estar, liderada por care providers do tipo gerentes de clínica geriátrica, e a Europa de há 7 ou 8 décadas, empobrecida por uma guerra cruel 20 anos antes, electrizada por nacionalismos agressivos e inebriada por líderes carismáticos e visionários, risk takers. Só se cada país (rico) patrocinasse milícias islamitas como seus procuradores na guerra.

O futuro dos «capitães de Abril» é o passado.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (11)

Uma Thurman & Mikhail Baryshnikov

02/11/2012

Bons exemplos (41) – Save the bullshit. Just do it.

Como explicar estar a Irlanda preparada para negociar o fim do resgate da troika e regressar aos mercados e nós andarmos por cá sufocados com as várias modalidades de pensamento balofo (incluindo esta) e os unanimismos à volta de mal-entendidos, trivialidades e sound bites?
Fonte: Bloomberg

DIÁRIO DE BORDO: Não é só uma questão moral. E, se fosse, não seria pouco.

George Propovopoulos, o presidente do banco central grego, bem como os seus vice-governadores, abdicaram de 30% do salário como demonstração de solidariedade. Propovopoulos já tinha decidido reduzir o salário em 20% em 2009, o qual ficou agora em 7.716 euros mensais.

01/11/2012

Pro memoria (78) – O défice de memória dos comentadores

Durante várias décadas fizemos o caminho que nos conduziu ao bailout da troika onde chegámos com:
  • Maior desemprego dos últimos 90 anos;
  • Maior dívida pública dos últimos 160 anos;
  • Mais baixo crescimento económico dos últimos 90 anos;
  • Maior dívida externa dos últimos 120 anos;
  • Mais baixa taxa de poupança dos últimos 50 anos;
  • Segunda maior taxa de emigração dos últimos 160 anos.

Lost in translation (161) – Retrocesso civilizacional

Carvalho da Silva, «o ex-líder da CGTP», «o antigo líder da CGTP», «o professor universitário», «um dos principais impulsionadores deste encontro das 'esquerdas'», «o antigo líder sindical», «o também sociólogo», no último discurso do Congresso das Alternativas, na Aula Magna, segundo o laudo produzido pela coligação de serviço público RTP com Lusa, alertou para «retrocesso civilizacional que se vai acentuando».

Será isto que «o ex-líder da CGTP, o antigo líder da CGTP, o professor universitário,
um dos principais impulsionadores deste encontro das 'esquerdas', o antigo líder sindical,
o também sociólogo (classifica como) retrocesso civilizacional»?

CASE STUDY: Nem tudo está mal no desemprego (e no emprego) (2)

Em Agosto, ao analisar os dados do INE relativos ao desemprego no 2.º trimestre concluí que nos últimos 12 meses anteriores o emprego diminuiu na população com menor escolaridade e aumentou nos restantes níveis: em termos homólogos, o emprego diminui 248,1 mil indivíduos com o ensino básico (incluindo indivíduos sem escolaridade) e aumentou 43,3 mil nos níveis secundário e superior. O número de activos e o número de empregados aumentou, ainda que ligeiramente, no 2.º trimestre, o que significa que o aumento do desemprego resulta de haver mais indivíduos à procura de emprego. Concluí também que se está a destruir-se emprego indiferenciado e criar-se algum emprego diferenciado e há mais gente a querer trabalhar.

Os dados do Eurostat agora tornados públicos referentes ao 3.º trimestre mostram, pela primeira vez em vários anos, uma ligeiríssima redução da taxa de desemprego de 15,8% para 15,7%. É tão evanescente  que até pode ser um erro estatístico, mas só o facto de não ter aumentado num contexto de contracção da economia já é positivo.

DIÁRIO DE BORDO: Caught in the Act (10)

Vaslav Nijinsky & Charlie Chaplin