Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/05/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (68b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 68a)


Enquanto a afluência às urgências no 1.º trimestre voltou a atingir os níveis pré-pandemia, faltam as macas nalguns hospitais. São apenas exemplos de como a paixão socialista pelo SNS que conduziu à falência da saúde pública tem sido a grande amiga da saúde privada que hoje já presta mais de metade dos cuidados, apesar de só absorver um terço da despesa em saúde (Saúde e Hospitais Privados em Portugal, Miguel Gouveia).

Já se sentem os efeitos do Mais Habitação

Do Mais Habitação está a resultar menos habitação na área metropolitana de Lisboa onde no 1.º trimestre as vendas de apartamentos se reduziram de 56%.

O PS quer transformar o Estado sucial em Estado corporativo

Pedi ao ChatGPT para definir cooperativismo e o zingarelho respondeu: «cooperativismo é um modelo socioeconómico baseado na cooperação entre indivíduos ou empresas que se unem voluntariamente para alcançar objetivos comuns, promovendo a igualdade, solidariedade e autogestão.» No Portugal socialista, como não há união voluntária, o cooperativismo é uma iniciativa do Estado «para combater a falta de habitação acessível.»

E num Estado corporativo os funcionários públicos constituem uma parte substancial da freguesia eleitoral do Partido do Estado e, com toda a naturalidade, têm de ser mais bem pagos do que os outros. Por isso é natural que «em 2021, a remuneração bruta mensal média dos trabalhadores da Administração Pública era superior à dos trabalhadores do sector privado em todos os níveis de escolaridade, incluindo os licenciados».

Os portugueses emprestam ao Estado sucial as sobras do saque fiscal

Desde o aumento das taxas de juro, as poucas poupanças das famílias portuguesas (taxa de poupança inferior a metade da Zona Euro), estão a ser aplicadas em certificados de aforro que já atingiram 30 mil milhões de euros ou 10% do total da dívida pública.

Take Another Plan. A Dr.ª Alexandra Reis é menos importante do que os copos de papel

O ex-administrador financeiro da TAP ouvido na CPI revelou que a comissão executiva deliberava sobre a compra de copos de papel, mas o pagamento da indemnização de 500 mil euros à Dr.ª Alexandra Reis passou-lhe ao lado.

Os melhores da Óropa

Mais de um terço dos passageiros que voaram de Janeiro a Abril a partir dos aeroportos portugueses tiveram os seus voos atrasados ou cancelados. Lisboa bateu o recorde com mais de 40%.

O socialismo do PS transformou Portugal no paraíso dos reformados abonados

Enquanto na União Europeia a produção industrial cresceu 13,9% desde 2005, Portugal foi o país em que mais diminuiu (-18,9%) no mesmo período. Quanto à indústria de alta-tecnologia que na UE cresceu 16%, Portugal foi o quarto com menor crescimento, (fonte: Key figures on European business, 2023 edition)

«Pagar a dívida é ideia de criança»

No topo do mundo, mais uma vez. Com 52% da dívida pública detida pelo BdP e pelo BCE, o dobro da média da OCDE, Portugal é o país mais dependente dos bancos centrais.


O endividamento da economia (Estado, empresas e famílias) aumentou em Março 100 milhões para 802,1 mil milhões.

29/05/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (68a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Tutti frutti, oh rutti. A wop bop a loo bop a lop bam bam. O bloco central dos merdosos. Haverá algo que não esteja podre no Portugal dos Pequeninos?

«Está combinado com o Medina eles apresentarem uns gajos merdosos para garantirmos (PSD) as nossas juntas» disse um apparatchik do PSD, à época vice-presidente da bancada, a outro apparatchik do PSD, presidente da junta da Estrela, segundo uma escuta no contexto da operação Tutti frutti de investigação de «corrupção, tráfico de influência, participação económica e em negócio e financiamento proibido» que envolve dois actuais ministros do PS num «acordo secreto, ou pacto de não agressão, com responsáveis do PSD, seis meses antes das eleições autárquicas».

Desta vez, o PSD está directamente envolvido e o Dr. Montenegro terá de escolher se quer ser um sucedâneo do Dr. Costa e fazer do PSD uma muleta na alternância ou se quer ser um líder de uma alternativa ao governo socialista.

O Dr. Cavaco é campainha de Pavlov da nomenclatura socialista

De vez em quando, o Dr. Cavaco sai do seu recolhimento e diz qualquer coisa e é escutado com mais atenção do que o Dr. Marcelo a quem só se presta atenção aos seus raros silêncios. Desta vez o Dr. Cavaco falou durante 30 minutos sobre o desgoverno socialista no encerramento do encontro de autarcas do PSD. Como o cachorro que salivava ao ouvir a campainha do Dr. Pavlov, a maioria da nomenclatura socialista latiu e uivou intensamente nos dias imediatos, mais ainda do que o costume. A nomenclatura jovem fez de Sigmund Freud, deitou o Dr. Cavaco no divã socialista e postulou que estava «muito mal resolvido com a sua impopularidade»

A bazuca do Dr. Costa é uma pescadinha de rabo na boca

No terceiro ano do PRR, ou bazuca como lhe chamou o Dr. Costa, o governo propôs a Bruxelas a sua reprogramação aumentando o montante a torrar de 16,6 para 22,2 mil milhões. Do aumento de 5,6 mil milhões, 3,2 mil milhões serão financiados por dívida pública. Mais ainda do que a média dos 150 mil milhões torrados em quase quatro décadas pelos contribuintes europeus, estes 22,2 mil milhões contribuirão tanto como as centenas de milhar de licenciaturas e mestrados em ogias produzidos pelas universidades para o desenvolvimento do Portugal dos Pequeninos.

Exagero? Talvez não. Sabeis quem é o maior fornecedor de bens e serviços para investimento público no âmbito do PRR? A Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional que vendeu por 74 milhões o direito de superfície de 8 imóveis da Defesa Nacional ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana para construir um dia habitações a preço acessível.

Credo! O Dr. Centeno está possuído

Por falar na torrefacção dos fundos europeus, o Dr. Centeno foi assaltado por uma epifania e fez uma síntese retrospectiva da sua aplicação dizendo «em Portugal, acabámos por pagar estradas onde nunca vamos andar, e isso foi investimento público", "temos estádios [de futebol] que estão vazios, e isso é investimento público".

Boa Nova. A inteligência artificial não pode ser pior do que a incompetência e negligência naturais

A Agência para a Modernização Administrativa anunciou o que vai ser desenvolvido em parceria com a Microsoft (leia-se pela Microsoft) uma solução de inteligência artificial em português para interagir com o “utente”. 

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central». «Está ali ligada às máquinas»

Segundo as contas do Expresso, desde que o governo há dois anos comprou a EFACEC à Dr.ª Isabel dos Santos, já lá enterrou 250 milhões de euros entre injecções de capital e garantias públicas. Dos 115 milhões de dívida bancária, na maioria garantidos pelo governo em nome dos contribuintes, a Parpública está a propor aos bancos o perdão de metade. Se tomarmos com referência o que acontece com as previsões de custos e perdas é prudente aplicar o multiplicador socialista e duplicar as perdas previstas.

(Continua)

28/05/2023

Doubts (389) – Will Brexit happen? (XXIII) - A perfect example of Merton's laws

Other doubts about the consummation of Brexit (mostly in Portuguese).

[For those unfamiliar with Merton's laws or the laws of unintended consequences, see here.]

Try asking ChatGPT «What did the brexiters want to achieve by leaving the EU?» and you will probably get an answer «... some key factors that motivated Brexiters:
  1. Sovereignty: One of the central arguments put forward by Brexit supporters was the desire to reclaim national sovereignty. (...)
  2. Economic and Trade Independence: Some Brexit supporters emphasized the potential economic benefits of leaving the EU. (...)
  3. Immigration Control: Concerns over immigration played a significant role in the Brexit debate.  (...)
  4. Democratic Governance: Brexit supporters often raised concerns about the democratic deficit within the EU. (...)» 
With these goals in mind, let's take a look at some recent news about the Brexit outcome.

«German carmakers are lobbying the European Commission to delay post-Brexit rules that threaten to deliver a severe blow to Britain’s troubled car industry.

From next year, electric vehicles shipped between the UK and the EU will need to have 45 per cent of their parts sourced from within the two regions or face 10 per cent tariffs, under “rules of origin” terms set out in their post-Brexit trading agreement.

With many of the batteries still sourced from Asia, EVs are likely to fall foul of the new threshold and incur the tariff, which Vauxhall and Peugeot owner Stellantis warned on Tuesday might force it to shut its UK plant at Ellesmere Port.» (FT)

In a recently published article, ECB economists Katrin Forster-van Aerssen and Tajda Spital analyzed developments in the UK's trade and labor market two and a half years after Brexit and concluded that «the available data suggest that Brexit has been a drag on UK trade and contributed to a fall in labor supply, both of which are likely to affect the country's long-term growth potential».


«During the Brexit campaign, much fuss was made of the news that immigration had hit 323,000 a year, making a mockery of David Cameron’s promise to reduce it to the ‘tens of thousands’. Brexiteers and Remainers alike assumed the whole point of leaving the EU and ending ‘free movement’ was to reduce arrivals. The consensus was that about 130,000 a year was right. We now take that amount of people roughly every ten weeks. The net migration figure released next week is expected to come in at above 700,000 a year: by far the largest in the history of our islands.» (Spectator)

Since the first poll on February 2012 in which Leave was worth 48% and Remain 30%, the values reversed around May 2017 when the percentages were equal. Two and a half years after Brexit, here's what the British think of it.

Source

Once again, the truth and the facts end up exposing the lies, unfortunately at a high cost. One after another, the various lies and distortions were revealed and the result of the "liberation" of the United Kingdom from the European yoke is so far: increasing immigration, massive deficits, a sharply increasing public debt and... the lowest forecasted growth in the next two years, from all OECD countries.

27/05/2023

O Dr. Marçal Grilo está farto de quase tudo. Receio que falte apenas fartar-se daquilo de que deveria estar mais farto

O Eng. Marçal Grilo, que parece ser uma criatura integra e bem-intencionada cujo maior pecado foi ter sido ministro do primeiro governo Guterres, publicou no Público o artigo «Estou farto e cansado» onde se lamenta e confessa «estou farto de quase tudo o que ouço e vejo à minha volta».

Partilho de muitas suas críticas às críticas, por vezes disparatadas e sem fundamento, e aos críticos, por vezes oportunistas, do statu quo, mas não «estou cansado de ler as notícias da corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos». Em vez disso, estou cansado da corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos.

Também não me parece que seja um problema a suposta «vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja», porque, o mais das vezes, as coisas deitadas abaixo que se vêem são sobretudo a corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos.

Não «estou farto de ver aqueles que, como portugueses, gostam de se autoflagelar», estou mais farto dos "influenciadores" e da sua promoção das supostas notáveis realizações dos portugueses no topo do mundo.

Porém, a minha maior discordância do Eng. Marçal Grilo, mais sobre o que escreve, é sobre o que ele omite, como qualquer crítica às políticas públicas adoptadas pelo governo socialista que só empobrecem o país, às iniquidades que o PS tem cometido e à ocupação do Estado com os seus apparatchiks que são o equivalente aos situacionistas do Estado Novo, e ao prudente silêncio que mantém perante o desastre político e ético que tem sido a governação do Dr. Costa, desastre que esse, sim, alimenta os populismos. Esta omissão faz-lhe perder toda a autoridade moral para criticar os que criticam.

26/05/2023

CASE STUDY: Prever o futuro em Portugal é quase tão difícil como prever o passado na Rússia

Um amigo de muitos anos do (Im)pertinências publicou recentemente no LinkedIn um paper (não lhes chamem isso, ele irrita-se) sobre o desempenho das previsões oficiais de crescimento do PIB que têm servido de base à formulação das Grandes Opções dos Planos (GOP) portugueses.

As conclusões não deveriam surpreender quem está atento ao que se passa no Portugal dos Pequeninos e está consciente da dificuldade dos nativos preverem o futuro, que é quase tão grande como a dos russos preverem o passado.

Aqui vai um resumo resumido (certamente repudiado pelo autor):  

  • Previsões pouco precisas e sem capacidade para antecipar as mudanças de conjuntura;
  • As previsões seriam mais precisas se, em vez da parafernália de modelos, o MF tivesse usado a taxa de crescimento do ano da previsão;
  • Apesar de tudo, as previsões dos governos PSD são menos más do que as dos governos PS;
  • Tendência sistemática para o wishful thinking;
  • As previsões das GOP são muito menos precisas e muito mais enviesadas do que as das instituições multinacionais e o retrato piora quando se comparam com as instituições nacionais de outros países.
Em suma, estamos perante um dos casos em que John Kenneth Galbraith poderia dizer (se ainda fosse vivo): «a única função das previsões económicas é tornar respeitável a astrologia».

25/05/2023

Três décadas depois da queda do muro, a herança da "democracia" da RDA continua pesada

Vinte anos depois de derrubado o muro de Berlim, quando circulava na cidade ainda era perfeitamente visível se estava na antiga Berlim Leste.

A generation after Germany reunited, deep divisions remain

Quase trinta e três anos depois da reunificação e apesar dos biliões de marcos e euros derramados no Leste, são ainda também muito visíveis as profundas diferenças económicas, demográficas e sociais entre a Alemanha capitalista e a Alemanha comunista, como dois gémeos separados à nascença educados por pais diferentes. 

Dois detalhes muito significativos: (1) a redução demográfica nos distritos do Leste resulta de um quarto dos jovens alemães de Leste entre os 18 e os 30 anos se terem mudado para o Oeste e (2) o partido mais popular do Leste antigamente comunista é a AfD (Alternative für Deutschland), um partido chauvinista de extrema-direita.

24/05/2023

Os "famosos" da esquerda têm razão. A TAP não é um "activo tóxico"

No nosso Glossário das Impertinências define-se Carta Aberta assim: 

É uma contradição nos termos. Uma carta é fechada. Uma carta que é aberta, não é fechada (ver La Palice). É, pois, uma carta que não é uma carta. É uma circular que tem como destinatários reais toda a gente menos o destinatário formal. É também uma grande falta de vergonha de quem a escreve, ao divulgar os seus termos por terceiros, muitas vezes antes do destinatário a conhecer, sem cuidar de saber se autorizaria. É, em suma, um insulto à inteligência de todos os seus destinatários.

Pois bem, foi mais uma Carta Aberta que um conjunto de personalidades - uma espécie de "famosos" sofrendo o complexo de não serem verdadeiramente famosos - escreveram, subscreveram e publicaram no Público (what else?), jornal a que alguém chamou com propriedade o Avante da Sonae. É um conjunto que vai do realizador e promotor da TAP pública António-Pedro Vasconcelos, até ao incontornável Capitão de Abril e pedreiro do Grande Oriente Lusitano Vasco Lourenço, passando por outros incontornáveis nomes da esquerdalhada. 

Propõem aquelas personalidades que o governo que nacionalizou a TAP, confiscou mais de três mil milhões de euros para nela torrar, criou a maior trapalhada e sem-vergonhice que este país viu desde Dona Maria II e agora a pretende privatizar, mantenha o “controlo estratégico" do elefante branco para o que teria de encontrar um grupo de benfeitores patetas que se dispusesse a esturricar dinheiro no dito forno crematório. 

Numa única coisa estou de acordo com os famosos, a TAP não é um activo tóxico". E não é "activo tóxico" pela razão simples que não é um activo. É mais um passivo, tóxico.