Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

03/12/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (39)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.


É o que dá fazer política inspirada na ideologia e no pensamento milagroso

Segundo um relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), o número de estrangeiros não residentes assistidos nos hospitais do SNS ultrapassou os 100 mil o ano passado e este ano atingiu 90 mil até Setembro e pode atingir 120 mil até ao final do ano. Cerca de metade não estavam abrangidos por qualquer protocolo ou seguro de saúde e o presidente do IGAS comenta «é o designado turismo de saúde. Muitas pessoas sabem que o serviço de urgência é uma porta para terem acesso a cuidados de saúde». (fonte)

A Óropa deve ficar preocupada

Não é caso para menos o Dr. António Costa prometeu servir a União Europeia como serviu a sua cidade e o seu país, apresentando como currículo oito anos como presidente da câmara de Lisboa e outros oito como primeiro-ministro. Em caso de dúvida, consultar as seguintes séries de posts:
O Dr. Centeno não poupa o esforço promocional. Lost in translation

Qualquer pretexto serve. O último são as notas velhas que o BdP anunciou pretender poupar à incineração para o que vai lançar um concurso com vista a «incentivar e envolver a sociedade no desenvolvimento de protótipos que permitam reutilizar os resíduos das notas de euro que não cumprem os requisitos de qualidade para se manterem em circulação».

Enquanto isso, o Dr. Centeno responde solenemente à pergunta de um jornalista durante a CNN International Summit sobre a sua putativa candidatura a Belém com «honestamente, nem penso nisso» querendo significar «não penso noutra coisa». Não é caso para menos, nos últimos 30 dias o Google listou umas 300-referências-300 ao Dr. Centeno na imprensa portuguesa.

Separados à nascença

Fundado na convergência do PS e do Chega nas propostas e nas votações do OE2025, o Diário de Notícias titula «Já não há um líder da oposição, há dois». Temos de concordar.

O Estado sucial como empreendedor é o costume

Segundo o relatório do Conselho de Finanças Públicas (CFP) sobre o desempenho do sector público empresarial em 2023, um terço das empresas públicas estão em falência técnica, isto é têm os capitais próprios negativos, e totalizam um prejuízo líquido de 790 milhões de euros.

Vem a propósito lembrar que em 2019 a Transtejo comprou 10 embarcações eléctricas das quais só uma tinha bateria e sem nenhuma estação de carregamento. Cinco anos depois só foram entregues cinco dessas embarcações que estão em testes e ficaram sem energia por falhas na ligação.

02/12/2024

To end a somewhat pathetic mandate, a totally pathetic decision...

CNN

... and an excuse for his successor's list of pardons.

Crónica de um Governo de Passagem (29)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
«You can’t manage what you can’t measure». A maldição da tabuada

Quem quer que tenha dito o aforismo citado, não foi escutado pelos governantes deste jardim à beira-mar plantado nem, ouso dizer, pela maioria dos seus habitantes, a começar pelos funcionários públicos, como no caso dos instalados no aparelho do ministério da Educação, que, disse o respectivo ministro, não foram capazes de contar os alunos sem aulas, fenómeno que os jornalistas de causas relataram como mea culpa do ministro que, pelos vistos, segundo eles, deveria ter circulado pelas mais de 4.500 escolas públicas básicas e secundárias para os contar.

Boa Nova?

Parece que o governo do Dr. Montenegro percebeu que a chamada crise da habitação não se resolve pelo lado dos subsídios e da procura, mas pelo lado da oferta e desse lado é crucial a disponibilidade de solos para construção e daí o sentido de alterar a chamada Lei dos Solos, o que o governo fez a semana passada. Falta saber se o fez bem e, sobretudo, se a implementará bem,

Quem te avisa teu amigo é

A Comissão Europeia olhou para o Draft Budgetary Plan for 2025 apresentado pelo governo português e fez umas quantas considerações e recomendações, nomeadamente para limitar o crescimento da despesa líquida, reduzir o endividamento, substituir as reduções de impostos sobre os combustíveis por apoios aos mais desfavorecidos, considerou o orçamento como expansionista, a política fiscal insuficientemente detalhada e assinalou a ausência de medidas para a sustentabilidade das segurança social. Mais do que o explícito, importa ter em conta o implícito que são os riscos resultantes das vulnerabilidades da economia portuguesa não resistirem aos tempos de vacas magras que se desenham no horizonte da UE com a Casa Branca ocupada por uma criatura instável.

Há quem diga que está em curso a vingança dos "PIGS". Porém, o "I" nunca saiu dos "PIGS" e os outros poderão voltar em breve

A propósito do estado das grandes economias europeias, da Alemanha em risco de recessão e da França à beira de uma crise orçamental e da dívida (a Itália continua encalhada no mesmo sítio há várias décadas), há umas almas que não disfarçam uma espécie de schadenfreude por, pensam essas almas, a situação se ter invertido e hoje estão entalados os que ontem olhavam com arrogância os "PIGS". É um grande engano por muitas razões e em especial duas: as economias de uns e de outros são bastante diferentes e com o nível de integração da UE as desgraças das maiores economias não tardarão a ser desgraças das outras. Por exemplo, a França e a Alemanha representam um quarto das exportações portuguesas, e o arrefecimento dessas economias já se faz sentir em Portugal em que só consumo interno está a aguentar o medíocre crescimento de 0,2% no 3.º trimestre que algumas outras almas celebram porque Portugal «está com as contas certas, está a crescer mais do que a média europeia» - recorde-se que as previsões de crescimento do PIB em 2024 são 0,9 % na UE e 0,8 % na área do euro.

01/12/2024

ARTIGO DEFUNTO: O semanário de reverência a pagar tributo ao PS. Segundo capítulo - presunção de culpa

Continuação deste outro tributo.

O ano passado o Expresso publicou um artigo de duas páginas no caderno principal sobre uma moradia que o Dr. Montenegro construiu, uma peça com 2 mil palavras semeadas de insinuações, sem uma única acusação concreta para além de alegar que o valor da moradia não foi declarado ao Tribunal Constitucional (Montenegro explica não estar prevista a indicação do valor que, aliás, consta da caderneta predial).


Este fim de semana, o mesmo periódico publicou o artigo acima onde em escreve que «os inspetores não terão detetado qualquer suspeita de crime». Note-se que não se escreve «não detetaram» e se opta pela subtileza «não terão detetado». Continua com «o Ministério Público se prepara para encerrar o processo (... mas) pode decidir ainda fazer novas diligências. E pode até pedir ajuda à PJ novamente». O resto do artigo é uma devassa ridícula semelhante à do primeiro artigo onde se especula sobre os materiais e os seus preços e o financiamento da construção e no final não resta uma única acusação concreta, resta apenas a tentativa de levantar suspeições na mente do tuga invejoso de um político com uma «habitação de luxo com seis pisos (de) um milhão de euros (ou) mais».

Declaração de interesse: qualquer visitante deste blogue terá tido inúmeras oportunidades de confirmar que nenhum dos contribuintes tem em especial conta o Dr. Montenegro. Neste blogue têm-se em especial apreciação a independência do jornalismo e o apego aos factos, uma e outro raros.

30/11/2024

Títulos inspirados (96) - Titilando mentes fracas com palavras fortes. Será a Mota-Engil um cadáver adiado?

Há um tempo atrás, assinalei aqui o exercício patético de uma peça do Expresso com o título "Quem são os 'fundos abutres' que investem quase €300 milhões para a bolsa nacional se afundar?" em que o jornalista concluiu que existe um enorme risco de uns fundos que controlam menos de 0,5% da capitalização bolsista das 11 empresas portuguesas onde detêm posições afundarem uma bolsa que está há muito afundada na sua própria irrelevância.

O mesmo exercício patético foi agora replicado por outro jornalista, provavelmente por encomenda da putativa vítima do abutre, com o título «Mota-Engil foi a “vítima perfeita para um fundo abutre”, diz administrador financeiro». Desta vez, o abutre é o Muddy Waters Capital Domino Master Fund com uma posição curta (*) de 0,65% que, segundo o roteiro, conseguiu afundar as cotações em quase 40% reduzindo a posição de 0,65% para 0,57%. 

Em vez de "vulture" o jornalista de causas financeiras deveria classificar o fundo Muddy Waters (o nome de um famoso guitarrista fundador do Chicago blues - ouça aqui Mannish Boy) como fundo "sorcer" visto que, com apenas uns gramas de uma barra que pesa quilos, está a transformar em chumbo essa barra de suposto ouro. Nesse caso deveria acrescentar que o feitiço, supondo que é a causa da queda, só estará a resultar porque o free float da Mota-Engil são peanuts ou, dito em português corrente, é insignificante a percentagem das acções transacionáveis na bolsa porque os "donos" da Mota-Engil não confiam no mercado e olham para os outros accionistas como silent partners ou, em português corrente, uns parolos a quem permitem deter acções para manter a empresa cotada.

 _________

(*) Por memória: os "fundos abutres" praticam o short selling ou venda a descoberto que consiste em vender um activo esperando comprá-lo mais tarde a uma cotação menor, o que só faz sentido para o fundo se tiver expectativas que o activo em causa está sobreavaliado. Em mercados evoluídos considera-se que esta prática reduz o risco dos investidores e aumenta a liquidez e a estabilidade dos mercados.

29/11/2024

No, maybe it won't be the end of the world (8)

Continued from (1), (2), (3), (4), (5), (6) and (7

It is very difficult to comment on Mr. Trump's ideias because his volatility is as great as the America he wants to make. And by the way, although it is an apparent contradiction, but the most achievable purpose is his motto MAGA because, as it has been written, a country that has an unemployment rate of 4% and a GDP per capita of $85,000 does not have to be made great again - it has been great for a long time. 

To the volatility of Mr. Trump you have to add the unrealism of the ideas of the people he picked for his government. For example, the designated secretary of Health and Human Services and dropout candidate Robert F. Kennedy Junior promised that he and the President will «transform our nation’s food, fitness, air, water, soil and medicine», a purpose that the Democratic party would not disdain.

And to RFK Jr's unrealism we must also add the unintended consequences (or perhaps intended) of Elon Musk's announced purposes, whose objective of eliminating bureaucracy could very well degenerate into the creation of an oligarchy.

Returning to the increase in tariffs and citing the conclusions of economist Ricardo Reis, the experience of Trump's first term showed that, with some exceptions such as steel, a US tariff of 10% on a Chinese import leads to an increase in the price paid by Americans of 9.5% and a drop in the price received by the Chinese of 0.5%. In other words, the tariff ends up being almost entirely paid by Americans.

Furthermore, it was found that a 10% increase in rates came with a decrease of about 10% in purchases after 3 months, and about 20% after 18 months. And it was also found that those who benefited from these tariffs were mainly countries such as Mexico, Vietnam, Thailand and South Korea, that increased their exports to the USA, and at least in some cases Chinese companies opened branches in the country and continued exporting to the USA through of them.

In the end, according to the best available estimates, Americans lost out in margins and in profits and wages, or in prices. Other countries may gain slightly, although the world will lose by producing in less efficient and more expensive places.

(To be continued)

Se ká nevásski faziasse kásski

Jornal Económico

O estudo em causa que parece ser uma espécie de exercício de pensamento miraculoso é da McKinsey, uma grande consultora americana, em tempos considerada la crème de la crème da consultoria, cuja reputação foi bastante abalada por vários escândalos. O mais conhecido desses escândalos foi aconselhar fabricantes de medicamentos, nomeadamente a Purdue Pharma, a preparar planos de marketing enganosos para as vendas de opióides. A McKinsey foi condenada e está a tentar um acordo de pagamento que pode chegar a US$ 600 milhões

Não é provável que os portugueses, sempre ansiosos de boas notícias e de «fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo», proponham uma acção colectiva contra a McKinsey por estudos enganosos - afinal estamos num país onde costumamos dizer uns para os outros «engana-me que eu gosto».

28/11/2024

Estado empreendedor (112) - A política industrial falha porque o Estado é um mau empreendedor

O texto seguinte é um resumo de «Os falhanços da política industrial» de Ricardo Reis no Expresso, um artigo de opinião com uma independência e lucidez infelizmente raras no nosso Portugal dos Pequeninos, sobre as políticas industriais adoptadas com o propósito do Estado intervir para fazer crescer a economia, criar os chamados "campeões nacionais" e, em particular, intervir na investigação e desenvolvimento (I&D), sendo este último propósito o foco do artigo.

Ricardo Reis começa por chamar a atenção que a UE e os EUA gastam os mesmos 0,7% do PIB na I&D e a diferença está no sector privado que nos EUA investe quase o dobro da UE e no sector público em que na UE o apoio à ciência tem mais a ver com a equidade entre os Estados membros do que nos méritos dos programas financiados. Um exemplo desta última diferença é o Human Brian Project (HBP) no qual a UE «investiu cerca de mil milhões de euros entre 2013 e 2013, que fez avanços fundamentais na neurociência e na computação com o objetivo de criar um simulacro artificial do cérebro humano. Esse objetivo nunca foi alcançado. Já a empresa privada DeepMind, adquirida pela Google em 2014, começou por querer desenhar jogos, mas rapidamente dedicou-se a desenvolver ferramentas de inteligência artificial, alcançou enorme sucesso na biologia molecular, e mais recentemente está a apostar nos braços robóticos.

No que diz respeito às políticas industriais, há casos de sucesso e casos de falhanço quando estudamos a sua história pelo mundo fora. Regra geral, são mais os falhanços, justificando um saudável ceticismo quando se vê um partido fazer disto a sua bandeira como o PS fez parcialmente nas últimas eleições legislativas. Um problema de raiz é que os políticos não são particularmente bons a escolher os sectores certos onde investir. Antes pelo contrário, é inevitável que os bolsos fundos do Estado atraiam o esforço de persuasão de muitos aldrabões e oportunistas preparados para se aproveitarem do político bem-intencionado.

27/11/2024

CASE STUDY: A atracção por Belém - a lista dos que não se excluem não pára de crescer (12)

Outras atracções.

Desta vez ainda com maior antecedência (desde 2022, pelo menos), começaram a alinhar-se os candidatáveis a Belém, segundo os próprios, segundo os partidos que os apoiarão, segundo as cortes privadas, segundo os jornalistas amigos e até segundo os jornalistas inimigos, frequentemente para lançar o barro à parede ou para queimar nomes.

Eis um breve elenco feito à pressa dos que já se chegaram à frente ou foram falados ou sondados ou lançados à parede (disclaimer: não há garantias implícitas ou explícitas de que a lista esteja actualizada):

  • Ana Gomes
  • André Ventura
  • António Guterres
  • António José Seguro
  • António Vitorino
  • Augusto Santos Silva
  • Elisa Ferreira
  • José Pedro Aguiar-Branco 
  • Henrique Gouveia e Melo 
  • Leonor Beleza
  • Luís Marques Mendes
  • Mário Centeno 
  • Paulo Portas
  • Pedro Passos Coelho
  • Pedro Santana Lopes
  • Rui Rio
Faz uns vinte anos inventei a seguinte teoria conspirativa: é mais barato e mais agradável ser presidente da República do que líder da oposição, que implica suportar a travessia do deserto do poder, aguentar uma cambada de potenciais traidores escondendo as navalhas da traição nas calças da pouca-vergonha e suportar uma infinita corja de medíocres ansiando por uma sinecura, tudo isto apenas mitigado pelo séquito de seguidores incondicionais, que vai minguando, na medida em que mingua a esperança do governo de serviço cair. Percebe-se que esta teoria conspirativa, como todas as teorias conspirativas, teve um tempo de vida limitado, neste caso porque a candidatura a Belém já não é, como foi nalguns casos no passado, um ersatz à candidatura a líder da oposição. Hoje, com a emergência das redes sociais e da bacoquice sem freio, a candidatura a Belém é sobretudo o pináculo da carreira de um "influencer".