Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/01/2008

Por falar em Keynes

Já que o Impertinente se mete com John Maynard, porque não o Pertinente meter-se com Friedrich August von















(Roubado à Comandantina Dusilova)

29/01/2008

ESTADO DE SÍTIO: remodelados um bom no género mau, e uma boa malgré elle

Se o critério do primeiro ministro tivesse sido demitir os ministros com subdesempenho, teria demitido o governo quase todo. Se, por uma qualquer razão cabalística, a quota de demitidos limitasse a dois os ministros a remodelar, os dois escolhidos não seriam certamente os primeiros a sacrificar no altar das eleições que se aproximam. O ministro da Saúde, porque ensaiou uma tímida e confusa reforma do SNS, mas apesar de tudo melhor que a falta dela. A ministra da Cultura porque escreveu direito por linhas tortas - a sua inacção teve a consequência virtuosa duma certa contenção da torrente de subsídios para os artistas sem público.

Com toda a evidência, o critério terá sido aliviar a contestação do aparelho local socialista, no caso do ministro da Saúde, e a do lóbi dos artistas sem público, no caso da ministra da Cultura. Não faço ideia do que acontecerá com a nova ministra da Saúde, mas sendo o novo ministro da Cultura um advogado de negócios engagé, conhecido aqui dos contribuintes para o (Im)pertinências, é de esperar um agitprop cultural devidamente regado com subsídios que aplacarão o lóbi dos artistas sem público.

28/01/2008

Recessão? Qual recessão?

«O Japão, o Reino Unido, a Espanha e Singapura, que juntos representam cerca de 12% da economia mundial, estão vulneráveis a uma recessão nos EUA. Até mesmo os mercados emergentes, como a China e a Índia, deverão sofrer consequências de uma estagnação da economia norte-americana devido à diminuição das suas exportações. Os economistas prevêem que o crescimento global abrande para perto dos 3% este ano, contra os 4,7% verificados em 2007, com uma forte travagem da economia por todo o mundo.» (Diário Económico)

Recessão? Afinal o que é recessão? Será «downward trend in the business cycle characterized by a decline in production and employment, which in turn lowers household income and spending?» (Britannica) Ou será «a decline in a country's gross domestic product (GDP), or negative real economic growth, for two or more successive quarters of a year»? (Wikipedia) Ou será antes «a significant decline in economic activity spread across the economy, lasting more than a few months»? (NBER)

27/01/2008

ARTIGO DEFUNTO: a aflição de monetaristas, neo-liberais e até do Presidente Bush e o alívio do doutor Nicolau perante o bom senso

«Em alturas de aflição, monetaristas, neo-liberais e até o Presidente Bush pedem auxílio a John Maynard Keynes. Vai daí, a Casa Branca anunciou um pacotaço de 150 mil milhões de dólares para estimular o consumo das famílias e aliviar o balanço das empresas, enquanto a Reserva Federal fez o maior corte de juros desde há 15 anos.» Tudo isto, escreve o doutor Nicolau Santos para debelar «a crise criada em casa, como ovo da serpente». No contexto do seu artigo na coluna «Cem por cento» que alimenta no Expresso, a expressão «ovo da serpente» não é apenas um figura de retórica, ela parece traduzir a visão subliminar que o analista tem do funcionamento da economia americana comandada pensa ele por monetaristas, neo-liberais e até pelo Presidente Bush.

Entre monetaristas e neo-liberais, por um lado, e o Presidente Bush, por outro, há menos doutrina em comum do que entre este último e o doutor Nicolau. Acresce que se o maior corte de juros desde há 15 anos poderia ter sido inspirado do além por Keynes, já a devolução de 150 mil milhões de dólares de impostos fica mais a dever aos monetaristas, neo-liberais e até ao Presidente Bush do que a Keynes, que, diferentemente, na circunstância teria recomendado torrar os 150 mil milhões de dólares em obras públicas esperando que o miraculoso multiplicador estimulasse a economia e a não deixasse entrar em recessão.

A mesma urticária que monetaristas, neo-liberais e até o Presidente Bush causam nas meninges do doutor Nicolau explica o regozijo com o «bom senso (que) prevaleceu» no PSD por não «avançar com um inquérito parlamentar para apurar as eventuais falhas da supervisão no caso BCP». Inquérito que provável e inconvenientemente exporia a roupa suja de mais duma dúzia de luminárias do bloco central que têm passeado nas últimas décadas pela administração do Banco de Portugal.

25/01/2008

BREGUINGUE NIUZ: «from the spirit, the way I fought, the way I tried, it's all I could give, you know»


BREIQUINGUE NIUZ: à atenção do jornalismo de causas doméstico



Breaking News Alert
The New York Times
Thursday, January 24, 2008 -- 8:43 PM ET
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The Editorial Board's Choices for the Primaries

The editorial board of The New York Times is endorsing Senator Hillary Rodham Clinton for the Democratic presidential nomination and Senator John McCain as the Republican nominee.

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24/01/2008

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: não se sabe o que admirar mais

Secção Tiros nos pés

Entre o mirífico PRACE e a realidade vai uma distância que aumenta todos os dias. Segundo o Jornal de Negócios, «depois da vitória judicial do Sindicato da Função Pública do Norte, que obrigou à reintegração de 63 funcionários públicos em mobilidade especial, os sindicatos garantem que não vão ficar por aqui. As acções judiciais para tentar travar a colocação de trabalhadores do Estado no quadro de excedentários vão intensificar-se e alargar-se a todos os ministérios. Os especialistas defendem que a situação poderá mesmo colocar em risco o quadro da mobilidade, um instrumento fundamental de toda a reforma do Estado.»

Em resultado da reforma administrativa, o governo do senhor engenheiro conseguiu em quase três anos colocar menos de 1.600 dos 750 mil funcionários no quadro de mobilidade especial. Desses 1.600, 84 já reiniciaram funções, 44 aposentaram-se, 138 pediram licença sem vencimento e 14 licença extraordinária. Os cerca de 1.300 restantes constituem o resultado o árduo esforço governamental que está em vias de se evaporar.

É altura de premiar o governo com 4 urracas e 5 chateaubriands e os sindicatos com 4 bourbons.

23/01/2008

Chuva na eira e sol no nabal

Portugal é o país mais desigual da UE, com 20% de portugueses mais abonados a terem um rendimento mais de 8 vezes superior aos 20% menos abonados (ver artigo de Miguel Frasquilho no JN).

Não é estranho, num país com reduzida mobilidade social, que o sentimento de injustiça que essa desigualdade gera se tenha visivelmente exarcebado quando o rebentar do escândalo tornou conhecido do grande público os salários e as pensões dos administradores do Millenium bcp. Dir-se-ia que um dos danos colaterais do descrédito da organização privada mais venerada e de maior sucesso do país foi colocar aos olhos de muitos cidadãos o sector privado no mesmo plano do sector público. Com uma diferença: os governos do país, eleitos por milhões de eleitores, não duram em média mais de 2 anos e os governos das empresas, eleitos por umas dezenas de accionistas, que não hesitam em saltar para o colo dos governos ao primeiro susto, duram em média mais de 5 anos.

Ao mesmo tempo que é o país mais desigual da EU, Portugal é o terceiro com o peso dos salários no PIB mais elevado, consequência natural da baixa produtividade que se tivesse a mesma ordem de grandeza da Espanha aumentaria o PIB em cerca de 50%. Ou seja, a desigualdade que se aceita como um preço a pagar por uma economia competitiva é, no nosso caso, um custo social arbitrário gerador de tensões sociais à surdina, por enquanto, e de oportunidades para políticos populistas e trauliteiros, mais tarde ou mais cedo.

22/01/2008

Em louvor das primárias ianques

Para os europeus o sistema eleitoral americano e em particular o sistema das primárias para a escolha dos candidatos é ou um absurdo ou um mistério, dependendo do grau de conhecimento do mesmo. O artigo seguinte publicado no número de Natal do Economist poderá fazer alguma luz (nas lâmpadas que não estão fundidas).

In praise of the primaries

IT IS easy to make fun of Iowa and New Hampshire. These two states, with a combined population of 4.3m mostly white people, will soon kick off the 2008 primary season (see page 73)- and also influence the presidential race out of any possible proportion to their size. Ethanol subsidies for greedy farmers, bleak midwinter meetings in rural diners, humourless men in lumberjack shirts: all come in for their share of ribbing. What an absurd way to choose a president, sneer many non-Americans, perhaps forgetting their own arrangements (the coronation of Gordon Brown as Labour leader and prime minister, without a single vote, springs to mind).

In fact, the primaries system, once again, is working pretty well. There is a basic reason why Americans don't seem seriously interested in challenging the position of the kick-off states: in the end, it doesn't really matter which states start the ball rolling, so long as they are small. For the past four months or so, and now at a hysterical pitch, America's presidential candidates have been forced to campaign for their lives in these unlikely arenas. Slick TV ads alone will not cut it, as they must in bigger states where meeting more than a fraction of a percent of the electorate is an impossibility. Iowa and New Hampshire want their candidates up close and personal.

This imposes immense, and immensely testing, challenges. Money and organisation matter far less than stamina, agility and that most unfakeable of all political attributes, charisma. Anyone deficient will be found out: anyone with the right stuff has a chance to shine. The bruising campaign has already seen Hillary Clinton's star wane, as she has shown herself tetchy and hectoring, and her panicky operatives have been caught playing grubby tricks; Mike Huckabee, an unknown from Arkansas, has soared to recognition on the back of his folksy ability to reach out to evangelical Christians without alienating those of more restrained faith. A field of some 20 hopefuls has already been winnowed down to six or so.

What happens in these two states does not stay there. Thanks to the internet, anyone can scrutinise every aspect of the "retail politics" stage of the American presidential contest as it is played out in Iowa and New Hampshire. Gaffes, slurs, foolish e-mails, the commentaries of local papers and the blogs of humble voters are all available to the global village.

The two earliest states are not just a giant focus group; they are the first leg of a pentathlon-a competition designed to pick the best all-rounder. In their wake come Nevada (disproportionately Hispanic), South Carolina (disproportionately black) and Florida (disproportionately big). Finally, on February 5th, the presumed finale: some 20 states will hold their primaries and caucuses - a contest fought out through television advertising (a function of money-raising skills) and get vote operations (a sure test of organisational ability). Just like the athletic pentathlon, you don't have to win the first event (Bill Clinton was beaten in both Iowa and New Hampshire in 1992); but it is front-loaded. Momentum counts for a lot.

That is not to say that the primary system has no flaws. In its nostalgic moments, The Economist wishes the whole tiling still started later. In 1968 the New Hampshire primary took place in March. It is not just that the skiing is better then; a later start would stop the primaries from monopolising so much of the previous year's politicking. Ideally, the pentathlon should last longer too-giving more time for retail politics elsewhere. Iowans have their faults, notably their antipathy to farm reform. And, yes, the system can throw up duds as well as Ronald Reagan. That, though, is a feature of all styles of government. Americans will soon make a freer and better-informed choice than citizens in other democracies ever can.

21/01/2008

SERVIÇO PÚBLICO: Ofensa à verdade? O homem não chega suficientemente perto para a agredir. (ACTUALIZADO)

«O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou hoje (na conferência do Economist) que em 2007 Portugal conseguiu uma redução da despesa do Estado face à riqueza produzida de cerca de um ponto percentual, continuando a melhoria das contas públicas.» (DE)

Leia-se o que escreveu há algum tempo Camilo Lourenço, citado aqui, e o quadro seguinte hoje publicado no OJE.

«A receita do IRC cresce a 24,8%; a do IRS a 8,6%; a do IVA a 5,5%. Bem acima do PIB!!! As despesas com pessoal da Administração sobem 3,9%. As despesas correntes 3,2%. Os números (Agosto) são do Ministério das Finanças. Apesar destas evidências, o ministro continua a dizer (como fez na 6ª feira, em conferência de imprensa) que a consolidação orçamental está a ser feita, em 80%, pela via contenção da despesa pública.»

SERVIÇO PÚBLICO: os prosélitos do open source não possuem necessariamente uma open mind

Um dos mitos que circulam há anos na Web, em particular entre os geeks, freaks, a esquerdalhada e as luminárias internáuticas do politicamente correcto, é o da (muito) menor vulnerabilidade do software open source, em particular do sistema operativo Linux e dos seus add-ons, em relação ao software proprietário, nomeadamente as várias versões Windows da diabolizada Microsoft. Segundo a doutrina, a putativa imunidade do software open source resultaria do seu desenvolvimento aberto em que participam milhares de programadores. De vez em quando, um céptico levanta a dúvida se o maior número de buggs de segurança detectados no Windows não resulta dum número de instalações muito superior ao do Linux ou duma fixação psicótica dos hackers em procurar e expor as vulnerabilidades do Windows.

Segundo o relatório de 2007 da Secunia (*), a realidade não confirma o mito. Veja-se, por exemplo, o seguinte gráfico:

















(*) A Secunia não é exactamente um apêndice encampotado da Microsoft, é um reputado vulnerability intelligence provider dinamarquês.

20/01/2008

Nevoeiro estatístico

Os números de desemprego divulgados a semana passada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional mostravam um panorama cor-de-rosa que deveria ter deixado os observadores de pé atrás. Porém, com excepção do doutor Bagão Félix, uma voz um pouco suspeita, não me apercebi que estes números tivessem levantado dúvidas.

Comparando os últimos números disponíveis do INE com os do mesmo período do IEFP, o nevoeiro estatístico adensa-se. Evidentemente que se dirá, e é verdade, que os critérios são diferentes, mas porquê diferentes? E porque se destacam uns e se esquecem outros? É difícil não pensar que o IEFP, liberto do escrutínio do Eurostat, diferentemente do INE, não esteja a ajeitar os números.

(Clicar para ampliar)

18/01/2008

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (8)

2º - A Nebulosa da Formiga, que é uma nuvem de poeira cósmica e gás, cujo nome técnico é Mz3. Assemelha-se a uma formiga quando observada por telescópios fixos. Esta Nebulosa, está distante da nossa Galáxia, e da Terra, entre 3.000 a 6.000 anos luz.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

17/01/2008

A solução para o abandono escolar

A ideia é boa, mas o nome está mal escolhido, não dá prestígio, não é apelativo. GESTOR(a) de BOLA é a minha proposta.
[Clicar para ler]

16/01/2008

BREIQUINGUE NIUZ: ASAE prende Cardeal (ACTUALIZADO)

É a notícia do dia, a ASAE decidiu inspeccionar uma missa na Sé de Lisboa para inspeccionar as condições de higiene dos recipientes onde é guardado o vinho e as hóstias usadas na celebração. Depois de sugerir ao cardeal que se assegurasse que as hóstias têm um autocolante a informar a composição e se contêm transgénicos e que o vinho deveria ser guardado em garrafas devidamente seladas, os inspectores da ASAE acabaram por prender o cardeal já depois da missa, depois de terem reparado que D. José Policarpo não procedia à higienização do seu anel após cada beijo de um crente.

A ASAE decidiu encerrar a Sé até que a diocese de Lisboa apresente provas de que as hóstias e o vinho verificam as regras comunitárias de higiene e de embalagem, bem como de que da próxima vez que cardeal dê o anel beijar aos crentes procede à sua limpeza usando lenços de papel devidamente certificados, exigindo-se o recurso a lenços descartáveis semelhantes aos usados nos aviões ou nas marisqueiras desde que o sabor a limão seja conseguido com ingredientes naturais.

Sabe-se ainda que a ASAE inspeccionou igualmente a sacristia para se assegurar que D. José, um fumador incorrigível, não andou por ali a fumar um cigarro, já que não constando nas listas dos espaços fechados da lei anti-tabaco as igrejas não beneficiam dos favores dos casinos pois tanto quanto se sabe o inspector-geral da ASAE nunca lá foi apanhado a fumar uma cigarrilha.


[enviada por JARF]

NOTA:
Alguns detractores acidentais reclamaram que esta brequingue niuz estava escrita num português merdoso. Concordo. Como não sou editor (a emenda poderia ser pior que o soneto), publiquei-a tal como o «jornalista» desconhecido a escreveu. Adquire realismo.

CASE STUDY: o Natal dos hospitais

«Metade dos enfermeiros não conseguiu emprego na sua área de formação seis meses depois de ter terminado o seu curso, revela um inquérito feito pela Federação Nacional de Associações de Estudantes de Enfermagem (FNAEE) junto das cerca das 40 escolas de Enfermagem do país no final do ano passado.

Por ano saem das escolas de Enfermagem cerca de três mil licenciados. Porque não encontram emprego na sua área de formação, hoje é possível ver enfermeiros a trabalhar em lavandarias, caixas de supermercado, até como ajudantes de Pai Natal na última época festiva. E há quem tente não perder a prática frequentando intermináveis estágios profissionais não remunerados, afirma o presidente da FNAEE, Gonçalo Cruz.
...
O crescendo de escolas e vagas não parou desde o momento em que foi criada a licenciatura em Enfermagem, em 1999, diz Gonçalo Cruz. Metade são privadas e as propinas mensais podem oscilar entre os 350 e os 500 euros.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) estima que haja no desemprego 2500 enfermeiros e há 15 mil em formação, o que significa que "o problema vai agudizar-se", defende a dirigente sindical, Guadalupe Simões. "No mínimo, era preciso colocar um travão e diminuir o número de vagas". Defende ainda que a decisão de aumentar o número de enfermeiros, embora seja função do Ministério da Ciência e Ensino Superior, também convém ao Ministério da Saúde porque assim "desvaloriza o trabalho de enfermagem".
» (
Público)
Eis mais um curioso exemplo duma acção «positiva» do estado (inventar uma licenciatura em Enfermagem) de que resultam efeitos «negativos» (aumento do desemprego). O passo seguinte deverá ser encontrar todos os anos colocação para os 3 mil enfermeiros licenciados nos hospitais públicos onde, dizem os sindicatos, «dados do Ministério da Saúde, de 2004, davam conta da falta de 21 mil enfermeiros nos hospitais e 12 mil nos centros de saúde.» O passo a seguir será constatar que é indispensável reforçar o orçamento da Saúde para o qual será incontornável extorquir mais impostos aos sujeitos passivos. Finalmente, mais impostos sufocarão ainda mais a ecoanomia e criarão mais desemprego. Será então preciso aumentar outra vez os impostos para pagar os subsídios do desemprego que os impostos criaram.

É a lógica do bombeiro incendiário, uma vez mais.

15/01/2008

Em defesa de José Sócrates

Concedo aos seus críticos contumazes que o governo do seu programa pouco cumpriu e deverá ser por isso avaliado. Aparte a redução do défice do OE, falhou mais ou menos estrondosamente em quase tudo o resto, desde a criação de novos empregos até reforma da administração pública e à redução do número de funcionários públicos, passando pela sempre adiada recuperação da economia, etc. A redução do défice só foi conseguida à custa do aumento da carga fiscal e da redução do investimento público.

Concedo igualmente que a acção do governo só é notável na gestão mediática e na manipulação dos média, através das legiões de spin doctors que gravitam ao seu redor.

Concedo tudo isso, mas recordo aos críticos contumazes (como o meu parceiro e anfitrião Impertinente) que este governo de José Sócrates não é nem mais colectivista, nem mais corrupto, nem mais ineficaz do que quase todos os que lhe sucederam, incluindo provavelmente os governos do doutor Cavaco que, convirá lembrar, deram um contributo assinalável para aumentar o pletórico Estado que actualmente temos.

Recordo também que José Sócrates tem conseguido manter um índice de aceitação significativo, apesar do ódio de estimação que as corporações de interesses lhe devotam. Talvez porque, a exemplo de Cavaco, mostra que nunca tem dúvidas e que raramente se engana, e aparenta uma seriedade (que pouco terá, concedo também) e, aos olhos dos eleitores, faz um contraponto positivo à sua concorrência. E quem é a sua concorrência? O doutor Menezes que em 24 horas defende uma política e o seu contrário, que tão depressa mostra uma faceta liberal de salão como deixa escapar o colectivismo mais refinado? O doutor Portas? Ah, o doutor Portas.

É por essas, e por outras, que eu, alguns liberais pragmáticos e conservadores realistas adeptos do estado mínimo, podem muito bem votar em José Sócrates nas próximas eleições, à míngua de alternativas.

14/01/2008

ARTIGO DEFUNTO: «Greenspan defende Vítor Constâncio»

Em meados de 2007, Alan Greenspan, ex-presidente do FED, publicou The Age of Turbulence: Adventures in a New World, onde basicamente relata a sua experiência e justifica a política monetária americana que executou nos 20 anos anteriores, entre 1987 e 2006.

Entre muitas outras opiniões (e alguns factos) escreveu esta: «por muito que alguns reguladores da banca se esforcem por promover o exercício saudável da actividade, é muito difícil descobrir uma fraude ou um desfalque sem que alguém tenha dado o alerta». Mal sabia o maior praticante vivo do mumble-jumble (sub-dialecto do economês), que esta frase inocente iria a ser usada meses mais tarde para o jornalista de causas doutor Nicolau Santos fazer o frete de limpeza dos detritos do Millenium bcp dos ombros do ministro anexo doutor Constâncio, e escrever no Expresso um artigo laudatório com o assombroso título «Greenspan defende Vítor Constâncio».

13/01/2008

ASAE: Inspectores são treinados pelo SIS e SWAT

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (7)

3º - Em terceiro lugar está a Nebulosa NGC2392, chamada Esquimó, pois se assemelha a um rosto circundado por chapéu ou gorro enrugado. Este chapéu, na realidade, é um anel formado por estruturas ou restos desagregados de estrelas mortas. A Esquimó está há 5.000 anos luz da Terra.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

12/01/2008

A parte submersa do iceberg do défice da BTC

Desta vez o iceberg não é o BCP. É a BTC e o seu défice. Como este tema é geralmente varrido pelos analistas para debaixo do tapete das análises, parece-me pertinente tomar a liberdade de citar integralmente o elucidativo artigo «O défice esquecido» do economista Vítor Bento publicado em duas partes no Diário Ecónomico.

Parte I

Não dispondo de moeda própria e financiando-se “automaticamente” em “moeda internacional”, o défice externo deixou há muito de ser uma preocupação da política económica portuguesa. Isso não significa, porém, que o défice tenha deixado de ser um problema ou que as suas consequências tenham deixado de ter importância. Significa apenas que deixou de haver premência na sua solução e que esta tenderá a surgir automaticamente por força do funcionamento dos mecanismos económicos do mercado. O que é mau.
Por um lado, porque o problema pode avolumar-se muito mais do que seria recomendável, antes de desencadear a sua resolução. Por outro lado, porque, nesse caso, os custos da solução podem vir a mostrar-se demasiado pesados. E, por fim, porque, tal como certas doenças quando não são atalhadas a tempo, a persistência do problema pode causar danos irreversíveis.
Para não nos perdermos nas oscilações anuais, retenhamos apenas que o défice externo (balança corrente e de capital), ao longo dos últimos 10 anos, representou, em média 7.1% do PIB.
Em termos de comparações internacionais, recorrendo ao último World Outlook do FMI e tomando apenas a balança de transacções correntes, verificamos que, no período 1999-2007, há 30 países com um défice médio superior ao português (8.8% do PIB). Mas estes são quase todos, ou “microeconomias”, sobretudo da América Central, (vg St. Kitts, Granada, S. Vicente, Sta Lúcia, Bahamas, Seycheles, Maldivas, etc.), ou países muito pobres, sobretudo de África, (v.g. Chad, S. Tomé, Burkina Faso, Sudão, Moçambique, Libéria, etc.).
Se retirarmos estes dois grupos, apenas apresentam um défice externo superior ao português, a Bósnia (15.3%), a Letónia (12%), a Estónia (10.2%) e a Islândia (9.9%). E a Bulgária (8.8%) e a Lituânia (8.2%) apresentam défices aproximados. No entanto, enquanto durante este mesmo período o PIB português cresceu 1.9%, em média, o da Islândia cresceu 4.3% e o dos restantes países cresceu entre 6 e 9%. Ou seja, enquanto naqueles países se pode entender que o défice externo financiou o crescimento económico, em Portugal financiou apenas a despesa interna, o que é, do ponto de vista macroeconómico, muito mais grave.
Uma das consequências deste persistente défice e que tende a passar despercebida é que ele se irá auto-alimentar. Uma vez que teve de ser financiado – com dívida externa ou investimento estrangeiro – esse financiamento tem custos e estes serão tanto maiores quanto mais subirem as taxas de juro. E o custo desse financiamento externo constitui uma transferência adicional de recursos para o exterior, agravando o défice.
Em termos líquidos (pagamentos deduzidos de recebimentos), as transferências de rendimento para o exterior já representam 4.2% do PIB, consumindo todo o excedente da balança de serviços (onde se inclui o turismo), que tem vindo a crescer, e mais 1/3 do saldo favorável das transferências unilaterais, que, por sua vez, se encontra em queda devido a termo-nos tornado de país de emigração em país de imigração.
Outra consequência a que não está a ser dada a devida conta é que se tem vindo a alargar a diferença entre o PIB e o PNB. Simplificadamente, o primeiro dá conta da riqueza criada em Portugal (mas que pode pertencer a outros) e o segundo dá conta da riqueza, criada aqui e lá fora, que é distribuível pelos portugueses, Como pagamos mais rendimentos ao exterior do que recebemos (a perda está em 4.2% do PIB, como já referi), a riqueza que conta para os portugueses é inferior (naquele montante) à indicada pelo PIB. Passa por isso a ser relevante que, além do crescimento do PIB, nos passe a ser dada conta do crescimento do PNB, que é o que conta para a distribuição de rendimento. E este está a crescer menos...
Mas as consequências mais importantes deste desequilíbrio são duas. Uma é que, não conseguindo gerar riqueza para pagar as dívidas, estas vão obrigar a que se vendam os activos do país ao estrangeiro. Não demorará muito tempo que as principais empresas que operam em Portugal sejam todas estrangeiras e que o país perca o controlo estratégico da sua economia. A outra é que, não se podendo fazer o ajustamento macroeconómico pela taxa de câmbio (como está a acontecer com os EUA), este se vai fazer pelo desemprego. E isto deveria estar a preocupar mais os sindicatos do que o salário mínimo ou umas décimas no ajustamento salarial.

Parte II

No meu último artigo (O Défice Esquecido) chamei a atenção para a dimensão do nosso défice externo – o maior de sempre, em tempo de duração e em montante acumulado. E alertei para que, apesar de a sua importância ser menos perceptível em contexto de união monetária, não poderia deixar de ter sérias consequências.
Em complemento e tendo em conta os riscos que então apontei, gostaria de lembrar duas coisas. A primeira é que, apesar do crescimento do PIB nos últimos três anos – 0.5% (2005), 1.3% (2006) e 1.8% (2007, est.) –, o crescimento do PNB, no mesmo período, tem sido quase inexistente – 0.0%, 0.1% e 0.9%. E este, como então referi, é que é o relevante para o bem-estar dos portugueses. A diferença entre os dois está, simplificadamente, nos lucros e juros pagos ao estrangeiro pelo financiamento dos défices. A segunda é que a taxa de desemprego portuguesa já é – pela primeira vez desde 1980 – superior á média europeia (que já é alta).
O défice externo é o reflexo de um desequilíbrio entre o investimento e a poupança. A taxa de poupança, que até 1998 andou em linha com a média europeia, reduziu-se até representar hoje apenas 60% dessa média. Essa degradação ocorreu em paralelo (como seria de esperar) com o explosivo acréscimo do endividamento das famílias e com a acumulação de défices públicos (visíveis e ocultos).
Por outro lado, Portugal não tem tido um problema quantitativo de investimento, mas tem tido um problema qualitativo. No período em apreço – 1999 a 2007 – Portugal investiu muito: 24.5% do PIB, em média, contra os 20.3% registados pelo conjunto dos 15 países usados como referência europeia (UE15). No entanto, foi também o país europeu que apresentou a mais baixa eficiência marginal do capital (variação do produto por unidade investida), e aquele em que a produtividade média deste factor mais desceu, perdendo 13 pontos face à média europeia.
Ou seja, apesar de ter investido muito, Portugal investiu mal, não tendo conseguido criar a capacidade produtiva que seria de esperar para o volume de recursos investidos.
Face a estes resultados, não é possível deixar de recordar empreendimentos como a Expo-98 e o Euro 2004, muitos investimentos públicos – directos ou indirectos – de discutível utilidade, ou mesmo a profusão de segundas habitações. Empreendimentos como aqueles consomem muitos recursos, geram um fogacho de eufórica procura – em grande parte canalizada para importações – com transitório efeito no PIB, mas criam muito pouca capacidade produtiva duradoura. Por isso, se investiu muito, mas se cresceu pouco.
Em contraste, a Estónia e a Letónia – os dois países da UE com défices externos superiores ao português – apresentando taxas de investimento ainda maiores que a nossa, apresentam também das mais elevadas eficiências marginais do capital (4 vezes a portuguesa!) e registaram, em consequência, as mais elevadas taxas de crescimento económico (na ordem dos 9%).
Por tudo isso, não posso deixar de ver com muita preocupação a fé que alguns colocam na capacidade redentora do investimento público e nos grandiosos projectos que estão em preparação. Se estes não forem convincentemente fundamentados, receio que o quadro descrito se continue a agravar e a economia se continue a afundar, levando a uma possível crise social. Pela minha parte ainda não consegui perceber a justificação económica do TGV e, no caso do aeroporto, gostaria, pelo menos, de ver mais moderação na factura prevista.
Fonte utilizada: Ameco (Eurostat)

10/01/2008

ARTIGO DEFUNTO: melhor é impossível

Não sei o que devo admirar mais: se a desfaçatez com que o senhor engenheiro Sócrates insulta a inteligência dos portugueses (dos que não são estúpidos) mentindo sobre o processo de decisão que o levou do referendo prometido solenemente à ratificação parlamentar do Tratado de Lisboa, ou se o processo de submissão ao governo mostrado pela legião de jornalistas que colaboraram na encenação. Para quem tenha dúvidas, pode consultar os elucidativos posts publicados no Abrupto desde o dia 8.

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (6)

4º - Em 4º lugar temos a Nebulosa Olho de Gato, que tem uma aparência do olho esbugalhado do feiticeiro Sauron do filme "O senhor dos anéis".
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

09/01/2008

A parte submersa do iceberg Millenium bcp

A carta seguinte do Sr. Delfim Sousa chegou-me (a mim Pertinente) via Impertinente. Parece-me que a carta passa ao lado do facto mais relevante, já assinalado há mais de um ano pelo Impertinente «o Millenium bcp tem uma insuficiência nos fundos de pensões de 1.500 milhões». A ser assim, a manobra denunciada pelo Sr. Delfim Sousa não é uma, mas são duas manobras. A que ele denuncia, ou seja o aproveitamento pelo governo dos 4 mil milhões para mitigar o défice do OE, e a que ele omite, ou seja o aproveitamento do Millenium bcp (e dos seus accionistas) para transferir a insuficiência de 1,5 mil milhões para a Segurança Social que passará a responder pelas responsabilidades das pensões futuras dos empregados do banco. Enquanto o governo retira uma vantagem ilusória puramente financeira a curto prazo, o banco retira uma vantagem real de longo prazo transferindo para os contribuintes da Segurança Social o ónus dessa insuficiência que se prolongará por várias gerações.

O TABU QUE NINGUÉM FALA: BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS A ARMA SECRETA PARA O CONTROLE DO DÉFICE DO ESTADO NO ANO 2008!

É estranho o manto de silêncio, o tabu, sobre a provável e principal razão que envolve o interesse súbito de «todo o mundo» sobre o Banco Comercial Português: a possível transferência para a Segurança Social do fundo de pensões dos colaboradores do Banco avaliado em cerca de quatro mil milhões de euros.

Esta transferência, a concretizar-se, será contabilizada como receita extraordinária da Segurança Social neste ano 2008 e controlará o défice do Estado satisfatoriamente. Esta solução que estará na mira do Governo Sócrates (sem dúvidas), já foi testada pelo Governo de Guterres (com a transferência do fundo de pensões do BNU, realizado pelo ex-ministro Sousa Franco) e pelo Governo de Santana Lopes, para controlar o défice e cumprir os valores limite fixados pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Assim, no ano de 2004, o ex-ministro das Finanças Bagão Félix transferiu fundos de pensões de empresas públicas (entre outros, o Fundo da Caixa Geral de Depósitos) para a Caixa Geral de Aposentações, conseguindo um encaixe financeiro de cerca de 1,9 mil milhões de euros (segundo foi noticiado).

Estamos, na verdade, no cerne das negociações das cadeiras na Administração do BCP! Isto é, poderá o PS garantir um perfeito e tranquilo sucesso orçamental no Ano 2008, com uma total concordância do maior partido da oposição (?), tendo em vista o ano de eleições de 2009? Mas, é bom recordar e não esquecer (PS e PSD) o parecer do Tribunal de Contas sobre este tipo de operações: «O impacto directo sobre as finanças públicas, que se projectará por um período longo, resultante das transferências referidas, tem um efeito positivo sobre as receitas do Estado no ano em que ocorreram, mas têm um efeito inverso nos anos posteriores, uma vez que as receitas não serão suficientes para suportar o valor das despesas».

Neste cenário, bem descrito pelo Tribunal de Contas, afirmamos que não se augura nada de bom para os reformados e trabalhadores no activo com a transferência do Fundo de Pensões para o Estado. Denunciamos a apatia e a ingenuidade dos Sindicatos e da Comissão de Trabalhadores do BCP em não verem e não perceberem o fundo real da situação. Ou, será que querem ver e perceber? Porque será que não defendem os legítimos interesses dos trabalhadores com absoluta firmeza e determinação?

O Accionista mediático do BCP, Joe Berardo, o homem que «Sabe Tudo», que no seu apostolado de criticas e denúncias emite opiniões diversas, ainda não se pronunciou sobre esta matéria? Ou, será que sabe e não quer dizer? Ou, sabe mesmo da medida desejada pelo Governo de Sócrates?

O Senhor Joe Berardo não é seguramente um «capitalista do povo», como quer fazer passar na imagem que vende. Pelo contrário, Berardo defende unicamente o seu dinheiro, os seus investimentos e o Fundo de Pensões representa uma responsabilidade para o Banco que quer ver eliminada, ou antes, transferida para o Estado.

Finalmente, independentemente dos respeitáveis nomes que são apontados como candidatos às cadeiras do Conselho de Administração Executivo do BCP, os accionistas, os clientes, os colaboradores do Banco, gostavam de saber da voz dos Candidatos a Presidente, nos próximos dias que antecedem a Assembleia Geral, quais são os modelos e as orientações que pretendem imprimir na organização, se vão seguir a política das fusões, se vão continuar o Programa em marcha “Millennium 2010”, etc. Ou seja, Os Curriculum Vitae de Santos Ferreira e Miguel Cadilhe são inquestionáveis, mas urge sentir e reflectir as linhas orientadoras de liderança que sustentam as suas candidaturas.

Até agora vivemos no campo vago da dança dos nomes. Historicamente, o Banco Comercial Português sempre nos habituou à excelência na liderança e à clareza sólida dos objectivos a atingir. Por esta via, se atingiu o patamar de importância que o BCP hoje ocupa no sistema financeiro português.

DELFIM SOUSA
Accionista, Ex-Quadro do BCP, Ex-Sindicalista, Ex-Membro da Comissão de Trabalhadores do BCP

08/01/2008

ESTADO DE SÍTIO: Quem trabalha nas estradas precisa de automóvel. Ou não?

Se há algo de estranho nas Estradas de Portugal é a frota de automóveis ter apenas 800 veículos para 1.800 funcionários. Como é estranho o Público espantar-se que haja facturas anuais de gasolina superiores a 10 mil euros.

Não será óbvio que quem trabalha nas estradas precisa de meio de transporte? Não podemos queixar-nos que a Administração pública tem muitos burocratas ao mesmo tempo que nos queixamos que nas Estradas de Portugal quase metade do pessoal ande na estrada.

Não será igualmente óbvio que um trabalhador diligente das Estradas Portugal que trabalhe 8 horas por dia cumprirá facilmente 600 km por dia a uma média de 75 km, respeitando escrupulosamente os limites de velocidade? Ou seja fará 12.000 km por mês ou mais de 130.000 km por ano, consumindo mais de 10.000 l de gasolina que custarão mais de 13 mil euros. Qual é o espanto?

q.e.d.

06/01/2008

Novas oportunidades - a trabalhar para a estatística

Se são fiéis à realidade os ecos que me chegam de professores, o programa Novas Oportunidades será pouco mais do que um pretexto para oferecer um diploma a quem pelos meios normais não o conseguiu. Dizem-me que os critérios de avaliação, já de si frouxos, são adaptados ao nível de conhecimento dos candidatos garantindo a aprovação e a obtenção do diploma. Até em relação à assiduidade o relaxo é escandaloso, dizem-me.

Por muito que isso ajude a compor as estatísticas de aproveitamento escolar, principalmente a reduzir artificialmente as taxas de abandono, o resultado final destas panaceias é inexoravelmente desacreditar ainda mais o sistema público de instrução (concordo com o Impertinente que se trata de instrução e não de educação) e reduzir o valor dos diplomas como indicador de competências no mercado de trabalho. Contudo, a pior consequência é reduzir a mobilidade social ao condenar à iliteracia as classes média e baixa incapazes de competir nos mercados de trabalho com o esperma sortudo.

Veja-se o seguinte exemplo da degradação da instrução pública (das velhas oportunidades, porque nas novas as coisas só podem piorar).

05/01/2008

DIÁRIO DE BORDO: ultimato à falta de produção pertinente

Doctor Jekyll ou Mister Utterson, tanto faz. Tens 24 horas para dares corda aos sapatos e publicares ao menos um postezito pertinente ou acaba-se a parceria.

04/01/2008

ESTADO DE SÍTIO: do conúbio do estado napolónico-estalinista com o empresariado de olho vivo e pé ligeiro

A manobra orquestral no escuro à volta do controlo do Millenium bcp, convenientemente justificada pelo «interesse nacional», é o exemplo do perfeito casamento de conveniência entre o omnipresente estado napolónico-estalinista, momentaneamente encabeçado por dois dos seus mais fervorosos adeptos e permanentemente ocupado pela coligação de interesses pudicamente chamada Bloco Central, e um empresariado preguiçoso, pouco empreendedor e subserviente, mas de olho vivo e pé ligeiro. Tudo o que até agora se sabia já era suficientemente grave. Ficou mais grave com o que hoje se ficou a saber: accionistas do Millenium bcp, incluindo o inefável comendador Berardo, reforçaram as suas participações com dinheiro emprestado pela Caixa, que além de emprestar o dinheiro e de ser um dos accionistas mais importantes do banco, emprestou igualmente o seu ex-presidente e um dos seus administradores, por feliz coincidência amigo do peito do primeiro-ministro (ver notícia do Público).

Neste contexto, compreendem-se muito melhor os protestos de inocência e virgindade do porta-voz do PS doutor Vitalino Canas de interferência na escolha da nova administração do Millenium bcp, e as acusações que faz ao doutor Cadilhe deste insinuar essa interferência como parte da sua «campanha para o BCP».

Por seu turno, o doutor Cadilhe, possivelmente inocente de qualquer manobra com os accionistas (malgré lui, c'est pas sa faute), espera por «uma vaga de fundo dos que pensam 'assim, não!'».

02/01/2008

CASE STUDY: Sócrates é o futuro de Chavéz

O que dizer do líder da revolução bolivariana e promotor do socialismo, presidente Hugo Rafael Chávez Frías, que ao fim de 9 anos no poder ainda só conseguiu levar o rácio da despesa pública a 38%? E ainda assim é preciso incluir na despesa pública os fundos geridos directamente pelo grande líder. O que dizer? Que deveria talvez ser apeado para dar lugar a outros mais competentes na matéria, por exemplo.

Que maravilhas não realizará o nosso senhor engenheiro Sócrates se lhe forem concedidos 9 anos, se ao final de dois e meio já conseguiu 47%? É certo que teve a ajuda dos seus antecessores, nomeadamente do doutor Durão Barroso, do engenheiro Guterres, do doutor Cavaco Silva, e de vários outros que serão apenas rodapés dos livros de história do 5.º ano. Mas é igualmente certo que já nos mostrou ser capaz de fazê-lo sozinho e em menos tempos do que o camarada Chavéz.

01/01/2008

A impertinência da pertinência

Não me sinto o Doctor Jekyll do Impertinente. Se tivesse que escolher um personagem da novela de Stevenson, seria Mister Utterson, o advogado que descobriu a careca de Mister Hyde por baixo do chapéu do Doctor Jekyll.

Anyway, here I go.

DIÁRIO DE BORDO: a impertinência entre parêntesis

Já era tempo. Após mais de 4 anos de blogar solitário, o Impertinências passa a ser um blogue partilhado. Preterindo uma legião de correligionários e discípulos, opta-se pela diferença. A partir do novo ano o Impertinente partilhará o Impertinências com o Pertinente. Será uma parceria como a de Doctor Jekyll com Mister Hyde, opostos habitando o mesmo psicoblogue.

A partir de hoje o Impertinências deixa de ser Impertinências para ser (Im)pertinências.