Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
27/04/2024
Dúvidas (371) - Não será um poucochinho exagerado? (8) - O surto inovador e inventivo que nos assalta
26/04/2024
DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (21) - Vindo dele, pior é difícil, mas sempre possível
25/04/2024
Mitos (335) - O Estado Novo foi uma ditadura feroz e Portugal viveu uma longa noite escura que terminou com a alvorada de 25 de Abril e os amanhãs que cantam
Por coincidência, li ontem uma carta de Francisco Pereira de Moura (FPM), antigo professor de Economia do ISCEF (actualmente ISEG), escrita em 1965 aos membros do colégio eleitoral que haveria de reeleger o factótum almirante Américo Tomás. Nessa carta, cuja leitura proporciona uma visão matizada e realista do que era o Estado Novo, FPM, então considerado um homem da "Situação", critica frontalmente a designação do presidente da República por um colégio eleitoral, de que ele próprio fazia parte como procurador da Câmara Corporativa, colégio que substituiu o sufrágio universal directo em resposta aos «acontecimentos que rodearam a eleição presidencial de 1958» (em que participou o general Humberto Delgado).
A crítica de FPM foi muito para além da alteração do processo eleitoral, ditada pela necessidade do governo controlar os seus resultados, e pôs em causa de forma claríssima os fundamentos do próprio regime. É certo que nesse mesmo ano FPM terminou o mandato na Câmara Corporativa mas continuou a ser tolerado pelo salazarismo, não sofreu retaliações, veio a ser um dos fundadores da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), daria origem ao MDP/CDE, e só em 1973 foi demitido da função pública pelo governo de Marcelo Caetano por ter participado na vigília anticolonial na Capela do Rato.
O que mostra esta carta? A falsidade de dois mitos em contraponto: o mito da ditadura despótica do salazarismo cultivado pelos "anti-fascistas" (a propósito, o Estado Novo nunca foi fascista) e o mito do Estado Novo como um quase paraíso cultivado pelos situacionistas retardados.
24/04/2024
Não misturemos o alho com o bugalho
A AD escolheu para cabeça de lista às eleições para o PE Sebastião Bugalho, um jovem talentoso com carteira de jornalista. Fez a AD muito bem, ou muito mal, isso é lá com a AD e fez Sebastião muito bem, ou muito mal, isso é lá com ele. O que não é só com ele, é que lhe chamam jornalista quando em boa verdade não pratica jornalismo e faz comentário político o que no Portugal dos Pequeninos faz do comentador um político avant la lettre, e nalguns casos, après la lettre.
A evolução de comentador político para político é uma evolução respeitável, o que deixará de ser respeitável é a hipotética involução de político para comentador a fingir de jornalista que, a verificar-se, agravaria a confusão nociva entre comentador e jornalista.
SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (8)
23/04/2024
Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3b)
A UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) tem como missão prestar apoio à comissão parlamentar permanente do parlamento com a «elaboração de estudos e documentos de trabalho técnico sobre a gestão orçamental e financeira pública». No desempenho da sua missão a UTAO concluiu que a redução do valor nominal da dívida em 2023 resultou, em grande medida, do «facto de entidades em todos os subsetores públicos serem investidores em parcelas significativas de dívida pública portuguesa», e que «este efeito subiu consideravelmente em 2023 (mais 12,1 mil milhões de euros do que no ano anterior).»
Como seria de esperar, mostrando que está em sintonia com a visão socialista de que não há entidades públicas independentes e que todas devem ser câmaras de eco do governo, o ex-ministro das Finanças Dr. Medina criticou asperamente a UTAO não pelas suas conclusões mas porque «não tem de ter opinião sobre a afetação do Fundo de Estabilização financeira da Segurança Social».
Choque a realidade com a Boa Nova
O outro lado da questão é que a redução minúscula do rácio resulta da inflação e a carga fiscal aumentou 8,8% em termos nominais e atingiu 95 mil milhões de euros.
O peso dos elefantes brancos no Estado sucial é elefantesco
O endividamento das entidades do sector empresarial do Estado em 2022 representava 7,9% do PIB nacional (19,1 mil milhões). As garantias do Estado para com as entidades do SEE atingiam 2,1% do PIB (5,0 mil milhões).
O Dr. Costa conseguiu extrair à Óropa 22,2 mil milhões de euros para torrar até 2026 no Plano de Recuperação e Resiliência (“o plano que vai preparar Portugal para o Futuro”). Um sétimo desse montante (3,2 mil) serão aplicados para construir casinhas em Lisboa, Seixal, Setúbal e V. R. Stº António onde residem 8% da população. (fonte) Como é que isto promoverá o crescimento futuro da economia não sabemos e ele também não explicou.
22/04/2024
O Dr. Portas explica a diferença entre um estadista e um estradista
O salta-pocinhas |
Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3a)
Estes são apenas alguns exemplos do talento socialista para criar um Portugal dos Pequenino imaginário num universo paralelo tirando o melhor partido das limitações atávicas do eleitorado que o impedem de ver a realidade. Nada disto seria possível sem a insubstituível ajuda das centenas de jornalistas amigos e a comentadoria do regime.
Agora, enquanto se prepara para a sua candidatura a um lugar na Óropa, o Dr. Costa está a caminho de ser comentador no novo canal de televisão da Medialivre, o que não lhe trará vantagens visíveis para esse lugar, porque não é provável que em Bruxelas se dê atenção ao comentário doméstico, mas poderá ser um meio eficaz para não ser esquecido pelo eleitorado português para o caso de falhar a candidatura bruxelense e ter de se candidatar em 2026 a Belém.
A insustentável leveza da Segurança Social
mais liberdade |
Como o gráfico mostra, a Segurança Social dos “privados” tem apresentando um saldo positivo crescente porque o número de contribuintes vem aumentando por força dos imigrantes e nos últimos anos o desemprego tem sido historicamente baixo. De resto, sem o aumento das reservas a Segurança Social é insustentável num cenário de inverno demográfico como aquele que nos espera. Ao contrário, a Caixa Geral de Aposentações (CGA), a Segurança Social dos “públicos”, é cada vez mais deficitária, e não tem novos subscritores desde 01-01-2006 que passaram a fazer parte do regime e os pensionistas vêm aumentado todos os anos com as novas reformas. (Continua) |
21/04/2024
Nativism: More xenophobia than nationalism, nothing in common with patriotism
20/04/2024
How the Radical Left Conquered Almost Everything for a Time (XI)
19/04/2024
Um Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Género pode ser uma espécie de clínica do Dr. Mengele (5) - Epílogo (ou talvez não)
Depois de mais de 9 mil casos de adolescentes que passaram pelo GIDS, o NHS considerou as práticas do GIDS não seguras para crianças e decidiu em Julho de 2022 fechar a clínica a partir da Primavera de 2023.
Decidiu mas nada aconteceu por pressão dos militantes da identidade de género. Até que foi publicado no dia 9 de Abril o relatório da comissão nomeada em 2020 pelo NHS liderada pela Dra. Hilary Cass, ex-presidente do Royal College of Paediatrics que considerou inadequados e sem suporte científico os tratamentos hormonais no GIDS, considerou tóxico o debate à volta deste tema e recomenda um modelo que dê prioridade à terapia e considere outras questões de saúde mental que estejam envolvidas.
18/04/2024
Tele evangelista avant la lettre e tele evangelista après la lettre
Até num Portugal dos Pequeninos, onde no lugar dos conflitos de interesse só existem interesses em conflito, é algo insólito ficarmos a saber no mesmo dia que o Dr. Costa, ex-primeiro-ministro acabado de sair do governo, um político profissional toda a sua vida adulta, e o Cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, um eclesiástico profissional e celebridade mediática, irão fazer comentário político e religioso (?), respectivamente (?), no mesmo canal de televisão.
[O título deste post saiu em modo de escrita automática e fiquei sem saber quem são o avant e o aprés.]
17/04/2024
A arma atómica dos pobres é o útero das suas mulheres
Fonte |
16/04/2024
Nanny state is back in a new incarnation, in Britain and elsewhere (3) - The Labor jumped on the bandwagon and the Conservatives followed
Um semanário incompetente deu um tiro no seu próprio pé quando queria dar um tiro no pé do governo chico-esperto, tiro supérfluo porque o governo o havia antecipado
15/04/2024
Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (2)
Se adoptar o critério do Dr. Costa que após oito anos de governação ainda se desculpava com o governo anterior, seguramente não é demasiado. Sossegai, porém, porque não tenho o propósito nem a pachorra para mais do que umas quantas sequelas.
Esta é uma das sequelas mais duradouras da herança costista que resultou de apresentar défices baixos ou mesmo superávits (política a que ele chamou "contas certas") à custa da redução continuada da execução do investimento público disfarçada com as habilidades aqui descritas. Desde 2011 até 2022, segundo a estimativa de Ferreira Machado, o stock de capital fixo do Estado reduziu-se cerca de 14.000 milhões de euros, o equivalente a 5% da dívida pública.
Fonte |
14/04/2024
ARTIGO DEFUNTO: O "semanário de referência" chama embuste e fraude do governo à sua própria incompetência
«É a ‘medida popular’ por definição e custa aos cofres do Estado 1500 milhões de euros, para ajudar a “libertar os portugueses do excessivo fardo fiscal”, como disse Montenegro na apresentação do programa de Governo, esta quinta-feira no Parlamento.»
13/04/2024
O Novo Império do Meio numa encruzilhada. Capitalismo e autocracia não combinam bem
Em comparação com 12 meses atrás, sem falar nos anos anteriores, o clima na China é amargo. Embora a produção industrial tenha crescido em Março, os consumidores estão deprimidos, a deflação espreita e muitos empresários estão desiludidos. Por trás da angústia estão temores mais profundos sobre as vulnerabilidades da China. Prevê-se uma redução de 20% de sua força de trabalho até 2050. Uma crise no sector imobiliário, que movimenta um quinto do PIB, levará anos para ser corrigida. Isso prejudicará os governos locais sem dinheiro que dependiam da venda de terras para obter receitas e do sector imobiliário florescente para crescer. (...)
A resposta da China é uma estratégia construída em torno do que as autoridades chamam de "novas forças produtivas". Isso evita o caminho convencional de um grande incentivo ao consumidor para estimular a economia (esse é o tipo de artifício ao qual o decadente Ocidente recorre). Em vez disso, Xi quer que o poder do Estado acelere as indústrias de manufatura avançadas, o que, por sua vez, criará empregos de elevada produtividade, tornará a China autossuficiente e a protegerá contra a agressão americana. A China vai saltar do aço e dos arranha-céus para uma idade dourada de produção em massa de carros elétricos, baterias, bioindústria e a "economia de baixa altitude" baseada em drones. (...)
No entanto, o plano de Xi está fundamentalmente equivocado. Uma falha é que negligencia os consumidores. Embora o consumo supere a propriedade e as novas forças produtivas, conta apenas 37% do PIB, muito abaixo das padrões globais. Para restaurar a confiança no meio de uma crise imobiliária e, assim, aumentar os gastos do consumidor é preciso um estímulo. Induzir os consumidores a poupar menos requer uma melhor segurança social e cuidados de saúde, bem como reformas que abram os serviços públicos a todos os migrantes urbanos. A relutância de Xi em adoptar isso reflete a sua mentalidade austera. Ele detesta a ideia de socorrer empresas imobiliárias especulativas ou dar subsídios aos cidadãos. Os jovens deveriam ser menos mimados e dispostos a "comer amargura", disse ele no ano passado. (...)
Se essas falhas são óbvias, por que não muda a China de rumo? Uma das razões é que Xi não escuta. Durante grande parte dos últimos 30 anos, a China esteve aberta a visões externas sobre reformas económicas. Os seus tecnocratas estudaram as melhores práticas globais e acolheram debates técnicos vigorosos. Sob o governo centralizador de Xi, os especialistas económicos foram marginalizados e o feedback que os líderes costumavam receber transformou-se em bajulação. A outra razão que Xi invoca é que a segurança nacional agora tem precedência sobre a prosperidade. A China deve estar preparada para um conflito no futuro com os Estados Unidos, mesmo que haja um preço a pagar. É uma mudança profunda em relação aos anos 1990 e seus efeitos nocivos serão sentidos na China e em todo o mundo.»
12/04/2024
Ser de esquerda é... (27) - ... é reagir a Passos Coelho (ou Cavaco Silva) como o cão de Pavlov reagiu ao badalo
Quando percebi que, desta vez, o móbil da indignação era o pensamento de PPC sobre a família, fiquei curioso e fui ler a intervenção que a motivou. Encontrei um texto equilibrado, inspirado numa visão tolerante, com ideias relativamente redondas e, por isso, consensual para uma grande maioria das pessoas que não vivem dentro da bolha mediática largamente esquerdista e estreitamente geográfica. Premonitoriamente PPC antecipa as reacções habituais: «há rótulos que são colocados com uma intenção clara de desqualificar aqueles que lançam as discussões, de os diminuir e de os condicionar».
O que teria incendiado a esquerdalhada para além da conhecida reacção pavloviana? Haverá sem dúvida outras questões («questões da segurança e da imigração», «os símbolos da República», «a sovietização do ensino», «ajudar as pessoas a morrer») que não terão deixado de irritar a bolha, mas suspeito que a passagem seguinte lhes tocou no nervo.
«Que nós sabemos que não há um único conceito de família e, historicamente falando, a família não teve sempre a mesma configuração ao longo do tempo. Essa configuração foi evoluindo com a sociedade. Mas se a família, de certa maneira, representa o primeiro espaço de socialização, julgo que hoje haverá um amplo consenso em torno desta minha afirmação, julgo.
A família é primeiro espaço de socialização. E, nessa medida, portanto, de transmissão de valores, de exemplos, que numa geração para outra geração vai dando continuidade a um destino coletivo. Nessa medida, portanto, podemos dizer que a família antecede o Estado, evidentemente, e dificilmente se pode entender de uma forma separada da sociedade em si mesma.
(...) uma instituição que, de resto, é insubstituível. Não há ninguém, nenhuma outra instituição, que possa substituir a família. Os substitutos são imperfeitos.»
Outros "Ser de esquerda é..."
11/04/2024
Demasiado de uma coisa boa pode não ser bom
Escreveu o Expresso há dois dias:
«Há 15 dias consecutivos que o preço diário da eletricidade em Portugal e Espanha está abaixo dos 10 euros por megawatt hora. É uma série inédita. Há largas horas de preço zero, como esta terça-feira. Há produtores a operar com perdas. E as centrais fotovoltaicas passaram a ter de cortar a produção em alguns períodos, desperdiçando o recurso solar.»
E explicava:
«Habitualmente os preços negativos ocorrem quando há uma disponibilidade particularmente alta de eletricidade que não é armazenável e cujo custo marginal é nulo, e quando, ao mesmo tempo, há produtores que preferem durante algumas horas pagar para continuar a produzir (porque o custo de parar e voltar a arrancar as centrais um pouco depois pode ser mais elevado).»
Este enorme desperdício resulta de uma política energética do PS (e do PS-D) desenhada para sacar fundos europeus, recompensar os lóbis da energia e fazer agitprop ambientalista, em vez de optimizar os recursos existentes, equilibrando a produção das energias convencionais e das renováveis (que são por natureza intermitentes).
10/04/2024
A indiferença da Rússia de Putin aos desastres militares é ainda maior do que a da URSS do PCUS
Fonte (*) |
Comparativamente com Chechénia, Afeganistão e Ucrânia antes da invasão de Fevereiro de 2022, a guerra actual na Ucrânia é incomparavelmente mais mortífera. Se uma guerra no Afeganistão, onde em 12 anos "apenas" morreram 15 mil russos, levou a liderança comunista a decidir a retirada gradual em 1987, os 5 a 6 vezes mais mortos em um quarto do tempo da "operação especial" mostram que o valor das vidas russas para o czar Vladimiro é ainda menor do que para os líderes soviéticos.
___________
(*) Estimativa pela Economist do número de soldados russos na Ucrânia até ao final de Fevereiro com base nos dados da Mediazona e Meduza dois mídia independentes que utilizam os obituários públicos e registos oficiais de heranças.
09/04/2024
Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (1b)
É apenas um ritual inócuo numa cerimónia inócua à qual os líderes das forças políticas “democráticas” costumavam comparecer fingindo um certo fair play. Precisamente por significar pouco, é cheia de significado a coincidência do Dr. Pedro Nuno (que enviou a Drª Alexandra) e da Dr.ª Mortágua e do Dr. Raimundo (que não enviaram ninguém) terem faltado ao ritual da tomada de posse do novo governo.
O excedente orçamental é ficção. O excedente dos compromissos não cumpridos é real
Há três anos obrigado a adoptar os novos procedimentos de controlo das fronteiras obrigatórios segundo as regras de Schengen, o governo do Dr. Costa foi empurrando com a barriga – preocupado com as “conta certas”? – e só a poucos dias do seu fim publicou uma resolução do Conselho de Ministros tão em cima do prazo limite que vai obrigar a adjudicações directas (provavelmente a razão do adiamento) em vez de concursos públicos,
Excedente de descaramento ou será a síndrome do pensamento mágico?
A ministra cessante que herdou do Dr. Pedro Nuno um ministério da Habitação cujo resultado de seis anos dos programas de Renda Acessível consistiu em 771-contratos-771 contratos, equivalentes a 0,084% dos 921 mil arrendamentos em Portugal, resultado a que o Instituto da Habitação adicionou já em pleno governo de gestão 102 (cento e duas) habitações de renda acessível a nível do país, publicou no seu último dia no governo um vídeo onde, sem se rir, disse «a habitação publica responde hoje a todos, às famílias de menores rendimentos, mas também à classe média e aos jovens».
08/04/2024
Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (1a)
Escrevi no Semanário de Bordo da semana passada que esse seria o último. Pensando melhor, é verdade que a Nau Catrineta do Dr. Costa e do seu PS estão acostadas, e também é verdade que a carga desembarcada continuará a andar por aí durante algum tempo.
Por outro lado, é ainda cedo para começar a escrutinar o novo governo, pela razão inversa da que fez do escrutínio do governo socialista um serviço público. Enquanto os anteriores governos puderam contar com o obséquio, na melhor hipótese, ou a cumplicidade, na hipótese mais corrente, da imprensa amiga e da comentadoria do regime, o governo da AD só pode contar com a condescendência, na melhor hipótese, ou malevolência, na hipótese mais corrente.
Com uma cajadada mataram dois coelhos
A aprovação in extremis da portaria de atualização salarial das categorias profissionais não abrangidas pela regulamentação colectiva (ver aqui o expediente do ano passado) que aumenta 7,89% dos salários a 104 mil trabalhadores do “privado”, um aumento múltiplo da taxa de inflação, tem a vantagem de lustrar a imagem de amigo dos trabalhadores do governo socialista e de não estragar as “contas certas”.
Ainda o Twinsgate do regime
A Inspecção-Geral das Atividades em Saúde teve o cuidado de esperar que o governo do Dr. Costa saísse de cena para divulgar o seu relatório sobre o caso das gémeas brasileiras, a quem foi atribuída com urgência nacionalidade portuguesa, seguida da administração de um medicamento milionário, à custa de uma cunha do Dr. Rebelo de Sousa Filho, com a aparente cooperação do Dr. Marcelo e a prestimosa colaboração do Dr. Lacerda Sales, SE da Saúde à época.
Outra coincidência plena de significado
A Comissão do Livro Verde da Sustentabilidade da Segurança Social, nomeada pelo Dr. Costa em Julho de 2022, andava desde então a trabalhar no tema, também esperou pelas eleições para entregar no dia 28 o seu relatório preliminar à ministra do Trabalho e da Segurança Social cessante. Alguns dias depois percebeu-se que o relatório questionava a radiosa sustentabilidade que o governo socialista vinha anunciando nas suas acções de agitprop e até propõe o fim das reformas antecipadas aos 57 anos.
«À justiça o que é da justiça»
Sendo certo que o PS-D também ajudou, a verdade é que sobretudo ao PS que devemos o estado em que se encontra a Justiça do Portugal dos Pequeninos.
07/04/2024
O preconceito pode fazer parecer estúpido quem pode ser inteligente. Um exemplo mais recente
Este post poderia ser uma sequela deste outro, em que recordei ter investido em tempos contra as fantasias a respeito dos Países Baixos do Dr. Miguel Sousa Tavares (MST), uma pessoa certamente culta e inteligente (sem ironia) e, apesar disso, com imensa dificuldade de lidar com os factos quando estes não confirmam o seu pré-conceito.
Os Países Baixos parecem despertar o desprezo de MST pelo mercantilismo e a NATO, outro objecto do seu desprezo recorrente, por razões que me escapam e que podem muito bem ser o contraponto à sua incontida veneração por todas as Rússias e uma mal disfarçada admiração pelo seu actual Czar. E foi, uma vez mais, esta sua inclinação a explicação para ter voltado pela enésima vez a escrever na sua crónica semanal no Expresso:
«A União Soviética e o Pacto de Varsóvia foram extintos em 1991, mas, ao invés, a NATO, longe de ser extinta, foi-se expandindo sucessivamente em seis momentos culminantes: em 1999, 2004, 2009, 2017, 2020 e 2023/24, com o alargamento à Finlândia e à Suécia. E sempre para onde? Sempre em direcção às fronteiras russas, onde hoje ocupa uns largos milhares de quilómetros contíguos a mais.»
Esta declaração leva-me a evocar o Visconde de Chateaubriand, a quem já atribuí inúmeras vezes algo que ele pode nunca ter dito ou escrito e a remeter para o post «Tal como a Divina Providência fez passar os rios através das cidades, assim as agressões da Rússia aos países vizinhos se seguem às adesões à Nato» e a sequência de factos históricos nele citados.
06/04/2024
Governo minoritário estável? Por que não? E por que sim?
Li com curiosidade e interesse «O equívoco político nacional: governos minoritários» um artigo de Mafalda Pratas (doutoranda em ciência política em Harvard) no Observador. O equívoco em causa está relacionado com a raridade dos executivos minoritários, a estranheza com que são vistos em Portugal e o prognóstico de vida curta que geralmente lhes é associado.
À primeira vista a realidade é esmagadora. Usando as palavras da Drª Pratas, «Entre 1945 e 2015 houve, na Europa (26 países), 705 executivos formados a partir de legislaturas democraticamente eleitas (isto é, excluindo os chamados governos de gestão, de iniciativa presidencial, caretaker governments, etc). Destes 705 governos, apenas 15% foram governos de maioria absoluta (108 governos).» De onde a Drª Pratas conclui que seria perfeitamente possível termos em Portugal um governo minoritário estável baseado na «rule by multiple majorities», por exemplo.
Supondo que a lógica seja inatacável (não é), como explicar que em Portugal nunca houve um governo minoritário estável ou pelo menos com estabilidade duradoura? Antes de tentar responder deixai-me recontar a estória do professor Jay Beetleson, que apresentou num congresso cientifico uma comunicação sobre a aerodinâmica do voo do besouro onde demonstrou que o bicho era demasiado pesado, tinha as asas demasiado pequenas, um abdómen nada aerodinâmico e um cérebro incapaz de enfrentar as complexas tarefas do voo, pelo que não poderia voar. A plateia ficou siderada num respeitoso silêncio só quebrado por um participante que perguntou com ingenuidade por que razão o besouro voava, não podendo voar, ao que o professor Beetleson respondeu «o besouro voa por não saber que não pode voar».
Receio que o eleitorado ou, mais exactamente, os políticos e os partidos portugueses, a quem podemos explicar incansavelmente não haver razões políticas ou outras que impeçam a viabilidade de um governo minoritário, fazem como o besouro e, não sabendo ou não estando convencidos, derrubam o governo minoritário logo que daí imaginem extrair alguma vantagem.
A razão é simples e para a compreender basta comparar a cultura (*) dos povos que habitam os Estados que conseguem manter governos minoritários estáveis com a cultura do Portugal dos Pequeninos.
(*) Cultura no sentido sociológico: «as línguas, costumes, crenças, regras, artes, conhecimento e identidades e memórias colectivas desenvolvidas por membros de todos os grupos sociais que tornam seus ambientes sociais significativos» (American Sociological Association).
05/04/2024
Dúvidas (370) - Não será um poucochinho exagerado? (7) - O surto inovador e inventivo que nos assalta
04/04/2024
SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (7)
03/04/2024
ARTIGO DEFUNTO: Fact-Checking the Fact Check
No dia 26 de Fevereiro, Passos Coelho num discurso de mais de 20 minutos no comício do Pontal referiu numa determinada altura citando o que tinha dito no mesmo local em 2016:
«Nós precisamos de ter um país aberto à emigração, mas cuidado precisamos também de ter um país seguro. Na altura o governo fez ouvidos moucos e na verdade hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento e prioridade que se deu a essas matérias.»
No dia seguinte o jornal Público publicou um fact check onde deixa implícita uma atitude negativa de Passos Coelho relativamente à imigração e verifica a veracidade de uma afirmação que ele manifestamente não fez.
Ou seja o Fact Check do Público inventa o facto que diz pretender verificar.
Como quer que seja, um mês e meio depois, um outro jornal publica uma peça citando dados estatísticos da Direção-Geral de Política de Justiça.
Veredicto: o Fact Check do Avante! da Sonae (epíteto agora confirmado, uma vez mais), pretendeu verificar a veracidade de um facto inventado usando um suposto facto que veio a verificar-se falso. Melhor é impossível.
02/04/2024
Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (111b)
Deveria ser uma coisa evidente. Uma empresa pública com um accionista que se financia ilimitadamente por extorsão dos contribuintes e que nomeia dirigentes por critérios políticos só por milagre poderia ser eficiente e, se operar num mercado sujeito a concorrência, só conseguirá sobreviver à custa de subsídios. O caso da TAP só foi um pouco diferente porque durante décadas parte da concorrência era de “companhias de bandeira” que disfrutaram de condições excepcionais que hoje não existem.
Muito satisfeitos por terem apresentado lucros de 177 milhões em 2023, como se fosse extraordinário numa empresa que recebeu 3,2 mil milhões de subsídios que só em juros, se tivesse de se financiar no mercado, poupou 200 milhões por ano e ficou dispensada de margens para amortizar os 3,2 mil milhões, os dirigentes negociaram novos salários com os sindicatos e excederam em 120 milhões o limite resultante do rácio de 19% dos custos com pessoal, custos que cresceram de 417 milhões em 2022 para 723 milhões em 2023.
«A educação é a nossa paixão»
mais liberdade |
A queda da percentagem de alunos com melhores performances entre 2018 e 2022 é mais uma medida da degradação da qualidade do ensino comparativamente com a média da OCDE.
Desculpas de mau pagador
Perante a acusação de negligência na aprovação de medidas de que dependem os pagamentos ao abrigo do PRR pela CE o governo desculpou-se que está “em gestão”. O estar “em gestão” é quando o Dr. Costa lhe convém. Esteve “em gestão" para não negociar com os polícias, mas não para despejar um chuva de subsídios sobre os agricultores.
Reforçando o Estado sucial
O governo também deixou de estar “em gestão” para aprovar o recrutamento de mais 3.700 técnicos superiores que vão adicionar-se aos 90 mil que o Dr. Costa aumentou durante a sua estadia.
É prudente não deitar foguetes antes da festa
Foi muito celebrado pela imprensa do regime a subida de dois lugares no ranking do PIB per capita PPP devida a razões puramente conjunturais e entre elas o esforço de reequipamento militar que a Polónia e a Estónia, os dois países ultrapassados, estão a fazer para responder à ameaça russa.