Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

27/04/2024

Dúvidas (371) - Não será um poucochinho exagerado? (8) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

Esta série de posts é dedicada a demolir o mito das patentes que pretende exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e é apenas mais um expediente de compensação do complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

No último post publicado a seguir à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023 referi que os pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a percentagens ínfimas do número total de pedidos dos 39 países do IPO (0,38%) e do número total de países (0,17%) e o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes colocam-nos no terceiro lugar a contar do fim do ranking dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.


O diagrama acima do mais liberdade com os dados do Global Innovation Index 2023 confirma as conclusões que retirei a partir do Patent Index 2023. Deveríamos dedicar pelo menos uma parcela das masturbações delirantes como «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» ou  «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» a uma análise crítica e racional das causas e das possíveis soluções.

26/04/2024

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (21) - Vindo dele, pior é difícil, mas sempre possível

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

Só quando me enviaram o vídeo de ontem do Canal A Cor do Dinheiro de Camilo Lourenço me dei conta de que poucos dias depois de ter insinuado propósitos políticos à PGR, o Dr. Marcelo meteu no mesmo saco da conversa com os correspondentes estrangeiros o caso das gémeas e do seu filho, juízos pessoais sobre o Dr. Costa e o Dr. Montenegro, a escravatura, os crimes coloniais e as suas indemnizações aos descendentes das vítimas. Só há uma justificação que se poderia considerar aceitável: demência senil.


Para mim não deixou de ser porque nunca foi o meu presidente, pelas razões que venho explicando há oito anos. Os dois mandatos do Dr. Marcelo tornam um exemplo de dignidade e decência os mandatos dos seus homólogos durante o Estado Novo, generais Carmona e Craveiro Lopes e almirante Américo Thomaz.

25/04/2024

Mitos (335) - O Estado Novo foi uma ditadura feroz e Portugal viveu uma longa noite escura que terminou com a alvorada de 25 de Abril e os amanhãs que cantam

Por razões que possivelmente radicam na consciência difusa e não assumida das fraquezas e contradições do regime actual saído da queda do Estado Novo, a esquerda, e com ela a legião de jornalistas e comentadores afectos, em vez de contribuir para reduzir essas fraquezas, desperdiça o seu talento a incensar o actual regime, ao mesmo tempo que distorce a história vilipendiando o Estado Novo.

A realidade, como habitualmente, é mais complexa do que o retrato resultante das simplificações ideológicas. Sem elaborar muito sobre este tema, remeto para «As causas do atraso português», o livro de Nuno Palma, a respeito do qual publiquei a série de oito posts Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos e acrescento agora meia dúzia de factos e considerações. 

Tivemos o PREC do qual quase saiu uma ditadura pior do que a do Estado Novo, tivemos a reforma agrária e as nacionalizações que expropriaram o "capitalismo monopolista", desmantelou-se o sector financeiro, hoje quase totalmente controlado por capital estrangeiro, a indústria foi reduzida a microempresas e PME e a uma ou outra sobra das grandes empresas industriais. Foi construído um Estado sucial pletórico que faliu três vezes nos últimos 50 anos, povoado por um número de funcionários (750 mil) que é o dobro da soma dos "servidores do Estado" (200 mil) com os mobilizados para a guerra colonial (170 mil). As Forças Armadas foram reduzidas a uma tropa pelintra, desmoralizada, mal equipada e incapaz de defender o país. O ensino público foi gradualmente infectado por ideologias neo-marxistas a um grau que rivaliza com a endoutrinação no ensino do Estado Novo mas fica longe do seu grau de exigência técnica. A qualidade do pessoal político degradou-se e a maioria dos ministros do regime actual não teriam por incompetência técnica lugar num governo do Dr. Salazar ou do Dr. Marcelo. O resultado é um país ultrapassado pelos países saídos das ruínas do império soviético, com uma economia pouco competitiva de baixa produtividade, endividado e dependente dos dinheiros europeus.

Por coincidência, li ontem uma carta de Francisco Pereira de Moura (FPM), antigo professor de Economia do ISCEF (actualmente ISEG), escrita em 1965 aos membros do colégio eleitoral que haveria de reeleger o factótum almirante Américo Tomás. Nessa carta, cuja leitura proporciona uma visão matizada e realista do que era o Estado Novo, FPM, então considerado um homem da "Situação", critica frontalmente a designação do presidente da República por um colégio eleitoral, de que ele próprio fazia parte como procurador da Câmara Corporativa, colégio que substituiu o sufrágio universal directo em resposta aos «acontecimentos que rodearam a eleição presidencial de 1958» (em que participou o general Humberto Delgado).

A crítica de FPM foi muito para além da alteração do processo eleitoral, ditada pela necessidade do governo controlar os seus resultados, e pôs em causa de forma claríssima os fundamentos do próprio regime. É certo que nesse mesmo ano FPM terminou o mandato na Câmara Corporativa mas continuou a ser tolerado pelo salazarismo, não sofreu retaliações, veio a ser um dos fundadores da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), daria origem ao MDP/CDE, e só em 1973 foi demitido da função pública pelo governo de Marcelo Caetano por ter participado na vigília anticolonial na Capela do Rato. 

O que mostra esta carta? A falsidade de dois mitos em contraponto: o mito da ditadura despótica do salazarismo cultivado pelos "anti-fascistas" (a propósito, o Estado Novo nunca foi fascista) e o mito do Estado Novo como um quase paraíso cultivado pelos situacionistas retardados.

24/04/2024

Não misturemos o alho com o bugalho

A AD escolheu para cabeça de lista às eleições para o PE Sebastião Bugalho, um jovem talentoso com carteira de jornalista. Fez a AD muito bem, ou muito mal, isso é lá com a AD e fez Sebastião muito bem, ou muito mal, isso é lá com ele. O que não é só com ele, é que lhe chamam jornalista quando em boa verdade não pratica jornalismo e faz comentário político o que no Portugal dos Pequeninos faz do comentador um político avant la lettre, e nalguns casos, après la lettre

A evolução de comentador político para político é uma evolução respeitável, o que deixará de ser respeitável é a hipotética involução de político para comentador a fingir de jornalista que, a verificar-se, agravaria a confusão nociva entre comentador e jornalista.

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (8)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

O último post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante versa sobre o Estado Novo ter sido uma espécie de idade das trevas, mito que é um favorito da esquerdalhada e funciona como contraponto do mito de que a Primeira República foi um regime salvífico que tratei no post anterior.

Em primeiro lugar o Estado Novo não foi uma ditadura particularmente repressiva e muito menos um Estado totalitário. Na verdade, suporta bem a comparação com a "democracia" republicana. 

Em segundo lugar, a década de 50 o salazarismo colocou o país num processo acelerado de desenvolvimento traduzido por um aumento do PIB per capita  de cerca de 37% da média da Europa Ocidental para mais de 55% no final da década 60, apesar do crescimento fortissimo da maioria dos países dessa zona na mesma época. 

O mito do crescimento se ter dado à custa da exploração das colónias não tem pés nem cabeça, desde logo porque as exportações para as colónias no período de crescimento mais forte representavam apenas cerca de 3% do PIB. O mito do Portugal agrícola cai quando se compara a população activa na agricultura que nos anos 20 era quase 60% com os menos de 25% no final do regime.
 
Do ponto de vista da educação, o analfabetismo que no início do século XX atingia três quartos da população no final dos anos sessenta era residual e não existia analfabetismo infantil.

Na saúde pública todos os índices mostram fortes melhorias. A percentagem de homens com deficiências de crescimento reduziu-se a metade; a mortalidade infantil reduziu-se de mais de 140 por mil para menos de 60 por mil no final do regime. As percentagens da população com acesso aos serviços de saúde pública foi aumentando gradualmente de 10% em 1954 para quase 80% em 1975, ainda antes do tão incensado SNS.

23/04/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 3a)

O Dr. Medina diz que a UTAO não tem de “imiscuir-se” na engenharia financeira

A UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) tem como missão prestar apoio à comissão parlamentar permanente do parlamento com a «elaboração de estudos e documentos de trabalho técnico sobre a gestão orçamental e financeira pública». No desempenho da sua missão a UTAO concluiu que a redução do valor nominal da dívida em 2023 resultou, em grande medida, do «facto de entidades em todos os subsetores públicos serem investidores em parcelas significativas de dívida pública portuguesa», e que «este efeito subiu consideravelmente em 2023 (mais 12,1 mil milhões de euros do que no ano anterior)

Como seria de esperar, mostrando que está em sintonia com a visão socialista de que não há entidades públicas independentes e que todas devem ser câmaras de eco do governo, o ex-ministro das Finanças Dr. Medina criticou asperamente a UTAO não pelas suas conclusões mas porque «não tem de ter opinião sobre a afetação do Fundo de Estabilização financeira da Segurança Social».

Boa Nova: O Dr. Costa e o Dr. Medina tiraram 0,2% ao rácio de carga fiscal

Em 2023 o rácio de carga fiscal (relação entre a receita fiscal e o PIB nominal) desceu de 36,0% para 35,8%

Choque a realidade com a Boa Nova


O outro lado da questão é que a redução minúscula do rácio resulta da inflação e a carga fiscal aumentou 8,8% em termos nominais e atingiu 95 mil milhões de euros.

O peso dos elefantes brancos no Estado sucial é elefantesco


O endividamento das entidades do sector empresarial do Estado em 2022 representava 7,9% do PIB nacional (19,1 mil milhões). As garantias do Estado para com as entidades do SEE atingiam 2,1% do PIB (5,0 mil milhões).

A bazuca para as casinhas

O Dr. Costa conseguiu extrair à Óropa 22,2 mil milhões de euros para torrar até 2026 no Plano de Recuperação e Resiliência (“o plano que vai preparar Portugal para o Futuro”). Um sétimo desse montante (3,2 mil) serão aplicados para construir casinhas em Lisboa, Seixal, Setúbal e V. R. Stº António onde residem 8% da população. (fonte) Como é que isto promoverá o crescimento futuro da economia não sabemos e ele também não explicou.

22/04/2024

O Dr. Portas explica a diferença entre um estadista e um estradista

O salta-pocinhas

Em entrevista ao Observador, Passos Coelho evocou os tempos do resgate e da troika e revelou a respeito do Dr. Portas «Julgo que ele não sabe isto: para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, obriguei o ministro das Finanças a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. A ´troika´' exigia uma carta só dele. Porque não confiava nele».

Essa evocação não deveria surpreender quem não tem falta de memória e não esqueceu o "guião" / "argumentário" que andou a ser escrito durante três meses nos idos de 2013, a demissão "irrevogável" do Dr. Portas e todas as outras palhaçadas, numa altura crítica, de um político inconfiável que, como escrevi na época, já defendeu tudo e o seu contrário, sem uma visão para o país para além das suas ambições e do seu ego híper-expandido, que já foi eurocéptico e eurófilo, Paulinho das feiras e frequentador de salões, conservador e liberal, que já intrigou tudo quanto havia para intrigar, sempre a contar os votos dos velhinhos e das velhinhas, dos reformados e da lavoura e a piscar o olho àquele trupe do jornalismo de causas e sem causas, com poucos princípios e muitos fins.

Confrontado com a entrevista, o Dr. Portas com a sua inegável vocação para os soundbites explicou «Passos Coelho achava que a troika era um bem virtuoso, eu achava um mal necessário». Provavelmente sem se dar conta, sublinhou a diferença entre um político que tentava ser um estadista, que percebeu a inevitabilidade mas também a oportunidade de mudar um país atrasado, afundado e dependente dos dinheiros de Bruxelas com um Estado sucial falido, e o político inconfiável que ele, Dr. Portas, foi e continua a ser.

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

A educação é a nossa paixão”, “O SNS é um tesouro”, “Virar a página”, “Contas certas”, “Cofres cheios

Estes são apenas alguns exemplos do talento socialista para criar um Portugal dos Pequenino imaginário num universo paralelo tirando o melhor partido das limitações atávicas do eleitorado que o impedem de ver a realidade. Nada disto seria possível sem a insubstituível ajuda das centenas de jornalistas amigos e a comentadoria do regime.

A tradição ainda é o que era. O comentário político como plataforma eleitoral

Enquanto se preparava para apear o Dr. António José Seguro da liderança do PS, o Dr. António Costa pôde contar com a generosidade do Dr. Pacheco Pereira (o militante do PS com mais notoriedade dentro do PSD) que lhe ofereceu como púlpito um lugar de comentador no seu programa na SIC “Quadratura do Círculo”, substituindo o Dr. Jorge Coelho.

Agora, enquanto se prepara para a sua candidatura a um lugar na Óropa, o Dr. Costa está a caminho de ser comentador no novo canal de televisão da Medialivre, o que não lhe trará vantagens visíveis para esse lugar, porque não é provável que em Bruxelas se dê atenção ao comentário doméstico, mas poderá ser um meio eficaz para não ser esquecido pelo eleitorado português para o caso de falhar a candidatura bruxelense e ter de se candidatar em 2026 a Belém.

A insustentável leveza da Segurança Social

mais liberdade

Como o gráfico mostra, a Segurança Social dos “privados” tem apresentando um saldo positivo crescente porque o número de contribuintes vem aumentando por força dos imigrantes e nos últimos anos o desemprego tem sido historicamente baixo. De resto, sem o aumento das reservas a Segurança Social é insustentável num cenário de inverno demográfico como aquele que nos espera.

Ao contrário, a Caixa Geral de Aposentações (CGA), a Segurança Social dos “públicos”, é cada vez mais deficitária, e não tem novos subscritores desde 01-01-2006 que passaram a fazer parte do regime e os pensionistas vêm aumentado todos os anos com as novas reformas.

(Continua)

21/04/2024

Nativism: More xenophobia than nationalism, nothing in common with patriotism

«Nativism, an ideology, governmental policy, or political stance that prioritizes the interests and well-being of native-born or long-established residents of a given country over those of immigrants, typically by advocating or enacting restrictions on immigration. Those who hold this view tend to reject or avoid the term nativist and instead identify themselves as “patriots,” “nationalists,” or “populists.” However, nativism is not equivalent to patriotism, nationalism, or populism; indeed, it has more in common with xenophobia and racism

20/04/2024

How the Radical Left Conquered Almost Everything for a Time (XI)

(Continued from I, II, III, IV, V, VI , VII, VIII, IX e X)
With these examples of neo-Marxism in institutions extracted from Christopher Rufo's book, I end this series of posts.

«And the leading actors are well compensated. After their summer of revolution, Black Lives Matter cofounder Patrisse Cullors signed an entertainment deal with Warner Bros. and spent $3.2 million on four high-end homes across the country. The other cofounders, Alicia Garza and Opal Tometi, signed entertainment deals with marquee Hollywood talent agencies and the group secretly bought a $6 million mansion in Southern California. Meanwhile, their organization descended into outright graft: one leader allegedly stole $10 million in donations. Others transferred millions to family members through shadowy consulting firms and nonprofit entities. Massive sums of money went missing altogether. 

BLM activists were never a threat to capitalism - they were its beneficiaries. The wave of chaos they unleashed was never a viable path to liberation; it was an accelerant for destruction. »
________________

I have used the term neo-Marxism to characterize the ideological hodgepodge that supports critical race theory and the other woke bullshit. Which is obviously debatable. Christopher Rufo, the author of the book, in a recent debate published in The Free Press addressed the characterization of these movements in the following terms:

«I personally don’t use the term cultural Marxist that Yascha has done. I don’t do so in the book, although I think that the basic concept, if we leave the moniker aside, is that Marxism—the basic categorical distinctions—moved away from a purely orthodox materialist science or material determinism toward entities of culture, family, law, in a kind of Gramscian direction. [Herbert] Marcuse was a Marxist, and he was the most influential philosophical figure of the New Left, which is the prototype of the radical left we see today.

His doctoral student, Angela Davis, was a member of the Communist Party, is a devoted Marxist, and really took the Marxist tradition and applied it to racial categories. Then within academia, most notably her long career at UC–Santa Barbara, and then her mentees, the third generation, were the founders of Black Lives Matter. They said themselves, “we are trained Marxists.” If you read a law review article written by one of the BLM founders, if you listen to their interviews and speeches, and then if you listen to their interviews with Angela Davis, they make very clear: “we are mobilizing along racial lines. We think that that’s the best rhetorical approach to score political victories. But the ultimate goal is the abolition of capitalism.” And you see this absolutely everywhere: in training programs and academic work, and even critical race theory.»

19/04/2024

Um Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Género pode ser uma espécie de clínica do Dr. Mengele (5) - Epílogo (ou talvez não)

Continuação de (1), (2), (3) e (4)

Em retrospectiva: a Tavistock and Portman NHS Foundation, uma organização inspirada na ideologia da identidade de género, geria o Gender Identity Development Service (GIDS) uma clínica "transgénero" dedicada à mudança de sexo em Inglaterra e Gales que durante dez anos administrou "supressores de puberdade", um coquetel hormonal para travar o desenvolvimento normal da sexualidade, a milhares de crianças e adolescentes com disforia sexual.

Depois de mais de 9 mil casos de adolescentes que passaram pelo GIDS, o NHS considerou as práticas do GIDS não seguras para crianças e decidiu em Julho de 2022 fechar a clínica a partir da Primavera de 2023.

Decidiu mas nada aconteceu por pressão dos militantes da identidade de género. Até que foi publicado no dia 9 de Abril o relatório da comissão nomeada em 2020 pelo NHS liderada pela Dra. Hilary Cass, ex-presidente do Royal College of Paediatrics que considerou inadequados e sem suporte científico os tratamentos hormonais no GIDS, considerou tóxico o debate à volta deste tema e recomenda um modelo que dê prioridade à terapia e considere outras questões de saúde mental que estejam envolvidas.

Em consequência, finalmente o GIDS foi fechado. Contudo, o tratamento hormonal dos adolescentes não terminou e algumas clínicas privadas estão a oferecer medicamentos online para crianças com a cooperação de alguns ex-médicos do GIDS.

18/04/2024

Tele evangelista avant la lettre e tele evangelista après la lettre


Até num Portugal dos Pequeninos, onde no lugar dos conflitos de interesse só existem interesses em conflito, é algo insólito ficarmos a saber no mesmo dia que o Dr. Costa, ex-primeiro-ministro acabado de sair do governo, um político profissional toda a sua vida adulta, e o Cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, um eclesiástico profissional e celebridade mediática, irão fazer comentário político e religioso (?), respectivamente (?), no mesmo canal de televisão.

[O título deste post saiu em modo de escrita automática e fiquei sem saber quem são o avant e o aprés.]

17/04/2024

A arma atómica dos pobres é o útero das suas mulheres

Fonte

[Título inspirado em Houari Boumédiène, ministro da Defesa e mais tarde presidente da Argélia, que década de 60 num discurso (salvo erro nas Nações Unidas) proclamou que a arma atómica dos árabes era o útero das suas mulheres]

16/04/2024

Nanny state is back in a new incarnation, in Britain and elsewhere (3) - The Labor jumped on the bandwagon and the Conservatives followed

Continued from (1) and (2)


«Labour wants three- to five-year-olds to have tooth-brushing lessons» followed by the Tories who «plans to stop young people born since 2009 ever smoking (...) Rishi Sunak's bill aims to create the UK's first smoke-free generation in a major public health intervention.» (source

«The second reading of the legislation passed by 383 votes to 67. Some 59 Conservatives voted against.» (source

Um semanário incompetente deu um tiro no seu próprio pé quando queria dar um tiro no pé do governo chico-esperto, tiro supérfluo porque o governo o havia antecipado

A estória parece complicada mas é simples. O Dr. Montenegro anunciou uma redução do IRS neste ano de 1.500 milhões (o que é verdade) e omitiu que o orçamento aprovado pelo PS já incluía uma redução de 1.300 milhões, pelo que a redução da responsabilidade do governo AD era de apenas 200 milhões.

aqui zurzi a incompetência do semanário de referência que publicou na primeira página um título completamente falso sobre a duplicação da descida do IRS, incompetência a que o director somou má-fé ao desculpar-se com o governo,   

Também já tinha apontado o dedo à aparentemente deliberada pouca clareza do Dr. Montenegro a que acrescento agora a incompetência na gestão da comunicação ao admitir que a sua chico-espertice iria passar desapercebida a uma oposição impaciente que, apesar da também óbvia incompetência, conta com a preciosa ajuda de pelotões de jornalistas de causas e de opinion dealers que em vez escrutinarem as acções do governo fazem backup às falhas da oposição com a maior falta de independência e de objectividade.

Acrescento ainda, desengane-se quem imagina que o importante é o conteúdo e que a comunicação é secundária, para não dizer irrelevante. Se um governo, nomeadamente um primeiro-ministro, não tem competência para comunicar, o que sempre foi grave, é desastroso no mundo mediático em que estamos mergulhados, e, no caso de um governo ideologicamente desalinhado com a turba que habita as redacções (reforçada com o humor de causas do humorista mais popular no activo), é mortal. 

E a incompetência na comunicação é uma das marcas dos governos PSD que fica mais visível por causa do desalinhamento com a opinião publicada. Para ficar por um só exemplo, o slogan de Passos Coelho "para além da troika" (ler aqui o que o outro contribuinte escreveu há quase dez anos e este contribuinte subscreve), para além de não corresponder à verdade, deu lenha à esquerdalhada para torrar o governo perante um eleitorado que adora vitimizar-se.

15/04/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (2)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

Agora que o governo do Dr. Costa já se retirou não será excessivo esgravatar as sequelas da sua governação?

Se adoptar o critério do Dr. Costa que após oito anos de governação ainda se desculpava com o governo anterior, seguramente não é demasiado. Sossegai, porém, porque não tenho o propósito nem a pachorra para mais do que umas quantas sequelas.

Tirou-me as palavras da boca

«É mesmo estranho ouvir quem teve 3050 dias para resolver tantos problemas estar agora a incitar o Governo a fazê-lo em 60», disse o Dr. Montenegro comentando a carta aberta do Dr. Pedro Nuno e esquecendo que isso é apenas mais um expediente de quem andou esses mesmos 3050 dias a queixar-se da herança.

A Dr.ª Marisa também me tirou as palavras da boca...

... ao comentar a carta do Dr. Pedro Nuno sobre as medidas que esperava que o Dr. Montenegro adoptasse nos próximos 60 dias, a deputada berloquista considerou «curioso que parece que haja agora uma descoberta de que afinal há condições e condições orçamentais». 

Um dos problemas que o Dr. Pedro Nuno incita o governo a resolver...


Não me admiraria que o PS também quisesse reduzir os ajustes directos...

... que o ano passado representaram quase metade dos contratos públicos, representando um aumento de 1% do número de 8% do valor.

Durante vários anos teremos de circular na autoestrada mexicana do investimento público

Esta é uma das sequelas mais duradouras da herança costista que resultou de apresentar défices baixos ou mesmo superávits (política a que ele chamou "contas certas") à custa da redução continuada da execução do investimento público disfarçada com as habilidades aqui descritas. Desde 2011 até 2022, segundo a estimativa de Ferreira Machado, o stock de capital fixo do Estado reduziu-se cerca de 14.000 milhões de euros, o equivalente a 5% da dívida pública.

O buraco do BES é outra sequela da parceria DDT-Animal Feroz 

Desde 2014 o pletórico passivo resultante da resolução de BES vem crescendo e atingiu 7.400 milhões de euro, o triplo do valor inicial.

Choque da realidade com a Boa Nova

Lembram-se do futuro risonho que o governo do Dr. Costa, principalmente pela boca do Dr. Galamba, augurava ao hidrogénio verde em Sines? Caso a memória não ajude, podem refrescá-la na série de posts «O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco a caminho». Fast rewind e chegamos a 2024 e o consórcio Engie-Shell anuncia o cancelamento do projeto de hidrogénio verde em Sines.

E os "cofres cheios" não são uma boa herança?

Não, não são. Já aqui lembrei que o excedente de 3,2 mil milhões só existiu em consequência do excedente de 5,5 mil milhões da Segurança Social, que não é excedente nenhum porque terá de ser afectado às reservas para garantir a sustentabilidade a longo prazo. Na verdade, sem a Segurança Social as contas da administração pública apresentaram défices: 2.329 milhões de euros na administração central e de 147,8 milhões na administração local.

Fonte
E, para fim de conversa,  acrescento agora que um excedente não é cofre nenhum e a única coisa que vagamente se poderia considerar como tal são os depósitos em bancos das administrações públicas que em percentagem do PIB são hoje mais baixos do que em 2014 (estimativas de Óscar Afonso).

14/04/2024

ARTIGO DEFUNTO: O "semanário de referência" chama embuste e fraude do governo à sua própria incompetência

A qualquer pessoa que tenha seguido com um módico de atenção as medidas de redução do IRS anunciadas pelo governo, deveria ser evidente que o título bombástico na primeira página do semanário de reverência só poderia ser um disparate (ou talvez não, o que seria ainda mais grave).

De facto, o que o Dr. Montenegro disse no parlamento, que o próprio Expresso cita na sua página 6, foi
«É a ‘medida popular’ por definição e custa aos cofres do Estado 1500 milhões de euros, para ajudar a “libertar os portugueses do excessivo fardo fiscal”, como disse Montenegro na apresentação do programa de Governo, esta quinta-feira no Parlamento
Em lado algum, a não ser no título do Expresso, o Dr. Montenegro é citado a dizer que «duplica a descida do IRS» e parecia claro para toda a gente, excepto para o Expresso, que os 1.500 milhões de euros era a montante total da redução em relação ao ano passado, o que inclui a redução já prevista no OE 2024 apresentado pelo governo PS.  

Poderá dizer-se que o Dr. Montenegro, fazendo o que costuma fazer o PS, se exprimiu com pouca clareza não explicitando que cerca de 1.300 milhões dos 1.500 milhões já estavam no OE 2024? Pode dizer-se certamente e competiria o Expresso repor as coisas na sua dimensão. Não o fez e, perante a grossa asneira do título que não tem pés nem cabeça, em vez de se retratar e pedir desculpa pela sua incompetência, publicou uma Nota do director com o título «É mais do que um embuste. É enganar os portugueses» em que desmente o que publicou e atribui a um embuste e fraude do governo o que resulta da sua própria incompetência.

Foi com essa reacção despropositada e mistificadora que o Expresso tentou limpar a sua folha ao ver-se alvo do tiro de barragem do PS pelo título que de facto parecia saído de um gabinete de agitprop. Para quem se intitula semanário de referência não está mal.

13/04/2024

O Novo Império do Meio numa encruzilhada. Capitalismo e autocracia não combinam bem

«É o teste económico mais grave da China, desde que a mais abrangente das reformas de Deng Xiaoping começou na década de 1990. No ano passado, o país alcançou um crescimento de 5%, mas os pilares do seu milagre de décadas estão a vacilar. A sua famosa força de trabalho industriosa encolhe, o boom imobiliário mais selvagem da história desmoronou-se e o sistema global de livre comércio que a China usou para enriquecer está desintegrar-se. (...) a resposta do presidente Xi Jinping é dobrar a aposta com um plano audacioso para refazer a economia da China. A mistura da tecno-utopia, planeamento central e obsessão por segurança define a ambição da China de dominar as indústrias do futuro. Mas as suas contradições significam que decepcionará o povo da China e irritará o resto do mundo.

Em comparação com 12 meses atrás, sem falar nos anos anteriores, o clima na China é amargo. Embora a produção industrial tenha crescido em Março, os consumidores estão deprimidos, a deflação espreita e muitos empresários estão desiludidos. Por trás da angústia estão temores mais profundos sobre as vulnerabilidades da China. Prevê-se uma redução de 20% de sua força de trabalho até 2050. Uma crise no sector imobiliário, que movimenta um quinto do PIB, levará anos para ser corrigida. Isso prejudicará os governos locais sem dinheiro que dependiam da venda de terras para obter receitas e do sector imobiliário florescente para crescer.  (...)

A resposta da China é uma estratégia construída em torno do que as autoridades chamam de "novas forças produtivas". Isso evita o caminho convencional de um grande incentivo ao consumidor para estimular a economia (esse é o tipo de artifício ao qual o decadente Ocidente recorre). Em vez disso, Xi quer que o poder do Estado acelere as indústrias de manufatura avançadas, o que, por sua vez, criará empregos de elevada produtividade, tornará a China autossuficiente e a protegerá contra a agressão americana. A China vai saltar do aço e dos arranha-céus para uma idade dourada de produção em massa de carros elétricos, baterias, bioindústria e a "economia de baixa altitude" baseada em drones. (...)

No entanto, o plano de Xi está fundamentalmente equivocado. Uma falha é que negligencia os consumidores. Embora o consumo supere a propriedade e as novas forças produtivas, conta apenas 37% do PIB, muito abaixo das padrões globais. Para restaurar a confiança no meio de uma crise imobiliária e, assim, aumentar os gastos do consumidor é preciso um estímulo. Induzir os consumidores a poupar menos requer uma melhor segurança social e cuidados de saúde, bem como reformas que abram os serviços públicos a todos os migrantes urbanos. A relutância de Xi em adoptar isso reflete a sua mentalidade austera. Ele detesta a ideia de socorrer empresas imobiliárias especulativas ou dar subsídios aos cidadãos. Os jovens deveriam ser menos mimados e dispostos a "comer amargura", disse ele no ano passado. (...)

Se essas falhas são óbvias, por que não muda a China de rumo? Uma das razões é que Xi não escuta. Durante grande parte dos últimos 30 anos, a China esteve aberta a visões externas sobre reformas económicas. Os seus tecnocratas estudaram as melhores práticas globais e acolheram debates técnicos vigorosos. Sob o governo centralizador de Xi, os especialistas económicos foram marginalizados e o feedback que os líderes costumavam receber transformou-se em bajulação. A outra razão que Xi invoca é que a segurança nacional agora tem precedência sobre a prosperidade. A China deve estar preparada para um conflito no futuro com os Estados Unidos, mesmo que haja um preço a pagar. É uma mudança profunda em relação aos anos 1990 e seus efeitos nocivos serão sentidos na China e em todo o mundo.»

«Xi Jinping’s misguided plan to escape economic stagnation»

12/04/2024

Ser de esquerda é... (27) - ... é reagir a Passos Coelho (ou Cavaco Silva) como o cão de Pavlov reagiu ao badalo

Não fiquei surpreendido pela reacção da comentadoria do regime e do jornalismo de causas à última intervenção pública de Pedro Passos Coelho (PPC). Afinal, cada vez que ele ou Aníbal Cavaco Silva escrevem ou dizem seja o que for, sobre seja o que for, segue-se o mesmo ulular indignado e raivoso. A explicação talvez seja mais do domínio do psicopatológico do que do político. 

Quando percebi que, desta vez, o móbil da indignação era o pensamento de PPC sobre a família, fiquei curioso e fui ler a intervenção que a motivou. Encontrei um texto equilibrado, inspirado numa visão tolerante, com ideias relativamente redondas e, por isso, consensual para uma grande maioria das pessoas que não vivem dentro da bolha mediática largamente esquerdista e estreitamente geográfica. Premonitoriamente PPC antecipa as reacções habituais: «há rótulos que são colocados com uma intenção clara de desqualificar aqueles que lançam as discussões, de os diminuir e de os condicionar». 

O que teria incendiado a esquerdalhada para além da conhecida reacção pavloviana? Haverá sem dúvida outras questões («questões da segurança e da imigração», «os símbolos da República», «a sovietização do ensino», «ajudar as pessoas a morrer») que não terão deixado de irritar a bolha, mas suspeito que a passagem seguinte lhes tocou no nervo. 

«Que nós sabemos que não há um único conceito de família e, historicamente falando, a família não teve sempre a mesma configuração ao longo do tempo. Essa configuração foi evoluindo com a sociedade. Mas se a família, de certa maneira, representa o primeiro espaço de socialização, julgo que hoje haverá um amplo consenso em torno desta minha afirmação, julgo.

A família é primeiro espaço de socialização. E, nessa medida, portanto, de transmissão de valores, de exemplos, que numa geração para outra geração vai dando continuidade a um destino coletivo. Nessa medida, portanto, podemos dizer que a família antecede o Estado, evidentemente, e dificilmente se pode entender de uma forma separada da sociedade em si mesma. 

(...) uma instituição que, de resto, é insubstituível. Não há ninguém, nenhuma outra instituição, que possa substituir a família. Os substitutos são imperfeitos.»

E porquê? Porque, pelo menos desde "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" de Engels, que a escreveu como uma espécie de ghostwriter de Marx, que o marxismo clássico vê a família monogâmica heterossexual, uma instituição de origem espontânea, como um instrumento de perpetuação da propriedade privada e um obstáculo ao primado do Estado Comunista que nos conduzirá ao paraíso da sociedade sem classes. É claro que, com a falência e o descrédito do marxismo clássico, o neo-marxismo teve de reinventar essas ideias, reformular o vocabulário e a sintaxe mas o propósito de destruir o Estado Capitalista permanece o mesmo e para tal é um passo indispensável "desconstruir" a família monogâmica heterossexual e banir o "heteropatriarcado".

Outros "Ser de esquerda é..."

11/04/2024

Demasiado de uma coisa boa pode não ser bom

Escreveu o Expresso há dois dias:

«Há 15 dias consecutivos que o preço diário da eletricidade em Portugal e Espanha está abaixo dos 10 euros por megawatt hora. É uma série inédita. Há largas horas de preço zero, como esta terça-feira. Há produtores a operar com perdas. E as centrais fotovoltaicas passaram a ter de cortar a produção em alguns períodos, desperdiçando o recurso solar.»

E explicava:

«Habitualmente os preços negativos ocorrem quando há uma disponibilidade particularmente alta de eletricidade que não é armazenável e cujo custo marginal é nulo, e quando, ao mesmo tempo, há produtores que preferem durante algumas horas pagar para continuar a produzir (porque o custo de parar e voltar a arrancar as centrais um pouco depois pode ser mais elevado).»

Este enorme desperdício resulta de uma política energética do PS (e do PS-D) desenhada para sacar fundos europeus, recompensar os lóbis da energia e fazer agitprop ambientalista, em vez de optimizar os recursos existentes, equilibrando a produção das energias convencionais e das renováveis (que são por natureza intermitentes).

10/04/2024

A indiferença da Rússia de Putin aos desastres militares é ainda maior do que a da URSS do PCUS

Fonte (*)

Comparativamente com Chechénia, Afeganistão e Ucrânia antes da invasão de Fevereiro de 2022, a guerra actual na Ucrânia é incomparavelmente mais mortífera. Se uma guerra no Afeganistão, onde em 12 anos "apenas" morreram 15 mil russos, levou a liderança comunista a decidir a retirada gradual em 1987, os 5 a 6 vezes mais mortos em um quarto do tempo da "operação especial" mostram que o valor das vidas russas para o czar Vladimiro é ainda menor do que para os líderes soviéticos.

___________

(*) Estimativa pela Economist do número de soldados russos na Ucrânia até ao final de Fevereiro com base nos dados da Mediazona e Meduza dois mídia independentes que utilizam os obituários públicos e registos oficiais de heranças. 

09/04/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (1b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 1a)

Será um primeiro passo para a reconstituição da geringonça?

É apenas um ritual inócuo numa cerimónia inócua à qual os líderes das forças políticas “democráticas” costumavam comparecer fingindo um certo fair play. Precisamente por significar pouco, é cheia de significado a coincidência do Dr. Pedro Nuno (que enviou a Drª Alexandra) e da Dr.ª Mortágua e do Dr. Raimundo (que não enviaram ninguém) terem faltado ao ritual da tomada de posse do novo governo.

O excedente orçamental é ficção. O excedente dos compromissos não cumpridos é real

Há três anos obrigado a adoptar os novos procedimentos de controlo das fronteiras obrigatórios segundo as regras de Schengen, o governo do Dr. Costa foi empurrando com a barriga – preocupado com as “conta certas”? – e só a poucos dias do seu fim publicou uma resolução do Conselho de Ministros tão em cima do prazo limite que vai obrigar a adjudicações directas (provavelmente a razão do adiamento) em vez de concursos públicos,

Excedente de descaramento ou será a síndrome do pensamento mágico?

A ministra cessante que herdou do Dr. Pedro Nuno um ministério da Habitação cujo resultado de seis anos dos programas de Renda Acessível consistiu em 771-contratos-771 contratos, equivalentes a 0,084% dos 921 mil arrendamentos em Portugal, resultado a que o Instituto da Habitação adicionou já em pleno governo de gestão 102 (cento e duas) habitações de renda acessível a nível do país, publicou no seu último dia no governo um vídeo onde, sem se rir, disse «a habitação publica responde hoje a todos, às famílias de menores rendimentos, mas também à classe média e aos jovens».

08/04/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (1a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

Porquê este semanário das sequelas e porque não faz (ainda) sentido um escrutínio semanal do governo da AD?

Escrevi no Semanário de Bordo da semana passada que esse seria o último. Pensando melhor, é verdade que a Nau Catrineta do Dr. Costa e do seu PS estão acostadas, e também é verdade que a carga desembarcada continuará a andar por aí durante algum tempo.

Por outro lado, é ainda cedo para começar a escrutinar o novo governo, pela razão inversa da que fez do escrutínio do governo socialista um serviço público. Enquanto os anteriores governos puderam contar com o obséquio, na melhor hipótese, ou a cumplicidade, na hipótese mais corrente, da imprensa amiga e da comentadoria do regime, o governo da AD só pode contar com a condescendência, na melhor hipótese, ou malevolência, na hipótese mais corrente.

Com uma cajadada mataram dois coelhos

A aprovação in extremis da portaria de atualização salarial das categorias profissionais não abrangidas pela regulamentação colectiva (ver aqui o expediente do ano passado) que aumenta 7,89% dos salários a 104 mil trabalhadores do “privado”, um aumento múltiplo da taxa de inflação, tem a vantagem de lustrar a imagem de amigo dos trabalhadores do governo socialista e de não estragar as “contas certas”.

Ainda o Twinsgate do regime

A Inspecção-Geral das Atividades em Saúde teve o cuidado de esperar que o governo do Dr. Costa saísse de cena para divulgar o seu relatório sobre o caso das gémeas brasileiras, a quem foi atribuída com urgência nacionalidade portuguesa, seguida da administração de um medicamento milionário, à custa de uma cunha do Dr. Rebelo de Sousa Filho, com a aparente cooperação do Dr. Marcelo e a prestimosa colaboração do Dr. Lacerda Sales, SE da Saúde à época.

Outra coincidência plena de significado

A Comissão do Livro Verde da Sustentabilidade da Segurança Social, nomeada pelo Dr. Costa em Julho de 2022, andava desde então a trabalhar no tema, também esperou pelas eleições para entregar no dia 28 o seu relatório preliminar à ministra do Trabalho e da Segurança Social cessante. Alguns dias depois percebeu-se que o relatório questionava a radiosa sustentabilidade que o governo socialista vinha anunciando nas suas acções de agitprop e até propõe o fim das reformas antecipadas aos 57 anos.

«À justiça o que é da justiça»


Sendo certo que o PS-D também ajudou, a verdade é que sobretudo ao PS que devemos o estado em que se encontra a Justiça do Portugal dos Pequeninos.

(Continua)

ARTIGO DE DEFUNTO: Para o semanário de reverência uma página de agitprop de um líder partidário é uma página de opinião de um comentador

Expresso

07/04/2024

O preconceito pode fazer parecer estúpido quem pode ser inteligente. Um exemplo mais recente

Este post poderia ser uma sequela deste outro, em que recordei ter investido em tempos contra as fantasias a respeito dos Países Baixos do Dr. Miguel Sousa Tavares (MST), uma pessoa certamente culta e inteligente (sem ironia) e, apesar disso, com imensa dificuldade de lidar com os factos quando estes não confirmam o seu pré-conceito. 

Os Países Baixos parecem despertar o desprezo de MST pelo mercantilismo e a NATO, outro objecto do seu desprezo recorrente, por razões que me escapam e que podem muito bem ser o contraponto à sua incontida veneração por todas as Rússias e uma mal disfarçada admiração pelo seu actual Czar. E foi, uma vez mais, esta sua inclinação a explicação para ter voltado pela enésima vez a escrever na sua crónica semanal no Expresso:  

«A União Soviética e o Pacto de Varsóvia foram extintos em 1991, mas, ao invés, a NATO, longe de ser extinta, foi-se expandindo sucessivamente em seis momentos culminantes: em 1999, 2004, 2009, 2017, 2020 e 2023/24, com o alargamento à Finlândia e à Sué­cia. E sempre para onde? Sempre em direcção às fronteiras russas, onde hoje ocupa uns largos milhares de quilómetros contíguos a mais.»

Esta declaração leva-me a evocar o Visconde de Chateaubriand, a quem já atribuí inúmeras vezes algo que ele pode nunca ter dito ou escrito e a remeter para o post «Tal como a Divina Providência fez passar os rios através das cidades, assim as agressões da Rússia aos países vizinhos se seguem às adesões à Nato» e a sequência de factos históricos nele citados.

06/04/2024

Governo minoritário estável? Por que não? E por que sim?

Li com curiosidade e interesse «O equívoco político nacional: governos minoritários» um artigo de Mafalda Pratas (doutoranda em ciência política em Harvard) no Observador. O equívoco em causa está relacionado com a raridade dos executivos minoritários, a estranheza com que são vistos em Portugal e o prognóstico de vida curta que geralmente lhes é associado.

À primeira vista a realidade é esmagadora. Usando as palavras da Drª Pratas, «Entre 1945 e 2015 houve, na Europa (26 países), 705 executivos formados a partir de legislaturas democraticamente eleitas (isto é, excluindo os chamados governos de gestão, de iniciativa presidencial, caretaker governments, etc). Destes 705 governos, apenas 15% foram governos de maioria absoluta (108 governos).» De onde a Drª Pratas conclui que seria perfeitamente possível termos em Portugal um governo minoritário estável baseado na «rule by multiple majorities», por exemplo.

Supondo que a lógica seja inatacável (não é), como explicar que em Portugal nunca houve um governo minoritário estável ou pelo menos com estabilidade duradoura?  Antes de tentar responder deixai-me recontar a estória do professor Jay Beetleson, que apresentou num congresso cientifico uma comunicação sobre a aerodinâmica do voo do besouro onde demonstrou que o bicho era demasiado pesado, tinha as asas demasiado pequenas, um abdómen nada aerodinâmico e um cérebro incapaz de enfrentar as complexas tarefas do voo, pelo que não poderia voar. A plateia ficou siderada num respeitoso silêncio só quebrado por um participante que perguntou com ingenuidade por que razão o besouro voava, não podendo voar, ao que o professor Beetleson respondeu «o besouro voa por não saber que não pode voar».

Receio que o eleitorado ou, mais exactamente, os políticos e os partidos portugueses, a quem podemos explicar incansavelmente não haver razões políticas ou outras que impeçam a viabilidade de um governo minoritário, fazem como o besouro e, não sabendo ou não estando convencidos, derrubam o governo minoritário logo que daí imaginem extrair alguma vantagem. 

A razão é simples e para a compreender basta comparar a cultura (*) dos povos que habitam os Estados que conseguem manter governos minoritários estáveis com a cultura do Portugal dos Pequeninos.

(*) Cultura no sentido sociológico: «as línguas, costumes, crenças, regras, artes, conhecimento e identidades e memórias colectivas desenvolvidas por membros de todos os grupos sociais que tornam seus ambientes sociais significativos» (American Sociological Association). 

05/04/2024

Dúvidas (370) - Não será um poucochinho exagerado? (7) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6

Como se pode confirmar nos posts anteriores, o tema das patentes é um mais dos usados pelas figuras de cera e a comentadoria do regime, e evidentemente pelo jornalismo de causas, para exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e o correspondente sucesso, talvez só superado pelo futebol, tentando compensar o profundo complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

Vejam-se, por exemplo, os seguintes dois dos muito títulos exaltantes que se seguiram à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023: «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» (Público) e «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» (Observador). Se os títulos são exaltantes os textos não o são menos.

A realidade que os dados estatísticos objectivamente revelam nada tem de exaltante, se queremos adjectivar, deprimente seria mais adequado. Desde logo, porque os 329 pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a 0,38% e 0,17% do número total de pedidos dos 39 países do IPO e do número total de países, respectivamente. De seguida, porque o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes nos colocam no 38.º lugar do ranking (terceiro a contar do fim) dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.

Esquecendo que quem parte de um nível muito baixo, como Portugal, sempre pode progredir muito mais rapidamente do que quem já tem um nível elevado, ainda assim, o número de patentes portuguesas pedidas representava 0,07%  do total em 2014, cresceu para 0,15% em 2019 e desde então variou entre 0,14% e 0,17%. Se considerarmos apenas os pedidos de patentes que são aceites, o rácio de aceitação entre 2014 e 2023 nunca atingiu metade, e se o número de patentes aceites aumentou mais de 100% de 2022 para 2023, isso deveu-se ao número anormalmente baixo de 2022 que foi pouco mais de metade do de 2021.

Moral da estória: é difícil ter uma opinião pública esclarecida quando se tem uma opinião publicada (sim, o que se publica não são notícias) deste calibre.

04/04/2024

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (7)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6)

Outro post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante, recordando que os factos que fundamentam a demolição foram amplamente estudados e documentados no livro de Nuno Palma (NP) e nas dezenas de trabalhos de investigação que publicou (cfr o seu Research output).

Um mito com estatuto especial nas mentes com enviesamento ideológico à esquerda (sim, também há enviesamento ideológico à direita) é que a Primeira República foi um regime salvífico a todos os títulos (apesar da instabilidade social e da violência política quotidiana que, por inegáveis, exigiam uma ginástica olímpica aos "republicanos" para as justificar como resultante da "oposição") e salvífico em particular no esforço e nos resultados da "instrução pública".

Se, por benignidade, aceitarmos como salvífico o esforço que consistiu em aumentar a escolaridade obrigatória de 3 para 5 anos, mesmo com a mesma benignidade não se podem considerar salvíficos os resultados. De facto, a aplicação dessa medida nunca passou do papel porque a propaganda secularista que a acompanhou e a forma como foi adoptada entrou em choque com a cultura religiosa dominante. 

Por isso, a população analfabeta que era de 70% em 1911 quando I República caiu em 1926 era ainda de 62%. Em contraponto ao regime republicano "iluminista", o regime "fascista" conseguiu reduzir o analfabetismo para 42% em 1950.

(Continua)

03/04/2024

ARTIGO DEFUNTO: Fact-Checking the Fact Check

No dia 26 de Fevereiro, Passos Coelho num discurso de mais de 20 minutos no comício do Pontal referiu numa determinada altura citando o que tinha dito no mesmo local em 2016:

«Nós precisamos de ter um país aberto à emigração, mas cuidado precisamos também de ter um país seguro. Na altura o governo fez ouvidos moucos e na verdade hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento e prioridade que se deu a essas matérias.»

No dia seguinte o jornal Público publicou um fact check onde deixa implícita uma atitude negativa de Passos Coelho relativamente à imigração e verifica a veracidade de uma afirmação que ele manifestamente não fez.  


Ou seja o Fact Check do Público inventa o facto que diz pretender verificar. 

Como quer que seja, um mês e meio depois, um outro jornal publica uma peça citando dados estatísticos da Direção-Geral de Política de Justiça.


Veredicto: o Fact Check do Avante! da Sonae (epíteto agora confirmado, uma vez mais), pretendeu verificar a veracidade de um facto inventado usando um suposto facto que veio a verificar-se falso. Melhor é impossível.

02/04/2024

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (111b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 111a)

Take Another Plan. A maldição das EP

Deveria ser uma coisa evidente. Uma empresa pública com um accionista que se financia ilimitadamente por extorsão dos contribuintes e que nomeia dirigentes por critérios políticos só por milagre poderia ser eficiente e, se operar num mercado sujeito a concorrência, só conseguirá sobreviver à custa de subsídios. O caso da TAP só foi um pouco diferente porque durante décadas parte da concorrência era de “companhias de bandeira” que disfrutaram de condições excepcionais que hoje não existem.

Muito satisfeitos por terem apresentado lucros de 177 milhões em 2023, como se fosse extraordinário numa empresa que recebeu 3,2 mil milhões de subsídios que só em juros, se tivesse de se financiar no mercado, poupou 200 milhões por ano e ficou dispensada de margens para amortizar os 3,2 mil milhões, os dirigentes negociaram novos salários com os sindicatos e excederam em 120 milhões o limite resultante do rácio de 19% dos custos com pessoal, custos que cresceram de 417 milhões em 2022 para 723 milhões em 2023.

E o que ficou a TAP a valer depois lá terem sido torrados 3,2 mil milhões de dinheiro dos contribuintes?1,7 mil milhões segundo um analista citado pelo semanário de reverência.
  

«A educação é a nossa paixão»

mais liberdade

A queda da percentagem de alunos com melhores performances entre 2018 e 2022 é mais uma medida da degradação da qualidade do ensino comparativamente com a média da OCDE.

Desculpas de mau pagador

Perante a acusação de negligência na aprovação de medidas de que dependem os pagamentos ao abrigo do PRR pela CE o governo desculpou-se que está “em gestão”. O estar “em gestão” é quando o Dr. Costa lhe convém. Esteve “em gestão" para não negociar com os polícias, mas não para despejar um chuva de subsídios sobre os agricultores.

Reforçando o Estado sucial

O governo também deixou de estar “em gestão” para aprovar o recrutamento de mais 3.700 técnicos superiores que vão adicionar-se aos 90 mil que o Dr. Costa aumentou durante a sua estadia.

É prudente não deitar foguetes antes da festa

Foi muito celebrado pela imprensa do regime a subida de dois lugares no ranking do PIB per capita PPP devida a razões puramente conjunturais e entre elas o esforço de reequipamento militar que a Polónia e a Estónia, os dois países ultrapassados, estão a fazer para responder à ameaça russa.