Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

11/10/2024

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe? Sim, vamos (10) - A leveza insustentável do sistema público de pensões (VII)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8) e (9)

O diagrama acima parece significar que o sistema de segurança social do Portugal dos Pequeninos estaria com uma saúde de ferro e teria sustentabilidade garantida a longo prazo. Parece, mas não é. O nosso honroso quinto lugar não resulta da sustentabilidade e, pelo contrário, é mais um indicador que a sustentabilidade é insustentável naquilo que depende da criação de riqueza, já que a percentagem de 14,2% do PIB que as pensões representam significa que temos pouca margem para a aumentar.

Se a isso adicionarmos uma das demografias mais envelhecidas e uma das natalidades mais baixas na UE, dentro de uma década ou duas não teremos condições de financiar as pensões com as contribuições correntes e teremos de ir às reservas, isto é ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) que actualmente é suficiente para pagar apenas dois anos de pensões.

Os fundos de pensões na UE variam muito entre os países membros (os Países Baixos e Dinamarca têm fundos de pensões que representam mais de 200% do seu PIB) e em média representam cerca de 50% do PIB da UE. No caso português o FEFSS tem cerca de 34 mil milhões de euros ou cerca de 13% do PIB e o fundos privados de pensões estimam-se em torno dos 25 mil milhões, ou seja um total de menos de 60 milhões ou menos de 22% do PIB. 

A comparação com os outros países da UE é pouco animadora e passa a desesperante se compararmos com os EUA que em 2022, tinha um valor total dos fundos de pensão correspondente a cerca de 150% do PIB.

Em conclusão, os pensionistas presentes e sobretudo os pensionistas futuros da Óropa que se cuidem. Os de Portugal talvez já não vão a tempo.

10/10/2024

Dúvidas (342) - Títulos alternativos

No semanário de reverência do fim de semana passado a um artigo citando o parecer do Tribunal de Contas relativo à Conta Geral do Estado de 2023 o jornalista de causas em causa plantou-lhe o título

«Estado deu a 50 residentes não habituais ‘borla’ de €262 milhões no IRS do ano passado» 

Ora, em primeiro lugar, acontece que essa "borla" constitui uma espécie de evasão fiscal para os Estados de que são nacionais os "borlistas" que perdem centenas de milhões de impostos, dependendo das taxas que praticam.   

Por outro lado, aos residentes não habituais (RNH) é aplicável uma taxa de 20% aos rendimentos no estrangeiro declarados ao fisco português. Admitindo que sem esse benefício seria aplicável a taxa máxima de 48%, à "borla" de 262 milhões corresponderam em contas de merceeiro quase 200 milhões que o Estado português embolsou de IRS desses "borlistas".

A esses quase 200 milhões o Estado português nunca lhe teria posto a mão se não fosse o estatuto de RNH e como todos estes 50 "borlistas" só marginalmente serão beneficiários da despesa social (que custa em média cerca de 10 mil euros por pessoa/ano), podemos concluir que, apesar dos quase 200 milhões que pagam de IRS, os 50 "borlistas" "poupam" em despesa social meio milhão de euros.

Por isso, fica-me a dúvida se não seria mais adequado um dos seguintes títulos alternativos:  

  • «Estado português cúmplice da evasão fiscal de centenas de milhões por 50 residentes não habituais»
  • «Estado português esbulhou a 50 residentes não habituais quase €200 milhões do IRS do ano passado»

09/10/2024

The single market for financial services seen from Berlin

«(...) using a bank account opened in one EU country while living in another is surprisingly troublesome, even if both use the euro. In theory Europeans, like their American cousins, live in one large single market, free to contract services from business based anywhere in the bloc. In practice payment systems sometimes accept only cards issued by local banks—and good luck getting your Finnish bank to fund a Spanish mortgage. Finance is where the European ideal of a seamless union often falls shortest.

The limits of the European single market were sharply exposed this month as UniCredit, an Italian bank, has made moves to take over Commerzbank, a German rival. A proposed transaction that should have been of interest only to finance wonks—UniCredit and Commerzbank are the EU’s 10th- and 17th-biggest lenders, respectively—devolved into an ugly nationalist mêlée. Olaf Scholz, the German chancellor, took time out of his geopolitical agenda at United Nations meetings in New York to thunder against “hostile” Italian bankers on the prowl. Just two weeks ago the EU released a much-hyped report by Mario Draghi, a former Italian prime minister, proposing to juice economic growth in Europe by deepening its single market. A resounding nein has put paid to his plans before most people were done reading its 400 pages.

European chauvinism has long had a way of derailing businessmen’s best-laid takeover plans. In 2005 France fended off a bid for Danone, a yogurt-maker, on the grounds that it was strategically vital. But that would-be buyer was American. Surely takeovers by firms from other EU countries should be treated more sympathetically, the better to build European champions with the critical mass to compete globally? Apparently nicht. Because Commerzbank lends to Mittelstand firms and exporters, the German establishment has put it on an economic pedestal; some see it as a national treasure they would rather close down than hand over to grubby Italians. (This is rather amusing to finance aficionados—including your columnist, a former banking correspondent—who recall when the lender was dubbed “Comedybank”, thanks to its knack for losing money in a dazzling array of hare-brained lending decisions.) UniCredit’s stake was in part bought straight from the German authorities, who bailed out Commerzbank in 2008. In contrast UniCredit is well run and more profitable than its target, thanks in part to a German unit it already owns. (...)
»

08/10/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (28)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.


O Dr. Costa, o Dr. Caldeira Cabral, o Dr. Siza Vieira e o Dr. Costa e Silva são os maiores responsáveis pelo desastre da nacionalização da EFACEC. O primeiro emigrou para a Óropa, o segundo está feito mosquinha morta em repouso na ASF, o terceiro, que andou quatro anos a dizer todas as semanas que estava para breve a venda da EFACEC, faz humor negro e diz «demorou-se demasiado tempo a fazer a reprivatização da Efacec» e o quarto tem pensamentos delirantes como garantir que o Estado pode recuperar até 420 milhões.

Enquanto isso, o Tribunal de Contas estima que o impacto da nacionalização da EFACEC nas contas públicas pode atingir 564 milhões e, entre outras misérias, constatou que «a nacionalização foi impulsionada pelos gestores da empresa estando estes, em simultâneo, a promover a venda de ações no mercado».

«À justiça o que é da justiça»

Sendo certo que o escândalo Espírito Santo contamina todo o regime e poupa poucas das suas figuras de cera, o Partido Socialista, por via do seu antigo primeiro-ministro e secretário-geral José Animal Feroz Sócrates, é o mais contaminado e, compreensivelmente, não está nada interessado em julgamentos que ainda exponham mais o seu papel. É assim que, um a um, os crimes vão prescrevendo e os arguidos ilibados. A leva mais recente de prescrições extingue 11 crimes de infidelidade e de falsificação que envolviam sete acusados e em 2025 extinguir-se-ão mais 21 crimes.

Fazer do Banco de Portugal um púlpito promocional do governador é uma tradição do PS

Já aqui foi escrito que Dr. Constâncio, que foi governador do BdP duas vezes em 1985-1986 e 2000-2010, intercaladas com a liderança do PS em 1986-1989, foi um precursor do Dr. Centeno que saiu directamente do ministério das Finanças para o BdP e agora se promove e está a ser promovido a candidato pelo PS a Belém. Se tomarmos como indicador da promoção o número de referências na imprensa do regime ao Dr. Centeno, a propósito de tudo e mais alguma coisa, só nos últimos 30 dias chegamos a mais de 300 ou 10 por dia o que é uma enormidade num universo mediático pequenino como o do Portugal dos Pequeninos.

A metamorfose do Partido Socialista (*)

«A frase de Pedro Nuno Santos (“prefiro perder eleições a abdicar das convicções”) pode ser um infeliz deslize a meio caminho entre o machismo e a ingenuidade. Mas pode também ser, com mais probabilidade, o anúncio de novos tempos para o partido. De que se trata na verdade? O que são convicções, profundas ou não? O que são crenças inabaláveis? Estaremos a falar da democracia, da liberdade individual e da dignidade humana? Da recusa de violência, da solidariedade e da luta contra a pobreza? Ou falamos também de um escalão de impostos, de um subsídio de IRS e de uma ajudinha de IRC? Misturar umas e outras, dar-lhes a mesma dignidade significa perder de vista o essencial.

Mas tal não é gratuito. Pelo contrário, tem ar de ser uma declaração solene da natureza do novo PS. A gradual e inexorável transformação do Partido Socialista num Bloco de Esquerda “mais” é o que parece estar nas cartas. Pedro Nuno Santos, o secretário geral, afirmou-o convictamente, sem tremer nas palavras e calculando os efeitos. Ele quer construir fronteiras, elevar obstáculos e definir linhas dogmáticas. »

(*) Excerto de um artigo no Público de António Barreto

07/10/2024

Crónica de um Governo de Passagem (21)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Bom, no género mau

Há quem celebre a suposta habilidade do Dr. Montenegro, comparando-o até ao habilidoso Dr. Costa, por ter fintado S. Ex.ª o Palrador Mor na nomeação do PGR e, sobretudo, nas suas manobras orçamentais ter hipoteticamente entalado o Dr. Pedro Nuno e o Dr. Ventura, que não desejam eleições antecipadas que os penalizariam, obrigando o PS a escolher entre a abstenção e a aprovação e o Chega a escolher o que o PS não escolher. 

Sim, sempre será melhor ter um habilidoso hábil no governo do que um habilidoso inábil. Contudo, o que o país precisa é de políticos realistas e corajosos que façam as reformas necessárias, ou, mais exactamente, que façam as reformas que um eleitorado envelhecido e acomodado consegue suportar.

Os problemas do Estado sucial português resumem-se a falta de pessoal

Face a uma falha clamorosa do sistema prisional que deixou escapar cinco presos de uma cadeia de alta segurança, o governo toma as seguintes medidas: recruta 225 novos guardas prisionais, faz 205 promoções e recruta ainda 63 técnicos profissionais de reinserção social. Um governo do Dr. Costa não faria melhor.

Bombeiros incendiários

Mais de um milhar de bombeiros incendiaram pneus e lenha nas escadarias do parlamento numa cena insurrecional tipo PREC, reivindicando acertos salariais desde Janeiro prometidos pelo governo do Dr. Costa.

Gostava de estar enganado, mas receio que não

Suspeito que da garantia do Estado para a compra de habitação por jovens que, sabe-se agora, funciona logo ao primeiro incumprimento, resultem três efeitos indesejáveis: (1) a facilitação na avaliação do risco por parte dos bancos; (2) o incentivo à temeridade financeira por parte dos jovens e (3) uma aceleração do aumento dos preços por via de uma maior pressão da procura de habitação sem um aumento da oferta (ver o item seguinte).

Recordatória ao Dr. Montenegro: existe uma lei da oferta e da procura

mais liberdade

Se o Dr. Montenegro quer fazer diferente do Dr. Costa em matéria de habitação deveria actuar pelo lado da oferta, não a construir casinhas, negócio para o qual os governos não tem jeito nenhum, mas a remover obstáculos para a oferta, desde logo disponibilizando terrenos para a construção e simplificando e facilitando os processos de aprovação e licenciamento – convém lembrar que uma licença de construção e a aprovação de um projecto levam anos (a não ser que o promotor injecte lubrificante nas engrenagens).

06/10/2024

ARTIGO DEFUNTO: A vocação do Expresso é ser um tal & qual de referência


O título da peça sobre o Almirante das vacinas que montei provocatoriamente na imagem em cima da 1.ª página do tal & qual é do Expresso, auto-intitulado semanário de referência, e ficaria muito bem num pasquim.

Num semanário de referência teria ficado muito bem ter feito notícia em 2018 da venda pelo seu proprietário Imprensa ao Novo Banco por 24,2 milhões do edifício da sua sede em Carnaxide, avaliado em 16 milhões, para poder amortizar um empréstimo obrigacionista depois de ter falhado uma outra emissão de obrigações. Esse edifício foi de seguida objecto de um lease-back à Impresa, numa operação do Novo Banco, que à época já tinha como accionista o fundo Lone Star, com uma Impresa com dívidas de 179,2 milhões que ultrapassavam as receitas totais, operação obscura difícil de imaginar num banco à época ainda em recuperação que ficou com os restos do BES.

Como ficaria igualmente bem, ter sido noticiada a recompra no final de 2022 do mesmo edifício com um empréstimo hipotecário de 19,6 milhões do Novo Banco (ver notícia do Página 1). Destas operações só se encontra referência da venda no relatório e contas de 2018; no relatório e contas de 2022 não há qualquer informação sobre a recompra.

05/10/2024

Dúvidas (341) - O que está por detrás da decisão de continuar a usar a bitola ibérica? (2)

Continuação de (1)

Aparte as teorias da conspiração que não subscrevo, o artigo no Observador de Henrique Neto, que escreve regularmente sobre o tema, salienta uma vez mais o absurdo de justificar a bitola ibérica com mentiras, à falta de argumentos. Coloquei esta questão ao ChatGPT e obtive a seguinte resposta que confirma a falta de fundamento da história da carochinha do vice-presidente da empresa pública IP:

«A bitola ibérica (1.668 mm), utilizada tradicionalmente na rede ferroviária da Espanha e de Portugal, está passando por um processo de transformação significativa, com o governo espanhol priorizando cada vez mais a mudança para a bitola padrão europeia (1.435 mm). Essa transição faz parte de uma política de integração com o sistema ferroviário da União Europeia, com o objetivo de melhorar a conectividade internacional, facilitar o transporte de mercadorias e promover uma maior eficiência logística.

Intenções Futuras do Governo Espanhol em Relação à Bitola Ibérica

Conversão para Bitola Europeia: A principal intenção do governo espanhol é aumentar o uso da bitola padrão europeia, que facilita a interoperabilidade com as redes ferroviárias do resto da Europa. A expansão da rede de trens de alta velocidade (AVE) é um exemplo claro dessa tendência, pois todos os novos projetos de alta velocidade estão sendo construídos na bitola padrão europeia. Esse movimento visa melhorar as conexões internacionais, sobretudo com a França, permitindo trens de passageiros e de carga que possam cruzar as fronteiras sem a necessidade de ajustes nos eixos dos vagões.

Manutenção Parcial da Bitola Ibérica: Embora a tendência seja a transição para a bitola padrão, o governo pretende manter parte significativa da rede em bitola ibérica, especialmente para as linhas regionais e para algumas conexões de carga dentro da Península Ibérica. Isso se deve ao elevado custo e complexidade técnica de converter todas as linhas existentes e à necessidade de manter a conectividade local. As linhas regionais, que são muito importantes para a economia de regiões menos conectadas, continuarão operando em bitola ibérica por enquanto.

Adaptação Gradual e Sistemas de Bitola Variável: Outro aspecto importante das intenções do governo é o uso de tecnologia de bitola variável, que permite que alguns trens transitem tanto na bitola ibérica quanto na bitola padrão sem troca de eixos. A Espanha já possui trens com eixos ajustáveis e vários pontos de troca na fronteira com a França, e é provável que esse tipo de tecnologia continue sendo utilizado durante o período de transição.

Prioridade para o Transporte de Mercadorias: Uma das razões para a mudança gradual para a bitola europeia é o desejo de aumentar a competitividade do transporte ferroviário de mercadorias. Com a bitola europeia, o governo pretende facilitar o transporte internacional de carga, tornando-o uma alternativa viável ao transporte rodoviário, que domina atualmente a logística transfronteiriça. Essa integração busca diminuir os custos e o tempo de transporte, favorecendo as exportações e a logística em geral.

Conclusão

O governo espanhol parece decidido a avançar com a transição para a bitola europeia em novas linhas, principalmente aquelas de alta velocidade e de importância para o transporte internacional de mercadorias. No entanto, parte significativa da rede em bitola ibérica será mantida por razões econômicas e logísticas, e tecnologias de bitola variável serão usadas para garantir a continuidade do serviço durante o processo de transição. Assim, a Espanha está adotando uma estratégia híbrida, visando equilibrar a integração europeia e a manutenção de uma rede ferroviária eficiente dentro da Península Ibérica.»

04/10/2024

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia


Cito este pensamento atribuído a várias criaturas diferentes como um pretexto para ignorar comentários ocasionais que considero preguiçosos, preconceituosos e por vezes insultuosos a alguns posts publicados.

03/10/2024

Sem o turismo a economia do Portugal dos Pequeninos estaria em sérias dificuldades

 Em 2023, o Turismo gerou um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de 9,1% do VAB nacional em 2023 (8,6% em 2022) e estima-se que gerou um contributo total de 33,8 mil milhões de euros para o PIB em 2023 (12,7% do total e 12,1% em 2022). (*)  Este ano o crescimento do turismo continua a puxar pela economia como mostram os gráficos seguintes.

Expresso

Expresso

Em 2022 o peso percentual do Consumo do Turismo no Território Económico (CTTE) foi em Portugal de 15,5%, superior ao da Espanha (12,5%) e muito superior ao dos Países Baixos (9,6%) e da Áustria (6,9%), 

Não seria preciso mais do que a queda do turismo para os níveis de 2016, em que o VAB gerado pelo turismo em relação ao VAB nacional foi menos 4 pontos percentuais inferior ao de 2023, para a economia começasse a tropeçar. Basta comparar o PIB per capita (pc) português com o dos países onde o turismo tem um peso maior que é menos de metade dos Países Baixos e da Áustria, até mesmo a Espanha que tem um PIB pc 25% superior ao português. 

E não, não se trata de reduzir o turismo, trata-se fazer crescer a economia aumentando a produtividade. Como?, perguntareis e eu respondo: não fazendo a mesma coisa que os governos vêm fazendo, uns mais outros menos, há 50 anos (pelo menos).  

_______________

(*) «O VAB e o consumo do turismo no território económico reforçaram o seu peso relativo no total da economia, atingindo máximos históricos», INE, 1 de agosto de 2024, Conta Satélite do Turismo

02/10/2024

CASE STUDY: Um imenso Portugal (66) - O problema maior deles (e o nosso) é a mediocridade

Outros imensos Portugais

«Na verdade, tanto nos governos de Lula - sobretudo este Governo atual -, como no Governo de Bolsonaro, o que conduz o país é um casamento entre os interesses do rentismo financeiro, de um lado, e o "pobrismo", do outro. O "pobrismo" é a distribuição de esmolas aos pobres, à massa popular. E o rentismo é a rendição do Governo aos interesses financistas, nacionais e estrangeiros, na suposição inteiramente sem fundamento de que essa rendição aos interesses financeiro levará a um investimento e ao crescimento, e de que o que sobrará do crescimento poderá ser usado para pacificar a maioria popular. Isso nunca aconteceu. Nenhum país no mundo se desenvolveu com dinheiro dos outros ou pela rendição aos interesses financistas. Mas foi isso que tivemos no Brasil: o rentismo financeiro, o pobrismo - e o terceiro elemento são as guerras culturais da direita, que são a imagem inversa da política identitária da esquerda. Ou seja, duas maneiras de evadir dos problemas estruturais do país. O resultado de tudo isto é que, embora o Brasil seja um dos países mais desiguais na História da Humanidade, o nosso problema maior não é a desigualdade. O nosso problema maior é a mediocridade.»

Excerto da entrevista ao Expresso de Roberto Mangabeira Unger, brasileiro e professor de Harvard

01/10/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (27)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Apertado entre a espada da oposição interna e a parede de umas eleições que não deseja…

… o Dr. Pedro Nuno Santos resolveu desculpar-se com a alegada irredutibilidade do governo para negociar e fazer o que lhe deve ter parecido uma jogada de mestre - colocar o governo AD entre a espada de umas eleições que também não deseja e uma de duas paredes. 

Por um lado, a parede de um acordo com o Chega que levaria o Dr. Montenegro do “não é não” para o não é talvez, ou o que for preciso, e a parede do governo deixar cair duas medidas emblemáticas: o IRS Jovem que o Dr. Montenegro, em qualquer caso, deveria deixar cair, fingindo que era para tentar salvar o acordo, e a redução do IRC que provavelmente é a única medida que o PS tentará afastar e que o governo deveria tentar manter, em ambos os casos mesmo à custa de eleições antecipadas que nenhum deles deseja.

O BdP como rampa de lançamento para Belém

Escreve o jornalista António Costa que «Centeno tem de decidir o que quer», se quer ser candidato a um mandato de governador do BdP ou a presidente da República, como se o Dr. Centeno não soubesse perfeitamente o que quer, e com ele um bom número de figuras de cera do regime que gostavam de o sentar em Belém, como revelou o Observador.

30/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (20)

Navegando à bolina
(Continuação de 19)

Em matéria de peditório o Dr. Montenegro não fica atrás do Dr. Costa

Primeiro foi o anúncio pelo ministro da Agricultura de que o governo iria pedir “ajudas” a Bruxelas para compensar os agricultores afectados pelos incêndios. De seguida, o Dr. Montenegro deu a boa nova que Frau Von der Leyen autorizara a utilização de 500 milhões de euros do fundos de coesão.

A arimética incendiária do peditório

Henrique Pereira dos Santos (que sabe mais disto a dormir que eu acordado) estimou um valor de 100 euros por hectare de três em três anos como um ponto de partida razoável para assegurar a limpeza da floresta, ou seja 33 euros por ano/hectare. O custo total anual da limpeza da floresta de 3,2 milhões de hectares seria assim de cerca de 106 milhões de euros e, com este valor anual, os 500 milhões de euros do peditório dariam para financiar quase 5 anos de limpeza da floresta. É só fazer as contas, como disse o Sr. Eng. Guterres a propósito do PIB.

[Aditamento: seguindo a ideia de Mira Amaral, a acrescentar aos 33 euros por ano/hectare a pagar aos proprietários poderia somar-se o rendimento de venda dos resíduos florestais depositados em ecopontos florestais às centrais de biomassa que produziriam electricidade com tarifas subsidiadas justificadas pelas externalidades positivas] 

Contas certas sustentadas pelo saque fiscal

Graças a um aumento da carga fiscal de 34,4% no 1.º semestre do ano passado para 36% no mesmo período deste ano, apesar do aumento de 7,5% da despesa pública, o superavit no mesmo período aumentou de 1,1% para 1,2%.

Em matéria de demissões o Dr. Montenegro é uma sombra das performances do Dr. Costa

Escreve o semanário de reverência que este governo já fez 90 mudanças de quadros dirigentes, como se fosse um feito notável e não é. Segundo o mesmo semanário o Dr. Costa ao fim de três meses já tinha um score de 273 demissões.

O socialismo será alcançado quando o salário mínimo for igual ao salário médio

O governo AD também não quer fica atrás do governo socialista em matéria de salário mínimo e propõe-se obrigar as empresas a pagar um salário mínimo de 870 euros em 2025 e de 1.010 euros em 2028.
 
mais liberdade

Sabendo-se que quase todos os trabalhadores com salário mínimo estão nas micro e nas pequenas empresas, tal significaria que muitas delas poderiam ser inviáveis não fora a prodigiosa imaginação dos fura-vidas tugas que levará a que recorram ainda mais intensamente à economia paralela.

Este IRS não é para velhos

Parece que o governo não quer abrir mão do IRS Jovem medida que, além de ser pouco eficaz para reter os jovens profissionais como concluiu o FMI, constitui uma discriminação injusta e inconstitucional como defendeu o professor Xavier de Basto e, como Helena Garrido escreveu levaria os mais velhos a pagar quase quatro vezes mais de IRS.




29/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Omitir factos relevantes pode ser tão enganador como falsificar factos (2)

Há duas semanas mostrei no post anterior que, ao contrário do que o artigo do Jornal Eco insinuava, os professores portugueses são relativamente privilegiados no contexto dos salários portugueses.

Por coincidência, ou não, o site +Liberdade publicou alguns dias depois o diagrama seguinte.

mais liberdade

E o que mostra o diagrama? Do lado direito confirma que, de facto, os professores portugueses têm salários em paridades de poder de compra 17% mais baixos do que a média dos 38 países da OCDE  o que é normal visto que estamos a falar dos países mais ricos do mundo com PIB per capita  mais elevado.

O lado esquerdo do diagrama mostra que «os professores portugueses ganham cerca de 35% acima da média dos trabalhadores portugueses com formação superior. Na OCDE, em média, os professores ganham -12% que a média dos trabalhadores com ensino superior. Ou seja, em termos comparativos, face aos salários médios em cada país, os números revelam que a classe docente portuguesa é mais valorizada em termos de rendimentos que os professores de outros outros países». 

28/09/2024

Ser de esquerda é... (28) - ... é praticar a mentira de causas e, já agora, o humor de causas

A estória resumida é a seguinte (a estória completa está contada aqui pela deputada municipal Margarida Bentes Penedo): o executivo da câmara de Lisboa presidida pelo Dr. Medina abriu em 2016 um concurso para a colocação de painéis digitais publicitários cujo júri aprovou a proposta da JC Decaux, incluindo as localizações dos painéis que agora foram contestadas pelo Berloque de Esquerda. Por razões administrativas o contrato só foi assinado pelo actual executivo depois de aprovado em Setembro de 2022 por quase todos os vereadores, incluindo os do Berloque de Esquerda, cujas deputadas municipais Dr.ª Escaja e Dr.ª Teixeira na assembleia municipal do dia 17 acusaram o Eng. Moedas de mentir ao dizer a verdade sobre quem tinha decidido e aprovado as localizações.

Foi o suficiente para o agitprop esquerdalho iniciar o processo habitual propagando os seus factos alternativos pelos trombones dos jornalistas amigos que produziram umas dezenas de peças até que um artigo do Público repôs a verdade. Um dos trombones foi o humorista de causas Ricardo Araújo Pereira no domingo passado no seu programa da SIC, onde, além de reproduzir a mentira, já depois do referido artigo do Público, fez o seu número habitual de imitação da voz de falsete do Eng. Moedas.

Esta gente não tem emenda e sempre que lhes dá jeito mentem pelas suas "boas causas".

Outros "Ser de esquerda é..."

27/09/2024

Mitos (341) - O contrário do dogma do aquecimento global (XXXI) - Pero que las hay, las hay

Outros posts desta série

Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os outros – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.
______________

A revista Science acabou de publicar um interessante artigo («A 485-million-year history of Earth’s surface temperature») com os resultados de estimativas  por uma equipa de investigadores de universidades americanas e britânicas (Emily J. Judd da universidade do Arizona e seis outros investigadores) das temperaturas médias globais à superfície a partir de mais de 150 mil provas fósseis abrangendo um período de 485 milhões de anos. O estudo revelou que as temperaturas variaram muito mais do que até agora se pensava, como se pode ver no diagrama abaixo, e confirmaram o papel decisivo do dióxido de carbono nas mudanças de temperatura. 
 
[PhanDA designa o método adoptado no estudo para estimar as temperaturas médias globais à superfície
durante o éon Farenozóico que abrange a existência de vida na Terra] 

Não sendo esta a minha praia, remeto os interessados para a leitura do paper e apenas saliento que as conclusões evidenciam a falta de fundamento da tese implícita na dramatização mediática do aumento das temperaturas globais de que os terráqueos desde a Revolução Industrial estão a subverter uma suposta harmonia climática existente num passado idílico. Como confirmam «uma forte correlação entre o dióxido de carbono atmosférico (CO2) e as temperaturas médias globais à superfície, identificando o CO2 como o controlo dominante nas variações no clima global fanerozóico e sugerindo uma sensibilidade aparente do sistema terrestre de ~ 8 ° C» . Como ainda confirmam os aumentos das temperaturas de natureza antropogénica nos últimos 300 mil anos, que contudo não são significativos à escala do Fanerozóico e, segundo Emily J. Judd  em entrevista ao Washington Post, «mesmo nos piores cenários, o aquecimento provocado pelo homem não empurrará a Terra para além dos limites da habitabilidade».

De onde, me permito concluir que se, por um lado o estudo mostra que o histerismo climático não parece ter fundamento, por outro confirma que as mudanças climáticas estão de facto a ocorrer e, ainda que possam não ter as consequências que o histerismo climático trombeteia, têm consequências e seria inteligente fazer o que pudermos para mitigar os seus efeitos.

26/09/2024

CASE STUDY: A Madeira como região de culto (11) - O herdeiro do Bokassa das Ilhas

Sequela de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9) e (10)

O herdeiro (H. Monteiro)
Durante uns três anos e picos publiquei vários posts desta série dedicados à governação e à pessoa do Dr. Alberto João Jardim, a quem muito anos atrás o Dr. Jaime Gama prantou o cognome de Bokassa das Ilhas. Com a sua substituição pelo Dr. Miguel Albuquerque, uma figura aparentemente menos caricaturável, interrompi a série até que nos últimos tempos, em que se tornou mais notória a emergência do mesmo tipo de governação e de um estilo trauliteiro semelhante, senti um impulso incontornável para retomar a série, desta vez dedicada ao substituto do Dr. Jardim que, com o seu ar sofredor e postura vitimizada, fica muito longe do substituído.
   
O pretexto para retomar a série foi a louvável preocupação do Dr. Albuquerque que face aos oito apparatchiks detidos e às suspeitas que recaíram sobre os três membros do seu governo, se manifestou contra o recurso às denúncias anónimas que «só abre as portas ao populismo», populismo instalado há cinquenta anos na região pela mão do seu antecessor e agora continuado pela mão do sucessor. 

25/09/2024

The hypocrisy of Iranian revolutionary elites. First they chant death to West, then they go to West

«Growing up, Iran’s aghazadehs, the children of the elite, chanted death to America each morning at school. But as soon as they had finished their education, they set off in search of the American dream. Iran touts its pivot to Russia and China, but the aghazadehs of the Islamic Republic still want to go West.

Among them are close relatives of two of the front-runners in Iran’s presidential election on June 28th, Ali Larijani and Mohammad Qalibaf. They have settled in Britain and Canada. The supreme leader, Ayatollah Ali Khamenei, has several family members in Britain and France, including his nephew, Mahmoud Moradkhani. Grandchildren of the founder of the Islamic revolution, Ayatollah Ruhollah Khomeini, have settled in Canada. According to one outraged former minister, 5,000 aghazadehs live in America, the Great Satan, alone.

How many go to bury the regime and how many to praise it is hard to gauge. Mr Khamenei’s nephew calls for the death of his uncle. By contrast, Maasumeh Ebtekar, who was a spokesperson for the students who seized the American embassy in 1979, says she moved to Canada to lambast her enemy better (and her son went to America). Some fill Iran’s Islamic centres in Western capitals and spread the Islamic Republic’s teachings. Others allegedly bust sanctions, for instance by setting up gambling websites to launder money. Still more move in search of knowledge. Mr Larijani’s brother lectures in cyber-security at the Glasgow Caledonian University in Scotland. Most come simply for the opportunities they lack at home. Freed from their parents’ scrutiny, they post scenes of their sybaritic lifestyles online.

They may yet become an election issue. The Guardian Council, a quango of clerics and lawyers, will vet all 80-odd candidates. Mr Qalibaf has strong regime credentials. Related to Mr Khamenei, he has commanded the Islamic Revolutionary Guard Corps, and was the chief of police and parliament’s speaker. But he is dogged by stories that his son declared he had funds of $150,000 available to him in support of his application for permanent residency in Canada. (It was initially declined.)

The Paydari (or stability) Front, a bloc of religious hardliners with growing clout in Iran, cries betrayal. But it is far from immune, too. Its favourite cleric, Morteza Aqa-Tehrani, got a green card when he ran Iran’s Islamic centre in New York. If only, notes a wag in Tehran, any senior official with personal ties to the West could be barred. “They would have to disqualify our supreme leader, too.”»

The children of Iran’s revolution still want to go West 

24/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (26)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.


Há sete anos ainda não tinham arrefecido as cinzas do incêndio de Pedrógão Grande, o Dr. Costa anunciava «este é o momento» de se fazer uma «profunda reforma florestal». Dois meses depois, o governo anunciava mais uma reforma da floresta e criava com grande pompa e circunstância uma Estrutura de Missão para o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais presidida pelo Engenheiro Florestal Tiago Martins Oliveira, apresentado como o mago das florestas, que criou a Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais. Cinco anos depois, o Eng. Oliveira, poucos dias antes do início da temporada de incêndios em exibição em todos os canais, veio dizer-nos que «o problema dos incêndios não passa pela existência de mais meios de combate, mas pela gestão da propriedade florestal». That’s it.

Talvez receando que lhe lembrassem a falhada maior revolução da floresta desde D. Dinis, o Dr. Pedro Nuno manifestou-se surpreendentemente compreensivo: «Não vamos fazer o que o PSD fez em 2017. Não estamos a pedir a cabeça de nenhum ministro, como aconteceu em 2017».

Too much of a good thing could be a bad thing

Os possuidores de mentes unidimensionais dividem-se entre os que a consideram a imigração uma coisa boa e os que a consideram uma coisa má, tal como em relação ao vinho tinto. Se falássemos do vinho tinto poderíamos dizer que se está a beber cada vez mais e em 2023 o Portugal dos Pequeninos apanhou uma bebedeira.

Expresso

A bebedeira teve origem na alteração da lei da iniciativa socialista que permitiu aos cidadãos da CPLP titulares de vistos de curta duração ou que tenha entrado legalmente em Portugal requerer na AIMA autorização de residência, e permitiu a outros cidadãos «autorizações de residência para exercício de actividade profissional subordinada com dispensa de visto». O resultado foi a concessão em 2023 de mais de 320 mil vistos. Em cima desta imigração legal temos naturalmente a imigração ilegal que ninguém sabe quantificar.

A famiglia socialista é muito unida e tem muito jeito para o negócio

É frequente os profissionais que têm carreira quando enveredam pela política serem nomeados para cargos relacionados com essa carreira. No PS português o caminho é mais o inverso. Os políticos que tem uma carreira política quando saem do governo atravessam o deserto até ao próximo oásis montados num camelo que julgam ter apreendido a conduzir no seu cargo político. Foi o caso do Dr. Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente e Transição Climática, que lançou um negócio de consultoria sobre estratégias de sustentabilidade cujos putativos clientes suspeito virão do sector público.

Mostrando uma visão de longo prazo, o Dr. Cordeiro convidou para sócio o Dr. Tiago Centeno um jovem de 28 anos que, por feliz coincidência, é filho do Dr. Centeno, o Ronaldo das Finanças, agora a estagiar no BdP para, espera ele, vir a morar em Belém, para o que continua a trabalhar a sua imagem de amigo do povo que no BdP combate os falcões do BCE.

Escondido atrás da secretária

O depoimento na comissão parlamentar de inquérito da secretária do Dr. Lacerda Sales arruinou a cortina de fumo do ex-SE da Saúde sobre a sua intervenção no caso das gémeas brasileiras a quem foi atribuída com urgência nacionalidade portuguesa, seguida da administração de um medicamento milionário, à custa de uma cunha do Dr. Rebelo de Sousa Filho, com a prestimosa colaboração do Dr. Lacerda Sales.

23/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (19)

Navegando à bolina
(Continuação de 18)

A cabala incendiária. O costume

Na conferência de imprensa de terça-feira passada, o Dr. Montenegro resumiu aos «interesses» que «sobrevoam» os incêndios florestais as consequências de décadas de desertificação do interior, impotência ou desleixo dos que ficaram, negligência das autoridades, a começar pelo governo, da ausência de algo que se possa chamar gestão das florestas, das políticas erradas de combate aos incêndios florestais, de que resultou a acumulação de combustíveis que só esperavam por temperaturas muito altas, humidades muito baixas e ventos muito fortes para produzir incêndios devastadores, circunstâncias meteorológicas de ocorrência provável em qualquer Verão.

Nada disso foi novidade, porque é o costume. São atribuídas as responsabilidade umas vezes aos madeireiros, outras aos eucaliptos e às celuloses, e, sempre, aos pirómanos. Ninguém se dá ao trabalho de explicar porque os pirómanos actuam pouco no Alentejo, apesar das temperaturas muito altas, humidades muito baixas e por vezes ventos muito fortes.

A cabala incendiária. A novidade

Novidade foi a encenação do aparecimento dos incêndios numa reunião extraordinária do conselho de ministros que lhes foi dedicada com a presença insubstituível de S. Ex.ª o PR.

O orçamento. O costume

Continuam os jogos florais a pretexto do orçamento que ainda ninguém parece saber o que virá a ser, mas toda a gente tem uma opinião definitiva sobre a coisa. Uns que tem de ser aprovado, outros que não pode ser aprovado, e ainda outros que talvez se possa cozinhar qualquer coisa.

O orçamento. A novidade

A novidade é que a CE adoptou um novo indicador central para aprovar os orçamentos que é crescimento médio da despesa líquida (sem os juros da dívida), que não pode no mesmo período ultrapassar o crescimento potencial da economia, isto é o crescimento máximo estimado que a economia pode atingir sem criar tensões inflacionistas. E é aqui que a porca torce o rabo porque, segundo o Conselho das Finanças Públicas (CFP), o crescimento potencial da economia entre 2025 e 2028 não deve ultrapassar 3,6% e o crescimento nominal da despesa líquida será de 4,2%. Acresce que segundo o mesmo CFP a entrada em vigor do IRS Jovem levará ao défice orçamental em 2026 o que dá ao Dr. Pedro Nuno um excelente álibi para não o aprovar.

22/09/2024

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Viva a diferença!

Este post poderia ser e não é uma continuação deste outro

 «A afirmação de que as mulheres não devem ser discriminadas foi substituída pela ideia de que homens e mulheres são realmente iguais.

(...) ao confundir “fairness” [equidade ou justiça] com “sameness” [igualdade], muitas feministas têm defendido políticas públicas que forçam a igualdade, sem considerar as diferenças. Mas se as considerassem, percebiam que muitas situações interpretadas como discriminação ou injustiça resultam, na verdade, de homens e mulheres terem características diferentes e revelarem, por isso, interesses diferentes. Interesses diferentes, não capacidades diferentes, determinam escolhas diferentes – e, por essa razão, estabelecer, por princípio, a regra dos 50% na ocupação de lugares ou profissões, como muitas feministas fazem, é simplesmente arbitrário e contraprodutivo.»

Excerto, à laia de teaser de Os problemas da teoria da autodeterminação de Patrícia Fernandes

21/09/2024

Um dia como os outros na vida do Estado sucial (44) - A semana dos quatro dias

Como aqui constatámos, como quer que se meça a produtividade no Portugal dos Pequeninos ela é fraca, esse é um dos nossos maiores problemas e a produtividade total poderia aumentar se trabalhássemos mais horas, fazendo o contrário do que o pensamento económico milagroso nos está a sugerir que façamos: a semana dos quatro dias. Por isso, se há reformas que fazem falta no Portugal dos Pequeninos a semana de quatro dias não é seguramente uma delas.

Quando ao SNS, como tenho repetidamente referido na rubrica «Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro» das Crónicas dedicadas à governação socialista, sabendo-se que a despesa do SNS aumentou de 9,1 mil milhões em 2015 para 14 mil milhões em 2023 e o número de efectivos passou de 120 mil para 150 mil e, não obstante, o número de pessoas sem médico de família aumentou no mesmo período 700 mil e a resposta do SNS degradou-se, seremos obrigados a concluir que, se a semana de quatro dias não faz falta em nenhum sector, no caso da SNS seria um desastre anunciado a consumar a redução das 40 para as 35 horas que o Dr. Costa, o Dr. Centeno e o Dr. Marcelo nos garantiram que não teria impacto orçamental

É neste contexto que a conclusão dos coordenadores do projecto-piloto da semana de quatro dias de que testar semana de quatro dias no SNS «teria muito interesse» revela um lunatismo insanável só ultrapassado pela irresponsabilidade de quem inventou o projecto-piloto e os nomeou coordenadores.

20/09/2024

Portugal dos Pequeninos, por enquanto um velho rico face aos mais pobres, e um novo pobre face aos mais ricos

The world’s richest countries in 2024

O diagrama acima (de que já usámos os dados num post anterior) mostra-nos que a posição relativa de Portugal no PIB per capita, o indicador mais usado para comparar a prosperidade dos países, melhora substancialmente quando, em vez de ser calculado em dólares às taxas de câmbio vigentes, esse indicador é calculado a paridades do poder de compra ou seja tendo em conta os preços internos, e ainda mais quando se considera o produto por hora trabalhada.

mais liberdade

O segundo diagrama mostra os rankings de Portugal entre os países da União Europeia, em vez dos rankings mundiais, e dá-nos uma outra visão complementar ao mostrar que descemos seis lugares no ranking quando se compara a riqueza acumulada, isto é a riqueza produzida no passado, com riqueza produzida no ano evidenciando um declínio.

19/09/2024

A política industrial nas economias de mercado é um sucedâneo dos planos quinquenais nas economias soviéticas (2)

Continuação de (1)

Um dos exemplos mais recentes de políticas industriais lançadas por Joe Biden é o CHIPS Act de 2022 que prevê torrar US $50 mil milhões nos cinco anos seguintes para relançar a indústria de semicondutores. O sucesso não está garantido e é no mínimo duvidoso.

«Os semicondutores são o caso de teste mais importante para o renascimento da manufatura nos Estados Unidos. Nas últimas duas décadas, a maioria dos fabricantes de chips de computador deixaram a América. O país ainda tem investigadores  e designers de semicondutores de classe mundial, mas perdeu a força de trabalho que transforma wafers de silício em circuitos electrónicos em escala. (…)

Uma estimativa básica da Semiconductor Industry Association, é que até 2030 o sector de chips dos Estados Unidos enfrentará um défice de 67.000 técnicos, cientistas da computação e engenheiros, e cerca de 1,4 milhão desses trabalhadores em toda a economia. Compare-se isso com o total de cerca de 70.000 alunos que anualmente concluem a graduação em engenharia nos Estados Unidos, e a escala do défice torna-se visível. Seja qual for a lacuna exacta, ela marca a diferença entre fábricas funcionando em plena capacidade com os custos de mão de obra sob controle ou acabando afundadas em altos custos e baixa produtividade. (…)

As empresas de chips da América já estão configuradas para uma força de trabalho pequena, mas qualificada. À medida que mudaram a fabricação para o exterior, especializaram-se mais em casa, colocando a América no comando da indústria global. Qualcomm, Nvidia e outras tornaram-se líderes mundiais no desenvolvimento e design de chips avançados. Era uma divisão de trabalho altamente lucrativa.

Agora os Estados Unidos estão tentando retomar aos níveis mais baixos da indústria, reaprendendo habilidades básicas, como cortar wafers em chips e embalá-los em invólucros de plástico rígido. O imperativo político é a protecção contra a dependência excessiva da China. Para as empresas, há também uma lógica em diversificar as cadeias de logísticas e aproximar a manufatura das operações de pesquisa.»

18/09/2024

The Treason of the Intellectuals (5th and last forgotten part)

Continued from (1), (2), (3) and (4)

«The lesson of German history for American academia should by now be clear. In Germany, to use the legalistic language of 2023, “speech crossed into conduct.” The “final solution of the Jewish question” began as speech— to be precise, it began as lectures and monographs and scholarly articles. It began in the songs of student fraternities. With extraordinary speed after 1933, however, it crossed into conduct: first, systematic pseudo-legal discrimination and ultimately, a program of technocratic genocide. 

The Holocaust remains an exceptional historical crime—distinct from other acts of organized lethal violence directed against other minorities— precisely because it was perpetrated by a highly sophisticated nation-state that had within its borders the world’s finest universities. That is why American universities cannot regard antisemitism as just another expression of “hate,” no different from, say, Islamophobia—a neologism that should not be mentioned in the same breath. That is why Claudine Gay’s double standards—with their implication that African Americans are somehow more deserving of protection than Jews—are so indefensible. 

That is why rational minds recoil from her argument that antisemitism on the Harvard campus is tolerable so long as genocide is not being perpetrated.

Well, the backlash against our contemporary treason of the intellectuals has finally arrived.

Donors such as the chief executive of Apollo, Marc Rowan (a Penn graduate), Pershing Square founder Bill Ackman (Harvard), and Stone Ridge founder Ross Stevens (Penn) have each made clear that their support will no longer be forthcoming for institutions run in this fashion. 

On Saturday, Penn president Liz Magill stepped down, along with the chair of the Penn board of trustees, Scott Bok. Perhaps others will follow. 

Yet it will take a lot more than a few high-profile resignations to reform the culture of America’s elite universities. It is much too entrenched in multiple departments, all dominated by a tenured faculty, to say nothing of the armies of DEI and Title IX officers who seem, at some colleges, now to outnumber the undergraduates.

In La trahison des clercs, Julien Benda accused the intellectuals of his time of dabbling in “the racial passions, class passions, and national passions. . . owing to which men rise up against other men.” Today’s academic leaders would never recognize themselves as the heirs of those Benda condemned, insisting that they are on the left, whereas Benda’s targets were on the right. And yet, as Victor Klemperer came to understand after 1945, totalitarianism comes in two flavors, though the ingredients are the same. 

Only if the once-great American universities can reestablish—throughout their fabric—the separation of Wissenschaft from Politik can they be sure of avoiding the fate of Marburg and Königsberg.»

Last excerpt from The Treason of the Intellectuals, Niall Ferguson. The Free Press

17/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (25)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Take Another Plan. Estória da carochinha: de repente uma TAP sem dinheiro financia a sua compra

Pouco a pouco vão reemergindo informações soterradas pelo agitprop socialista agora claramente desencadeado para comprometer a indigitação de Maria Luís Albuquerque para comissária, atrapalhar o actual ministro das Infraestruturas e limpar a folha do anterior ministro das Infraestruturas e actual chefe socialista, um dos responsáveis pela renacionalização da TAP e por torrar mais de 3.000 milhões de euros.

Só para citar algumas referências publicadas recentemente que desmancham a estória da carochinha: Pedro Ávila (10-09) Maria João Marques (11-09), Observador (12-09), Observador (12-09), Henrique Pereira dos Santos (13-09). a que acrescento um post impertinente do ano passado que faz parte de uma imensa colecção que vimos publicando há anos.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

O Dr. Pedro Nuno da TAP agora ao leme do Partido Socialista, não esqueceu o aniversário do SNS e publicou uma mensagem celebrando «uma das nossas maiores vitórias enquanto democracia: um SNS que responde às necessidades de toda a população». Por modéstia, não salientou o papel do PS que aumentou a despesa do SNS de 9,1 mil milhões em 2015 para 14 mil milhões em 2023 e aumentou o número de efectivos de 120 mil para 150 mil e, não obstante, o número de pessoas sem médico de família aumentou no mesmo período 700 mil e a resposta do SNS degradou-se. Se isto não é uma obra notável, então não sei o que é notável.

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central». Lost in translation

Na última contagem após quatro anos de nacionalização da EFACEC, soube-se a semana passada que o total de perdas pode chegar aos 564 milhões e o Dr. Costa Silva antigo ministro da Economia teve um acesso de realismo moderado e reconheceu que «será muito difícil o Estado recuperar tudo», o que no patuá politiquês significa será fácil o Estado perder tudo e os contribuintes pagarem a factura das políticas socialistas e da incompetência dos apparatchiks.

O que é ontem verdade pode ser mentira hoje

Em 2016 o Tribunal de Contas presidido pelo Dr. Silva Caldeira (nomeado por um governo socialista) concluiu que a ANA foi concessionada à empresa que apresentou «a melhor proposta» no concurso público internacional, e que «a privatização cumpriu o seu objectivo principal: a redução da dívida pública maximizando o valor da venda»

Oito anos depois, o mesmo TdC, agora presidido pelo Dr. José Tavares, considera que «a privatização da ANA não salvaguardou o interesse público, por incumprimento dos seus objetivos».

No topo da Óropa, outra vez

mais liberdade

O Dr. Galamba anda a ler o (Im)pertinências ou teve uma epifania?

Nos últimos quatro anos o (Im)pertinências publicou vários posts dedicados ao tema «O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco a caminho». Surpreendentemente, ficámos agora a saber que o mesmo Dr. Galamba fez um «'mea culpa' por ter sido demasiado entusiasta do hidrogénio». Moral da estória: não devemos perder a esperança, mesmo nos piores casos, apesar de serem escassas e tardias as epifanias dos nossos governantes.

16/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (18)

Navegando à bolina
(Continuação de 17)

Talvez seja uma reforma

Há três meses o governo AD demitiu a presidente da Santa Casa da Misericórdia que depois de um ano no cargo descobriu que as receitas previstas no orçamento de 2024 eram fantasistas. Tinha sucedido a outro apparatchik socialista que torrou milhões para internacionalizar o jogo e acabou a internacionalizar os escândalos e as perdas. O novo presidente apresentou agora um plano que prevê várias medidas e entre elas a venda dos hospitais (incluindo o Hospital da Cruz Vermelha), venda de parte do património imobiliário (quase 700 imóveis em que só um quarto gera rendimentos), redução de mais de 200 apparatchiks, entre outras.

E por falar no Hospital da Cruz Vermelha, recordo que foi sempre uma quinta do PS. Falido e nacionalizado em 1998 pelo governo do Eng. Guterres, passaram por lá desde a Dr.ª Maria Barrosa, esposa do Dr. Soares, até ao Dr. Francisco Ramos, o coordenador da fracassada task force de vacinação. Falido, no final de 2020 a Santa Casa da Misericórdia comprou uma participação de 55% à Parpública depois desta lá torrar muitos milhões.

Boa Nova

O governo do Dr. Montenegro duplicou as promessas do Dr. Costa na oferta pública de habitação e anunciou que em vez das 26 mil casas até 2026, das quais só foram entregue 2 mil, e 10 mil já se sabe que não ficarão prontas a tempo para serem financiadas pela bazuca. Talvez pensando que o rigor do número aumentaria o rigor da promessa o Dr. Montenegro prometeu 58.993 casas. Segundo a Confederação da Construção e Imobiliário, para construir tantas casas serão precisos mais 80 emigrantes. O Dr. Ventura vai votar contra.

Os problemas do Estado sucial português resumem-se a falta de pessoal

a) Nas escolas

Em oito anos de governo do Dr. Costa o número de alunos no ensino não universitário reduziu-se de 1.716.155 em 2015 para 1.610.300 em 2023, o número de professores aumentou de 141.274 para 149.816, pelo que o número de alunos por professor passou de 12,1 para 10,7. Face a isto o que vai fazer o governo? Ora, o que haveria de ser? Vai recrutar mais professores.

b) Nas prisões

Em 2015 havia 121 mil detidos e 122 mil em 2022. A média de funcionários prisionais no período 2020-2022 era de 55 por 100 mil habitantes contra 58 na UE (dados Eurostat). O número de polícias por 100 mil habitantes em Portugal era mais de 40% superior à média da UE (veja-se a propósito a série de posts Vivemos num estado policial?). Face a isto, a que atribuir a fuga de cinco cadastrados? Ora, a que haveria de ser? A falta de efectivos (foi o que o jornalista pôs na boca do ministro que atribuiu a coisa a “desinvestimento”).

[Ninguém se lembrou de atribuir a causa adequada (como se diz em juridiquês) desta fuga em concreto à incompetência e desleixo dos dirigentes e do pessoal da prisão de Vale de Judeus]

15/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Omitir factos relevantes pode ser tão enganador como falsificar factos

Jornal Eco

É certo que «os salários dos docentes em Portugal em 2023 eram 9,4% inferiores à média dos salários registados nos 38 países da OCDE», facto que descontextualizado levará muitos leitores a concluir que os professores portugueses são uns desgraçadinhos. 

Conclusão completamente falsa quando se comparam os salários médios em Portugal com os dos 38 membros da OCDE e se constata que os salários dos trabalhadores em Portugal em 2022 eram 37,3% inferiores à média dos salários registados nos 38 países da OCDE, facto que no contexto significa que os professores portugueses são relativamente privilegiados face aos restantes trabalhadores.