Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

15/12/2024

Mitos (346) - Da produção de graduados não nasce o desenvolvimento (3)

Continuação dos posts Da produção de graduados não nasce o desenvolvimento (1) e (2).

Já depois de ter escrito o post As gerações "mais educadas de sempre" são das mais incompetentes da OCDE, lembrei de ter lido recentemente o artigo «Is India’s education system the root of its problems?» onde se compara o relativo sucesso das políticas educacionais da China com o relativo insucesso das políticas educacionais da Índia diferença que, entre outras causas, explica como partindo ambos os países em 1970 com um PIB per capita praticamente igual chegaram à actualidade com a China a ter um valor cinco vezes maior.

No início do século em ambos os países menos de 10% das crianças frequentavam a escola, a diferença é que a China a partir dos anos 50 deu prioridade a aumentar a escolaridade primária e secundária enquanto a Índia deu prioridade a criar universidades de nível elevado em vez de expandir o ensino primário. No início dos anos 80, mais de 90% das crianças chinesas frequentavam uma escola primária e menos de 2% frequentavam a universidade, contra 70% e 8% na Índia, respectivamente,

No final da década de 80 os níveis de iliteracia eram de 22% na China e de 60% na Índia e, no que respeita à universidade, a China tinha uma clara maioria de graduados em engenharia e tecnologia e a Índia em ciências sociais. Os resultados foram duas mãos-de-obra completamente diferentes: a chinesa preparada para uma migração da agricultura para a indústria progressivamente mais avançada e a indiana para os serviços e a burocracia.

Para nossa infelicidade, as políticas educacionais do Portugal dos Pequeninos estão mais próximas da indianas do que da chinesas, não pelos problemas de baixa escolaridade primária e secundária mas pela falta de qualidade do ensino nestes níveis. Tal como em Portugal, onde uma parte significativa dos graduados nas áreas de ciência e tecnologia têm de emigrar para ter emprego decente, na Índia dos 1,5 milhões estudantes de engenharia que se formarão este ano estima-se que apenas 10% consigam emprego no ano seguinte.

Sem comentários: