Seguindo a sugestão de um dos comentários ao post anterior vou fazer um breve escrutínio ao artigo Engenharia Aeroespacial: “As empresas não querem estar à espera dos alunos, estão a instalar-se cá para aceder aos nossos recursos humanos”, publicado no mesmo jornal na sequência do artigo anterior, com uma entrevista ao director do Departamento de Mecânica da FEUP, entrevista que se destina obviamente a promover o curso de Engenharia Aeroespacial, promoção a que o Expresso se presta con gusto.
Quem lê regularmente e com atenção meia dúzia de jornais, percebe sem dificuldade que um grande número de jornalistas se dedica a este jornalismo promocional que trata as matérias a promover com completa ausência de sentido crítico e rigor, desculpando-se com as boas intenções de promoção do que "está certo" ou "é bom", sobretudo quando ao mesmo tempo se exaltam os supostos feitos dos tugas.
Por falar em exaltação, temos a série de posts Portugueses no topo do mundo que lhe é dedicada, e acreditamos que emana da síndrome que Eduardo Lourenço descreveu como o estado de «permanente representação, tão obsessivo é neles (os portugueses) o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo».
No seu esforço promocional, o director do Departamento de Mecânica da FEUP «não tem dúvidas de que o espaço pode funcionar como alavanca da economia nacional e destaca alguns números auspiciosos. Temos cerca de 18.500 pessoas já a trabalhar neste ecossistema. Temos verbas geradas de um €1,72 mil milhões. Temos cerca de 30 institutos de investigação e laboratórios de investigação associados a este setor”».
Num país que tinha há três anos 119 observatórios, não ponho em dúvida que o ecossistema aeroespacial tenha 30 institutos de investigação e laboratórios. Ignorando, porém, o que sejam "verbas geradas" e supondo que a criatura se refere ao Valor Acrescentado Bruto (VAB), os €1,72 mil milhões são quase o triplo do VAB da indústria têxtil, mais do que o das telecomunicações e fariam do ecossistema Engenharia Aeroespacial o sector industrial com maior VAB. Se a coisa tem esta dimensão a solução para a economia portuguesa é simples: esqueçamos o calçado, esqueçamos a Auto-Europa e vamos todos para o aeroespaço.
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