Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/01/2009

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Vale e Azevedo, regressa. Estás perdoado.

«José Sócrates tem traços de personalidade semelhantes a João Vale e Azevedo: são ambos pessoas que acreditam com tanta força em certas inverdades (*) que as dizem com a maior convicção.»
José António Saraiva, Watergate à portuguesa, no Sol

(*) As palavras certas e inverdades não me foram tiradas da boca. Eu teria dito mentiras, simplesmente.

Information asymmetry

«If that isn't enough to get you in a gloomy mood, there is word that Wall Street companies paid out more than $18 billion in bonuses for 2008 to those masters of the universe that did more than any other group to drive the country's economy into the ditch. What is this? A youth soccer league where everybody gets a trophy?»
[MarketWatch e-Newsletter, WEEKLY ROUNDUP - JANUARY 30, 2009]

ESTÓRIA E MORAL: Uma espécie de OCDE, antes e depois

Estória

A OCDE de José Sócrates
Vista pelo PS, antes e depois


Moral
Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo.

[Inspirado neste post]

30/01/2009

A cada um a sua audiência

Nos poucos minutos que aguentei da comunicação de ontem de José Sócrates também me pareceu insólito o homem falar para os «senhores jornalistas». Depois também me lembrei que a política é para ele um show televisivo.

DIÁRIO DE BORDO: Ou mudo-me para a Guarda ou contrato o senhor engenheiro

Teorema do tratamento similar

Hipótese:
a) O senhor engenheiro Sócrates foi na vida real um projectista que assinou projectos;
b) A Câmara Municipal da Guarda dá a todos os projectos tratamento “similar”.
Tese:
«Os processos de Sócrates tiveram um tratamento “similar” a outros da mesma época.»

Demonstração:
«Acerca dos prazos de aprovação dos projectos de Sócrates, as datas apresentadas permitem concluir que, dos 22 localizados pelo PÚBLICO por amostragem, 16 foram aprovados em menos de um mês; desses houve nove aprovados em menos de dez dias e, destes, três em menos de três dias.»

q.e.d.

Corolário do teorema do tratamento similar
Ou mudo-me para a Guarda ou encarrego o senhor engenheiro do meu projecto.


DECLARAÇÃO DE INTERESSE:
Esperei 8 meses pela aprovação na câmara de Oeiras de um projecto de remodelação vulgar de lineu que, decorridos 9 meses da conclusão das obras e 7 meses da apresentação das telas finais ainda espera a aprovação destas últimas.
Por vulgar de lineu, quero significar que num raio de 1 km todas as criaturas que fizeram obras mais profundas optaram pelo processo Descomplex, não entregando um único papel à honorável câmara.

29/01/2009

A coisa não está tão má que não possa piorar - a crise em cartoons (8)

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Até agora é o único

Secção Assaults of thoughts

«Eu falhei, mas não tenho certeza se o Banco de Portugal tinha direito de convocar o conselho superior (do BPN). Mas eu acho que falhei.» (JN)

Disse o doutor António Marta, ex-vice-governador do BdP. Pela falha leva dois chateaubriands ou uma urraca e um pilatos (também ainda não tenho a certeza). Pela insólita, inesperada e discrepante confissão leva um afonso, com um bónus de dois pela originalidade.

Ao ministro anexo doutor Constâncio atribuo-lhe o plafond disponível de urracas e pilatos (e talvez também alguns ignóbeis - também ainda não tenho a certeza), pela inacção, pelo silêncio, pela cumplicidade e por nem o falhei ter sido capaz de assumir.

28/01/2009

À boleia do Freeport

Ou muito me engano, ou Dias Loureiro navega à boleia do caso Freeport, esperando que o esforço de obliteração que a máquina socrática já tem em marcha lhe permita um exercício de pactologia do bloco central que facilite o apagamento do caso BPN, caso onde Dias Loureiro está enterrado até às orelhas. Enquanto um tem perdas de memória outro toma conhecimento tardiamente.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Lapsos de memória

«Para começar, suponho que vi duas vezes José Sócrates com lapsos de memória. A primeira durante o caso da sua licenciatura: havia muita coisa sobre a sua relação com o ex-professor António José Morais de que Sócrates não se lembrava. A segunda, agora, nas primeiras intervenções públicas que fez sobre o Freeport. Sempre que vai ao Parlamento ou à televisão, o primeiro-ministro nunca se esquece de um número ou de uma estatística. Nas explicações que já deu sobre o Freeport, Sócrates repete várias vezes que "não se lembra" sobre como decorreram os contactos com as pessoas do Freeport e nada adianta sobre o papel do tio no processo.»
[A memória de Sócrates, Pedro Lomba no DE]

27/01/2009

SERVIÇO PÚBLICO: Dizer o indizível.

Wafa Sultan, uma psicóloga árabe-americana de Los Angeles, diz corajosamente o que a legião de seguidores do politicamente correcto não tem coragem nem de pensar.

Clique aqui para ver o vídeo.

[Enviado por JARF - surpreendentemente, para quem foi picado pelo mosquito do politicamente correcto]

25/01/2009

SERVIÇO PÚBLICO: Imperdível.

Imperdível série de posts «A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL» no Abrupto. Serviço público de grande qualidade.

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia.

No mundo civilizado existe a presunção de inocência e todos são considerados inocentes até serem julgados culpados. No nosso país existe a presunção de culpa e todos são considerados culpados, mas nunca serão julgados. Se por grande azar o forem, serão julgados inocentes.

E não poderiam trocar de lugar?

«Os ingleses querem saber para onde foi o dinheiro da Freeport; os portugueses estão interessados em descobrir de onde veio.» (Expresso)

24/01/2009

O maior cego é o que não consegue ler

Existem cerca de 163 mil invisuais em Portugal. Na passada 5.ª feira entrou em vigor a Lei n.º 33/2008, que obriga os «estabelecimentos de comércio misto» (comércio alimentar e não alimentar) a ter uma etiqueta por produto em braille, com pelo menos denominação e características principais e data de validade. As grandes superfícies ainda são obrigadas a «dispor de serviços de acompanhamento personalizado».

Existem cerca de um milhão de analfabetos em Portugal. A Lei n.º 33/2008 nada prevê em relação a eles.

BREIQUINGUE NIUZ: O salvador.

«O plano de salvamento da Qimonda, hoje (21 de Dezembro) anunciado, vai permitir manter os dois mil empregos em Portugal e reforçar a transferência de tecnologia para o país, considerou o ministro da Economia, Manuel Pinho.»

«A Qimonda entrou hoje (23 de Janeiro) em processo de falência.» (DE)

«O ministro da Economia, Manuel Pinho, disse hoje aos jornalistas que, se houver investidores privados, a fábrica da Qimonda em Vila do Conde pode ser salva.»

21/01/2009

SERVIÇO PÚBLICO: Decálogo do situacionismo, segundo JPP.

«Decálogo do situacionismo dos dias de hoje:

1) o governo do PS não é o ideal mas tem-se mostrado capaz de defrontar os problemas;

2) o Primeiro-ministro Sócrates é um "homem determinado", "faz coisas" e tem uma grande capacidade "comunicativa";

3) a crise que hoje conhecemos vem de fora (dos EUA, e dos "neo-liberais") e todos os nossos problemas actuais se lhe devem;»


Ler o resto no Abrupto.

A coisa não está tão má que não possa piorar - a crise em cartoons (5)



[Este cartoon carece de ser actualizado, substituindo o texano tóxico pelo Cristo Redentor]

20/01/2009

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Se eu tivesse lido a professora doutora também acharia que mija-cóltura.

Eu devia estar a escrever sobre a inauguração do Cristo Redentor, mas não estou. Não estou, primeiro porque só por excepção escrevo sobre coisas que aprovo ou criaturas que aprecio e, a verdade, confesso, é que, quanto mais os obamófilos ficam desiludidos (e ainda só agora estão a começar), mais aprecio o doutor Barack. Segundo, é que senti um impulso irreprimível ao ler este post do maradona que, não tarda, ele apagará, como é seu mau costume.

O impulso irreprimível foi gerado pela leitura do post linkado da professora doutora Bragança Buchholz, como lhe chama o maradona, que é um paradigma do produto das meninges das criaturas de quem se convencionou chamar intelectuais, quando tratam de fenómenos que não entendem (quase todos). É o nosso fado. Oitenta por cento (deve ser mais, mas digo oitenta por causa do Paretto) dos patrícios ou são analfabetos ou são intelectuais. E, para estes, os que não vivem na mesma caverna de Platão onde habitam são analfabetos em graus diversos.

Só para a estória, vou citar a maradona antes que ele apague o post (milagrosamente este trecho quase não tem os erros ortográficos e o vernáculo que o homem costuma semear com evidente prazer e o maior dos diletantismos).

«Na Madeira, um miúdo de 12 anos, com pai alcoolico e tal, mãe não sei a fazer o quê e irmãos por onde se imagina, aposta tudo no futebol e chega a melhor do mundo talvez na única abertura que a vida lhe deu, mas parece que, para a sensibilidade caga cesare paveses da professora doutora Sofia Bragança Buchholz, aos 23 anos Cristiano Ronaldo também tem que demonstrar um "raciocinio claro" numa entrevista na televisão com a Judite de Sousa em horário nobre, o mesmo local e a mesma entrevistadora onde os primeiros-ministros se explicam à nação antes das eleições. Não é a Judite de Sousa que tem que pensar quem é que convida ou não para aquele espaço, ou, se queria mesmo muito falar com o Cristiano Ronaldo, não é a Judite de Sousa que teria que imaginar o ambiente que melhor se adequaria ao entrevistado. Não, o Cristiano Ronaldo é que teria que dizer ao filho da puta que congemina a programação da RTP que se calhar era melhor fazerem uma entrevista onde se falasse de futebol, talvez até com pessoas que percebam alguma coisa do único universo que o convidado conhece. Cristiano Ronaldo, que traçou um caminho em idade que a menina Sofia Bragança Buchholz se calhar ainda nem pintava, e que desde aí nunca se distraiu um milímetro que fosse para longe da perfeição, teria que, a acrescer a isso, chegar aos 23 anos e também apresentar um, a passo a citar, "mínimo de eloquência", isto para que a frustração mija-cultura uns quantos energúmenos não tenham "pena do rapaz".»

Como temos vindo a dizer, é muito para um homem só.

«SHORTLY after midday on January 20th, Barack Obama will sit for the first time at the desk where the buck stops. The American presidency is always the world’s hardest and most consequential job, but it seems particularly so this month. A global recession of a severity not seen for perhaps 80 years; a new war in the Middle East and old ones in Africa; missions very far from accomplished in Iraq and Afghanistan; a prickly Russia and a rising China. These international challenges must jostle for the president’s attention alongside noisy domestic concerns like rocketing unemployment, the desperate need for a better health-care system, exploding deficits and failing cities. The burdens, surely, are too many for one man to bear.» (Renewing America, Jan 15th 2009, The Economist print edition]

19/01/2009

E porque não a poligamia? Por exemplo.

José Sócrates considera prioritário «o combate a todas as formas de discriminação e a remoção, na próxima legislatura, das barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo».

E as barreiras jurídicas à poligamia não são uma forma de discriminação? E, já agora (sugestão da minha única mulher), as barreiras jurídicas à poliandria não deveriam ser abolidas?

SERVIÇO PÚBLICO: O princípio de Kahn aplicado à Galp.

Comunicado de ontem da Galp fielmente reproduzido pela câmara de eco da Lusa e pelos jornais:

«No dia 17 de Janeiro, por volta das 21 horas, ocorreu um incêndio na fábrica de utilidades da refinaria de Sines que foi controlado com recurso aos meios de emergência internos do complexo industrial, sem quaisquer danos pessoais ou ambientais.
O incêndio foi circunscrito à referida fábrica de utilidades – uma central de produção de electricidade e de vapor que alimenta o complexo industrial da Galp Energia em Sines – não tendo afectado qualquer das unidades processuais da refinaria.
Após uma primeira avaliação, prevê-se que a refinaria permaneça em paragem por um período de até seis semanas, devendo reiniciar a sua actividade de forma gradual após esse prazo.»


Se este post de LR do Blasfémias é fundamentado (parece), o comunicado inócuo da Galp omite o essencial. A central de cogeração da refinaria de Sines foi totalmente destruída, o que poderá paralisar a produção entre 6 a 12 meses e 70% da produção de refinados ficará comprometida.

18/01/2009

ESTADO DE SÍTIO: O princípio de Kahn ou a banana socialista.

O engenheiro José Sócrates manifestamente abomina os factos desagradáveis da realidade da sua governação. Nega-os, a menos que possa atribuí-los aos governos antecedentes ou a uma crise externa. Nos últimos quase 14-catorze-14 anos a oposição só pode responder por menos de 4 (3 anos e 3 meses de José Barroso e 8 meses de Pedro Lopes) pelo que se torna cada mais difícil sacudir a água do capote. Se o senhor engenheiro continuar até 2013, será quase uma missão impossível, até para um mestre da arte da mistificação, responsabilizar a oposição pelas desgraças de 18 anos. Os próprios efeitos da crise podem já estar em 2013 demasiado mitigados para se lhes poder assacar a causa das nossas desgraças que já eram evidentes pelos menos desde 2000.

Por ser assim, é cada vez mais importante procurar modificar a aparência da realidade do país, na impossibilidade de transferir a sua responsabilidade para a oposição ou atribuí-las a uma qualquer crise. É aqui que se aplica o princípio de Kahn cuja aplicação se recomenda vivamente ao senhor engenheiro.

Como recordou recentemente a Economist, Alfred Kahn, um dos assessores económicos do presidente Carter, foi por este repreendido por ter-se referido publicamente em 1978 a uma possível depressão da economia americana. Na sua intervenção seguinte, Alfred Kahn disse que «we're in danger of having the worst banana in 45 years».

16/01/2009

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Pior a emenda do que o soneto.

Secção Tiros nos pés

Face ao anúncio da S&P ter colocado em vigilância com implicações negativas o rating de longo prazo da dívida pública, é difícil imaginar pior iniciativa do pior ministro das Finanças da Zona Euro do que ir bater à porta da S&P e falar com um subalterno «para tentar salvar imagem do país». Nem com a desculpa de estar em estado de necessidade face à pronta reacção dos mercados.

É difícil imaginar pior iniciativa mas não é impossível. A pior das piores é ter feito isso e ter mandado a central de manipulação enviar um manipulado para os jornais. Acreditará o doutor Teixeira dos Santos que a S&P, para quem a República Portuguesa é menos importante do que a Bayer ou qualquer outra multinacional de média dimensão (que lhes paga o serviço de rating), irá afectar irremediavelmente a sua já abalada credibilidade (depois dos triple A aos créditos subprime nas embalagens de luxo dos Special Purpose Vehicles), por causa da treta trombeteado para os jornais?

Para ser justo, e em defesa do doutor Teixeira dos Santos, talvez se deva concluir que sim, que acreditará. Poderá acreditar porque os seus mundos são o mundo da universidade portuguesa (uma excrecência medieval que sobreviveu até aos nossos dias), o mundo da função pública e o huis clos da pequena política à portuguesa.

Algumas acções alternativas que o ministro das Finanças poderia ter levado a cabo por ordem de preferência:

  1. Explicar ao primeiro-ministro que deveria mandar abater os elefantes brancos das obras públicas em que pretende torrar o crédito que não vai ter e começar a trabalhar num plano para reduzir a pantagruélica dívida pública
  2. Não fazer nada e ir jogar golfe com o ministro das Obras Públicas tentando vender-lhe a mesma ideia (não conseguiria nada, mas teria a oportunidade de fazer um hole in one)
  3. Mandar um lobbyist competente e incógnito a Londres oferecer umas luvas à equipa da S&P que acompanha Portugal
  4. Mandar um técnico competente, bem articulado e com inglês perfeito falar com essa equipa
  5. Viajar até Londres disfarçado e incógnito.
Por ter feito o pior possível e não ter consultado o (Im)pertinências e ouvido tão excelentes recomendações (as duas primeiras) leva o senhor ministro cinco chateaubriands.

DIÁRIO DE BORDO: O arcanjo São Miguel na Terra Prometida.

Por muito que saiba que Israel não é o paraíso na terra e a IDF não é uma legião de anjinhos, já não tenho pachorra para ouvir falar ou ler sobre os resultados das incursões do doutor Miguel Portas à Terra Prometida. Será que ele não arranja um tempinho para ir até Darfur? 300.000 vítimas e 2,7 milhões de deslocados desde 2003 e nem uma discursozinho, uma palavrinha, um apelo?

Até estou admirado por não o ver nesta maninfestação em Londres.

15/01/2009

A falência anunciada do estado social português (2)

Ainda não tinha secado a tinta deste post e já se faziam sentir os efeitos da Standard & Poors ter anunciado a vigilância com implicações negativas do rating de longo prazo da dívida pública portuguesa.

Os yields (no nosso caso são mais yells) das obrigações do tesouro a 10 anos aumentaram de 4% para 4,073% e os Credit Default Swaps sobre a dívida portuguesa aumentaram 13,5 pontos base.

A coisa não está tão má que não possa piorar - a crise em cartoons (3)


14/01/2009

A falência anunciada do estado social português

Face ao panorama do endividamento aqui descrito pelo Impertinente, é de esperar que o rating da República se vá degradando sucessivamente. Não é por isso surpreendente que a Standard & Poors tenha anunciado que colocou em vigilância com implicações negativas o rating de longo prazo da dívida pública significando que haverá proximamente uma degradação do rating (actualmente AA-) com as esperadas consequências no aumento do spread.

Igualmente em vigilância com implicações negativas foi colocado o rating de longo prazo da dívida da Caixa, por ser detida na totalidade pelo Estado português.

Imagine-se qual seria o rating das empresas públicas não financeiras, que segundo o Tribunal de Contas têm uma dívida total superior a 17 mil milhões, o que corresponde a cerca de 15% da dívida directa do Estado.

Para se estimar o endividamento total do Estado português é necessário adicionar a dívida das empresas públicas sem omitir as responsabilidades do Estado actuais e futuras por pensões, quer do regime geral (Segurança Social) quer da função pública (CGA). Estas responsabilidades, se quantificadas (deverão corresponder a vários múltiplos do PIB anual), demonstrariam a falência do estado social.

13/01/2009

SERVIÇO PÚBLICO: À atenção do Banco de Portugal (2)

[Episódio anterior (1)]

5 Ways to Reform the Embattled SEC

By Peter Galuszka

In the latest twist of the Bernie Madoff story, the House Financial Services Committee will question Securities & Exchange Commission officials Jan. 5 about how they missed Madoff’s huge pyramid scheme despite evidence of wrong-doing dating back more than a decade.

This is just another shoe to drop in what will prove a long, hard look at how the financial industry is regulated. The congressional probe is coming just two weeks before Barack Obama becomes president. With Democrats fully in charge of the White House and Congress, reform is in the wind.

And, not surprisingly, punditry is bursting out all over with reform advice about how the feds should regulate. Some of the key points include:

  • Beef up the SEC. While the number of SEC regulators has dropped from 1,338 to 1,192 from 2005 to 2007, the number of investment advisers has been up 50 percent since 2002. According to former SEC chairman Arthur Levitt Jr., this means that only about 10 pecent of investment advisers can expect to be examined once every three years. The SEC had created a special position to assess risk, but since 2005, it has been all but abandoned as has a goal of examining all investment advisers once every five years.
  • Close the revolving door. Many talented accountants and lawyers seek SEC jobs only to get their tickets punched so they can parlay federal experience to much higher-paying employment with the firms the SEC regulates. There should be a prohibition on such new employment for a specific period after an official leaves the SEC, according to Wall Street author Michael Lewis and fund manager David Einhorn.
  • Make sure the SEC understands its mission. Complaints are growing that the SEC, founded in 1934 to protect investors, sees its mission as protecting investment houses and managers, especially if they have political pull. Madoff, for instance, is accused of using the marriage between his niece and an SEC official to blunt probes.
  • Make sure the SEC has commisioners that are investors and not investment managers. Doing so would break the current trend of over-promoting self regulation as a panacea for investment wrong-doing.
  • Register all investment advisers and hedge fund managers. Broker dealers of a certain size should be regulated by the Public Company Accounting Oversight Board, created by Sarbanes-Oxley.
To be sure, there are other plenty of other recommendations such as dealing with credit ratings agencies taking money from the firms they rate and creating greater oversight of derivatives such as credit default swaps. But this list is a good place to start in dealing with the SEC regardless of whether it remains intact or is merged with other federal agencies. Expect reform moment to grow after Jan. 20.

[BNET Business Network]

NOTA: No nosso caso seria uma óptima medida fechar a revolving door do BdeP, por onde o ministro anexo e outros passaram diversas vezes nos dois sentidos e em várias direcções.

ARTIGO DEFUNTO: O Omnipresente.

Além de consabidamente omnipotente na governação e omnipalrante nas televisões, o senhor primeiro-ministro é também omnipresente nos jornais. A propósito de tudo e de nada, como por exemplo a propósito duma coisa quase inócua, mais apropriada à foto do chefe de gabinete do secretário de estado do Tesouro ou talvez melhor à foto do relações públicas da COSEC (por acaso uma seguradora privada, participada pelo BPI e a Euler Hermes), do que da foto de S. Exa., como são estas duas notícias do Diário Económico e do Jornal de Negócios, respectivamente.


A coisa é tão ridícula que só pode ter sido um manipulado (*) publicado por jornalistas esperançosos.

(*) Nova entrada do Glossário das Impertinências

12/01/2009

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Mais um nóbéle do chuto.

Secção Res ipsa loquitor

Cinco afonsos para o Crashtiano Ronaldo, um rapaz com talento e uma notável virilina que deveria ser um exemplo para milhares de bem-pensantes e outros ociosos que sonham com uma tença e não dão uma para a caixa.

Um direito adquirido já não se pode adquirir

No Glossário das Impertinências definem-se direitos adquiridos como os que «os seus detentores pretendem manter, essencialmente à custa dos que os não podem adquirir, por já terem sido adquiridos. Pertencem à categoria das chamadas conquistas de Abril e são as nossas vacas sagradas.»

A negociação da contratação colectiva dos funcionários públicos é o exemplo mais recente desta instituição social-corporativa. Há um amplo consenso (uma expressão em sindicalês que me admira ainda não ter sido usada neste caso) entre a FESAP e o STE que «férias, faltas, licenças e horários» se deverão manter para os actuais funcionários. A inevitável redução das regalias (outro consagrado termo do sindicalês que também me admira ainda não ter sido usado neste caso) que resultará do Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas, segundo os mesmos, deverá ser apenas aplicável aos novos funcionários contratados.

Independentemente de as regalias serem ou não razoavelmente aceitáveis no contexto contratual do país (não são), estamos perante um case study de reaccionarismo dos sindicatos dedicados a defender os interesses instalados e em absoluto indiferentes aos novos trabalhadores.

A notícia do Diário Económico, de tão confusa, reflecte, provavelmente, a correspondente confusão na mente da jornalista que não chega a perceber se a coisa é boa ou má e para quem e por isso escreve este título extraordinário: «Nova contratação colectiva no Estado privilegia novos funcionários públicos».

ARTIGO DEFUNTO: Se paro o bicho come, se corro o bicho pega.

A propósito do histerismo de alguns jornais (por exemplo o Correio de Manhã) a respeito das menos-valias das aplicações do Fundo de Estabilização Financeira (FEF), convém esclarecer alguns mal-entendidos resultantes da ignorância própria dos jornalistas ou da sua consciente manipulação da ignorância alheia.

A Segurança Social (SS) só não está sujeita à volatilidade dos mercados, seja o mercado de capitais, seja o mercado imobiliário, se adoptar um esquema puro pay-as-you-go em que as pensões do ano são pagas com as contribuições do ano. Com este esquema de distribuição, como existiu até à constituição do FEF, a SS é um esquema Ponzi puro e duro, uma Dona Branca travestida com um ar de respeitabilidade que estas coisas do estado napoleónico-estalinista têm para os portugueses que vivem numa relação de amor-ódio com o dito.

Se a SS adopta um esquema de capitalização, tem que constituir reservas e aplicá-las em activos. O mesmo acontece, a uma escala muito menor, quando as reservas só cobrem uma pequena parte das responsabilidades futuras, como é o caso do Fundo de Estabilização Financeira (FEF) que com os seus 8 mil milhões chegará apenas para pagar pensões alguns anos (poucos). Essas reservas podem valorizar-se (como até agora 2007) ou desvalorizar-se (como em 2008). Tal risco não existiria num regime comunista com preços administrativos fixados pelo ministério do planeamento, que seria a solução ideal, não fora uns pequenos inconvenientes que com os gémeos separados à nascença das Alemanhas Oriental e Ocidental e as Coreias Norte e Sul ficaram mas fáceis de perceber.

A propósito do esquema Ponzi, convém lembrar um facto quase sempre esquecido da génese do endividamento da economia portuguesa - o problema mais grave que vamos ter que enfrentar nos próximos anos. O endividamento resulta, como La Palice diria, das dívidas contraídas por particulares, empresas, banca (para financiar o crédito) e o Estado. Devido à poupança interna evanescente (e à redução progressiva das remessas de emigrantes), o endividamento passou a fazer-se cada vez mais com recurso a empréstimos externos e, por isso, a dívida externa tem vindo a crescer dramaticamente.

A queda da poupança, que se acentuou nos últimos 20 anos e sobretudo desde a introdução do Euro, já vinha do final da década de 60. Com a mudança do regime de capitalização da SS para o de distribuição, a parte das contribuições para a SS destinada a cobrir as responsabilidades por pensões futuras, que até aí constituía poupança compulsiva, deixou de ser investida e passou a financiar o pagamento das pensões do ano. Os saldos positivos até à constituição do FEF foram despejados no OE e torrados nos salários dos utentes da vaca marsupial pública, etc. Com a constituição de FEF em 1989, pelo menos ficou estancado o desvario de usar os saldos da SS para pagar despesas correntes.

Em conclusão, a opção por um regime de capitalização, o único que pode proporcionar os meios financeiros para pagar as pensões no futuro, implica correr o risco da volatilidade dos mercados, com melhor ou pior asset-liability matching e melhor ou pior asset management.

Sobre o tema do endividamento ver o post de ontem «País em vias de subdesenvolvimento».

11/01/2009

A coisa não está tão má que não possa piorar - a crise em cartoons (2)

SERVIÇO PÚBLICO: País em vias de subdesenvolvimento.

Primeiro tivemos uma dezena de anos de estagnação da produtividade,


enquanto distribuímos o que não produzimos,


e nos fomos endividando. O Estado deu o exemplo.

e os «privados» não ficaram atrás. Juntos, estenderam as mãos ávidas ao dinheiro estúpido a preços estúpidos que a Óropa se prontificou a emprestar-nos.


Estamos agora bastante bem colocados para pagar o preço elevado da preguiça e da asneira.


FONTES:

  • PIB por hora trabalhada em 2006 - Relatório do Sector Segurador e Fundos de Pensões, ISP, 2007
  • Estado subprime - O Insurgente
  • Different strokes, Wages of Sin - Demonstrably durable, Dec 30th 2008, The Economist print edition
  • Dívida externa portuguesa, caderno Confidencial do Sol

09/01/2009

ARTIGO DEFUNTO: Senhor Regulador não os deixeis cair em tentação.

«A crise financeira que nos vai contagiando resultou não apenas da convicção de que os mercados se auto-regulariam, mas também de uma espiral imparável de avidez e ganância», conclui o jornalista António José Teixeira no seu artigo «Colher antes de plantar» no Diário Económico de hoje.

A fé dos convictos «de que os mercados se auto-regulariam» não parece muito sólida se nos lembrarmos que uma das causas da pletora de crédito que está na origem da crise foi o dinheiro estupidamente barato resultante da intervenção constante do FED regulando as taxas de juro.

Quanto à «espiral imparável de avidez e ganância», das duas, uma: ou AJT acredita no altruísmo intrínseco e inabalável dos agora ávidos e gananciosos, e então precisa explicar porque se deixaram cair em tentação durante a última década, ou AJT acredita que os suspeitos do costume são intrinsecamente ávidos e gananciosos e, nesse caso, precisa explicar porquê na década anterior a espiral de avidez e ganância não foi imparável.

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Plus ça change.


[Recordado por JB]

08/01/2009

Não há almoços de borla

O Japão (aqui citado pelo Insurgente) que estabeleceu em Abril de 2008 uma linha de cintura máxima de 33,5 polegadas (85 cm) para os homens e 35,4 polegadas (90 cm) para as mulheres entre os 40 e os 74 anos, é apenas um precursor do que serão as políticas de saúde pública do futuro nos países onde o serviço nacional de saúde é «tendencialmente gratuito», ou seja tendencialmente caro e indiscriminadamente pago. Excedidos aqueles limites, os «utentes» japoneses com doenças relacionadas com o excesso de peso terão que se submeter a uma dieta no caso de não perderem peso no prazo de 3 meses.

Se queremos um serviço de saúde «tendencialmente gratuito» é quase inevitável que os «utentes» (nestas coisas não há clientes) o utilizem sem restrições, o que conduz a um crescimento descontrolado e ilimitado das despesas de saúde porque nenhum «utente» tem incentivo para limitar os cuidados gratuitos, muitos «utentes» por ignorância, negligência ou desinteresse cultivam estilos de vida insalubres ou correm riscos graves (*), os médicos não têm nenhum incentivo para entrarem em conflito com os utentes e os controlos burocráticos são absolutamente ineficazes, como a experiência tem mostrado abundantemente.

É por isso que a prescrição da linha de cintura máxima no Japão é apenas a antecipação do futuro - a menos que estejamos dispostos a prescindir do SNS «tendencialmente gratuito».

(*) Um exemplo clássico é o da SIDA. Os custos de tratamento, que se prolongam por uma vida inteira, de certos grupos de maior risco, como os dependentes de droga e os homossexuais, têm um peso crescente nas despesas de saúde e cada um deles é equivalente a centenas de nascimentos de futuros «utentes» que irão pagar os custos do serviço «tendencialmente gratuito».

DIÁRIO DE BORDO: Quando pensava que tinha passado a época.

Lembro-me do meu avô me contar estórias de comerciantes e industriais falidos que se suicidavam. Na época não havia gestores, nem empresários. Só havia sócios capitalistas e sócios gerentes.

Quando pensava que já ninguém se suicidava por não poder enfrentar os credores, a família ou ambos, chegam-me as notícias de dois suicidas que já eram célebres antes do suicídio. No Natal, René-Thierry Magon de la Villehuchet, cujos antepassados emprestaram dinheiro ao Rei Sol, cortou os pulsos no seu escritório em NY depois de verificar que a maior parte da sua fortuna se tinha evaporado nas mãos de Bernard Madoff. No Dia de Reis, Adolf Merckle atirou-se para a linha de comboios. Tinha perdido uma fortuna ao comprar acções da VW no pico das cotações (nos dias seguintes à Porsche ter comprado um volumoso lote) que agora valem apenas uma fracção do que lhe tinham custado.

É a selecção natural a funcionar ao contrário (só morrem os que têm vergonha).

07/01/2009

ESTADO DE SÍTIO: Ficámos a saber o que já sabíamos.

Na conferência de imprensa de apresentação do Boletim de Inverno (do nosso descontentamento), o doutor Constâncio, ministro anexo em comissão de serviço no BdP, desaconselhou as reduções de impostos por não lhe «parecem adequadas visto que as medidas que são necessárias devem ser temporárias» e serem (as reduções de impostos) «muito difíceis de reverter no futuro».

Ficámos a saber que o doutor Constâncio defende a manutenção da carga fiscal e, consequentemente, é um adversário da redução do peso do aparelho do estado napoleónico-estalinista.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (16) Estava escrito no Corão

[Episódios anteriores (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) , (13), (14), (15)]

Ayman al-Zawahiri, o CEO da al Qaeda, numa alocução por rádio, dirigida aos muçulmanos em Gaza, responsabilizou Barack Obama (o que «mata os seus irmãos e irmãs em Gaza») e Hosni Mubarak (o «traidor») pela violência (CNN).

NOTA:
al-Zawahiri não se pode incluir no grupo dos obamófilos desiludidos - é mais do clã dos sem ilusões.

06/01/2009

Com a verdade me enganas - a melhor do ano (até agora)

«José Sócrates é convincente, mesmo quando está a mentir»

[Ouvido por João Miranda no Prós & Contras]

Se esta observação for objectivamente correcta ficamos perante a seguinte alternativa: Sócrates é um mentiroso consumado ou Sócrates acredita em patranhas.

SERVIÇO PÚBLICO: À atenção do Banco de Portugal.

SEC: We're looking at internal contacts with Madoff

Documents held by staffers in alleged Ponzi scheme are due Jan. 16
By Ronald D. Orol, MarketWatch
Last update: 2:18 p.m. EST Jan. 5, 2009 WASHINGTON (MarketWatch)


The Securities and Exchange Commission is at work investigating how it missed an alleged $50 billion Ponzi scheme operated by investment manager Bernard Madoff, according to the agency's inspector general.
"We have also begun identifying the particular issues that need to be investigated, and are reviewing and updating daily the list of witnesses that we plan to interview," David Kotz told lawmakers and others on Monday at a House securities subcommittee hearing.
In his testimony, Kotz said that he's requesting documents related to Madoff from both the agency's enforcement division and its compliance and inspection unit by Jan. 16. The inspector general added that he has begun efforts to obtain additional resources for the investigation, including more office space.

The agency's technology division also was ordered to hold emails of SEC staffers and contractors.
In addition to reviewing complaints about Madoff, the inspector general's office is examining SEC staff contacts with the investor, and whether there were any conflicts of interest between agency officials and managers at the investment vehicle, Kotz said.
Madoff, who was arrested in December and charged with securities fraud, oversaw a fund that managed capital for high net-worth individuals, hedge funds, banks and other institutions. Many high-profile figures, including economist Henry Kaufman and actor Kevin Bacon, are reported to have lost money in the alleged Ponzi scheme.
Kotz was instructed by SEC Chairman Christopher Cox on Dec. 16 to investigate how the SEC's compliance, inspections and examinations division handled criticism of the fund that it has received over the years.


Ronald D. Orol is a MarketWatch reporter, based in Washington.


[MarketWatch e-Newsletter]

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O capitalismo continua dentro de momentos.

The Quarterly: To what extent is today’s financial crisis different from earlier ones?

Richard Foster: The granddaddy of cycles in this economy is the equity premium, which is the difference between the longer-term total returns to shareholders and the supposedly risk-free debt rate. It is the premium the equity investor gets for taking the equity risk. Looking back, we can see seven great cycles. During the boom times, when the equity premium goes way too high, everybody hocks everything to get in on the game, and this creates the conditions for a crash. When the crash occurs, the politicians come in and say it was this or that person’s fault. Then they create regulatory institutions, and virtually every one of those institutions—starting with the Federal Reserve, in 1913, as a result of the crash of 1907—has been quite productive for the nation in the longer term. This includes the formation of the Securities and Exchange Commission, in 1934; the Investment Company Act, in 1940; the beginning of the end of fixed commission rates in 1970; and the Sarbanes–Oxley Act, in the early 2000s.

The Quarterly: What happens in the aftermath of the new regulations?

Richard Foster: What do self-respecting entrepreneurs do when subjected to new regulations? They learn the regulations backward and forward and then vow never to start another business that falls within the scope of those regulations. And so off the entrepreneur goes to find a new way. That’s one reason credit default swaps eventually took the form they did—the other options were regulated.

The new entrepreneur often seeks ways to innovate outside the scope of the newly established regulations. In the beginning, all that works out fine. We have innovations, we love the people who created them, they’re great heroes, the returns are strong, everybody says, “I’m going to be one of those guys.” Eventually, all the truly good guys who are going to get into that business have done so. The opportunity starts drawing less savory figures—charlatans who overmarket, cut corners, establish usurious contracts, and do other clever things to generate profit for themselves. They end up bringing the system down. Then guess what happens? At the end of that period, after the equity premium has soared and collapsed again, the government steps in and regulates the systems, this time focusing on the last wave of abuse. And then we start over.

We were getting somewhat better at handling these cycles until 2000, but since then we’ve gotten worse. The collapse of 2008 isn’t like the crash of 1929, because we have the institutions that were created in the last century, and they are very effective. Understanding the differences between the ’30s and today is at least as important as understanding the similarities.


[Creative destruction and the financial crisis: An interview with Richard Foster, The McKinsey Quartely]

05/01/2009

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (15) Demasiado humano.

[Episódios anteriores (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) , (13), (14)]

«Bill Richardson, nomeado para secretário do Comércio da próxima Administração, renunciou hoje ao cargo devido a uma investigação às alegadas ligações entre os negócios atribuídos pelo seu estado a uma empresa e as contribuições desta para comités políticos ligados ao governador. ... um inquérito federal está a averiguar acusações de que o executivo de Richardson deu lucrativos contratos à empresa CDR Financial Products por causa dos contributos desta para dois comités de acção política ligados ao governador. Os contratos de consultadoria, no valor de 1,4 milhões de dólares, foram atribuídos em 2004.» (Público)

É possível que Bill Richardson esteja inocente. Não é disso que se trata. Trata-se de, aos olhos dos obamófilos, Santo Obama, sendo portador duma omnisciência quase divina, não poderia em circunstância alguma ter nomeado um político com a reputação seriamente posta em dúvida por uma investigação em curso. Isto são coisas normais no texano tóxico, mas difíceis de compreender no Apóstolo da Esperança e da Mudança.

HAMAS: If innocent Israelis are killed – good. If innocent Palestinians are killed – even better.

By: Amos Oz
December 26, 2008

The systematic bombing of the citizens in Israel’s towns and cities is a war crime and a crime against humanity. The State of Israel must defend its citizens. It is obvious to everyone that the Israeli government does not wish to enter Gaza; the government would rather continue the ceasefire that Hamas violated and finally revoked. But the suffering of the citizens surrounding Gaza cannot go on.

The reluctance to enter Gaza stems not from indecisiveness but from well knowing that Hamas is actually eager to cause Israel to embark on a military operation: If dozens or even hundreds of Palestinian civilians, women and children are killed in an Israeli action, radicalism would gain strength in Gaza, Abu Mazen’s rule in the West Bank might collapse, and Hamas extremists could replace him.

The Arab world will rally together around the atrocious sights that Al-Jazeera will air from Gaza, and the world court of public opinion will rush to accuse Israel of war crimes. This is the same court of public opinion that remains unmoved by the systematic bombing of population centers in Israel.

Massive pressure will be exerted on Israel to restrain itself. No such pressure will be placed on Hamas because there is no one to pressure them, and there is almost nothing left with which to pressure them. Israel is a country; Hamas is a gang.

What remains for us to do? The best thing for Israel is to achieve a total ceasefire in exchange for alleviating the blockade of Gaza. If Hamas insists on refusing the ceasefire and continues bombing Israeli citizens, we must take care lest the military action play into Hamas’ hands. Hamas’ calculation is simple, cynical and evil: If innocent Israelis are killed – good. If innocent Palestinians are killed – even better. Israel must act wisely against this stance, and not out of the heat of the moment.

04/01/2009

ARTIGO DEFUNTO: E pur non si muove.

Um dos jornalistas de causas favoritos do (Im)pertinências é Nicolau Santos. Ele não se limita a dar-nos notícias. Ele nem sequer nos dá notícias. Ele não se limita a fazer análises. Ele nem sequer faz análises. O doutor Nicolau Santos na sua coluna do caderno de Economia do Expresso faz «Cem por Cento» de apologias, pratica o jornalismo apologético que é uma variedade do jornalismo de causas.

No seu artigo de princípio de ano, profeticamente intitulado «Êxito em 2008, receita para 2009», Nicolau Santos numa vertigem apologética celebra o crescimento da despesa pública e privada em investigação e desenvolvimento (I&D) que em 2007 foi 1,18% do PIB, ultrapassando a Itália e próximo da Espanha e da Irlanda. Cita com visível entusiamo vários outros indicadores, como o n.º de investigadores por mil activos (5) que quase alcança a média europeia, ou o número de dourorandos (1.500) e bolsas de doutoramento (2.000).

Lamento não estar possuído da mesma fé e, à falta dela, lembraria aos crentes que com o mesmo argumentário se poderiam celebrar os sucessos do ensino: a percentagem do PIB que lhe dedicamos pede meças a quase todos os países europeus e o n.º de professores por mil alunos bate todos os recordes. E, no entanto, os resultados do ensino são deploráveis (ver, por exemplo, o relatório PISA 2006). Como são medíocres os resultados da I&D, quer produção científica quer patentes. É esse o panorama que os gráficos seguintes tornam evidente.



(Fonte: Nota Técnica Research Metrics nº 5, Porto, 28Jun08, Centro de Química da Universidade do Porto)

Porquê o jornalismo de causas se ocupa a polir a supostamente abalada auto-estima doméstica, em vez de relatar factos e nos dar um retrato realista? Ora, que pergunta. Porque o jornalismo de causas é praticado pelos jornalistas de causas, militantes da comunicação apostados em nos trazer ao colo e inculcar a doutrina do trânsito inevitável para o «progresso» que, se ainda não chegou, é por falta de suficiente Estado comandado por um governo suficientemente «progressista».

03/01/2009

ARTIGO DEFUNTO: Sol aos quadradinhos (2)

A semana passada o Sol escreveu «o presidente da República (iria) levantar objecções ao orçamento de estado». Seria isto uma notícia? Só se o doutor Cavaco ou um porta-voz autorizado tivesse confidenciado ao jornalista a sua intenção. Como não parece ter sido o caso, das duas, uma: ou o Sol se deitou a adivinhar espreitando o córtex pré-frontal do presidente ou o Sol teve acesso à informação por vias não autorizadas. Por exemplo, o jornalista soube pela prima da empregada de limpeza de Belém que ouviu o doutor Cavaco gritar no seu gabinete «vou-me a eles».

Em qualquer dos casos, a coisa seria opinião sob a forma de adivinhação. Seria. Seria para uma criatura comum, mas não para o Sol que no seu mea culpa desta semana lhe chama «antecipação das notícias». Que esta actividade délfica, na melhor hipótese, ou ficcional, na pior, seja confundida com notícia dá a medida do grau de desconserto a que chegaram os jornais.

DIÁRIO DE BORDO: O mundo de Lilliput e Blefuscu (4)


Larva do crustáceo de águas profundas do género Sergeste fotografada com uma ampliação 30x por Solvin Zankl. Ficou em 20.º lugar no concurso de microfotografia Nikon Small World.

02/01/2009

O paciente ainda não morreu da doença mas pode vir a morrer da cura (3)

Na sequência do que se escreveu aqui e aqui, convém acrescentar que no nosso caso, mesmo não podendo José Sócrates pôr a rotativa a trabalhar, se já tínhamos problemas suficientes com o endividamento, vamos agravá-los com o mergulho das taxas Euribor e as mega-obras que o governo se propõe fazer.

Segundo as Contas nacionais trimestrais por sector institucional - 3.º Trimestre de 2008 publicadas pelo INE no passado dia 31 , a poupança bruta continua a cair para as percentagens mais baixas dos últimos 10 anos.


E, como seria de esperar, as necessidades líquidas de financiamento da economia portuguesa crescem vigorosamente.


Imagine-se o que serão as necessidades líquidas de financiamento depois das SCUT, do novo aeroporto, do TGV, da 3.ª travessia. Ou, sejamos optimistas, o que seriam - se o governo conseguisse financiamento para torrar nos elefantes brancos.

01/01/2009

ESTADO DE SÍTIO: Saiu-lhe a sorte grande. (4)

[Episódios anteriores: (1), (2), (3)]

«O doutor Cavaco arrisca-se a ter que engolir mais um sapo - o segundo duma muito provável longa sucessão», escreveu-se no episódio (3), a propósito do estatuto dos Açores. Não apenas engoliu esse como, de seguida, engoliu o do OE 2009, apesar dos recados que estranhamente, para quem cuida tanto do sigilo, se esgueiraram pelas frestas das janelas de Belém para os jornais.

Sem ter tempo para respirar, o doutor Cavaco, engoliu ontem o último do ano, o decreto que regulamenta a avaliação de professores, uma criatura inclassificável, que resultou das operações plásticas a um monstro inviável inspiradas pela FENPROF.

É claro que, como se escreveu nos episódios anteriores, há algum mérito na manobra do engenheiro Sócrates que, alavancando as circunstâncias a seu favor, acantonou o doutor Cavaco. Mas também há muita falta de jeito do PR na condução destes dossiês, particularmente no caso do estatuto dos Açores onde se deixou enredar numa teia que incluiu o partido que o apoiou, apesar de estar carregado de razão pela flagrante inconstitucionalidade e o absurdo da AR se ter auto-imposto menores poderes de revisão do estatuto do que da constituição da República. Confirmou essa falta de jeito ao fazer uma comunicação com termos tais que deveria terminar com o anúncio da dissolução da AR e terminou com umas queixinhas que só lhe diminuem a autoridade já bastante fragilizada.

Com tudo isto, só pode confirmar-se o veredicto: saiu a sorte grande ao engenheiro Sócrates, cuja maior preocupação parece agora residir no Gato Fedorento.

[Leio no Abrupto a respeito do presidente «tivemos e ainda vamos ter mais» (em 2008 e 2009). Costumo dar bastante crédito às previsões de JPP, mas não a esta. Nem concordo com o «tivemos», pelas razões que refiro nos episódios anteriores e neste]

O paciente ainda não morreu da doença mas pode vir a morrer da cura (2)

Por diversas vezes (a última das quais aqui) se tocou no (Im)pertinências o tema do risco de atacar a falta de liquidez com uma política monetária agressiva, nos EU como na UE, a mesma política que os EU, sob os auspícios de Greenspan, praticaram durante uma década para fintar os vários episódios de recessão. Chegámos aonde chegámos a cavalo do dinheiro estupidamente barato resultante dessa política e, claro, da sua abundância resultante da aplicação dos superavit do comércio externo chinês e dos fundos soberanos árabes.

Ao utilizar até ao limite a medicina que concorreu para a doença, as taxas de juro a aproximam-se de zero e empurram-nos para a «armadilha da liquidez» sobre qual escreveu Krugman há dez anos, a propósito do Japão (quando ainda não era um blogger agit-prop). Como política alternativa ou complementar poderá invocar-se o keynesiano de pacotilha e enveredar por obras públicas à pressão, com a limitação dum período longo necessário para investimentos significativos, período dificilmente compatível com a urgência das medidas. E, adicionalmente, suportando as consequências do aumento dum endividamento já elevado e os custos financeiros daí resultantes. Por isso, os EU já puseram a rotativa a funcionar para afogar com dinheiro fresco a falta de liquidez. Pelo caminho fica a política fiscal que, para ter efeitos significativos, seria dificilmente compatível com a abordagem keynesiana sem um aumento explosivo do défice orçamental.

Salvo o pensamento liberal principalmente blogosférico (chamemos-lhe assim, para simplificar), a economia mainstream não se tem mostrado muito preocupada com estas terapias. Com pouquíssimas excepções, como a de Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, que escreveu no OJE um artigo sugestivamente intitulado «A próxima bolha».

Nesse artigo Cristina Casalinho alerta para o «que poderá constituir uma nova bolha: subida sustentada e generalizada dos preços: ou seja, caminhamos para a bolha final. No seu rebentamento, arriscamo-nos a ter sempre de enfrentar ritmos de crescimento baixos. Está-se a abrir a porta a uma solução radical, que depois da década de 70 se jurou não voltaria a ser adoptada.»