Face ao anúncio da S&P ter colocado em vigilância com implicações negativas o rating de longo prazo da dívida pública, é difícil imaginar pior iniciativa do pior ministro das Finanças da Zona Euro do que ir bater à porta da S&P e falar com um subalterno «para tentar salvar imagem do país». Nem com a desculpa de estar em estado de necessidade face à pronta reacção dos mercados.
É difícil imaginar pior iniciativa mas não é impossível. A pior das piores é ter feito isso e ter mandado a central de manipulação enviar um manipulado para os jornais. Acreditará o doutor Teixeira dos Santos que a S&P, para quem a República Portuguesa é menos importante do que a Bayer ou qualquer outra multinacional de média dimensão (que lhes paga o serviço de rating), irá afectar irremediavelmente a sua já abalada credibilidade (depois dos triple A aos créditos subprime nas embalagens de luxo dos Special Purpose Vehicles), por causa da treta trombeteado para os jornais?
Para ser justo, e em defesa do doutor Teixeira dos Santos, talvez se deva concluir que sim, que acreditará. Poderá acreditar porque os seus mundos são o mundo da universidade portuguesa (uma excrecência medieval que sobreviveu até aos nossos dias), o mundo da função pública e o huis clos da pequena política à portuguesa.
Algumas acções alternativas que o ministro das Finanças poderia ter levado a cabo por ordem de preferência:
- Explicar ao primeiro-ministro que deveria mandar abater os elefantes brancos das obras públicas em que pretende torrar o crédito que não vai ter e começar a trabalhar num plano para reduzir a pantagruélica dívida pública
- Não fazer nada e ir jogar golfe com o ministro das Obras Públicas tentando vender-lhe a mesma ideia (não conseguiria nada, mas teria a oportunidade de fazer um hole in one)
- Mandar um lobbyist competente e incógnito a Londres oferecer umas luvas à equipa da S&P que acompanha Portugal
- Mandar um técnico competente, bem articulado e com inglês perfeito falar com essa equipa
- Viajar até Londres disfarçado e incógnito.
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