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09/05/2024

Dúvidas (372) - O que move o Dr. Ventura ao pretender limitar o direito de expressão do Dr. Marcelo, um notório picareta falante?

É pouco frequente escrever sobre o Chega ou o seu líder Dr. Ventura, principalmente porque as minhas críticas iriam acrescentar-se, ainda que por razões e pressupostos muito diferentes, à enxurrada que o jornalismo de causas e a comentadoria do regime lhe dedica, ou mesmo, para os distraídos, confundir-se com essa enxurrada.

Abro mais uma excepção para comentar a iniciativa aprovada ontem pelo grupo parlamentar do Chega de apresentar uma queixa-crime contra o Dr. Marcelo "por traição à Pátria", fundada no facto deste último ter defendido as reparações às ex-colónias num jantar com jornalistas estrangeiros. 

Sobre o fundo da questão não vou agora discorrer porque em várias ocasiões (por exemplo aqui ou aqui) já disse o que tinha a dizer, como disse sobre o Dr. Marcelo, em quem não votei. O que pretendo salientar é que, por muitos disparates que o Dr. Marcelo produza e nem mesmo pelo exercício deplorável dos seus dois mandatos, exercício que faz dele um dos piores presidentes da República, se não mesmo o pior, ele não perde a liberdade de os exprimir.

Pretender inventar um crime de expressão que obviamente não existe (por enquanto), como sabe muito bem o Dr. Ventura, pode ter dois propósitos, ambos para mim preocupantes, não pelos efeitos que são com toda a probabilidade inócuos, mas pelo que isso pode indiciar: ou bem se pretende intimidar a criatura, ou bem se pretende excitar os piores sentimentos da turba num exercício demagógico tão ao gosto do Dr. Ventura. Em ambos os casos, isso revela tiques totalitários de mau prenúncio.

3 comentários:

Afonso de Portugal disse...

«O que pretendo salientar é que, por muitos disparates que o Dr. Marcelo produza»

É aqui que o (Im)Pertinente falha clamorosamente: não são disparates, o Marcelo sabe muito bem o que está a dizer e porque é que o que está a dizer. E o (Im)Pertinente, como leitor do Chris Rufo e conhecedor das exigências de “reparação” pelo passado colonial de Portugal, também sabe perfeitamente que isto não pode ser encarado de ânimo leve.
Ou será que o (Im)Pertinente está disposto a desembolsar?...


«ele não perde a liberdade de os exprimir.»

Claro que não perde, mas a liberdade de expressão tem limites e consequências. Ainda ontem mandaram o neonazi Mário Machado novamente para a prisão por causa de uma piada de mau gosto. As pessoas não podem dizer tudo e mais alguma coisa, não podem apelar à violência nem difamar. Ou o (Im)Pertinente acharia bem que eu lhe chamasse ladrão não sendo o (Im)Pertinente ladrão?

É que é precisamente isso que o Marcelo fez, ele chamou implicitamente criminosos a todos os portugueses, quando nós não somos criminosos! E, anda mais grave do que isso, imputou-nos uma dívida que não temos!


«Pretender inventar um crime de expressão que obviamente não existe (por enquanto)»

Não é um “crime de expressão”, é um crime de traição à Pátria. Advogar a delapidação do património financeiro dos portugueses em nome de crimes que nunca cometemos é, entre muitas outras coisas, trair-nos. O crime de traição à Pátria e está previsto no Código Penal e no Código de Justiça Militar. O Código Penal, no artigo 308.º, estabelece que comete o crime de traição à pátria “aquele que, por meio de usurpação ou abuso de funções de soberania”, “tentar separar da Mãe-Pátria ou entregar a país estrangeiro ou submeter à soberania estrangeira todo o território português ou parte dele” ou “ofender ou puser em perigo a independência do país”.


«ou bem se pretende intimidar a criatura»

Tal como o Estado intimida as pessoas que, como eu, falam contra a imigração? Não, não se trata de intimidar, trata-se de responsabilizar quem quer dar o nosso dinheiro a terceiros. Tão simples quanto isso!


«ou bem se pretende excitar os piores sentimentos da turba num exercício demagógico tão ao gosto do Dr. Ventura»

Proteger o nosso dinheiro é “demagógico”? O (Im)Pertinente está disposto a desembolsar para dar aos brasileiros e a outros parasitas da CPLP?


«isso revela tiques totalitários de mau prenúncio.»

Já obrigar pessoas que nem sequer tinham nascido à data dos supostos abusos a pagar por crimes que nunca cometeram - e que nem sequer eram considerados crimes nessa época – e dar o seu dinheiro pessoas que não sofreram esses crimes deve ser muito democrático, não?

O (Im)Pertinente, tal como a generalidade dos “liberais” da IL (escrevo entre aspas porque vocês só são liberais quando vos convém) continua a querer ter o sol na eira e a chuva no nabal. Por um lado, não quer wokices, mas por outro lado não quer responsabilizar os wokistas pelas suas wokices. O problema é que as pessoas só mudam de registo quando são castigadas. E o (Im)Pertinente já tem idade mais do que suficiente para entender isso…

A questão fundamental aqui é determinar se as declarações do Marcelo ultrapassaram ou não os limites da liberdade de expressão. Eu entendo que ultrapassaram, claramente. O (Im)Pertinente até pode achar que não, mas isto está longe de ser consensual. E, não sendo consensual, é natural que haja quem avance com uma queixa-crime. As acções judiciais também fazem parte da democracia, por muito que o (Im)Pertinente não goste delas. Ou melhor, o (Im)Pertinente até gosta delas, mas só quando o visado se chama Donald Trump...

Anónimo disse...

Cumprimentos ao Afonso de Portugal.
E um profundo voto para que volte a pôr em pé o Totalitarismo Universalista, nem que seja para efeitos de arquivo.

Quanto ao senhor deste blogue, continua frouxo e com muito medinho, como sempre, acrescentando-se agora uma súbita e conveniente ignorância que o leva a utilizar termos cujo significado parece ter esquecido como "demagógicos" e "totalitários", usados exactamente como a turba da luggenpresse que ele tanto critica quer que sejam empregues.
Já só falta os curriqueiros "populista" e "inorgânico".

Haja paciência. E um bem haja para o Afonso de Portugal.
Carrega Ventura!

Cumprimentos,
IRF

Afonso de Portugal disse...

Bons olhos o leiam, IRF!

Em primeiro lugar, peço desculpa por não ter respondido a um comentário que o caro IRF me deixou há uns meses atrás. Na altura vi esse comentário, mas os meus afazeres imediatos fizeram com que eu não pudesse responder rapidamente... e depois acabei por me esquecer de o fazer. Imperdoável! Peço desculpa novamente!

Não vai ser fácil fazer regressar o TU, porque à luz da nova versão do Artigo 240.º, muito do que lá escrevi passou a ser ilegal. Esse é outro problema de permitirmos que os socialistas (des)governem - permitirmos no sentido de elegermos, não vá alguém acusar-me de ser 'facho' e de os querer prender a todos -, eles vão diminuindo cada vez mais aquilo que nos é permitido dizer ou escrever.

Tem havido várias pessoas a pedir-me pelo regresso do TU, algo que eu não estava à espera, uma vez que o blogue tinha pouca audiência. Mas, perante tanta insistência, começo a ponderar restabelecê-lo… terei, no entanto, de tomar algumas precauções primeiro.

O caro IRF talvez já não se lembre, mas todo o Blogger chegou a ser blacklisted pela Google durante cerca de duas horas e meia na sequência do ataque de um hacker ao TU. Essa foi, aliás, uma das razões que me levou a encerrar o blogue. A Google não oferece ao Blogger as mesmas condições de segurança que oferece a outras plataformas, como o Gmail e o YouTube. Muitas das subaplicações do Blogger têm graves falhas de segurança, que permitem fazer alterações directamente no código-fonte.

No caso do TU, o tal hacker conseguiu aceder aos menus de acesso às páginas do blogue e subverteu os links que aí se encontravam, redireccionando os leitores para outra página, na qual, eu imagino, ele registava os endereços de IP dos visitantes. Quando eu descobri acabei imediatamente com esses menus, mas percebi que poderia haver muitos mais problemas no futuro, e senti que tinha o dever de me proteger não apenas a mim, mas a todos os que acediam ao TU.

Portanto, não excluo reactivar o blogue, mas terá de ser numa versão “fofinha” e muito politicamente correcta, cabendo aos leitores ler nas entrelinhas.

Quanto ao (Im)Pertinente, o diagnóstico do IRF parece-me absolutamente certeiro, infelizmente. A maior virtude dele é a liberdade que concede aos comentadores deste espaço. O seu maior defeito, o que o seu apego à liberdade parece depender fortemente da pessoa a quem a liberdade está a ser negada. Por exemplo, eu posso estar enganado, mas não me recordo do (Im)Pertinente ter dito nada quando o André Ventura foi condenado por “difamar” aquela “família” do bairro da Jamaica.

Cumprimentos! Gosto em lê-lo novamente, caro IRF!