Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

02/07/2019

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe? Sim, vamos (2)


De volta a um tema recorrente no (Im)pertinências, com posts semeados ao longo dos últimos 15 anos - por exemplo esteesteeste ou este mais recente -, desta vez a propósito dos protestos do mês passado na Holanda, cujos transportes públicos paralisaram com uma greve de 24 horas.

Protestos contra o corte previsto para Janeiro do próximo ano das pensões dos reformados - não, não são futuros reformados, são dos já reformados - e aumento da idade da reforma de 66 para 67 anos. Note-se que o sistema de segurança social holandês proporciona pensões em média de 2/3 do último salário, é considerado um dos mais generosos mas também um dos mais sustentáveis em todo o mundo.

A sustentabilidade do sistema holandês é garantida por fundos de pensões do segundo pilar (complementares do sistema público) cujos activos duplicaram nos últimos dez anos e atingem agora 1,4 biliões de euros, o equivalente a duas vezes o PIB holandês ou sete vezes o PIB português. Esses fundos que ainda são de benefício definido, ou seja garantem o pagamento de uma pensão fixa, a partir do próxima ano serão de contribuição definida e pagarão as pensões que resultarem dos seus rendimentos. (fonte: «Clock ticks louder as Netherlands’ pension crisis intensifies»)

Em contraponto, como o estudo sobre a Segurança Social da Fundação Francisco Manuel dos Santos tornou patente, a sustentabilidade do sistema de benefício definido da segurança social portuguesa está ameaçada. Os fundos privados têm um peso pouco significativo e o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, mesmo depois das vacas gordas dos últimos anos, não ultrapassa 18 mil milhões de euros o que é suficiente para pagar as pensões durante pouco mais de um ano. A isto o governo socialista responde no pasa nada e a reacção dos actuais ou, principalmente, dos futuros reformados inspira-se no álbum da Banda do Casaco «Hoje Há Conquilhas, amanhã não Sabemos» (nem queremos saber).

Sem comentários: