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29/07/2019

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (198)

Outras avarias da geringonça e do país.

As pessoas não são números

O episódio das 780 mil «golas» inflamáveis distribuídas aos velhinhos perdidos por esses vales e montes para se protegerem dos incêndios florestais, golas que afinal,explicou a Protecção Civil, eram apenas para “merchandising“ e “propaganda“, é tão grotesco que qualificaria o Portugal do Dr. Costa para ser classificado como património mundial do ridículo e da pequena e média corrupção.

A família socialista tem imenso jeito para o negócio

Ajuda a perceber o episódio o facto de as «golas» terem custado mais do dobro do seu preço de mercado e o seu fornecimento ter sido adjudicado a uma empresa unipessoal do marido da presidente da Junta de Freguesia de Langos, no concelho de Guimarães, eleita pelas lista do PS.

Deixando perceber que num novo mandato perderá o resto da pouca vergonha que ainda finge ter, Costa quer rever o modelo de recrutamento dos quadros do Estado para aumentar a «transparência e igualdade de oportunidades», que no patuá socialista significa colocar os membros da grande família dos novos-situacionistas.

Boa nova

Mais notável do que a capacidade deste governo anunciar obras nos amanhãs que cantarão, só a sua incapacidade de realizar obras nos hojes. Incapacidade talvez só excedida pela da sua freguesia eleitoral distinguir a realidade desta espécie de realidade aumentada que Costa lhes oferece.

Passemos em revista os anúncios recentes. Vamos ter 300 milhões para requalificar a zona ribeirinha entre Pedrouços e Cruz Quebrada nos próximos 11 (onze) anos. Foram anunciados mais de 1,2 mil milhões para investir no novo terminal de contentores no porto de Sines (na realidade, é menos de metade porque o resto espera-se que seja investido pelos concessionários). Costa garantiu que antes das eleições 97% dos portugueses terão médico de família e com o seu próximo governo atingirá os 100%, se não mais... Vai ser lançado o «novo programa para promover e divulgar a rota das fortalezas da Raia – a ‘Rota das Fortalezas’, no Castelo de Monção» (é um anúncio um pouco merdoso, mas sempre dá jeito para compor). Vai avançar a segunda fase do programa Revive de recuperação e a requalificação de imóveis públicos classificados; na primeira fase iniciada há 3 anos foram investidos uns espantosos 54 milhões de euros (é outro anúncio merdoso).

O choque da realidade com a boa nova

O ano passado foram apresentados os programas «Aldeia Segura» e «Pessoas Seguras». Um ano depois, no incêndio de Mação os meios previstos não foram vistos durante dois dias e, ao dizê-lo, o presidente da câmara foi insultado pelo ministro Eduardo Cabrita. Para chamar os bois pelos nomes e roubando as palavras a Henrique Raposo, «quando as câmaras de tv regressam a Lisboa com a propaganda gravada, o país real fica com golas de proteção inflamáveis e rebanhos de cabras sapadoras que comem as culturas agrícolas e não os matos.

Enquanto se anuncia um iSimplex com renovação através dos terminais MB do cartão de cidadão, da carta de condução, etc. a partir do... 2.º e 3.º trimestre de 2020, no mundo real da administração pública decadente dão-se «desacatos» nas filas intermináveis iniciadas de madrugada, com funcionários em plenário e a intervenção da polícia.

Anunciados com grande pompa os passes-família, na Área Metropolitana do Porto o presidente diz que não há dinheiro para os financiar.

Um expediente muito caracterizador da governação costista é o lançamento de obras públicas com preços de licitação de tal modo baixos que os concursos ficam desertos. Isso permite reanunciar essas obras que aos olhos e ouvidos de uma comentadoria amiga, de um jornalismo de causas afecto e de um eleitorado abúlico surgem como novas grandes realizações.

Recordam-se do anúncio grandioso da criação de uma Estrutura de Missão para a «gestão integrada dos fogos florestais» comandada por Tiago Oliveira, um anunciado génio da engenharia florestal? «Onde pára o Tiago?», que não é visto há dois anos e nem aparece a sua sombra nestes últimos fogos florestais, pergunta-se o jornal SOL.

Correndo bem, é nossa realização. Correndo mal é problema deles

Por um lado, Costa enfeita-se com o crescimento (na verdade, poucochinho), as exportações (a crescerem menos do que as importações) e o turismo (a dar sinais de estabilizar), para os quais nada contribuiu, por outro responde às críticas dos autarcas sobre as falhas no combate aos incêndios dizendo-lhes que são «os primeiros responsáveis pela proteção civil em cada concelho».

Deve reconhecer-se, porém, que o governo de Costa contribui sem dúvida para as contas certas, prolongando a austeridade sob outro nome, comprimindo as despesas de capital e gerando a crescente ineficácia dos serviços públicos e aumentando a carga fiscal para níveis superiores aos do período de resgate. Em breve será batido novo recorde, já que a receita fiscal cresceu mais do dobro do previsto.

As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu

Não só o montante da dívida pública não dá mostras de descer, como ainda se prossegue o alongamento dos seus prazos com a troca de quase 800 milhões de dívida com maturidades em 2020 e 2021 por OT com maturidade em 2026 e 2028, a acrescentar o mais de 2 mil milhões que este ano já tinham sido "alongados".

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

O endividamento da economia é pesado e aumentou de novo em Abril 2,6 mil milhões de euros, batendo um novo recorde com 727 mil milhões de euros, dos quais 326,1 mil milhões de euros do sector público e 400,9 mil milhões de euros de sector privado. No entanto, os dados (citados pelo Expresso este fim de semana) mostram que o saldo líquido de novos empréstimos a empresas privadas e a particulares se tem mantido quase constante nos últimos novos anos ou, dito de outro modo, como o crédito a particulares tem aumentado, os novos empréstimos a empresas privadas têm diminuído. Sabendo-se que as empresas portuguesas não têm capitais próprios e poucas, e apenas as grandes, se financiam por empréstimos obrigacionistas, isso só pode significar que não se está a investir o suficiente sequer para manter a capacidade produtiva. Não vale a pena lembrar as consequências, pois não?

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