Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (194)

Outras avarias da geringonça e do país.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Segundo o grande princípio de Monsieur de La Palice, para crescer a economia precisa de aumentar a produção por trabalhador e/ou aumentar o número de trabalhadores.

As estimativas do BdP apontam para uma redução de 0,6% do VAB (valor acrescentado bruto) por trabalhador em 2018, continuando a tendência desde 2014.

Há dez anos havia 757 mil desempregados e hoje há 347 mil. Nessa altura população a empregada entre os 15 e os 74 anos era 4,8 milhões e hoje é exactamente a mesma. De onde: (1) em 10 anos saíram do mercado de trabalho 400 mil trabalhadores e (2) o crescimento do PIB foi conseguido apenas por redução do desemprego. Como o desemprego parou de descer e parece ter atingido o seu mínimo estrutural, para a economia crescer precisaríamos de aumentar a produtividade e não de a reduzir que é o que está a acontecer,

Para aumentar a produtividade precisaríamos (entre outras coisas) de aumentar o capital por trabalhador e para isso precisaríamos de investir. Para investir precisaríamos de poupar e/ou de nos endividarmos mais. Quanto à poupança temos uma taxa de 4% uma das mais baixas da UE. Quanto à dívida temos a terceira mais alta da UE. De modo que.

Entretanto, como que para nos tranquilizar, a imprensa do regime lembra-nos que o risco de bancarrota da Zona Euro está nos mínimos de 2008 e, como fazemos parte da Zona Euro, podemos dormir tranquilos.

Fonte: Expresso

Infelizmente, somos o parente mais pobre e o dos mais endividados da Zona Euro, e last but not least se em 2008 alguém nos dissesse que poderíamos dormir tranquilos porque o risco de bancarrota era então o mais baixo desde Dona Maria II dois ou três anos depois dar-lhe-íamos uma paulada.

Olhando para este quadro pouco cor-de-rosa com os olhos de Nouriel Roubini, o Dr. Doom que previu a crise de 2008 e vê riscos crescentes de uma recessão e crise em 2020, concluiríamos que desta vez não vai ser diferente e, se for, vai ser para pior porque temos um endividamento muito maior.

Paz social

Apesar do extremoso cuidado com que o governo do Dr. Costa trata a sua freguesia, as greves no Estado Sucial não têm período de defeso. Na semana passada tivemos o início de 5 dias alternados de greve dos funcionários judiciais que querem "abdicar" do suplemento de 10% incorporando-o no ordenado, tivemos o pré-aviso de greve dos inspectores da PJ e a greve de 3 dias dos magistrados do Ministério Público.

Cuidando da freguesia eleitoral

A meses das eleições o governo não poupa nas benesses. Perdoa o atraso na entrega da declaração trimestral dos recibos verdes, mas para a sua freguesia excede-se em zelo e alargou as reformas antecipadas na função pública, mais uma benesse a juntar a outras - vejam-se aqui uma dezena de diferenças em relação aos «privados» que vão desde salários mínimos mais elevados, horários mais reduzidos até à reforma antecipada mais cedo e aquela ridícula dispensa no primeiro dia de aula dos filhos.

De vez em quando, quando menos se espera, o Ronaldo das Finanças foge-lhe a boca para a verdade e confessa o que qualquer pessoa avisada já sabe há muito - os orçamentos tem como primeira e única prioridade manter a freguesia eleitoral feliz e sossegada. Foi assim que confessou perante a comissão parlamentar de Orçamento e Finanças que o ano passado houve «um aumento de 20% nas remunerações pagas». Que outra organização neste mundo se pode dar ao luxo de, apesar de diminuir o nível de prestação de serviços, aumentar 20% os custos do pessoal?

Bem pode o Conselho Orçamental Europeu avisar dos perigos de um política orçamental expansionista a coexistir com uma dívida pantagruélica e chamar a atenção para a sua insustentabilidade. O Ronaldo das Finanças sabe isso muito bem mas tem de fazer o frete ao chefe Costa para ganhar as eleições.

Boa nova


É claro que também há boas novas noutros domínios como o anúncio de dois mil milhões de investimento estrangeiro nos sectores automóvel, da aeronáutica e agroalimentar. Mas aqui, ao contrário do anúncio das benesses para a freguesia, estamos no domínio da ficção. O homem que fez o anúncio até contabiliza os postos de trabalho que se mantêm...

Também tivemos uma euro-nova, uma espécie de euro-ilusionismo, com que nos brindou o Ronaldo das Finanças ao anunciar o novo orçamento da Zona Euro, que ele implicitou iria ser um grande salto. Afinal qual é a ordem de grandeza do novo orçamento da Zona Euro? É o equivalente a 0,01% do PIB da Zona Euro em 7 anos - compare-se com o OE português que consome quase 50% do PIB.

Talvez inseguro sobre suficiência das boas novas anunciadas, a geringonça vai ao sótão buscar a múmia Cavaco Silva e o “buzinão” da ponte 25 de Abril de há 25 anos e aprova um voto de condenação. Se o ridículo fosse mortal teríamos o parlamento fechado com a aprovação do voto.

A notícia de que «Portugal foi o país que mais falhou na implementação de medidas anticorrupção em 2018» segundo o Conselho da Europa, pode não parecer mas é também uma boa nova - para a grande família socialista, sobretudo se vierem aí mais quatro anos com a mão no pote do orçamento.

Já virámos a página da austeridade

Virada a página da austeridade da direita, chegámos à austeridade socialista que difere da outra porque corta na vaca em vez de cortar nos utentes da vaca marsupial pública que constituem a sua freguesia eleitoral. Exemplos: o Hospital das Forças Armadas não tem dinheiro para pagar despesas básicas e medicamentos; faltam 150 ginecologista e obstetras e as maternidades não têm dinheiro para contratar obstetras (a ministra diz que não os há - estão no «privado», por isso é que é importante acabar com o «privado»); nos principais hospitais faltam médicos.

Estado Sucial Simplex

O povo acotovela-se desde madrugada em bichas para as senhas do Cartão de Cidadão? O problema não é o prazo de validade estúpido de 2 anos, o problema não é o défice de organização da burocracia, o problema não é a falta de funcionários agora a trabalharem 35 em vez de 40 horas. Não, nada disto é problema. O problema, segundo a secretária de Estado da Justiça, é que a choldra gosta de bichas e vai para lá de madrugada.

Então não estamos a crescer mais do que a Óropa?

Há vinte anos o PIB per capita português representava 61,4% do PIB per capita da Zona Euro. Vinte anos depois em 2018 representava 58%, menos 3,4%, diz-nos o boletim de Maio do BdP.

As dívidas não são para se pagar, foi isto que ele aprendeu

Notemos em primeiro lugar que Cristina Casalinho, a presidente do IGCP, a agência que faz o peditório para pagar as contas, de entre os institutos públicos e as autoridades de regulação ou supervisão é a personalidade mais mediática, quase todos os dias citada como uma espécie de heroína das taxas de juro baixas. Deve querer significar alguma coisa.

Em Maio a dívida pública manteve-se inalterável em 252,3 mil milhões de euros o que no estado em que estão as coisas passa por uma boa notícia.

Já o endividamento total da economia voltou a subir em Abril para 727 mil milhões e provavelmente assim continuará dadas as necessidades de financiamento da economia (ver diagrama no ponto seguinte).

Ainda não é o mafarrico, mas já se sente o cheiro das brasas

Confira-se no diagrama seguinte a evolução do défice externo cujo desfecho acabou com o governo socialista de Sócrates incapaz de se financiar e no resgate pela troika e veja-se o que se está passar nos últimos anos em que o superavit externo foi diminuindo e no primeiro trimestre se transformou de novo no défice.

Adaptado do Expresso

A isso, acrescente-se que nos quatro primeiros meses deste ano as exportações de bens cresceram apenas 3,5% e as importações cresceram 9,9% e nos serviços aumentaram 7,2% e 11,4% respectivamente. Em resultado, em Abril o défice da balança de bens aumentou 1,6 mil milhões de euros e o excedente da balança de serviços aumentou 62 milhões de euros, graças ao turismo, isto é o desequilíbrio é três vezes maior do que no ano anterior. Valem-nos também as remessas dos emigrantes que aumentaram 23,6% em Abril para 357,6 milhões - parece que voltámos aos anos 60.