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16/10/2024

ARTIGO DEFUNTO: Os estudos de Acemoglu, Johnson e Robinson não são sobre a desigualdade das nações. São sobre o fracasso de algumas nações

Foi anunciada na segunda-feria a atribuição a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson do prémio da Academia Sueca de Ciência Económica, e não do Nobel de Economia, porque quando Alfredo Nobel decidiu criar o prémio a "dismal science" - ciência sombria ou triste -, como a baptizou Carlyle, não era reconhecida como ciência. 

A maior parte dos mídia portuguesa escreveram, e bem, que o prémio foi atribuído pelos estudos sobre o papel das instituições na prosperidade dos países, traduzindo a comunicação da Academia Sueca «for studies of how institutions are formed and affect prosperity». O livro aqui ao lado, publicado há 12 anos, com edições em várias línguas incluindo português, é uma fonte acessível para o essencial desses estudos.  

A maior parte, mas não todos os mídia, e entre eles o Expresso, que titulou «Trio de economistas ganha Nobel por trabalhos sobre desigualdade entre países», e a CNN que foi ainda mais longe na reinterpretação das conclusões dos estudos de acordo com a agenda woke, insinuando que a culpa era do "colonialismo", com o título «Há países ricos e outros que não deixam de ser pobres. Agora há um Nobel a explicar como Portugal pode ter tido um papel nisso»

Na verdade, os estudos do trio são uma tentativa de explicar o fracasso de alguns países em alcançarem a prosperidade e a explicação proposta é de que o fracasso se deve a instituições sociais fracas e a um Estado de direito falhado. É claro que as instituições não nasceram do vácuo, como diria o Eng. Guterres, mas o nascimento das instituições não constitui uma fatalidade colonial, como o provam o facto de os países "colonizados" pelos Estados europeus terem graus de sucesso bastante diferentes e até incluírem pelo menos um exemplo de grande sucesso - os Estados Unidos da América.   

Por falar em Simon Johnson, um dos economistas do trio, vem a propósito recordar, como o fez o jornal Eco, que esse economista em Abril de 2010 antecipava o resgate do Estado português que, de facto, viria a ter lugar em Abril no ano seguinte, e Peter Boone, o co-autor de Johnson, foi alvo de uma ridícula acusação de manipulação do mercado pelo Ministério Público português.

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