Se do referendo resultar a despenalização do aborto, qual será o crime cometido por uma mulher que, depois de ter ouvido falar incontáveis vezes das pílulas anticoncepcionais, que pode comprar livremente nas farmácias por um preço equivalente a um carregamento do telemóvel, depois de ver incontáveis spots publicitários sobre o uso do preservativo, ter passado incontáveis vezes ao lado de embalagens de preservativos, nos supermercados, à porta de farmácias, nos WCs das discotecas, dos aeroportos, etc., disponíveis por um preço equivalente a uma chamada telefónica, depois de saber que pode usar dispositivos intra-uterinos, tem uma relação sexual, sabe que está no período fértil, não toma a pílula do dia seguinte, engravida apesar de toda a panóplia de meios, e espera 9 semanas e meia (a) para fazer um aborto?
O crime de estupidez e desleixo?
E quando essa mulher faz acontecer a mesma a estória uma outra vez? (b)
Poderemos falar de crime de estupidez e desleixo agravados?
Ou teremos que admitir que uma mulher que é dona do seu corpo e pode decidir livrar-se do pólipo é um ser irresponsável e, portanto, legalmente inimputável? (c)
(a) A contar de quê? da relação sexual? da fertilização? da implantação uterina? da falta menstrual?
(b) A média em certos casos citados é superior a três abortos.
(c) Inimputável é como a esquerdalhada parece ver a mulher - É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, é incapaz, no momento da prática do facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa avaliação. (Artigo 20.º do Código Penal).
Exercícios anteriores de maiêutica em (0), (1), (2), (*), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) e (13)
(*) O n.º 3 abortou.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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