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19/11/2006

CASE STUDY: eles comem tudo, eles comem tudo (e não deixam nada?) (3)

Primeiro o governo adicionou à sua workbench de manobras de diversão e manipulação o aborto livre, universal e gratuito. Depois, para felicidade dos adeptos do não, aditou o vampirismo da banca, a propósito do equívoco arredondamento das taxas de juro. Aqui acertou na mouche - o povo endividado até à 3.ª geração que conduz o carro do banco, vive na casa do banco e passa férias com dinheiro emprestado pelo banco, olha para os seus benfeitores com sentimentos contraditórios em que predomina o ressentimento.

Enquanto isso, a Standard & Poor mostrava os pés de barro de alguns grandes bancos europeus, e outros menos grandes, como o nosso campeão Millenium bcp, que teria uma insuficiência não relevada no balanço de mais de mil milhões de euros nos fundos de pensões do seu pessoal.

A nossa imprensa económica lá foi lidando com o problema o melhor que podia (pode pouco), ao mesmo tempo que o CFO do Millenium bcp esclarecia a trapalhada o melhor que convinha (podia mais, mas arriscava o lugar). Na sexta-feira o Semanário Económico também tratou a coisa o melhor que pôde (pôde apenas um pouco mais do que a concorrência).

E o que se percebe por trás do smog da ignorância, falta de diligência, contradições e desinformação? Percebe-se que o Millenium bcp tem uma insuficiência nos fundos de pensões de 1.500 milhões, na companhia do BES (600 milhões) e do BPI (300 milhões). Escapa o Totta Santander, que parece ter as contas em ordem.

Não deixa de ser interessante ver o contorcionismo do CFO do Millenium bcp, cuja versão da estória é a de que o problema residiria na adopção em 2005 dumas esquisitices - as normas IFRS. Delas resultaria essa pequena contrariedade referida pela S&P que, contudo, já estaria resolvida com uns abates ao core-tier 1 e com o célebre corredor, simples passes de mágica que transformariam um balanço onde faltam 1.500 mil milhões no passivo numa technality que o tempo resolverá em 20 anos.

Em conclusão, o que parece não é. Os bancos não ganham o suficiente para suportar os custos das suas políticas de emagrecimento dos efectivos que remeteram vários milhares de felizardos para uma reforma antecipada passando, em muitos casos, por um período de «desemprego» pago pela Segurança Social. Se esses custos futuros tivessem sido convenientemente relevados nas contas dos respectivos exercícios não teriam os bancos apresentado os lucros que apresentaram e que despertaram a gula do governo e a sanha popular.

Curiosamente nada disto parece ter afectado a cotação de qualquer dos bancos visados. E agora a pergunta fatal: porque retirou o então BCP em 2003 as suas acções da London Stock Exchange e da Euronext Amsterdam e as American Depositary Shares da NY Stock Exchange?

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