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20/01/2020

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (15)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

A mercearia orçamental

No primeiro dia da discussão na especialidade do OE 2020 foram apresentadas 179 propostas de alteração pelos partidos que apoiam a passarola de Costa: BE (39), PCP (37), PAN (46), PEV (31), Livre (26), todos agarrados à toalha da mesa do orçamento a tentarem mostrar serviço aos seus eleitores.

Os casos mais deprimentes são os do PCP e BE que nos últimos quatro anos vem engolindo tudo e tudo justificando como «dois grupos de mentirosos coxeando atrás do PS», para usar as palavras de Vasco Pulido Valente. O PCP engole e ainda consegue arrotar umas greves como a dos funcionários públicos no próximo dia 31 (cada partido comunista tem a classe operária que pode). Já o BE, por falta de implantação sindical, não tem nada para arrotar, a não ser flatulências inócuas, ainda que mal cheirosas.

Cuidando da freguesia eleitoral

Os mais de 40 mil efectivos policiais (mais 36% do que a média da UE), organizados em 17 sindicatos, fazem de Portugal um dos países com mais polícias, mas não dos mais policiados porque a maioria desses polícias descansa nas esquadras. A adicionar a esse numeroso destacamento o MAI anunciou que recrutará até 2023 10 mil novos efectivos para a PSP, GNR e SEF, potenciais novos eleitores do PS, espera o ministro, mas talvez se engane porque o Dr. Ventura pode chegar primeiro e mexe-se bem nesses meios.

«Temos resultados, temos contas certas»

O nosso Ronaldo das Finanças, a atravessar um período difícil para o seu ego, tem sentido a necessidade de exaltar os seus feitos, conseguidos muito à custa da redução das taxas de juros pelo BCE e desvalorizar os feitos do governo PSD-CDS de quem diz que a «saída limpa foi, afinal, uma nódoa» (ler aqui a estória contada pelo outro contribuinte e «Uma comparação (im)possível» de Miranda Sarmento).

Com essa auto-exaltação não parece convencer a CE que aponta no OE 2020 um «risco de desvio significativo do ajustamento requerido» e considera não serem feitos progressos suficientes na redução de dívida.

«Em defesa do SNS, sempre»

Se por um lado o governo deixa o SNS degradar-se num grau nunca antes atingido, por outro, para compensar o seu falhanço faz anúncios sucessivos, como no caso dos mais de 650 mil "utentes" a quem, uma vez mais, foi prometido este ano a 200 mil deles virem a ter médico de família. Enquanto isso, o secretário de Estado da Saúde responde às agressões aos médicos e enfermeiros pelos "utentes" com «chazinhos e bolinhos»

O estado do Estado Sucial administrado pelos socialistas

Não é só no SNS que todos os dias surgem novos factos, ou a repetição dos velhos, demonstrativos da ineficácia a adicionar à tradicional ineficiência do Estado Sucial, que até algumas das coisas certas que fazia deixou de fazer continuando porém com o mesmo ou maior desperdício de recursos. Alunos sem aulas quatro meses depois do início do ano lectivo, a Protecção Civil sem viaturas (não é que isso adiante muito, mas com viaturas ao menos moviam-se), Segurança Social que perde o dinheiro dos contribuintes a vender imóveis por ajuste directo a preços abaixo do mercado.

O putativo herdeiro Medina que comprou 11 desses imóveis insultou o Tribunal de Contas classificando o seu relatório como «lamentável e incompetente» e foi preciso o ex-ministro socialista Paulo Pedroso vir discordar do uso do património da Segurança Social «para tornar mais barata a política pública de habitação» ou, dito de outra maneira, para promover o futuro do Dr. Medina.

O choque da realidade com a Boa Nova

Apesar dos esforços «para tornar mais barata a política pública de habitação», seis meses depois de lançado o Programa de Arrendamento Acessível na versão Pedro Nunes Santos foram assinados 117 (cento e dezassete) contratos. A este ritmo, contando com a prevista redução da população residente, estarão disponíveis habitações para todas as bolsas por voltas do século XXIII.

A solução dos socialistas para as falhas do socialismo é mais socialismo e mais Estado Sucial

Por falar no ministro das Infraestruturas, recordo as suas intervenções durante a discussão do OE 2020 em que postulou que, não fora o Estado, e a TAP já por cá não andaria, no que tem razão, pressupondo que isso constituiria um sério problema para o país, no que está completamente equivocado, como comprovam a maioria das companhias dos países da UE em que o Estado não participa ou tem uma participação minoritária. Também disse que se a TAP fosse privatizada os portugueses «comiam os preços e calavam», no que também está ainda mais equivocado visto a oferta hoje disponível não precisar da TAP, porque os subsídios que o governo lhe paga nos voos subsidiados para Madeira e Açores seriam menores se fossem pagos a companhias em concorrência, como mostram os voos das low cost para ambas as regiões.

Boa Nova

E, já que estou a falar do pedronunismo, continuo evocando a sua anunciada reabertura com grande pompa da unidade de manutenção ferroviária da EMEF em Guifões no que foi acompanhado pelo Dr. Costa. Ambos em estado de grande exaltação admitiram sonhar com uma «fábrica do futuro que queremos construir em Portugal». Para quem nem as carruagens consegue manter a funcionar será um sonho, para os contribuintes que teriam de pagar a fábrica do futuro seria um pesadelo.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

Uma das vacas voadoras do governo socialista que dá sinais de poder aterrar é o investimento ligado aos vistos "gold" que desceu 11,4% em 2019. Em contrapartida, esmorece o crédito às empresas e anima-se o crédito à habitação que voltou a subir em Novembro para quase mil milhões de euros.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sendo notavelmente religioso — 'tipo' fariseu — e indo às Românicas, 'Boa Nova' era escrito como 'Euangelium' que era o que os Imperadores chamavam às notícias/normas que emitiam — fossem boas ou más.
Então, os pais (padres) da Igreja passaram a escrever o 'Evangelho de Jesus'.

Abraço,
ao