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14/07/2025

Crónica da passagem de um governo (7)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Graças à bazuca e ao turismo, a coisa lá se vai aguentando

Com o atraso habitual da divulgação da informação pelas instituições do Estado sucial, neste caso o INE, ficámos a saber que o ano passado entraram quase 3 turistas por cada residente, os quais dormiram quase 60 milhões de noites e gastaram mais 14% do que no ano anterior. Prevê-se que no final deste ano o turismo represente mais de um quinto (21,5%) do PIB. Aguarda-se um voto de repúdio do Dr. Ventura e do seu partido unipessoal por esta invasão de estrangeiros LGBTI e fumadores de charros.

O ministro admite atraso “vergonhoso” no Ferrovia 2020

Com a ligeireza de quem, por agora, só é responsável por um quinto do atraso de 5 anos do Ferrovia 2020 e dos 37 mil dias de atraso na conclusão de todos os troços, o ministro das Infraestruturas, que desfruta da vantagem de ser muito difícil fazer pior do que o Dr. Pedro Nuno, anterior detentor do cargo, reconheceu em entrevista do Expresso que os atrasos no Ferrovia 2020 são «uma vergonha».

Take Another Plan. O governo AD promete mais do mesmo

Na mesma entrevista, o mesmo ministro Eng. Pinto Luz, não foi tão longe como o Dr. Costa, que tinha admitido privatizar a TAP “na totalidade” depois de a ter renacionalizado oito anos antes, e garantiu que «não estamos a fazer uma privatização de 100% da TAP encapotada» e que a privatização de 49,9% «não será feita a todo o custo».

Com essa garantia o ministro deve ter tipo o aplauso do PS do Dr. Carneiro, por apego à ”propriedade estatal dos meios de produção”, e do Dr. Ventura do Chega, por apego à “soberana nacional” e a uma “companhia de bandeira”, algo que hoje só se encontra no Portugal dos Pequeninos e no caixote de lixo da história. Podem ambos dormir descansados, o que será feito é manter a todo o custo a presença do Estado sucial na TAP injectando-lhe periodicamente fundos. O ministro admitiu ainda o que toda a gente já sabia, que não garante que o Estado receba os 3,2 mil milhões que os governos socialistas lá enterraram. Claro que não, o governo talvez consiga receber um quarto disso pelos 49,9% que pretende vender, uma vez que os 100% valerão pouco mais de metade dos 3,2 mil milhões.

Entretanto, quando se compara o período da privatização da TAP que terminou em 2020, em plena pandemia, com os anos seguintes constatamos que tem menos aviões, menos passageiros, tem praticamente o mesmo número de trabalhadores, e apesar de ter mais receitas continua com resultados miseráveis, apesar da injecção de 3,2 mil milhões.

Quanto ao novo aeroporto de Lisboa, voltámos quase a 1969…

… ano em que foi criado pelo Estado Novo o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa. Com vários anos de atraso, a ANA está a discutir com o governo a redução a proporções mais realistas do futuro elefante branco, um projecto megalómano que tem como premissa que o futuro será igual ao passado aditivado de um crescimento exponencial da entrada de estrangeiros LGBTI e fumadores de charros.

Por falar em elefantes brancos…

O Banco de Fomento que geriu um sistema de garantia mútua que até ao final de 2020 registou perdas por pagamento de garantias de 880 milhões e desde 2012 até ao ano passado registou perdas de 124 milhões nas cerca de 300 start-ups em que participou, recentemente anunciou a participação numa gigafábrica de Inteligência Artificial” em Sines e agora anuncia poder mobilizar em parceria com o Fundo Europeu de Investimentos (FEI) 6,5 mil milhões de garantias para financiar PME, financiamento que estas sem as garantias não conseguem obter na banca comercial. A minha esperança é que os contribuinte europeus através do FEI nos ajudem a suportar o pesado fardo que resultará de despejar dinheiro em cima de empresas de viabilidade duvidosa.

No Portugal dos Pequeninos o “venture capital” é uma espécie de peditório

Segundo o semanário de reverência, o governo prepara-se para “abrir a porta” às sociedades de capital de risco para usarem o dinheiro parqueado nos fundos de pensões e nos activos que representam provisões das seguradoras para «injectar no ecossistema de inovação nacional perto de €1,4 mil milhões nos próximos anos».

Os “venture capitalists” costumam colocar o seu próprio dinheiro onde colocam a boca, investindo em start-ups e assumindo os respectivos riscos. Neste caso estamos perante um conceito original que a Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI) tenta vender ao governo consistindo em usar o dinheiro dos pensionistas e dos segurados, fazendo aqui o papel de “desventure capitalists”, do dinheiro confiado às empresas de gestão de fundos de pensões e aos seguradores para investir nos projectos onde as sociedades de capital de risco colocam a boca. A minha esperança é que tudo isto não passe do semanário de reverência a lançar o barro da APCRI à parede.

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