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26/07/2025

UE, cada vez menos um gigante económico e cada vez mais um anão político e militar

As poucas dezenas de democracias plenas e sociedades prósperas existentes no planeta encontram-se na sua maioria na Óropa, o que permite a qualquer cidadão europeu dizer quase tudo o que lhe passar pela cabeça sem consequências desagradáveis, disfrutar de um nível de vida que faz inveja a quase todo o resto do mundo, com excepção dos Estados Unidos que pagam por isso um preço elevado, desde uma saúde pública deficiente, uma esperança de vida vários anos inferior à média europeia, uma sociedade dividida e pouco coesa, uma democracia problemática com um score muito inferior ao da média da UE e, last but not the least, um governo por uma criatura instável sofrendo de narcisismo patológico com uma corte que o bajula, tolerado pelos tecnogarcas que fingem acreditar nas suas baboseiras enquanto tentam extrair vantagens.

É claro que a Óropa tem imensos problemas como o envelhecimento, uma imigração que a irresponsabilidade dos governos deixou atingir o limiar de uma séria ameaça à coesão social e tem sido pasto dos vários nativismos (em todo o caso a uma escala não maior do que a dos EU, ao contrário da lenda), uma competitividade sufocada pela obsessão regulamentadora (em todo o caso não muito maior do que a dos EU [*]), e, sobretudo, não conseguiu criar até agora um mercado verdadeiramente único, nomeadamente na área dos serviços, o que não deixa de ser o resultado expectável para uma entidade supranacional que não é um verdadeiro Estado e tem no seu seio dezenas de Estados e nacionalidades que no passado não muito longínquo se combateram ferozmente.

Fonte

Por tudo isso, para uma criatura que aprecie a liberdade e o bem-estar, viver na Óropa é a quase todos os títulos mais agradável do que viver nos Estados Unidos, só que a felicidade não está garantida e no horizonte não se vislumbram políticas para resolver os problemas que afligem a UE. Veja-se por exemplo o quadro financeiro plurianual 2028-34 que apesar de ter aumentado de 1,2 biliões para 1,8 biliões continua a representar uma percentagem anual ridícula de 1,15% do Rendimento Nacional Bruto da UE e o pouco que representa irá ser aplicado, provavelmente e como de costume, para fazer felizes os agricultores, sobretudo franceses, e construir autoestradas. Os 50 mil milhões anuais para a competitividade (menos de 7% do que Mario Dragui estimou serem necessários) são insuficientes e arriscam-se a ser torrados em projectos para dar brilho aos governos. É um pouco mais do muito mesmo.

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[*] Um exemplo, o caos inerente ao sistema americano de supervisão bancária, por coincidência descrito esta semana no Expresso por Willen H. Buiter, um economista que o conhece muito bem.

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