«Entretanto, lembro a curiosa retórica com que se recebe os refugiados que dia após dia chegam pelo Mediterrâneo e por onde calha. Segundo a voz corrente nos media, a responsabilidade pela tragédia (humanitária, é de bom-tom acrescentar) cabe inteirinha à Europa, a Europa que não recebe devidamente, a Europa que não integra adequadamente, a Europa que, em suma, não corresponde impecavelmente aos sonhos daqueles desgraçados, disponibilizando-lhes em cinco minutos casa decente, emprego digno, subsídio de assimilação e banda filarmónica. Os telejornais fervilham de repórteres a apontar o dedo indignado.
Quase ninguém explica que as dificuldades de resposta da Europa são inevitáveis perante a brutal, e desde há décadas incomparável, migração de centenas de milhares de pessoas (350 mil em 2015). Quase ninguém recorda que as dúvidas europeias são as próprias de gente civilizada, que tende a ponderar as consequências dos seus actos. Quase ninguém nota que a Alemanha, logo a Alemanha, tem liderado com a generosidade possível o processo de acolhimento. Quase ninguém refere a veneração que inúmeros sírios passaram a dedicar à senhora Merkel, logo à senhora Merkel. Sobretudo quase ninguém informa que os refugiados, na imensa maioria muçulmanos, escapam precisamente da selvajaria hoje recorrente nos países de origem e na religião que professam. Apesar do folclore jornalístico em contrário, que atribui ao bombeiro o fogo posto pelo pirómano, a verdade é que o drama dos refugiados começa no Islão, não na Europa.
A benefício da subtileza, também poderíamos falar dos refugiados que são de facto "infiltrados" do ISIS e agremiações similares. E dos refugiados que matam refugiados sob acusações de cristianismo. E dos perigos de abordar estas matérias com mais lirismo adolescente do que sensatez. Porém, dado que andamos ocupadíssimos a odiarmo-nos, não há tempo para detalhes. O importante é estabelecer que a culpa é nossa. Culpa de quê? Vê-se depois, ou nem isso. Certo é que a Europa é de fugir, embora os outros misteriosamente fujam para a Europa.»
«A Europa é de fugir», ALBERTO GONÇALVES no DN
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
1 comentário:
Os defensores da intervenção no Iraque,Siria, Libia e outros desmandos no centro de Africa (como dar subsidios a ditadores e ladrões "amigos" deviam sentir vergonha, calculo que é coisa que não sabem o que é, de botarem discursos que metem dó.
A UE vai mostrar, como o está a fazer a sra Merkl, porque é a zona do mundo mais humanitária; devemos lamentar é que os burocratas tenham demorado tanto tempo para se "reunir" e não tenham quebrado os dentes aos passadores, abrindo escritorios de imigração legal, nos paises de oriegem!! provavelmente por serem sensiveis aos apelos de gente como o autor do post.
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