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21/08/2015

CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (4)

Outros amanhãs.


Interrompo aqui os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», que retomarei mais tarde (se os deuses me concederem a indispensável pachorra), para tratar do último e retumbante anúncio que o Público sintetizou brilhantemente no seu título:
«PS simula criação de 207 mil postos de trabalho até 2019»
Título muito mais apropriado do que, por exemplo, o do Negócios, que titulou «PS promete a criação de 207 mil empregos até 2019», visto que o sábio Mário Centeno teve o cuidado de explicar que não iria criar, mas antes a coisa resultou de uma simulação.

Notemos que, uma vez mais, estamos perante o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência. Experiência que resulta do Programa de XVII Governo de José Sócrates que se propunha «como objectivo recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura».

Como é sabido, o referido objectivo, equivalente a reduzir o desemprego de 150 mil, foi com o tempo mudado para criar empregos em número que foi evoluindo ao longo da legislatura em que o desemprego aumentou quase tanto como o número de postos de trabalho prometidos recuperar e o número de postos de trabalho criados não chegou a 5 mil. Esta saga está amplamente documentada neste post e nos cinco nele linkados.

Evidentemente que então, como agora, o PS conta com o nevoeiro criado pela má-fé e incompetência do jornalismo de causas e dos opinion dealers, para os quais criar 207 mil empregos (o que pode ser feito destruindo 414 mil e portanto aumentando em 207 mil o desemprego) é o mesmo que reduzir o desemprego no mesmo número. É claro que nem vale a pena lembrar que o governo só cria empregos na administração pública, aumentando a despesa pública, e as empresas criarão ou não emprego dependendo de imensas coisas e também do que o governo faz.

Que medidas pretende o PS que o seu putativo governo tome para que as empresas criem 207 mil postos de trabalho nos próximos 4 anos? Com base no resumo do Público encontrei as seguintes:

1. «Eliminação da sobretaxa sobre o IRS em 2016 e 2017»
2. «Redução temporária da taxa contributiva dos trabalhadores»
3. «Complemento salarial anual para os trabalhadores pobres»
4. «Renovação das políticas de mínimos sociais»
5. «Condição de recursos nas prestações sociais não contributivas»
6. «Resolução do problema do financiamento das empresas»
7. «Limitação de contratos a termo»
8. «Procedimento conciliatório para cessação de contratos»
9. «Agravamento da contribuição para a Segurança Social por parte de empresas que abusem da precariedade»
10. «Revisão do sistema de descontos dos recibos verdes»
11. «Esforço de reintegração no mercado de trabalhadores de meia-idade»
12. «Estímulo da actividade nos sectores da reabilitação do património e da restauração»

Se das medidas 1 a 5 poderá resultar o aumento indirecto dos salários e, portanto, do rendimento disponível e, portanto, do consumo e, portanto, das importações e, portanto, do défice da balança comercial, só por bruxaria terão algum impacto na criação de emprego.

Das medidas 7, 9 e 10 resultará aumento do desemprego. Das restantes medidas, a 8 tem um impacto positivo irrelevante na redução dos custos de contexto, pelo que a esperança socialista fica residente nas duas últimas, isto é:

11. «Esforço de reintegração no mercado de trabalhadores de meia-idade»
12. «Estímulo da actividade nos sectores da reabilitação do património e da restauração»

Chegado aqui pergunto-me: estarão os sábios do PS convencidos que destas duas medidas resultará a criação de 207 mil empregos?

Se estiverem convencidos fico ainda mais preocupado do que se for só a costumeira mistificação.

(Continua)

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