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«Há cerca de um ano, quando muitos inundavam os media com textos inflamados sobre a "catastrófica, incompetente e ilegal" avaliação das Unidades de Investigação (AvUI) encomendada pela FCT à European Science Foundation (ESF), o Expresso publicou um curto texto em que eu adiantava alguns argumentos a favor dessa avaliação. Em resumo, eu considerava, então e agora, que a tão contestada AvUI fora superior às anteriores em abertura, equidade, isenção, transparência e estratégia. Já então me parecia que, sendo a distribuição dos resultados finais idêntica à da avaliação anterior que passara completamente desapercebida, os motivos de tal vozearia tinham certamente outras motivações. Note-se, desde logo, que os que mais protestavam tinham interesses diretos nas UI avaliadas, ou seja, faziam de juízes em causa própria com total à-vontade, talvez por força do hábito. Depois, sendo que os mais vocais eram próximos dos anteriores poderes na Ciência, não seria de excluir tratar-se de uma campanha política. O cidadão interessado, todavia, tem de ser respeitado e não se lhe deve vender gato por lebre. Acresce que falsidade nos dados e a falácia nos argumentos não podem ser nunca desculpados a personalidades da Ciência, ainda que a sua notoriedade nos media, que por vezes esconde a medianidade científica, possa convencer os menos informados. Por isso me insurjo, em defesa dos cidadãos instrumentalizados e dos que foram publicamente insultados, apenas por dar o seu melhor na defesa da Ciência.
Mas, finalmente, estamos esclarecidos. Pela primeira vez na sua história (!) a FCT foi avaliada por uma comissão internacional independente, formada por peritos europeus com grande experiência na matéria e totalmente independentes dos interesses, tricas e politiquices locais. O relatório desta comissão foi ontem publicado e as suas conclusões, entre muitas outras que certamente merecem tratamento detalhado, são devastadoras para todos aqueles que atacavam o processo da AvUI: assim, (tradução minha do texto em inglês) a comissão (1) apoia os paradigmas fundamentais da AvUI; (2) apoia a decisão da FCT de a encomendar à ESF, inclusive a seleção dos membros dos painéis; (3) considera que a avaliação seguiu regras e procedimentos internacionalmente estabelecidos, sublinhando que (4) a ESF fez o que devia para escolher avaliadores competentes, e (5) concluindo pela solidez dos resultados.
Em resumo, os que sabem do assunto mas não defendem os seus próprios interesses, consideram que há pouco a criticar na AvUI. Ganham força, portanto, as suspeitas que se tratava de uma campanha política ou de uns tantos a tentar "salvar o seu".
O mesmo relatório também dá cabo, mas lá voltaremos mais tarde, de um outro cavalo de batalha dos protestantes, quase sempre os mesmos, ao sugerir que as bolsas individuais de doutoramento e pós-doutoramento sejam descontinuadas, sublinhando que tais bolsas já não existem nos países mais avançados, porque é impossível fazer uma avaliação justa e bem fundada dos concorrentes. Todavia, o mais interessante de tudo isto, está talvez nos media eles próprios. Pode ser por acaso, mas não deixa de ser estranho que os diários que mais deram atenção aos protestos contra a FCT, só dois dias mais tarde deram notícia do relatório.»
Um estranho silêncio, António Coutinho, Diretor do Instituto Gulbenkian da Ciência, no Expresso de 01-08
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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04/08/2015
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: A fábula do surto inventivo que nos assola (10)
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2 comentários:
António Coutinho tem um passado de trabalho que honra Portugal e nós, os mal-agradecidos.
Na sua vida, cedo percebeu que este País só é bom para férias. Ou reformas.
Mantém a lucidez (e espero a causticidade) que lhe estão na pele.
Que se dê aqui noticia, destas expressões de defesa das Brigadas das Colheres vale ser mencionada.
Que venha mais info.
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