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11/08/2015

CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (3)

Outros amanhãs.


Continuando os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», vou continuar a abordar sequencialmente os seus cinco capítulos: 1. Princípios de governação económica pela confiança no futuro; 2. Diagnóstico económico e social; 3. O cenário macroeconómico; 4. Medidas para transformar as condições de crescimento da economia portuguesa e 5. Cenário final. Trato agora do capítulo 2.

2. Diagnóstico económico e social


Começa por se aceitar que a redução do investimento resultou da redução da taxa de poupança ainda antes da entrada no euro, o que se tinha negado umas páginas antes no capítulo 1. Conclui-se que a poupança das famílias se destinou nos últimos anos exclusivamente a pagar o crédito à habitação, sem se perceber que isso foi a resposta a incentivos que levaram a um excedente de 735 mil casinhas. Como tudo isso se compatibiliza com uma política de estimular a procura não se explica.

Continua a glorificar-se o investimento em infra-estruturas, boa parte delas improdutivas, o qual drenou recursos que ficaram indisponíveis para investimento produtivo e responsabiliza-se o «modelo de crescimento seguido nos anos 80 e 90», como se o modelo dos anos seguintes não fosse mais do mesmo acentuando as políticas erradas.

Com uma enorme inconsciência atribui-se à baixa das taxas de juro subsequente à adopção do euro e à «falta de enquadramento institucional» a «excessiva concentração de investimento em sectores de bens não-­transacionáveis» quando é visível que foi o «enquadramento institucional» de 12 anos de governos socialista (com a ajuda de 3 anos de governos PSD-CDS) que transformou a oportunidade de financiamento barato na ameaça das aplicações improdutivas. Insiste-se em ignorar que há mais de 15 anos que o crescimento da economia portuguesa é inferior à média europeia.

A taxa de poupança das famílias que umas páginas «atingiu valores preocupantes no auge da actual crise» passa umas páginas depois a atingir «valores superiores em 2 p.p. aos verificados antes da crise»,

No que respeita às contas externas, ao mesmo tempo que se nega o crescimento das exportações desde 2011 (8,3 mil milhões a preços constantes de 2011, em 3 anos de crise) exalta-se «desde 2005 a evolução muito positiva» (os mesmos 8,3 mil milhões a preços constantes de 2011, mas em 5 anos, dos quais 4 anos antes da crise). E ainda assim o crescimento das exportações desde 2011 deve-se, segundo os sábios, à «entrada em funcionamento de alguns grandes projectos em implementação desde antes da crise». Ficamos sem saber que projectos foram esses devidos ao governo PS que impulsionaram as exportações nos anos seguintes à sua queda.

Esta narrativa tem pouco a ver com a realidade e mais a ver com o paradigma orwelliano: «quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado... quem controla o passado, controla o futuro».

(Continua)

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