Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

27/05/2015

CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (1)


Não fiz até agora nenhum comentário às três produções programáticas recentes do PS, a saber: «Uma década para Portugal», «Resposta do Grupo de Trabalho às questões colocadas acerca do Relatório “Uma década para Portugal”» e «Projecto de Programa Eleitoral do PS». Não o fiz pela prosaica razão de ainda os não ter lido – em boa verdade, suspeito que esta razão não impediu um rancho de comentadores de terem comentado abundantemente. Os posts desta série que agora se iniciam serão ilustrados com uma foto de António Costa, o santo milagreiro que nos trará o maná da abundância (não, não é uma montagem, é uma foto real publicada no Negócios).

Começo por ordem cronológica – e talvez não a mais lógica – de divulgação, ou seja pelo relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal». Para abrir os comentários, vou referir alguns equívocos mais óbvios que ressaltam da leitura das quase 100 páginas do relatório.

O «Estado Social» prevalecente na UE deve ser em Portugal uma criatura eminentemente socialista a que se costuma chamar Nanny State. Note-se que o equívoco não reside em concluir que o Estado português na sua configuração actual é um Nanny State, porque o é de facto, ainda que a Nanny seja bastante incompetente. O equívoco reside em concluir que assim deve ser para bem de Portugal e dos portugueses.

Entre as várias consequências desta visão, destaca-se o papel que os sábios reservam ao Estado de ser uma espécie de mecânico de uma oficina de reparação do que eles consideram avarias dos mercados. Porém, nuns casos o problema não são as falhas dos mercados é a sua ausência e noutros as falhas resultam do desconserto que o Estado introduziu com o seu intervencionismo.

Um outro equívoco contamina quase todas as avaliações críticas que os sábios fazem da execução do Memorando de Entendimento. Para os sábios o PAEF não era um programa com medidas de emergência para evitar a bancarrota e algumas outras medidas que abririam caminho a uma reforma profunda do Estado. Para eles o PAEF destinava-se a corrigir os desequilíbrios estruturais acumulados durante décadas - alguns deles directamente resultantes da medicina que o relatório agora receita. Por isso, as suas críticas à governação pela coligação PSD-CDS poderiam comparar-se a alguém gordo, flácido, de pelancas caídas, pulmões entupidos de nicotina e músculos atrofiados que depois de uma dieta de 2 semanas esperava ficar parecido com o Cristiano Ronaldo.

(Continua)

Sem comentários: