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16/03/2011

DIÁRIO DE BORDO: Eu e as teorias da conspiração

Confesso não ter vocação para teorias da conspiração, em geral, e, em particular, admito não conseguir vislumbrar uma armadilha diabólica de José Sócrates consistindo em congeminar um PEC 4 em segredo com o seu alter ego financeiro, escondê-lo cuidadosamente do próprio governo, do PR e da oposição e ir correr a Bruxelas mostrá-lo apenas com propósito maquiavélico de espicaçar a oposição para apresentar uma moção de censura e/ou o PR para dissolver a AR com o intuito de construir uma narrativa de vitimização e assim ganhar as próximas eleições, no máximo, ou sair do atoleiro onde se encontra em ombros, no mínimo.

Nestas coisas, parto sempre do princípio que devemos procurar a explicação mais simples. E a explicação mais simples é terem sido descobertas várias coisas pela missão CE/BCE que andou duas semanas a esgravatar o OE 2011 e entre elas, como já foi publicamente reconhecido, o chuto de 2 mil milhões que o governo se preparava para dar para as contas de 2008, referentes a custos da nacionalização do BPB, qualquer coisa como 1,2% do PIB. A nega de Bruxelas, sem mais, e haverá mais, faria derrapar a meta para o défice de 2011 e reduziria a pó a já escassa fé no governo do eixo Bruxelas-Berlim. Por isso, a cambalhota do PEC 4, muito provavelmente, não passou de uma manobra de sobrevivência para tentar flutuar até à revisão das regras do FEEF evitando assim a intervenção maligna do FMI. Para isto, o governo contou com a cooperação do eixo Bruxelas-Berlim, nada interessado em precipitar uma intervenção em Portugal que o forçaria recuar a linha de defesa para Madrid e enfrentar um problema 5 ou 6 vez maior.

É claro que, sendo assim, fica por explicar por quê o governo encavalita medidas cujo efeito pareceria ser excessivo face a algumas contas que já foram feitas, por exemplo aqui por Pedro Romano. Uma das explicações seria outra vez a teoria da conspiração. Contudo, as explicações avançadas por Pedro Romano parecem mais plausíveis do que engenhosas teorias: erros de previsão do cenário macroeconómico do PEC 3 e/ou sobreestimação do efeito das medidas e/ou pura e simplesmente batota – a ferramenta mais usada pelo governo.

Admito, porém, não dever esperar-se dos meus neurónios e sinapses coisa muito elaborada. Por isso, termino rendendo-me às teorias da conspiração (a outras teorias, bem entendido) e cito FNV do Mar Salgado:
«Espantoso este patriotismo que se submete, sem esforço, ao pavor de ser responsabilizado pela convocação de eleições. É esta a fibra que vai salvar o país? Está bem abelha.»

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