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28/03/2011

Do pântano cavaquista emana o patriotismo da batota nas contas

Pode alguém comprometer-se a estar num determinado sítio ao fim de um determinado tempo não sabendo onde está no momento da partida? A resposta a esta pergunta parece fácil, até para um deolindo com uma daquelas licenciaturas sem saídas profissionais.

Pode um partido comprometer-se a atingir determinados défices orçamentais ou determinados níveis da dívida pública no final de determinados anos não sabendo qual é o défice e a dívida reais? Pode, foi a resposta a esta pergunta dada por um doutorado em Economia por York. Resposta aceite por um licenciado em Economia pela universidade Lusíada.

Sabendo-se a imensa batota (*) que os governos Sócrates têm feito com as contas públicas, alguma da qual já identificada pela missão do Eurostat, a única certeza que se pode ter é que nem o défice nem a dívida pública são o que o governo mostra. Como é que isto é possível? Perguntarão os ingénuos. Veja-se o défice de 2009 que Teixeira dos Santos começou nos dois e acabou nos nove. Vejam-se os défices gregos que depois da queda do governo de Karamanlis foram multiplicados várias vezes pelo PASOK.

Esqueçamos por um momento que, até em política, a verdade e a integridade têm valor por si. Vejamos só a face utilitária da coisa. Face a isto, quem é que o doutorado em York e o licenciado no Lusíada pensam que o seu «patriotismo», ou conformismo no caso do segundo, vai enganar? O Eurostat? As agências de rating? Os «especuladores»? Puro engano. No máximo aliviou o BdeP do dilema do ministro anexo. O impacto líquido da divulgação do défice real e do nível real de endividamento confirmado pelo Eurostat seria muito provavelmente positivo pelo acréscimo de confiança dos credores e dos cidadãos a quem seria possível explicar melhor a extorsão de que vão ser vítimas.

A cumplicidade com a batota só pode ajudar os batoteiros a ganharem uma nova oportunidade de continuarem a batota. Passos Coelhos disparou no próprio pé a arma que Cavaco Silva lhe meteu nas mãos, sob o aplauso das instituições europeias e do casal Sarko-Merkel nada interessados em escândalos comprometedores.

(*) Para quem tenha dúvidas, os 21 posts da subsérie Rigor? da série Lost in translation são um repositório incompletíssimo da batota identificada sem auditoria nenhuma.

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