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14/03/2015

Pro memoria (226) – O estalinismo está vivo no jornalismo de causas (Aditamento)

Escrevi neste post que «o New York Times publicou uma foto da marcha da comemoração do 50.º aniversário do Blood Sunday em Selma, Alabama da qual suprimiu George W. Bush que se encontrava na cabeça da manifestação a meia dúzia de metros de Obama.» Isso motivou o seguinte comentário de um leitor:

«Acredito que as fotos ou são foto-montagens, ou tiradas em fases diferentes do percurso. Basta atentar na distribuição dos personagens que fazem a "linha da frente". Se formos pela hipótese de "fase diferente do percurso", Obama, sua gravata, as mãos e a inclinação do corpo são diferentes. O restante pessoal é quase todo diferente. Se cortaram alguém, deve haver dezenas de fotos a prová-lo. Com telemóveis ou pads é canja.»

Na verdade, o NYT não «suprimiu George W. Bush», no sentido de apagar a criatura da foto. Isso fariam os apparatchiks ao serviço do estalinismo que não tinham de enfrentar o contraditório e podiam dar-se ao luxo de uma manipulação grosseira. O NYT fez aquilo que o jornalismo de causas moderno faz: uma manipulação muito mais subtil que adopta os ângulos, enquadramentos e perspectivas mais adequados à sua causa, como o mostra os exemplos de todos os dias nas reportagens das manifestações em que centenas aparentam ser milhares e milhares aparentam ser dezenas ou centenas de milhares.

O que o NYT fez foi que é feito todos os dias nas nossas televisões. Adoptou o enquadramento adequado para mostrar (na primeira página) o que queria mostrar e esconder o que queria esconder, como se pode ver na foto seguinte tirada praticamente no mesmo local e com poucos minutos de diferença.


1 comentário:

Anónimo disse...

Assim, sim. Já me convencem.
Abraço