Em tempos, comentei aqui os quase 5 mil cursos a bolognese. Acrescento a esse comentário parte do post do prof. Pinto da Costa no blogue A ciência não é neutra (via 4R) sobre os doutoramentos a bolognese.
«O modelo de doutoramentos americanos é aquele em que se formou não só a espantosa criatividade tecnológica americana, mas também a asiática e muita da europeia!
Até há alguns anos, para se atingir um doutoramento em Engenharia nos EUA tinha-se de ter feito primeiro um Bacharelato de 4 anos, e depois um Mestrado de 2 anos, com tipicamente ano e meio de cadeiras. As cadeiras de Mestrado pertenciam a uma categoria muito mais exigente que as do Bacharelato, as de pós-graduação, e em regra apenas 1 em 4 bacharéis americanos em Eng.ª fazia o Mestrado. Porém, devido à procura por estudantes estrangeiros, o número de Mestres produzidos em Engenharia nos EUA era de facto de 1 para cada 3 Bacharéis.
Tirando a importantíssima diferenciação qualitativa entre as cadeiras de pós-graduação do Mestrado e as do Bacharelato, em número de anos curriculares a exigência não era muito superior à que tínhamos em Portugal antes de Bolonha (mais meio ano, e mais outro tanto para a Tese) e era mesmo igual á que existia até 1970 (quando as licenciaturas em Eng.ª eram de 6 anos em Portugal). Havia também nos EUA Mestrados profissionais, sem Tese, e que em vez desta tinham (mais) cadeiras.
Ora o doutoramento americano requeria em regra mais outro tanto de cadeiras de pós-graduação (portanto, tipicamente mais ano e meio), o que totalizava 7 anos de cadeiras, dos quais 3 de nível superior.
Quando o Mestrado em Engenharia surgiu em Portugal, em 1983, além de exigir a licenciatura prévia de 5 anos, exigia também que esta tivesse sido feita com média de pelo menos 14 valores. As cadeiras estendiam-se por um ano e pode-se dizer, portanto, que nessa altura o Mestrado português em Eng.ª equivalia ao americano, do qual fora aliás em alguns casos simplesmente copiado, nomeadamente a nível dos conteúdos curriculares. Foi a época da criação do INESC e da explosão de doutoramentos em geral. Estes doutoramentos, porém, continuavam a não ter componente curricular, na tradição europeia de origem alemã, e daí as minhas críticas observações no texto feito para a EFACEC.
Compare-se isto com o que trouxe Bolonha: "licenciaturas" de 3 anos, e um Mestrado de 5 com apenas 4 anos e meio de cadeiras, e sem pré-selecção entre uma coisa e outra!
Por outro lado os doutoramentos agora disponíveis seguem o modelo de Bolonha (3º ciclo), alguns em parceria com Universidades americanas, nomeadamente no âmbito do "MIT-Portugal", mas onde se tem apenas um ano de cadeiras (no caso do MIT-Portugal, de qualidade mais que duvidosa!...).
Ou seja: com Bolonha, a componente curricular do doutoramento totaliza agora 5 anos e meio, menos que um Mestrado dos anos 80/90 e tanto como um Mestrado americano, além de que deixou de existir o requisito de ter feito o grau anterior com pelo menos 14 valores!
Por outro lado, a Tese que antes não tinha componente curricular mas se estendia em regra por 4 ou 5 anos, agora é para 2 anos.
Em suma: o Mestrado actual curricularmente é menos do que a antiga licenciatura, e o Doutoramento actual totaliza menos cadeiras que o Mestrado dos anos 80/90, para já nem falar no doutoramento americano...
Quanto ao Doutoramento antigo, de tipicamente de 5 anos de Tese, pura e simplesmente desapareceu. Não há. Nem o correspondente treino de I&D!...
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Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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16/09/2011
Receita infalível para a falência da universidade (2) - dottorati da Bologna a portoghese
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Desfazendo ideias feitas,
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