Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

19/09/2011

Lost in translation (122) – Onde o eng. Mira Amaral traduz o pensamento do Alberto a respeito do TGV da linha de bitola ibérica para mercadorias

«O TGV transformou-se numa querela ideológica. O PS é a favor (porque todo o investimento público é bom) e o PSD é contra porque desconfia que o investimento público estratégico é aquele que nos pede hoje sacrifícios em nome de sacrifícios maiores no futuro...

Nas penúltimas legislativas, Ferreira Leite acusava Sócrates de estar feito com os espanhóis, esquecendo que quem tinha assinado o compromisso tinha sido o seu governo...

A classe política (e os macroeconomistas conexos) (*) não percebe que o TGV é apenas um comboio de passageiros, não é uma linha e o que nós precisamos é de linhas de bitola europeia, para o transporte de mercadorias para a Europa, diminuindo os custos de transação da economia portuguesa. Tal é fundamental porque aí o modo rodoviário está esgotado por razões ambientais e energéticas. Isto foi coisa a que o lóbi eólico nunca ligou pois só se preocupava com o 'popó' elétrico (que não resolve este problema) porque via nele a maneira de escoar o excesso de eólica à noite.

O governo anterior via o filme ao contrário, querendo o Lisboa-Madrid em bitola europeia para transportar passageiros pelo TGV e fazendo de Sines para Espanha uma linha de bitola ibérica para o transporte de mercadorias, as quais teriam de ter depois transbordo para outro comboio circulando em bitola europeia para chegarem à Europa.

O ministro da Economia parece ter percebido o problema mas ainda não se soube explicar e por isso levou um ataque ideológico do PSD por supostamente defender o TGV!

O que há então a fazer é o seguinte:  
  • fazer o troço Poceirão-Caia em bitola europeia;
  • aproveitar a linha de 12 km Poceirão-Pinhal Novo que está em bitola ibérica e numa das vias colocar um carril interior, transformando-a em bitola europeia e levando-a até à Autoeuropa;
  • do Poceirão fazer em bitola europeia nova ligação a Sines e Setúbal.
 Com isto, teremos estes portos e a Autoeuropa já ligadas à Europa, através de Espanha, em bitola europeia!

Depois, como o tráfego de passageiros será pequeno, a linha em bitola europeia até ao Pinhal Novo pode perfeitamente trazer o TGV de Madrid. Aí, sem paragem, ocorrerá a adaptação dos rodados do comboio e este vem tranquilamente até Lisboa pela linha de bitola ibérica e pela ponte 25 de Abril. Com esta solução, investe-se no transporte de mercadorias e quem quiser (até podem ser os espanhóis) traz o TGV até Lisboa, mas sem gastarmos dinheiro em linhas por causa do TGV.

Este raciocínio de linhas de bitola europeia para levar as nossas mercadorias para a Europa também tem de se aplicar aos portos de Aveiro e Leixões e ao escoamento das mercadorias do norte e centro do país. Só que, segundo me dizem, esses projetos ainda não estão feitos e o pais não terá neste momento recursos para fazer todos os investimentos necessários na bitola euro­peia. Comece-se pois pelo tro­ço já estudado e saiba-se expli­car que esta solução não é igual à do TGV socialista!»

TGV E MERCADORIAS, Luís Mira Amaral, no Expresso de 17-09

(*) Sugestão ao Impertinente: adiciona ao Glossário os «macroeconomistas conexos» , como sinónimo de «palhaços que vão à televisão falar de economia» (João César das Neves).

Sem comentários: