Nas penúltimas legislativas, Ferreira Leite acusava Sócrates de estar feito com os espanhóis, esquecendo que quem tinha assinado o compromisso tinha sido o seu governo...
A classe política (e os macroeconomistas conexos) (*) não percebe que o TGV é apenas um comboio de passageiros, não é uma linha e o que nós precisamos é de linhas de bitola europeia, para o transporte de mercadorias para a Europa, diminuindo os custos de transação da economia portuguesa. Tal é fundamental porque aí o modo rodoviário está esgotado por razões ambientais e energéticas. Isto foi coisa a que o lóbi eólico nunca ligou pois só se preocupava com o 'popó' elétrico (que não resolve este problema) porque via nele a maneira de escoar o excesso de eólica à noite.
O governo anterior via o filme ao contrário, querendo o Lisboa-Madrid em bitola europeia para transportar passageiros pelo TGV e fazendo de Sines para Espanha uma linha de bitola ibérica para o transporte de mercadorias, as quais teriam de ter depois transbordo para outro comboio circulando em bitola europeia para chegarem à Europa.
O ministro da Economia parece ter percebido o problema mas ainda não se soube explicar e por isso levou um ataque ideológico do PSD por supostamente defender o TGV!
O que há então a fazer é o seguinte:
- fazer o troço Poceirão-Caia em bitola europeia;
- aproveitar a linha de 12 km Poceirão-Pinhal Novo que está em bitola ibérica e numa das vias colocar um carril interior, transformando-a em bitola europeia e levando-a até à Autoeuropa;
- do Poceirão fazer em bitola europeia nova ligação a Sines e Setúbal.
Depois, como o tráfego de passageiros será pequeno, a linha em bitola europeia até ao Pinhal Novo pode perfeitamente trazer o TGV de Madrid. Aí, sem paragem, ocorrerá a adaptação dos rodados do comboio e este vem tranquilamente até Lisboa pela linha de bitola ibérica e pela ponte 25 de Abril. Com esta solução, investe-se no transporte de mercadorias e quem quiser (até podem ser os espanhóis) traz o TGV até Lisboa, mas sem gastarmos dinheiro em linhas por causa do TGV.
Este raciocínio de linhas de bitola europeia para levar as nossas mercadorias para a Europa também tem de se aplicar aos portos de Aveiro e Leixões e ao escoamento das mercadorias do norte e centro do país. Só que, segundo me dizem, esses projetos ainda não estão feitos e o pais não terá neste momento recursos para fazer todos os investimentos necessários na bitola europeia. Comece-se pois pelo troço já estudado e saiba-se explicar que esta solução não é igual à do TGV socialista!»
TGV E MERCADORIAS, Luís Mira Amaral, no Expresso de 17-09
(*) Sugestão ao Impertinente: adiciona ao Glossário os «macroeconomistas conexos» , como sinónimo de «palhaços que vão à televisão falar de economia» (João César das Neves).
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