Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

14/10/2016

SERVIÇO PÚBLICO: Da próxima vez também não vai ser diferente (8)

[Uma espécie de continuação de «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e de «Da próxima vez também não vai ser diferente»]

Esta série de posts tem sido dedicada aos riscos das políticas de quantitative easing (QE) e de taxas de juro evanescentes adoptadas pela Fed, primeiro, e depois copiadas, sucessivamente, pelo Banco de Inglaterra, pelo BCE e pelo Banco Central do Japão.

Em resultado dessas políticas foram este ano emitidas até agora obrigações num valor estimado em $5 biliões (milhões de milhões no sistema métrico ou triliões no sistema anglo-saxónico!). Os governos e os respectivos bancos centrais que adoptaram estas políticas monetárias não convencionais tinham a esperança que esta montanha de dinheiro servisse para financiar o investimento privado, acelerar o crescimento e criar empregos.

Essa é uma esperança infundada. Metade do valor destas emissões é dentro do sector financeiro. Outras partes importantes são emissões de empresas públicas como a Pemex e a Sinopec, emissões para financiar takeovers como o do japonês Softbank sobre a ARM ou da da irlandesa Shire sobre a Baxalta. Em conclusão, para usar as palavras da Economist, «far from stimulating growth, low rates seem to be keeping zombie firms alive and encouraging financial engineering».

Outro exemplo: alguém acredita que, sem essas políticas, o Estado zombie italiano pudesse ter colocado, como colocou a semana passada, 5 mil milhões de euros a um prazo de 50 anos e uma taxa média inferior a 3% com um rateio de quase 4 para 1?

Para ir ao fundo da questão, citando Bill Gross, um dos primeiro cépticos sobre estas políticas:

«Our financial markets have become a Vegas/Macau/Monte Carlo casino, wagering that an unlimited supply of credit generated by central banks can successfully reflate global economies and reinvigorate nominal GDP growth to lower but acceptable norms in today’s highly levered world.»

«Ultimately though, in broader more subjective terms, it is capitalism itself that is threatened by the ongoing Martingale strategies of central banks. As central bank purchases grow, and negative/zero interest rate policies persist, they will increasingly inhibit capitalism from carrying out its primary function — the effective allocation of resources based upon return relative to risk.»

Felizmente o número e peso dos cépticos aumenta cada dia (ver a série «O clube dos incréus reforçou-se»), mas pode ser demasiado tarde a acreditarmos nas previsões de alguns analistas como o HSBC Holdings Plc citado pela Bloomberg que considera alto o risco de um crash nas bolsas americanas, com os óbvios riscos de propagação às bolsas europeias e asiáticas, dado o elevado nível de integração dos mercados.

Sem comentários: