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09/10/2016

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O mistério do Angoche (4)

Uma espécie de conto em fascículos, a pretexto do misterioso caso do Angoche há 45 anos, sobre a aventura de Ulisses Trinta e Quatro a bordo do dito Angoche. O autor APS, de quem já aqui publicámos há dez anos os «Contributos para a Teoria Geral do Prego» é um dos detractores mais impertinentes do (Im)pertinências.

48. Leviatã [continuação de (1), (2) e (3)]

De volta ao portaló o imediato fixou os termos em que poderia contratar o senhor Ulisses: 

1) Começaria a trabalhar imediatamente preparando o almoço dos oficiais. Se a qualidade de cozinheiro corresponder às suas palavras fica contratado para esta viagem e para todas as que se seguirem desde que mantenha a qualidade da cozinha e execute as restantes tarefas em que se declarou preparado;  

2) Viajará sempre na qualidade de passageiro e será pago pela tripulação e não pela empresa proprietária do navio;

3) O contrato poderá ser cancelado por ambas as partes em qualquer momento não se carecendo de uma causa para esse efeito.

Obviamente que nem é necessário colocar a questão de se saber se o senhor Ulisses aceitava ou não as condições: o homem estava nos sétimos céus. Mas o imediato ainda tinha umas quantas questões, para além da verdadeira razão de o contratar como mainato ter mais a ver com o nome do que com as promessas do próximo futuro passageiro tripulante do navio:

Porque lhe fora dado aquele nomes Ulisses Trinta e Quatro e para esta ingente questão a resposta foi coerente e satisfatória:

Os povo aqui não tem registo e não sabe idade e os pai de eu resorver botar ano nos nome, mas os comandante poder mudar para outro número. Não far mal!
  
O imediato nem se sentiu lisonjeado por ser tratado por comandante informando o futuro cozinheiro de que se o pai lhe tinha dado aquele número como nome não seria ele que o ia alterar. Abordou a outra questão que o intrigava e que era o entendimento que o Ulisses tinha de horas, ventos e marés:

Eu saber sempre as hora dos dia e das noite sem ter máquina. Saber sempre o tempo que faz nos semana que vem e saber sempre as altura dos maré

 O homem estava a gozar ou era doido. Então que horas são? 

9 hora e 43 minuto!  

Eram mesmo mas o Ulisses poderia ter visto as horas no relógio do comandante ou algures no navio. Faltava, ainda o teste da maré. Qual era a altura naquele momento?   

Um metro e dez centímetro! 

Uma olhadela aos papéis de navegação dava conta exactamente daquela altura. O homem não estava a gozar mas, por certo, era doido.

(Continua)

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