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18/10/2016

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (9)

Como uma continuação daquidali e dacolá.

A quase unanimidade da opinião publicada (que costuma ser muito diferente da opinião pública) sobre a ascensão ao Olimpo de um Guterres «maior do que Portugal» é o resultado, a meu ver, de três características muito peculiares, a saber: os complexos de inferioridade dos portugueses e a consequente necessidade de imaginarem que têm os olhos do mundo postos em si e a procura incessante de heróis; a dificuldade de lidar com as diferenças de opinião que nos leva a refugiar nos falsos consensos, geralmente baseados em mal-entendidos, e o inerente culto do «diálogo» e dos seus promotores e, claro, o domínio dos mídia pelo jornalismo de causas que serve de câmara de eco para a promoção das suas figuras preferidas.

É por isso que vale a pena realçar as pouquíssimas opinião desalinhadas e, entre elas, duas que escreveram sem rodriguinhos e sem insinuações subliminares o que pensam da criatura. Aqui vão.

«É por isso que a extraordinária histeria em redor da nomeação de António Guterres para secretário-geral me soou mais a uma saraivada de insultos involuntários do que à aclamação colectiva que pretendeu ser. O homem certo no lugar certo, nas palavras do dr. Costa? Não é preciso ofender. É verdade que o eng. Guterres deixou, pelo menos aqui, um embaraçoso rasto de inépcia. Mas nem o descontrolo decisivo da despesa pública nem o poder que concedeu a um grupinho de pequenos e médios malfeitores transformam o eng. Guterres no líder ideal de uma organização habituada a relativizar a opressão e o terrorismo. Embora o eng. Guterres não merecesse grande coisa, a ONU merecia bastante pior.»

Alberto Gonçalves no DN

«Agora que já acabou ou, pelo menos, se atenuou a campanha patriótica para a canonização de Guterres, talvez se possa olhar para ele com alguma tranquilidade e medida. Por acaso conheço a criatura. É um homem fraco, influenciável, indeciso e superficial. A crónica amnésia deste país fez desaparecer numa semana de glória o péssimo governo que ele dirigiu; um governo que estava sempre em crise porque o primeiro ministro avançava, recuava, não era capaz de resolver nada de uma vez para sempre e, como disse Medina Carreira, caía em terríveis transes de angústia quando tinha de dizer “não”. Esse é o Guterres de que me lembro e não me parece a encarnação de um grande diplomata. Quanto ao resto, o católico a roçar o beato, cheio de amor pelos pobrezinhos, também não me entusiasma: a ONU não precisa de uma nova versão de Sta. Teresa de Calcutá

Vasco Pulido Valente no Observador

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