Há 4 anos, no auge da «austeridade» imposta pelo governo «neoliberal», escrevi um post com o mesmo título deste sem interrogação, de onde respigo os dois parágrafos seguintes.
Embora as paranoias políticas sejam transversais às ideologias e às classes sociais e tenham graus muito variados, fui percebendo ao longo dos anos serem mais frequentes à medida que se caminha para os extremos do espectro político e ou nos indivíduos com ocupações e vidas mais arredadas do mundo real, do quotidiano de sobrevivência, dos horários e das metas que é preciso cumprir, do fim do mês que custa a chegar, dos engarrafamentos ou do aperto dos transportes públicos, das fraldas, das noites mal dormidas por causa dos dentes dos filhos, etc. – um grande etc.
Ocorreram-me estas reflexões a propósito de manifestações recentes de indignação de dois intelectuais da nossa praça, as quais, sem preocupações de rigor científico, classifico como paranoia política mitigada. Uma das manifestações são as indignações recorrentes nos últimos tempos de Pacheco Pereira nos seus comentários no Público, revoltado contra as «inevitabilidades» em geral e, em particular, contra as políticas de austeridade e contra a ditadura da economia, isto é dos constrangimentos do mundo real.
Quatro anos depois, o mesmo Pacheco Pereira, no mesmo Público, escreve um artigo (a que cheguei através de João Miguel Tavares, porque já não tenho pachorra para ler a prosa da criatura) que é uma espécie de auto-crítica do sua luta contra as «inevitabilidades». Nesse artigo Pacheco Pereira para justificar a tortura que António Costa, a quem se prestou servir de trampolim, o PS e a geringonça estão a fazer aos seus programas para se manterem a flutuar, descobre uma macro-inevitabilidade, a saber: «uma política imposta de fora pelo Eurogrupo, cujos resultados na estagnação da economia são reconhecidos por todos».
Não é extraordinário? Onde andou Pacheco Pereira nos últimos 30 anos? Como foi possível aquela mente superlativa só agora descobrir esta macro-inevitabilidade? E, ainda assim, não fez a descoberta mais importante: a política imposta de fora pelo Eurogrupo não tem sempre os mesmos resultados. No caso do Portugal socialista e da Grécia esquerdista é de facto a estagnação da economia. Mas por que terá a mesma política imposta de fora resultados completamente diferentes na Irlanda e na Espanha, por exemplo?
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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