Outras preces.
«Marcelo, segundo ele próprio confessou, tinha muita curiosidade em conhecer Cuba e o assassino que os cubanos por lá conservam e que há 50 anos usava o nome de Fidel Castro. Não devemos tirar estes prazeres ao nosso Presidente, mesmo sem saber qual é a nossa política externa — para além evidentemente da ocasional caravana de mendicantes a pedir uma esmolinha por amor de Deus — e quem a faz.»
Vasco Pulido Valente, no Observador, tirando-me, mais uma vez, as palavras da boca e mostrando porque é uma das poucas luminárias neste país com independência de espírito para pensar o impensável pela mediocridade nacional e de dizer o indizível pela subserviência doméstica.
Aditamento:
Não deveria ser uma surpresa para ninguém que Marcelo Rebelo de Sousa tenha omitido na sua intervenção feita na Universidade de Havana uma parte escrita do discurso distribuído aos jornalistas onde referia que Portugal tem «um sistema político baseado no multipartidarismo». É algo inerente à sua persona, fazer o impossível por agradar a gregos (os papalvos em Portugal) e a troianos (a nomenclatura de assassinos que governa Cuba). A isso acrescentou o insulto à inteligência dos portugueses que não fumam os seus charutos com a desculpa esfarrapada: «como sabem eu não segui a intervenção e cortei-a em algumas partes. Portanto, houve saltos de intervenção»
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
31/10/2016
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (55)
Outras avarias da geringonça.
Citando João César das Neves a confirmar o que aqui temos escrito sobre uma parte do milagre do défice de 2016: «(...) um assunto quase omisso nos textos em português: as cativações, despesa prevista mas não autorizada. O governo confidencia pressurosamente aos inspectores comunitários que 1572,5 milhões de euros do que prometeu gastar, metade da redução conseguida no défice, afinal era só a fingir, ficando congelados à partida.»
A outra parte do milagre está aqui bem explicada com a análise da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) de onde se conclui que a execução do OE 2017 pelo governo da geringonça vai falhar todas as previsões de IRS, IRC, IVA, e ISP e para compensar corta nas despesas de capital.
Citando João César das Neves a confirmar o que aqui temos escrito sobre uma parte do milagre do défice de 2016: «(...) um assunto quase omisso nos textos em português: as cativações, despesa prevista mas não autorizada. O governo confidencia pressurosamente aos inspectores comunitários que 1572,5 milhões de euros do que prometeu gastar, metade da redução conseguida no défice, afinal era só a fingir, ficando congelados à partida.»
A outra parte do milagre está aqui bem explicada com a análise da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) de onde se conclui que a execução do OE 2017 pelo governo da geringonça vai falhar todas as previsões de IRS, IRC, IVA, e ISP e para compensar corta nas despesas de capital.
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (70) - O Estado que se esvazia, diz ele
«É absurdo invocar "1984" num tempo em que o Estado se esvazia» escreveu na sua coluna do Expresso Daniel Oliveira, o comentador que faz política ou o político que faz comentário (escolher conforme o gosto), com carteira de jornalista.
O esvaziamento do Estado português
Fonte: de um comentário a este post de O Insurgente (não verifiquei o rigor dos dados históricos) |
30/10/2016
ARTIGO DEFUNTO: Como melhores líderes do PSD, o Expresso elege Rui Rio (para o PS) e Passos Coelho (para o PSD)
A campanha do Acção Socialista Expresso, o semanário de referência, página a página
«Geringonça além de uma legislatura»
1.ª Página: O preço
«PS já admite apoiar a recandidatura de Marcelo...»
1.ª página : O favorito para o PS
Páginas 4: Citando o favorito para sair das tábuas
«Rui Rio avalia candidatura contra Passos»
Páginas 4 e 5: O favorito e os suplentes
- Rui Rio - «O esperado que nunca veio»
- J. E. Martins / P. Duarte - «Os críticos do congresso» (serão gémeos separados à nascença? serão candidatos a uma liderança bicéfala?)
- Paulo Rangel - «A reserva de Bruxelas»
- M. Luís Albuquerque - «A herdeira de Pedro»
- Santana / M. Mendes - «Ex-líderes e senadores» (serão gémeos separados à nascença? serão candidatos a uma liderança bicéfala?)
«Marcelo à espera de um novo PSD»
Página 8: O incumbente a substituir
«Líder fixa guião para oposição longa»
«Líder fixa guião para oposição longa»
Página 8: O perigo a evitar
«Passos aproxima-se de Marcelo»
Conclusão: Tenho as maiores dúvidas de que Passos Coelho seja o líder que uma oposição não socialista/comunista/esquerdista precisaria para governar e adoptar as reformas que o Estado e o país precisam. Quem não tem dúvidas é oAcção Socialista Expresso.
Conclusão: Tenho as maiores dúvidas de que Passos Coelho seja o líder que uma oposição não socialista/comunista/esquerdista precisaria para governar e adoptar as reformas que o Estado e o país precisam. Quem não tem dúvidas é o
Etiquetas:
artigo defunto,
central de manipulação,
jornalismo de causas
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (4)
Outros excertos.
Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«Desde o 25 de Abril que o Estado-providência tornou, com 30 anos de atraso, no fundamento do futuro da vida de milhões de portugueses. Directamente, porque lhes dá emprego, ou indirectamente porque, em teoria pelo menos, encarrega de lhes pagar a educação dos filhos, de os tratar na doença e de os sustentar na velhice. Bem sabemos que mal. Mas qualquer maneira o ponto está em que o Estado-providência substituiu a responsabilidade de cada indivíduo por si próprio e que hoje quase todos nós dependemos dele. O que, em princípio, não seria trágico, se ele fosse indefinidamente sustentável. Quando na Europa, depois da Segunda Guerra o começaram a organizar a sério, não passou pela cabeça de ninguém que as funções do Estado-providência crescessem como cresceram e que o preço dos seus serviços chegasse onde chegou.
O ensino "universal e gratuito" era sumário, a medicina primitiva e os reformados morriam economicamente por volta dos 70 anos. Ainda por cima, uma população jovem podia financiar facilmente tudo isso. Agora, não. A população envelheceu, os cuidados médicos são cada vez mais caros para cada vez mais gente e o ensino alastrou, sem lógica nem senso, do pré-escolar à universidade. O Estado-providência está virtualmente falido.
Só que a "Europa" e Portugal com ela, reconhecendo vagamente a realidade, se recusam a agir em consequência. Vivemos numa ficção política ou, se quiserem, numa grande mentira. Como Barroso e Sócrates, na Alemanha, em França e em Itália, vários governos tentaram pôr remendos por aqui e por ali para atenuar ou disfarçar as coisas. Não resolveram nada e ficaram a ser cordialmente odiados. Sempre alimentada pela irresponsabilidade e pelo medo, a grande mentira não se desfaz sem dor. A nossa história já é hoje a história da ruína do Estado-providência, que de medida em medida e de orçamento em orçamento irá desaparecendo. Não é a história de um acidente ou de um "mau bocado". É a história de um mundo que se extingue. Não sem desespero.»
A grande mentira, 17-07-2005
Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«Desde o 25 de Abril que o Estado-providência tornou, com 30 anos de atraso, no fundamento do futuro da vida de milhões de portugueses. Directamente, porque lhes dá emprego, ou indirectamente porque, em teoria pelo menos, encarrega de lhes pagar a educação dos filhos, de os tratar na doença e de os sustentar na velhice. Bem sabemos que mal. Mas qualquer maneira o ponto está em que o Estado-providência substituiu a responsabilidade de cada indivíduo por si próprio e que hoje quase todos nós dependemos dele. O que, em princípio, não seria trágico, se ele fosse indefinidamente sustentável. Quando na Europa, depois da Segunda Guerra o começaram a organizar a sério, não passou pela cabeça de ninguém que as funções do Estado-providência crescessem como cresceram e que o preço dos seus serviços chegasse onde chegou.
O ensino "universal e gratuito" era sumário, a medicina primitiva e os reformados morriam economicamente por volta dos 70 anos. Ainda por cima, uma população jovem podia financiar facilmente tudo isso. Agora, não. A população envelheceu, os cuidados médicos são cada vez mais caros para cada vez mais gente e o ensino alastrou, sem lógica nem senso, do pré-escolar à universidade. O Estado-providência está virtualmente falido.
Só que a "Europa" e Portugal com ela, reconhecendo vagamente a realidade, se recusam a agir em consequência. Vivemos numa ficção política ou, se quiserem, numa grande mentira. Como Barroso e Sócrates, na Alemanha, em França e em Itália, vários governos tentaram pôr remendos por aqui e por ali para atenuar ou disfarçar as coisas. Não resolveram nada e ficaram a ser cordialmente odiados. Sempre alimentada pela irresponsabilidade e pelo medo, a grande mentira não se desfaz sem dor. A nossa história já é hoje a história da ruína do Estado-providência, que de medida em medida e de orçamento em orçamento irá desaparecendo. Não é a história de um acidente ou de um "mau bocado". É a história de um mundo que se extingue. Não sem desespero.»
A grande mentira, 17-07-2005
29/10/2016
QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (50) O clube dos incréus reforçou-se (XV)
Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.
Até na Economist, durante 7 ou 8 anos um bastião da defesa do intervencionismo dos bancos centrais e dos poderes miraculosos das políticas monetárias de alívio quantitativo e de taxas de juro nulas ou negativas, a fé começa a fraquejar. Ora confira-se este trecho de um artigo com o título sugestivo «Who's scary now?»:
«Central banks have been the biggest factor in the market’s transformation. After the crisis, they turned to quantitative easing (QE), ie, expanding their balance-sheets by creating new money in order to buy assets. The collective balance-sheets of the six most active (the Federal Reserve, Bank of Japan, European Central Bank, Swiss National Bank, Bank of England and People’s Bank of China) have grown from around $3 trillion in 2002 to more than $18 trillion today, according to Pimco, a fund-management group. These central banks want to lower bond yields—indeed, the Bank of Japan intends to keep the ten-year Japanese bond yield at around 0%. Instead of acting as vigilantes patrolling profligate politicians, central banks have become their accomplices.»
Até na Economist, durante 7 ou 8 anos um bastião da defesa do intervencionismo dos bancos centrais e dos poderes miraculosos das políticas monetárias de alívio quantitativo e de taxas de juro nulas ou negativas, a fé começa a fraquejar. Ora confira-se este trecho de um artigo com o título sugestivo «Who's scary now?»:
«Central banks have been the biggest factor in the market’s transformation. After the crisis, they turned to quantitative easing (QE), ie, expanding their balance-sheets by creating new money in order to buy assets. The collective balance-sheets of the six most active (the Federal Reserve, Bank of Japan, European Central Bank, Swiss National Bank, Bank of England and People’s Bank of China) have grown from around $3 trillion in 2002 to more than $18 trillion today, according to Pimco, a fund-management group. These central banks want to lower bond yields—indeed, the Bank of Japan intends to keep the ten-year Japanese bond yield at around 0%. Instead of acting as vigilantes patrolling profligate politicians, central banks have become their accomplices.»
Pro memoria (324) - Explicação retroactiva da comunhão de almas
Não costumo ocupar-me dos vícios privados dos colunáveis, a não ser que esses vícios privados tenham consequências públicas e os colunáveis sejam criaturas que directa ou indirectamente se tornaram públicas por interferirem na res publica. Como é o caso presente.
Como sabe muita gente que escreveu na ou frequentou a bloguilha nos anos de brasa do socratismo, o blogue Câmara Corporativa era então uma das câmaras de eco mais repugnantes do animal feroz. O seu autor, Miguel Abrantes, já então se suspeitava ser um pseudónimo de um factótum de Sócrates.
Pois bem, dez anos depois, veio a confirmar-se que o factótum era um tal António Peixoto, avençado em 3.500 euros por mês por Sócrates pela via do costume - o factótum seu amigo Santos Silva. Até aqui nada de inesperado por parte de gente de quem se espera tudo.
A novidade está na namorada, ou lá o que tenha sido Fernanda Câncio, de quem, à parte o facto de ter trocado fluidos e partilhado vivências extravagantemente dispendiosas com o animal feroz, não conhecia outros actos censuráveis. Pedro Rolo Duarte veio agora a recordar ter a «jornalista militante da ética, da verdade e da deontologia» escrito no blog Jugular, em 22 de Fevereiro de 2008: «Eu ... conheço o miguel abrantes. vi-o, jantei com ele, sei onde trabalha». Foi uma mentira supérflua e, só por si, explica a posteriori a facilidade com que privou com um sujeito a quem chamaram de pinóquio.
Em conclusão, se tudo em que Midas tocava se transformava em ouro, tudo o que o animal feroz tocou e toca transforma-se em (ou revela-se) excremento.
Como sabe muita gente que escreveu na ou frequentou a bloguilha nos anos de brasa do socratismo, o blogue Câmara Corporativa era então uma das câmaras de eco mais repugnantes do animal feroz. O seu autor, Miguel Abrantes, já então se suspeitava ser um pseudónimo de um factótum de Sócrates.
Pois bem, dez anos depois, veio a confirmar-se que o factótum era um tal António Peixoto, avençado em 3.500 euros por mês por Sócrates pela via do costume - o factótum seu amigo Santos Silva. Até aqui nada de inesperado por parte de gente de quem se espera tudo.
A novidade está na namorada, ou lá o que tenha sido Fernanda Câncio, de quem, à parte o facto de ter trocado fluidos e partilhado vivências extravagantemente dispendiosas com o animal feroz, não conhecia outros actos censuráveis. Pedro Rolo Duarte veio agora a recordar ter a «jornalista militante da ética, da verdade e da deontologia» escrito no blog Jugular, em 22 de Fevereiro de 2008: «Eu ... conheço o miguel abrantes. vi-o, jantei com ele, sei onde trabalha». Foi uma mentira supérflua e, só por si, explica a posteriori a facilidade com que privou com um sujeito a quem chamaram de pinóquio.
Em conclusão, se tudo em que Midas tocava se transformava em ouro, tudo o que o animal feroz tocou e toca transforma-se em (ou revela-se) excremento.
28/10/2016
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (142) – L'État, c'est nous
Se já era claro que António Domingues, o novo presidente da Caixa, nos atirou areia para os olhos e os ouvidos ao negar ter tido informação privilegiada para preparar o plano estratégico ainda antes de ter sido nomeado em 1 de Setembro, agora, a confirmar-se a notícia do Correio da Manhã, Domingues adjudicou por sua conta em Fevereiro, seis meses antes de ser nomeado, o plano estratégico à McKinsey pela bela quantia de 3 milhões de euros.
O que significa isto? Significa que a clique socialista se entende proprietária do Estado pago pelos sujeitos passivos e acha por isso normal tratar a res publica como uma extensão do seu aparelho partidário.
BELIEVE IT OR NOT: Apple vs Microsoft - Times are a-changing
«Who would have thought that at back-to-back hardware events in the year 2016, Microsoft Corp.’s would prove the much more innovative and exciting one over Apple Inc.? Times are a-changing.
On Wednesday, Microsoft unveiled the Windows 10 Creators Update that includes 3D imaging tools; new virtual-reality headsets that can be used through a HoloLens platform on Windows PCs; live broadcasting for Xbox; a $2,999 enterprise-grade desktop called Surface Studio that essentially folds into a table-sized tablet; the Surface Dial, which is an input device for Surface products that lets users toggle between different menu items by twisting it like a doorknob; and the Surface Book i7.
On Thursday, Apple unveiled a new app for Apple TV that essentially is a glorified TV guide without the world’s two most popular streaming services on it — Amazon.com Inc.’s Prime Video and Netflix Inc. - two new MacBook Pros that are marginally thinner and lighter than their predecessors, and a new input feature called Touch Bar that, similar to Surface Dial, lets users more easily interact with their screens from the top of their PCs and can adapt input options based on the software being used at the time.»
On Wednesday, Microsoft unveiled the Windows 10 Creators Update that includes 3D imaging tools; new virtual-reality headsets that can be used through a HoloLens platform on Windows PCs; live broadcasting for Xbox; a $2,999 enterprise-grade desktop called Surface Studio that essentially folds into a table-sized tablet; the Surface Dial, which is an input device for Surface products that lets users toggle between different menu items by twisting it like a doorknob; and the Surface Book i7.
On Thursday, Apple unveiled a new app for Apple TV that essentially is a glorified TV guide without the world’s two most popular streaming services on it — Amazon.com Inc.’s Prime Video and Netflix Inc. - two new MacBook Pros that are marginally thinner and lighter than their predecessors, and a new input feature called Touch Bar that, similar to Surface Dial, lets users more easily interact with their screens from the top of their PCs and can adapt input options based on the software being used at the time.»
«Apple demolished by Microsoft at their respective PC events», MarketWatch
Mitos (242) – Os nossos males resultam do tratado orçamental
Tudo estava bem enquanto tivemos o Escudo, segundo uma vulgata adoptada por comunistas, bloquistas, certas correntes socialistas, conforme a estação, e até, imagine-se, pela Dr.ª Manuela Ferreira Leite que há 2 semanas atrás declarou «enquanto houver tratado orçamental, Portugal [e outros países europeus que estão na mesma situação] não vai crescer».
A declaração de MFL, como seria de esperar, foi imediatamente propagada urbi et orbi pelo jornalismo de causas, não por causa da autora (que por vezes diz coisas com sentido que não são propagadas), mas porque se tratava de uma opinião «independente» avalizando uma das bandeiras da esquerdalhada.
Sendo certo que, como aqui no (Im)pertinências há muito temos defendido (nós e muitos outros antes de nós, por exemplo estes nove), a adopção da moeda única foi um erro, porque a Zona Euro está a anos-luz de ser uma zona monetária óptima (ver esta etiqueta), isso não permite explicar as nossas desgraças como bem se escreveu aqui no Insurgente, de onde saquei o diagrama acima, completado com a indicação dos países da Zona Euro.
De facto, só por ignorância ou desonestidade intelectual se pode considerar o tratado orçamental como o factor principal do crescimento abaixo da média da UE de um país que nas últimas 4 décadas só cresceu acima dela meia dúzia de anos a seguir à adesão. Olhando-se para o diagrama da taxa real de crescimento do PIB (assinalados os anos da adesão à EU e da adopção do Euro) percebe-se claramente a tendência de longo prazo para estagnação. Comparando o crescimento verifica-se que o tratado orçamental não impediu 2/3 dos países da Zona Euro crescerem acima da média, e alguns deles muito acima, como o tigre celta que no período 200-2015 cresce 60% contra uns poucos por cento do tareco lusitano (ver o post «Os felinos antes e depois da crise»).
A declaração de MFL, como seria de esperar, foi imediatamente propagada urbi et orbi pelo jornalismo de causas, não por causa da autora (que por vezes diz coisas com sentido que não são propagadas), mas porque se tratava de uma opinião «independente» avalizando uma das bandeiras da esquerdalhada.
Sendo certo que, como aqui no (Im)pertinências há muito temos defendido (nós e muitos outros antes de nós, por exemplo estes nove), a adopção da moeda única foi um erro, porque a Zona Euro está a anos-luz de ser uma zona monetária óptima (ver esta etiqueta), isso não permite explicar as nossas desgraças como bem se escreveu aqui no Insurgente, de onde saquei o diagrama acima, completado com a indicação dos países da Zona Euro.
De facto, só por ignorância ou desonestidade intelectual se pode considerar o tratado orçamental como o factor principal do crescimento abaixo da média da UE de um país que nas últimas 4 décadas só cresceu acima dela meia dúzia de anos a seguir à adesão. Olhando-se para o diagrama da taxa real de crescimento do PIB (assinalados os anos da adesão à EU e da adopção do Euro) percebe-se claramente a tendência de longo prazo para estagnação. Comparando o crescimento verifica-se que o tratado orçamental não impediu 2/3 dos países da Zona Euro crescerem acima da média, e alguns deles muito acima, como o tigre celta que no período 200-2015 cresce 60% contra uns poucos por cento do tareco lusitano (ver o post «Os felinos antes e depois da crise»).
27/10/2016
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (3)
Outros excertos.
Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«Não é talvez necessário dizer que a irracionalidade, o patrocínio e o ócio sufocam o país. As Cortes de 1821 disseram o mesmo, sem qualquer resultado visível. Excepto, como é óbvio, 30 anos de uma guerra civil intermitente e brutal, que hoje a sra. Merkel não permitiria.
Precisamos de mudar de vida, como previnem os peritos? Claro que precisamos de mudar de vida. Só que a única maneira de mudar de vida é ganharmos menos, bastante menos, para não gastar o que não há; e desfazer depressa o Estado, que os privilegiados fizeram à sua medida. Mas, por um lado, esses privilegiados tomam conta, e boa conta, do Estado que os serve e não o largarão com facilidade e, por outro lado, não se vê quem possa, com a doçura a que os costumes obrigam, correr com eles. Nem o FMI e a "Europa'', se por acaso vierem, conseguirão reformar os portugueses. A herança é pesada.»
«A herança é pesada» 05-12-2010
Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«Não é talvez necessário dizer que a irracionalidade, o patrocínio e o ócio sufocam o país. As Cortes de 1821 disseram o mesmo, sem qualquer resultado visível. Excepto, como é óbvio, 30 anos de uma guerra civil intermitente e brutal, que hoje a sra. Merkel não permitiria.
Precisamos de mudar de vida, como previnem os peritos? Claro que precisamos de mudar de vida. Só que a única maneira de mudar de vida é ganharmos menos, bastante menos, para não gastar o que não há; e desfazer depressa o Estado, que os privilegiados fizeram à sua medida. Mas, por um lado, esses privilegiados tomam conta, e boa conta, do Estado que os serve e não o largarão com facilidade e, por outro lado, não se vê quem possa, com a doçura a que os costumes obrigam, correr com eles. Nem o FMI e a "Europa'', se por acaso vierem, conseguirão reformar os portugueses. A herança é pesada.»
«A herança é pesada» 05-12-2010
SERVIÇO PÚBLICO: Fazer o possível para o futuro da Caixa ser igual ao seu passado
A peça de João Vieira Pereira, que transcrevemos integralmente e cuja leitura recomendamos, não podia vir mais a propósito deste post do Pertinente.
«Começo pelo fim. António Domingues é o novo presidente da caixa. Tem uma vasta experiência no sector bancário, algo que até agora nunca tinha sido critério para nomear administradores para o banco público. Podemos questionar se Domingues foi um bom gestor no BPI. O banco liderado por Fernando Ulrich não é um caso evidente de sucesso na banca em Portugal, mas está longe de ser dos piores o que, dado o estado geral do sector bancário, é um enorme elogio.
Por isso está na altura de deixarem António Domingues fazer o seu trabalho. A bem da Caixa. A nossa economia precisa de um banco público forte, sem estar manietado por qualquer poder político, a fazer política económica. Com racionalidade. E para isso é necessário uma administração profissional.
Não tenha dúvidas que, se a administração da caixa fosse uma cópia dos erros cometidos por exemplo por Sócrates, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia não tinham aprovado a injeção de capital.
«Começo pelo fim. António Domingues é o novo presidente da caixa. Tem uma vasta experiência no sector bancário, algo que até agora nunca tinha sido critério para nomear administradores para o banco público. Podemos questionar se Domingues foi um bom gestor no BPI. O banco liderado por Fernando Ulrich não é um caso evidente de sucesso na banca em Portugal, mas está longe de ser dos piores o que, dado o estado geral do sector bancário, é um enorme elogio.
Por isso está na altura de deixarem António Domingues fazer o seu trabalho. A bem da Caixa. A nossa economia precisa de um banco público forte, sem estar manietado por qualquer poder político, a fazer política económica. Com racionalidade. E para isso é necessário uma administração profissional.
Não tenha dúvidas que, se a administração da caixa fosse uma cópia dos erros cometidos por exemplo por Sócrates, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia não tinham aprovado a injeção de capital.
26/10/2016
ESTÓRIA E MORAL: Se pára de se mover, subsidia-se (actualização)
Estória
Era uma vez uma cidade com um centro histórico degradado, casas em ruínas de proprietários sem dinheiro para as recuperar por décadas de rendas fixadas administrativamente. Gradualmente, as coisas foram mudando e muitas dessas casas foram compradas por gente com iniciativa que as recuperou e as começou a utilizar para aluguer de curta duração a turistas, aproveitando o afluxo de estrangeiros, que em parte temos de agradecer ao fundamentalismo islâmico que os afastou doutros destinos.
Passado algum tempo, o governo do país onde se situa essa cidade, pressionado pelos partidos apoiantes que não gostam de iniciativas e, sobretudo, não gostam de gente que ganhe dinheiro com as iniciativas, anunciou que vai fixar uma quota aos proprietários de casas com aluguer de curta duração para reservarem uma parte não especificada para o aluguer de longa duração.
Moral
«A visão do governo sobre a economia pode ser resumida em poucas frases curtas: 'Se se movimenta, taxa-se. Se continua a movimentar-se, regula-se. Se pára de se mover, subsidia-se'.»
Com este post de 12 de Agosto ficámos no taxa-se e regula-se. Dois meses depois chegamos ao subsidia-se. Leia-se esta notícia do negócios:
É mais um exemplo de que a geringonça quer acabar com os ricos e aumentar o número de pobres e assim expandir a clientela do Estado Sucial.
Era uma vez uma cidade com um centro histórico degradado, casas em ruínas de proprietários sem dinheiro para as recuperar por décadas de rendas fixadas administrativamente. Gradualmente, as coisas foram mudando e muitas dessas casas foram compradas por gente com iniciativa que as recuperou e as começou a utilizar para aluguer de curta duração a turistas, aproveitando o afluxo de estrangeiros, que em parte temos de agradecer ao fundamentalismo islâmico que os afastou doutros destinos.
Passado algum tempo, o governo do país onde se situa essa cidade, pressionado pelos partidos apoiantes que não gostam de iniciativas e, sobretudo, não gostam de gente que ganhe dinheiro com as iniciativas, anunciou que vai fixar uma quota aos proprietários de casas com aluguer de curta duração para reservarem uma parte não especificada para o aluguer de longa duração.
Moral
«A visão do governo sobre a economia pode ser resumida em poucas frases curtas: 'Se se movimenta, taxa-se. Se continua a movimentar-se, regula-se. Se pára de se mover, subsidia-se'.»
Com este post de 12 de Agosto ficámos no taxa-se e regula-se. Dois meses depois chegamos ao subsidia-se. Leia-se esta notícia do negócios:
PS quer criar subsídio para senhorios pobres
Os proprietários que tenham casas arrendadas e demonstrem ter carências financeiras poderão também vir a beneficiar de um subsídio, tal como existe para os inquilinos que viram os seus contratos ser actualizados no âmbito da reforma do arrendamento.É mais um exemplo de que a geringonça quer acabar com os ricos e aumentar o número de pobres e assim expandir a clientela do Estado Sucial.
A mentira como política oficial (24) - «Atirar areia para a cara das pessoas»
É claro que António Domingues, o novo presidente da Caixa, nos atirou areia para os olhos e os ouvidos ao negar ter tido informação privilegiada para preparar o plano estratégico ainda antes de ter sido nomeado em 1 de Setembro (em meados de Julho Domingues já tinha contratado a McKinsey e o escritório de advogados de Sá Carneiro e em finais de Julho o plano até já tinha sido considerado não credível pelo BCE) e talvez até mesmo ainda quando administrador do BPI, e certamente antes de sequer poder ter a certeza de que seria nomeado.
Mais do que atirar areia, insultou a inteligência das pessoas capazes de perceber que não é possível sem ter acesso a informação privilegiada, apenas com a informação pública, uma criatura a trabalhar sozinha preparar um plano estratégico do maior banco da Jangada de Pedra, empanturrado de crédito malparado, que falhou o stress test do BCE, refúgio de criaturas do regime, ineficiente e cronicamente mal gerido.
Ou, melhor, é possível em Portugal, mas, nesse caso, o governo deveria imediatamente desistir de nomear um impostor chamado António Domingues. Se, com a sua experiência, nada indica que seja impostor, então é provável que como bom socialista seja um mentiroso.
Tudo isto é claro e não restam dúvidas deveria ser denunciado pela oposição à geringonça. Por quem? Por imensa gente - por um qualquer secretário do Príncipe - e não necessariamente pelo líder da oposição Passos Coelho, que acabou a dar mais um tiro no pé. Depois de se ter feito de morto durante muitos meses, deixou-se envolver na polémica com António Domingues, enquanto os patrões dele esfregavam as mãos de contentes ao vê-lo discutir com o empregado. Alguém deveria oferecer a Passos Coelho «O Príncipe» de Maquiavel, antes que seja tarde.
Mais do que atirar areia, insultou a inteligência das pessoas capazes de perceber que não é possível sem ter acesso a informação privilegiada, apenas com a informação pública, uma criatura a trabalhar sozinha preparar um plano estratégico do maior banco da Jangada de Pedra, empanturrado de crédito malparado, que falhou o stress test do BCE, refúgio de criaturas do regime, ineficiente e cronicamente mal gerido.
Ou, melhor, é possível em Portugal, mas, nesse caso, o governo deveria imediatamente desistir de nomear um impostor chamado António Domingues. Se, com a sua experiência, nada indica que seja impostor, então é provável que como bom socialista seja um mentiroso.
Tudo isto é claro e não restam dúvidas deveria ser denunciado pela oposição à geringonça. Por quem? Por imensa gente - por um qualquer secretário do Príncipe - e não necessariamente pelo líder da oposição Passos Coelho, que acabou a dar mais um tiro no pé. Depois de se ter feito de morto durante muitos meses, deixou-se envolver na polémica com António Domingues, enquanto os patrões dele esfregavam as mãos de contentes ao vê-lo discutir com o empregado. Alguém deveria oferecer a Passos Coelho «O Príncipe» de Maquiavel, antes que seja tarde.
Etiquetas:
geringonça,
tiro no pé,
trilema de Žižek,
verdade inconveniente
25/10/2016
BREQUINGUE NIUZ: Porta-voz do ministério da Finanças confirma défice de 2,5%
«Aquilo que conhecemos hoje mostra que, como eu disse repetidas vezes há condições para que o défice fique em 2,5%. Lembram-se que houve quem tivesse muitas dúvidas olhando para os números do primeiro trimestre, do segundo trimestre, terceiro trimestre.»
«Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas à saída da escola Ave-Maria, em Lisboa» (Fonte)
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (2)
Outros excertos.
Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«De ano em ano, o delírio continuou, apesar de um aviso ou outro, invariavelmente atribuído a "velhos do Restelo" e pessimistas profissionais, quando não a reaccionários sem senso ou sem vergonha. Sendo uma sociedade democrática, Portugal precisava de igualdade e fartura. O português precisava de um Estado pressuroso e pródigo desde que nascia até que morria. Excepto por in· veja ou mau carácter, quem negava esta gloriosa evidência? O PS de Guterres conseguiu instalar este absurdo como ortodoxia de Estado. O país foi vítima de uma fraude consciente e continuada durante 20 anos. Agora, dia-a-dia, devagarinho, volta a miséria do costume: na saúde, nas pensões de reforma, no ensino e por aí fora. E as pessoas, sem perceber o que se passa, perguntam: de quem é a culpa? De Sócrates, do estrangeiro, do azar? De quem? A culpa é delas.»
«A culpa é nossa», 28-05-2010
Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«De ano em ano, o delírio continuou, apesar de um aviso ou outro, invariavelmente atribuído a "velhos do Restelo" e pessimistas profissionais, quando não a reaccionários sem senso ou sem vergonha. Sendo uma sociedade democrática, Portugal precisava de igualdade e fartura. O português precisava de um Estado pressuroso e pródigo desde que nascia até que morria. Excepto por in· veja ou mau carácter, quem negava esta gloriosa evidência? O PS de Guterres conseguiu instalar este absurdo como ortodoxia de Estado. O país foi vítima de uma fraude consciente e continuada durante 20 anos. Agora, dia-a-dia, devagarinho, volta a miséria do costume: na saúde, nas pensões de reforma, no ensino e por aí fora. E as pessoas, sem perceber o que se passa, perguntam: de quem é a culpa? De Sócrates, do estrangeiro, do azar? De quem? A culpa é delas.»
«A culpa é nossa», 28-05-2010
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O pastorinho da economia dos amanhãs que cantam e os quatro pérfidos alemães
Secção George Orwell
Era uma vez um pastorinho da economia dos amanhãs que cantariam mas não cantaram e, pelos vistos, não cantarão. Chamava-se Nicolau Santos e tinha o blogue «Keynesiano, graças a Deus», no Expresso, onde escrevia coisas que o John Maynard se ressuscitasse lhe diria Nicolau, Sir, you got stuck in the 30s. (O parágrafo anterior é uma espécie de introdução, que já escrevi de outras vezes, aos dislates da criatura)
Desta vez o pastorinho descobriu por que razão a dívida pública do Portugal da geringonça tem taxas mais elevadas do que a Espanha e a Itália, com situações tão parecidas, segundo ele. Porquê? perguntareis. Simples meu caro Watson, por causa de «quatro alemães contra nós». É precisamente este o título do seu escrito a que não chamo crónica, a não ser no sentido de «doença permanente no indivíduo».
E quem são as bêtes noires do nosso pastorinho de estimação e o que pretendem com a sua conspiração contra o Portugal da geringonça? O pérfido e inevitável Wolfgang Shauble pretende «desviar o foco das atenções do Deutsche»; o pérfido Klaus Regling porque «é alemão, convém não esquecer. E falou pouco dias depois de Wolfgang Shauble»; o outro pérfido Günther Oettinger porque «também é alemão»; finalmente o pérfido conspirador Otmar Issing «teve uma ligação ao Deutsche Bank, é amigo e trabalhou estreitamente com Vítor Gaspar». Voilà. É caso para perguntar onde estaríamos nós se não fossem os alemães? Seríamos o tigre celta em vez do tareco lusitano?
Simples, não é verdade? Por que ninguém ainda se tinha lembrado disso? Ora, porque nem todos têm acesso privilegiado ao Baptista da Silva.
Pela crónica e pela carreira atribuo ao pastorinho Nicolau cinco bourbons, por nada aprender e nada esquecer, e cinco chateaubriands, por confundir efeitos com causas.
Era uma vez um pastorinho da economia dos amanhãs que cantariam mas não cantaram e, pelos vistos, não cantarão. Chamava-se Nicolau Santos e tinha o blogue «Keynesiano, graças a Deus», no Expresso, onde escrevia coisas que o John Maynard se ressuscitasse lhe diria Nicolau, Sir, you got stuck in the 30s. (O parágrafo anterior é uma espécie de introdução, que já escrevi de outras vezes, aos dislates da criatura)
Desta vez o pastorinho descobriu por que razão a dívida pública do Portugal da geringonça tem taxas mais elevadas do que a Espanha e a Itália, com situações tão parecidas, segundo ele. Porquê? perguntareis. Simples meu caro Watson, por causa de «quatro alemães contra nós». É precisamente este o título do seu escrito a que não chamo crónica, a não ser no sentido de «doença permanente no indivíduo».
E quem são as bêtes noires do nosso pastorinho de estimação e o que pretendem com a sua conspiração contra o Portugal da geringonça? O pérfido e inevitável Wolfgang Shauble pretende «desviar o foco das atenções do Deutsche»; o pérfido Klaus Regling porque «é alemão, convém não esquecer. E falou pouco dias depois de Wolfgang Shauble»; o outro pérfido Günther Oettinger porque «também é alemão»; finalmente o pérfido conspirador Otmar Issing «teve uma ligação ao Deutsche Bank, é amigo e trabalhou estreitamente com Vítor Gaspar». Voilà. É caso para perguntar onde estaríamos nós se não fossem os alemães? Seríamos o tigre celta em vez do tareco lusitano?
Simples, não é verdade? Por que ninguém ainda se tinha lembrado disso? Ora, porque nem todos têm acesso privilegiado ao Baptista da Silva.
Pela crónica e pela carreira atribuo ao pastorinho Nicolau cinco bourbons, por nada aprender e nada esquecer, e cinco chateaubriands, por confundir efeitos com causas.
24/10/2016
Pro memoria (323) - O nada multiplicado pelo multiplicador socialista pode tender para infinito
«O primeiro-ministro avisou os bancos esta terça-feira que, mesmo que o Novo Banco seja vendido a um valor mais baixo do que o esperado, não devem contar com qualquer tipo de desconto por parte do Estado, ou seja, os contribuintes não suportarão nem mais um euro.» (Expresso)
Outros exemplos em que os contribuintes não suportaram nem mais um euro:
Na tabuada socialista o resultado de uma multiplicação de 0 pelo multiplicador socialista de Keynes pode ser de milhares de milhões.
Outros exemplos em que os contribuintes não suportaram nem mais um euro:
- SCUT - As auto-estradas sem custos para os
contribuintesutilizadores inventadas pelo Eng. Cravinho no governo do Eng. Guterres agora à frente dos destinos do mundo, segundo os seus admiradores
- A nacionalização do BPN levada a cabo pelo Dr. Teixeira dos Santos no governo do Eng. Sócrates
Na tabuada socialista o resultado de uma multiplicação de 0 pelo multiplicador socialista de Keynes pode ser de milhares de milhões.
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (54)
Outras avarias da geringonça.
Como prometido, vamos autopsiar o OE 2017. Em primeiro lugar os destaques:
- O foco do orçamento é no défice;
- A matéria colectável em IRC dos rendimentos do alojamento local aumenta para quase 8 vezes mais;
- Não há consolidação fiscal;
- Está implícito o reconhecimento que o miraculoso motor do consumo está gripado;
- A receita aumenta 4,1% e a despesa 2,2% ou seja aumenta a extorsão fiscal;
- O crescimento previsto do PIB (1,5%) é provavelmente inatingível;
- A taxa de inflação prevista (1,5%) está claramente inflacionada para ajeitar o cenário macroeconómico.
Como prometido, vamos autopsiar o OE 2017. Em primeiro lugar os destaques:
- O foco do orçamento é no défice;
- A matéria colectável em IRC dos rendimentos do alojamento local aumenta para quase 8 vezes mais;
- Não há consolidação fiscal;
- Está implícito o reconhecimento que o miraculoso motor do consumo está gripado;
- A receita aumenta 4,1% e a despesa 2,2% ou seja aumenta a extorsão fiscal;
- O crescimento previsto do PIB (1,5%) é provavelmente inatingível;
- A taxa de inflação prevista (1,5%) está claramente inflacionada para ajeitar o cenário macroeconómico.
23/10/2016
Exemplos do costume (46) – É mais o que os une do que aquilo que os divide
Rodrigo Duterte, o novo presidente das Filipinas, o mesmo que pretende acabar com a droga assassinando todos os dealers e se referiu publicamente a Barack Obama como «son of a bitch», visitou esta semana a China, com quem as Filipinas têm pendentes várias disputas territoriais. Durante a visita, Duterte anunciou a separação económica e política das Filipinas com os EUA, o seu aliado de décadas, e declarou:
«I've realigned myself in your ideological flow and maybe I will also go to Russia to talk to Putin and tell him that there are three of us against the world - China, Philippines and Russia.»
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (1)
Começa aqui uma nova série de posts com excertos de algumas crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«Desde 1974 que os portugueses são sistematicamente deseducados pelos políticos. Do paraíso igualitário do PREC e do "homem novo" de Cavaco à insana liberalidade de Guterres, sempre lhes prometeram uma vida melhor - uma vida cada vez melhor, mais próspera, mais tolerante, mais segura. E os portugueses, na sua habitual inconsciência, acreditaram. Verdade que o Ocidente inteiro, animado pelo crescimento contínuo, ou quase contínuo, de quase 20 anos também acreditou. Até ao momento em que se constatou com espanto e com terror que não existia dinheiro para esse milagre. A crise internacional (que não por acaso começou no mercado imobiliário americano) é como a nacional uma crise de expectativas: a simples descoberta da diferença entre o que as pessoas desejavam e os meios que tinham, entre o que ganhavam e o que gastavam.»
«A grande ilusão», 27-03-2010
«Desde 1974 que os portugueses são sistematicamente deseducados pelos políticos. Do paraíso igualitário do PREC e do "homem novo" de Cavaco à insana liberalidade de Guterres, sempre lhes prometeram uma vida melhor - uma vida cada vez melhor, mais próspera, mais tolerante, mais segura. E os portugueses, na sua habitual inconsciência, acreditaram. Verdade que o Ocidente inteiro, animado pelo crescimento contínuo, ou quase contínuo, de quase 20 anos também acreditou. Até ao momento em que se constatou com espanto e com terror que não existia dinheiro para esse milagre. A crise internacional (que não por acaso começou no mercado imobiliário americano) é como a nacional uma crise de expectativas: a simples descoberta da diferença entre o que as pessoas desejavam e os meios que tinham, entre o que ganhavam e o que gastavam.»
«A grande ilusão», 27-03-2010
22/10/2016
NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: News-speak
George Orwell no seu «1984» imaginou uma nova língua (newspeak) criada no estado totalitário Oceania (uma União Soviética ficcionada) para controlar o pensamento dos indivíduos prevenindo o crimethink - um pensamento desviante do Partido – e pastoreando-os para o goodthinkful.
A news-speak é a língua adoptada pelo jornalismo de causas para escrever (ou ler) as notícias em conformidade com a vulgata da esquerdalhada, episodicamente representada pela geringonça. Exemplos? Inúmeros, veja a etiqueta artigo defunto.
Etiquetas:
central de manipulação,
delírios pontuais,
jornalismo de causas
Pro memoria (322) - The Times They Are a-Changin'
Da esquerda para a direita: (1) EUA anos 30 - polícia verificando a regra dos 15 cm; (2) EUA 2016 - Madonna e a filha ; (3) França 2016
Etiquetas:
a memória dos povos é curta,
delírios pontuais
21/10/2016
Chávez & Chávez, Sucessores (53) – Da discussão não nasce a luz se faltar a electricidade
"Apagão" no parlamento da Venezuela em pleno debate sobre eletricidade
(Título do DN)
(Título do DN)
Por falar nas faltas em que o socialismo é abundante, também falta o petróleo no país que tem as maiores reservas do mundo. E, como escreve o NYT, para acrescentar o insulto à ofensa, o regime chávista, que sob a liderança do herdeiro Maduro colocou em ruínas a indústria petrolífera, teve de pedir ajuda ao Império do Mal importando petróleo dos EU. Pior é difícil, mas não impossível, como se verá.
Etiquetas:
Chávez,
ecoanomia,
esquerdalhada,
verdade inconveniente
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A agenda do jornalismo de causas
«Esta situação oferece-nos duas lições preciosas, tenhamos nós olhos para as ver e boca para as comentar – a primeira sobre os sindicatos, a segunda sobre a comunicação social. Comecemos pelos sindicatos e pelo grande mérito da solução de governo inventada por António Costa: trazer para o arco da governação o Bloco de Esquerda e, sobretudo, o PCP. É certo que eles insistem em manter um pé dentro e outro fora, mas aí o abraço de Costa tem-se revelado eficaz – ninguém se pôs ao fresco. Qualquer português reconhece na actual solução de governo o envolvimento do PCP e respectivas consequências a nível sindical, com uma diminuição acentuadíssima da conflitualidade social, que antes era intensamente produzida por sindicatos da CGTP, sobretudo na educação e nos transportes. Veja-se o Metro de Lisboa: nunca havíamos assistido a uma queda tão acentuada na qualidade do serviço e não há uma greve para amostra.
Isto demonstra que o sindicalismo português é pura encenação. Já toda a gente sabia que a CGTP era menos uma agremiação de sindicatos do que um braço político do PCP, mas agora está demonstrado para além de qualquer dúvida razoável. Quando o governo voltar a ser de direita e os sindicatos voltarem a sair à rua, iremos todos lembrar-nos da sabática do senhor Mário Nogueira, o homem que no seu monopólio sindical nunca vai à 5 de Outubro sem passar primeiro pela Soeiro Pereira Gomes.
A segunda lição a tirar daqui é para a comunicação social portuguesa e para o seu estado de dependência das fontes institucionais, sejam elas gabinetes ministeriais, agências de comunicação ou sindicatos. O alinhamento do Telejornal não pode estar dependente das iniciativas da Fenprof: se Mário Nogueira fala as escolas estão mal, se ele está calado as escolas estão bem. É mais do que tempo de os media começarem a sair para a rua e definir a sua própria agenda, deixando para o Avante! a agenda do PCP.»
Isto demonstra que o sindicalismo português é pura encenação. Já toda a gente sabia que a CGTP era menos uma agremiação de sindicatos do que um braço político do PCP, mas agora está demonstrado para além de qualquer dúvida razoável. Quando o governo voltar a ser de direita e os sindicatos voltarem a sair à rua, iremos todos lembrar-nos da sabática do senhor Mário Nogueira, o homem que no seu monopólio sindical nunca vai à 5 de Outubro sem passar primeiro pela Soeiro Pereira Gomes.
A segunda lição a tirar daqui é para a comunicação social portuguesa e para o seu estado de dependência das fontes institucionais, sejam elas gabinetes ministeriais, agências de comunicação ou sindicatos. O alinhamento do Telejornal não pode estar dependente das iniciativas da Fenprof: se Mário Nogueira fala as escolas estão mal, se ele está calado as escolas estão bem. É mais do que tempo de os media começarem a sair para a rua e definir a sua própria agenda, deixando para o Avante! a agenda do PCP.»
«O desaparecimento de Mário Nogueira», João Miguel Tavares no Público
Nota:
É claro que João Miguel Tavares como jornalista não pode retirar (poder, poderia mas está provavelmente acima das suas posses) do que escreve as óbvias conclusões: não se trata dos mídia portugueses dependerem de fontes institucionais, como se viu, se vê e se verá cada vez que a esquerda não está presente no governo; trata-se de uma dependência dos partidos de esquerda e do jornalismo de causas, um fenómeno que em abstracto também se colocaria com os partidos de direita mas que, por razões históricas e da infiltração das redacções, na verdade só tem consequências relevantes com a esquerda.
Etiquetas:
artigo defunto,
central de manipulação,
jornalismo de causas
20/10/2016
Títulos inspirados (61) – «Draghi apoia governo»
«Draghi apoia Governo: "Foram conseguidos progressos notáveis" em Portugal»
(Título doAcção Socialista Jornal de Negócios)
(Título do
Etiquetas:
artigo defunto,
central de manipulação,
jornalismo de causas
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (LIX) – Eles vistos por alguns de nós e por alguns deles
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
A realidade excede a imaginação. Quem diria, há menos de dois anos depois das eleições de Janeiro de 2015 e ou mesmo um ano depois das segundas eleições em que o Syriza foi o partido mais votado, que a Nova Democracia teria hoje 90% das preferências dos eleitores?
Por isso, como seria de esperar, a Grécia em geral e o Syriza em particular saíram dos radares da esquerdalhada e do jornalismo de causas que tanto os incensaram. A desilusão é tão grande que até um jornal como o Público que apostou todas as fichas no Syriza reconhece hoje o completo falhanço do governo de Tsipras – leia-se o artigo «O Syriza não aprendeu a ser Governo e está a pagar por isso».
Igualmente interessantes são as lições que alguns gregos mais lúcidos retiraram da sua crise. Respigando algumas delas do Greek Analyst:
A realidade excede a imaginação. Quem diria, há menos de dois anos depois das eleições de Janeiro de 2015 e ou mesmo um ano depois das segundas eleições em que o Syriza foi o partido mais votado, que a Nova Democracia teria hoje 90% das preferências dos eleitores?
Por isso, como seria de esperar, a Grécia em geral e o Syriza em particular saíram dos radares da esquerdalhada e do jornalismo de causas que tanto os incensaram. A desilusão é tão grande que até um jornal como o Público que apostou todas as fichas no Syriza reconhece hoje o completo falhanço do governo de Tsipras – leia-se o artigo «O Syriza não aprendeu a ser Governo e está a pagar por isso».
Igualmente interessantes são as lições que alguns gregos mais lúcidos retiraram da sua crise. Respigando algumas delas do Greek Analyst:
- The worst enemy for the Left is the Left in power.
- The greater the lies and populist BS that propel you to power, the greater your (inevitable) downfall.
- When you have absolutely no arguments to use, just blame neoliberalism. It's easy. And it always works.
- Never make an egomaniac fool with a narcissistic personality disorder your Finance Minister. Just, no.
- There is no better refuge for an extreme populist with no arguments than a good conspiracy theory.
- Populism feeds on fear/insecurity, depends on conspiracies/scapegoats, promises Heaven & delivers Hell.
ESTADO DE SÍTIO: Disse Estado Social?
Para um país a caminhar para a extinção com a mais baixa taxa de fecundidade da UE (34,3 contra a média de 44,6 por mil), se há incentivos justificáveis são os incentivos para ter filhos. Num Estado dito Social, veja-se no diagrama seguinte a distância entre onde está a boca dos governos e onde está o dinheiro dos sujeitos passivos.
Em vez de torrar dinheiro em empresas inviáveis, premiar o subemprego e incentivar o desemprego faria mais sentido atirá-lo para cima dos berços e dos infantários.
Fonte: Economist |
19/10/2016
Mitos (241) - Os pobres estão cada vez mais menos pobres
Fonte: Economist |
Em vez disso, como os diagramas mostram, o capitalismo tem tirado da miséria centenas de milhões, como até um Barack Obama (classificado no EU como socialista, na Europa seria como centro ou mesmo centro-direita) reconheceu recentemente no seu artigo na Economist «The way ahead», «it is important to remember that capitalism has been the greatest driver of prosperity and opportunity the world has ever known».
Se entendermos capitalismo como propriedade privada, interesse próprio, concorrência, mercado, liberdade de escolha e limitação dos poderes do governo, então podemos concluir que. ao contrário, têm sido os regimes anti-capitalistas (Cuba, Venezuela, Coreia do Norte são apenas alguns dos exemplos) nas suas diversas encarnações que mantêm na miséria muitos milhões.
Um governo à deriva (29) - O mundo é composto de mudança ou o socialismo, o crescimento, a austeridade e o bater o pé a Bruxelas é o que o Costa precisar (II)
Continuação por outras palavras deste post e de (I).
«Nós temos que ter consciência de que vivemos em casa, nas empresas, nas famílias, no governo, com restrições orçamentais que não são necessariamente coisas más, são coisas que temos que trazer para o nosso dia-a-dia e algumas dessas questões prendem-se precisamente com a compreensão de que existem essas restrições.»
Estas palavras não foram ditas em em 2011 ou 2012 por Vítor Gaspar, o ministro das Finanças do governo «neoliberal», como lhe chamaram os retardados mentais. Estas palavras foram ditas em entrevista ao negócios por Mário Centeno. o ministro das Finanças do governo que acabaria com a austeridade e iniciaria um ciclo virtuoso de crescimento.
«A revisão em baixa das metas de crescimento ajudaram o ministro das Finanças a apresentar um Orçamento que agrada aos partidos de esquerda que apoiam o governo e cumpre as exigências europeias. Menor andamento da economia em 2016 e 2017 agrava distância para o produto potencial e favorece ajustamento estrutural. À primeira vista, os números de Mário Centeno cumprem consolidação mínima.»
Estas palavras não foram ditas em 2015 por um assessor qualquer ao serviço de Maria Luís Albuquerque para justificar o crescimento medíocre de 0,9% em 2014. Estas palavras foram escritas por um jornalista de causas do semanário do regime ao serviço da geringonça para explicar que com ela «há males que vêm por bem. No Orçamento do Estado para 2017, o ditado cai que nem uma luva. O governo vai falhar a meta de crescimento do PIB este ano - contava com 1,8% e agora aponta para 1,2%». E começou por ser o dobro (2,4%) no documento «Uma década para Portugal» dos 12 pastorinhos.
Tudo isto evoca, se não já George Orwell e a sua newspeak, pelo menos um Alfred Kahn idiotizado. Idiotizado porque o Kahn real, censurado pelo presidente Carter por ter previsto em público em 1978 uma provável depressão da economia americana, teve o humor e a independência de espírito suficientes para na intervenção seguinte dizer que «we're in danger of having the worst banana in 45 years».
«Nós temos que ter consciência de que vivemos em casa, nas empresas, nas famílias, no governo, com restrições orçamentais que não são necessariamente coisas más, são coisas que temos que trazer para o nosso dia-a-dia e algumas dessas questões prendem-se precisamente com a compreensão de que existem essas restrições.»
Estas palavras não foram ditas em em 2011 ou 2012 por Vítor Gaspar, o ministro das Finanças do governo «neoliberal», como lhe chamaram os retardados mentais. Estas palavras foram ditas em entrevista ao negócios por Mário Centeno. o ministro das Finanças do governo que acabaria com a austeridade e iniciaria um ciclo virtuoso de crescimento.
«A revisão em baixa das metas de crescimento ajudaram o ministro das Finanças a apresentar um Orçamento que agrada aos partidos de esquerda que apoiam o governo e cumpre as exigências europeias. Menor andamento da economia em 2016 e 2017 agrava distância para o produto potencial e favorece ajustamento estrutural. À primeira vista, os números de Mário Centeno cumprem consolidação mínima.»
Estas palavras não foram ditas em 2015 por um assessor qualquer ao serviço de Maria Luís Albuquerque para justificar o crescimento medíocre de 0,9% em 2014. Estas palavras foram escritas por um jornalista de causas do semanário do regime ao serviço da geringonça para explicar que com ela «há males que vêm por bem. No Orçamento do Estado para 2017, o ditado cai que nem uma luva. O governo vai falhar a meta de crescimento do PIB este ano - contava com 1,8% e agora aponta para 1,2%». E começou por ser o dobro (2,4%) no documento «Uma década para Portugal» dos 12 pastorinhos.
Tudo isto evoca, se não já George Orwell e a sua newspeak, pelo menos um Alfred Kahn idiotizado. Idiotizado porque o Kahn real, censurado pelo presidente Carter por ter previsto em público em 1978 uma provável depressão da economia americana, teve o humor e a independência de espírito suficientes para na intervenção seguinte dizer que «we're in danger of having the worst banana in 45 years».
Etiquetas:
doutrina Somoza,
geringonça,
Princípio de Kahn,
trilema de Žižek
18/10/2016
Um governo à deriva (28) - O mundo é composto de mudança ou o socialismo, o crescimento, a austeridade e o bater o pé a Bruxelas é o que o Costa precisar
Continuação por outras palavras deste post.
Roubando as palavras de Rui Ramos no Observador:
«O mundo é mesmo feito de mudança. Não foi há séculos, mas há uns meses que António Costa nos persuadia de que fazer crescer a economia era mais importante do que tratar das contas públicas. Ei-lo agora a exigir ser julgado unicamente com base na meta do défice negociada com Bruxelas. Também não foi há séculos, mas há uns meses, que Costa e os seus mentores nos ensinavam que o verdadeiro caminho da prosperidade era o consumo doméstico. Ei-los agora a falar de exportações. É a governação em zig-zag, com uma doutrina que muda conforme os relatórios do INE.»
Que me perdoe Rui Ramos, não é governação em zig-zag, não é incoerência. É a governação em linha recta - a recta do prolongamento da vida política de Costa - e é a coerência de sacrificar a esse prolongamento as ideias, os princípios políticos e, sobretudo, os interesses do país.
Roubando as palavras de Rui Ramos no Observador:
«O mundo é mesmo feito de mudança. Não foi há séculos, mas há uns meses que António Costa nos persuadia de que fazer crescer a economia era mais importante do que tratar das contas públicas. Ei-lo agora a exigir ser julgado unicamente com base na meta do défice negociada com Bruxelas. Também não foi há séculos, mas há uns meses, que Costa e os seus mentores nos ensinavam que o verdadeiro caminho da prosperidade era o consumo doméstico. Ei-los agora a falar de exportações. É a governação em zig-zag, com uma doutrina que muda conforme os relatórios do INE.»
Que me perdoe Rui Ramos, não é governação em zig-zag, não é incoerência. É a governação em linha recta - a recta do prolongamento da vida política de Costa - e é a coerência de sacrificar a esse prolongamento as ideias, os princípios políticos e, sobretudo, os interesses do país.
Etiquetas:
doutrina Somoza,
geringonça,
trilema de Žižek
SERVIÇO PÚBLICO: «O que resta do cenário dos 12 economistas do PS»
O cenário do relatório pomposamente intitulado «Uma década para Portugal», que comentei na série de 7 posts «CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão» e ainda pode ser encontrado aqui (enquanto não for apagado), traçado pelos 9 sábios socialistas da Mouse School of Economics pousando para a posteridade na foto seguinte, mais 3 outros que faltaram à cerimónia de entrega ao futuro primeiro-ministro de Portugal, revelou-se penosamente delirante em menos de 19 meses.
Qualquer observador atento e independente da comentadoria do regime já constatou há algum tempo a evidência do divórcio entre o sonho socialista e a realidade. Contudo, agora é oficial. É o Expresso, o semanário do regime, que o escreve.
Qualquer observador atento e independente da comentadoria do regime já constatou há algum tempo a evidência do divórcio entre o sonho socialista e a realidade. Contudo, agora é oficial. É o Expresso, o semanário do regime, que o escreve.
9/12 dos sábios socialistas entregando a receita do cozinhado dos amanhãs que cantarão ao Chef Costa |
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (9)
Como uma continuação daqui, dali e dacolá.
A quase unanimidade da opinião publicada (que costuma ser muito diferente da opinião pública) sobre a ascensão ao Olimpo de um Guterres «maior do que Portugal» é o resultado, a meu ver, de três características muito peculiares, a saber: os complexos de inferioridade dos portugueses e a consequente necessidade de imaginarem que têm os olhos do mundo postos em si e a procura incessante de heróis; a dificuldade de lidar com as diferenças de opinião que nos leva a refugiar nos falsos consensos, geralmente baseados em mal-entendidos, e o inerente culto do «diálogo» e dos seus promotores e, claro, o domínio dos mídia pelo jornalismo de causas que serve de câmara de eco para a promoção das suas figuras preferidas.
É por isso que vale a pena realçar as pouquíssimas opinião desalinhadas e, entre elas, duas que escreveram sem rodriguinhos e sem insinuações subliminares o que pensam da criatura. Aqui vão.
«É por isso que a extraordinária histeria em redor da nomeação de António Guterres para secretário-geral me soou mais a uma saraivada de insultos involuntários do que à aclamação colectiva que pretendeu ser. O homem certo no lugar certo, nas palavras do dr. Costa? Não é preciso ofender. É verdade que o eng. Guterres deixou, pelo menos aqui, um embaraçoso rasto de inépcia. Mas nem o descontrolo decisivo da despesa pública nem o poder que concedeu a um grupinho de pequenos e médios malfeitores transformam o eng. Guterres no líder ideal de uma organização habituada a relativizar a opressão e o terrorismo. Embora o eng. Guterres não merecesse grande coisa, a ONU merecia bastante pior.»
Alberto Gonçalves no DN
«Agora que já acabou ou, pelo menos, se atenuou a campanha patriótica para a canonização de Guterres, talvez se possa olhar para ele com alguma tranquilidade e medida. Por acaso conheço a criatura. É um homem fraco, influenciável, indeciso e superficial. A crónica amnésia deste país fez desaparecer numa semana de glória o péssimo governo que ele dirigiu; um governo que estava sempre em crise porque o primeiro ministro avançava, recuava, não era capaz de resolver nada de uma vez para sempre e, como disse Medina Carreira, caía em terríveis transes de angústia quando tinha de dizer “não”. Esse é o Guterres de que me lembro e não me parece a encarnação de um grande diplomata. Quanto ao resto, o católico a roçar o beato, cheio de amor pelos pobrezinhos, também não me entusiasma: a ONU não precisa de uma nova versão de Sta. Teresa de Calcutá.»
Vasco Pulido Valente no Observador
A quase unanimidade da opinião publicada (que costuma ser muito diferente da opinião pública) sobre a ascensão ao Olimpo de um Guterres «maior do que Portugal» é o resultado, a meu ver, de três características muito peculiares, a saber: os complexos de inferioridade dos portugueses e a consequente necessidade de imaginarem que têm os olhos do mundo postos em si e a procura incessante de heróis; a dificuldade de lidar com as diferenças de opinião que nos leva a refugiar nos falsos consensos, geralmente baseados em mal-entendidos, e o inerente culto do «diálogo» e dos seus promotores e, claro, o domínio dos mídia pelo jornalismo de causas que serve de câmara de eco para a promoção das suas figuras preferidas.
É por isso que vale a pena realçar as pouquíssimas opinião desalinhadas e, entre elas, duas que escreveram sem rodriguinhos e sem insinuações subliminares o que pensam da criatura. Aqui vão.
«É por isso que a extraordinária histeria em redor da nomeação de António Guterres para secretário-geral me soou mais a uma saraivada de insultos involuntários do que à aclamação colectiva que pretendeu ser. O homem certo no lugar certo, nas palavras do dr. Costa? Não é preciso ofender. É verdade que o eng. Guterres deixou, pelo menos aqui, um embaraçoso rasto de inépcia. Mas nem o descontrolo decisivo da despesa pública nem o poder que concedeu a um grupinho de pequenos e médios malfeitores transformam o eng. Guterres no líder ideal de uma organização habituada a relativizar a opressão e o terrorismo. Embora o eng. Guterres não merecesse grande coisa, a ONU merecia bastante pior.»
Alberto Gonçalves no DN
«Agora que já acabou ou, pelo menos, se atenuou a campanha patriótica para a canonização de Guterres, talvez se possa olhar para ele com alguma tranquilidade e medida. Por acaso conheço a criatura. É um homem fraco, influenciável, indeciso e superficial. A crónica amnésia deste país fez desaparecer numa semana de glória o péssimo governo que ele dirigiu; um governo que estava sempre em crise porque o primeiro ministro avançava, recuava, não era capaz de resolver nada de uma vez para sempre e, como disse Medina Carreira, caía em terríveis transes de angústia quando tinha de dizer “não”. Esse é o Guterres de que me lembro e não me parece a encarnação de um grande diplomata. Quanto ao resto, o católico a roçar o beato, cheio de amor pelos pobrezinhos, também não me entusiasma: a ONU não precisa de uma nova versão de Sta. Teresa de Calcutá.»
Vasco Pulido Valente no Observador
17/10/2016
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (53)
Outras avarias da geringonça.
Advertência: esta crónica não trata do OE 2017. Na crónica da próxima semana, depois de assentar a poeira, vamos tratar disso.
Como escrevi na semana passada, a agência DBRS, a única em que a dívida portuguesa não tem a notação junk e de cuja bondade depende continuarmos a aceder ao programa OMT (Outright Monetary Transactions) do BCE, considera que a economia portuguesa está presa num «ciclo vicioso» de dívida pública elevada, baixo crescimento e reformas económicas insuficientes. Para o ministro das Finanças, o círculo vicioso significa que eles (DBRS) «estão muito confortáveis acerca da nossa situação orçamental, que eles próprios consideraram ‘muito robusta'». Estamos conversados.
Advertência: esta crónica não trata do OE 2017. Na crónica da próxima semana, depois de assentar a poeira, vamos tratar disso.
Como escrevi na semana passada, a agência DBRS, a única em que a dívida portuguesa não tem a notação junk e de cuja bondade depende continuarmos a aceder ao programa OMT (Outright Monetary Transactions) do BCE, considera que a economia portuguesa está presa num «ciclo vicioso» de dívida pública elevada, baixo crescimento e reformas económicas insuficientes. Para o ministro das Finanças, o círculo vicioso significa que eles (DBRS) «estão muito confortáveis acerca da nossa situação orçamental, que eles próprios consideraram ‘muito robusta'». Estamos conversados.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Fazendo poesia sem dar por isso
O «Acredite se quiser» sobre o Nobel atribuído a Dylan, um autor que há muito aprecio e de que tenho os 12 volumes das Bootleg Series a que retorno regularmente, teve como razão de ser a surpresa e não a discordância ou a concordância.
Face às reacções indignadas de alguns intelectuais da nossa praça ocorre-me, por ironia, o M Jourdain de «Le Bourgeois gentilhomme» de Molière: «il y a plus de quarante ans que je dis de la prose sans que j'en susse rien. Dylan faz poesia há mais de 5 décadas, aparentemente sem a isso dar muita importância, para não dizer sem se dar conta. E, no entanto, é poesia de qualidade (se merece ou não o Nobel é outra coisa, em que não estou interessado).
Citando uma criatura (Chris Dicken) que escreveu na Ozy sobre os indignados pelo Nobel de Dylan:
Have you noticed that the naysayers tend not to quote the man’s lyrics — to say, “Hey, this is why this isn’t literature”? The reason is simple: Doing so would undo their arguments, in a flash. Dylan is a master writer. When you hear lines like these, you don’t feel a need to define what it is. You feel awe:
Never mind once you’ve heard the song. Forget literature. How about a Nobel in magic, or sorcery, or a Nobel Prize in what-world-is-this-person-from? I dare the naysayers to do better. Or to deny the truth — the absolute poetic, rhetorical truth — of this:
Face às reacções indignadas de alguns intelectuais da nossa praça ocorre-me, por ironia, o M Jourdain de «Le Bourgeois gentilhomme» de Molière: «il y a plus de quarante ans que je dis de la prose sans que j'en susse rien. Dylan faz poesia há mais de 5 décadas, aparentemente sem a isso dar muita importância, para não dizer sem se dar conta. E, no entanto, é poesia de qualidade (se merece ou não o Nobel é outra coisa, em que não estou interessado).
Citando uma criatura (Chris Dicken) que escreveu na Ozy sobre os indignados pelo Nobel de Dylan:
Have you noticed that the naysayers tend not to quote the man’s lyrics — to say, “Hey, this is why this isn’t literature”? The reason is simple: Doing so would undo their arguments, in a flash. Dylan is a master writer. When you hear lines like these, you don’t feel a need to define what it is. You feel awe:
Then take me disappearin’ through the smoke rings of my mind,
Down the foggy ruins of time, far past the frozen leaves,
The haunted, frightened trees, out to the windy beach,
Far from the twisted reach of crazy sorrow.
Yes, to dance beneath the diamond sky with one hand waving free,
Silhouetted by the sea, circled by the circus sands,
With all memory and fate driven deep beneath the waves,
Let me forget about today until tomorrow.Go ahead, take that out of the context of music, see it as nothing more than words on a page. Let’s call it, for a moment, poetry. Dear God.
Never mind once you’ve heard the song. Forget literature. How about a Nobel in magic, or sorcery, or a Nobel Prize in what-world-is-this-person-from? I dare the naysayers to do better. Or to deny the truth — the absolute poetic, rhetorical truth — of this:
Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
For the times they are a-changin’.
Etiquetas:
antes isso que outra coisa,
bons exemplos,
delírios pontuais
16/10/2016
ESTADO DE SÍTIO: Um orçamento de esquerda
«Este é um orçamento de esquerda»
garantiu ao Expresso o ministro das Finanças. E o que é um orçamento de esquerda? pergunta-se. Um orçamento de esquerda é um orçamento que, entre outras, prevê as seguintes medidas:
- O subsídio de almoço dos utentes da vaca marsupial pública aumenta 25-cêntimos-25;
- As reformas acima de 7.127 euros aumentam o equivalente a 20% em relação a 2016, por deixar de incidir a CES;
- Os pensionistas com pensões inferiores a 628 euros têm uma actualização extraordinária de 10-euros-10 mensais;
- Corte de 1/3 da previsão de investimento para 2017.
Etiquetas:
esquerdalhada,
geringonça,
vida para além do orçamento
ACREDITE SE QUISER: Agitar o esqueleto não sai barato
Fonte: The Economist |
Etiquetas:
dissonância cognitiva
A maldição da tabuada (41) - Não saber a tabuada nunca foi uma desculpa para errar as contas (IX)
Episódios anteriores (I), (II), (III), (IV), (V), (VI), (VII) e (VIII)
A MONIAC (Monetary National Income Analogue Computer), assim se chamava o zingarelho, foi concebida em 1949 pelo economista neozelandês William Phillips, na época estudante da London School of Economics, e tratava-se de um computador analógico capaz de simular a economia do Reino Unido.
Para a simulação era usada água bombeada entre as diferentes câmaras representando os vários sectores: Estado, saúde, educação, etc. Para simular as exportações e as importações a água eram bombeada de dentro para fora ou vice-versa, respectivamente. O investimento era simulado movendo a água pelas várias câmaras. A colecta de impostos era modelada através de um dispositivo de velocidade variável que bombeava a água de várias câmaras para o Estado.
Se o zingarelho não era uma calculadora, perguntarão qual o préstimo que teria para a geringonça? Imenso. O mesmo préstimo que teve para os colegas de William Phillips, os estudantes da época da London School of Economics para lhes explicar o funcionamento da economia. Por exemplo, se João Galamba que «frequentou um doutoramento em Filosofia Política na London School of Economics» (não perguntem o que é frequentar um doutoramento) tivesse visto o zingarelho a funcionar talvez não dissesse tantas asneiras; o mesmo poderia ter acontecido a Mariana Mortágua que se não tivesse abandonado um doutoramento em Economia também na LSE, para ir para o parlamento, poderia ter ficado um tempo a olhar para a MONIAC.
E assim termina esta série de posts onde ofereci novas oportunidades para a geringonça aprender a fazer contas e ir mais além.
A MONIAC (Monetary National Income Analogue Computer), assim se chamava o zingarelho, foi concebida em 1949 pelo economista neozelandês William Phillips, na época estudante da London School of Economics, e tratava-se de um computador analógico capaz de simular a economia do Reino Unido.
Para a simulação era usada água bombeada entre as diferentes câmaras representando os vários sectores: Estado, saúde, educação, etc. Para simular as exportações e as importações a água eram bombeada de dentro para fora ou vice-versa, respectivamente. O investimento era simulado movendo a água pelas várias câmaras. A colecta de impostos era modelada através de um dispositivo de velocidade variável que bombeava a água de várias câmaras para o Estado.
Se o zingarelho não era uma calculadora, perguntarão qual o préstimo que teria para a geringonça? Imenso. O mesmo préstimo que teve para os colegas de William Phillips, os estudantes da época da London School of Economics para lhes explicar o funcionamento da economia. Por exemplo, se João Galamba que «frequentou um doutoramento em Filosofia Política na London School of Economics» (não perguntem o que é frequentar um doutoramento) tivesse visto o zingarelho a funcionar talvez não dissesse tantas asneiras; o mesmo poderia ter acontecido a Mariana Mortágua que se não tivesse abandonado um doutoramento em Economia também na LSE, para ir para o parlamento, poderia ter ficado um tempo a olhar para a MONIAC.
E assim termina esta série de posts onde ofereci novas oportunidades para a geringonça aprender a fazer contas e ir mais além.
15/10/2016
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O mistério do Angoche (6)
Com este fascículo termina aqui esta espécie de conto, escrita a pretexto do misterioso caso do Angoche há 45 anos, sobre a aventura de Ulisses Trinta e Quatro a bordo do dito Angoche no Canal de Moçambique. Haverá mais produções do autor impertinente APS? Ninguém sabe. Nem o próprio.
48. Leviatã [continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)]
«Ao longo dos anos lá se foram revelando os dotes anunciados pelo senhor Ulisses como sejam as mezinhas para curar esta ou aquela maleita para a qual as receitas técnicas modernas não estavam disponíveis ou não existiam de todo mas também facetas totalmente estranhas que ninguém compreendia muito bem qual seria o sentido como era a circunstância de em cada porto onde paravam ter família constituída, imagine-se, por mulher e os respectivos filhos com os quais genuinamente se preocupava e procurava ajudar por todos os meios que estavam ao seu alcance, que não eram muitos e aparentemente tal dedicação era plenamente reciprocada.
Bizarra era também a ideia de se atar durante horas ao pau de carga que ficava a meio do convés entre os dois porões de carga. Era um ritual que ocorria em situações cujo racional nunca foi explicado mas que o senhor Ulisses escondia por detrás de um sorriso tão enigmático quanto o era o próprio ritual. Começava por atafulhar os ouvidos com uma massa qualquer, normalmente pão que ele próprio, previamente, mastigava, e depois imobilizava-se, atando-se solidamente pelos tornozelos ao pau de carga, depois fazia o mesmo por altura dos joelhos, da cintura e do peito; com uma faixa de pano prendia a cabeça entrepondo uma almofada, depois pedia ajuda a um elemento da tripulação, geralmente aquele e quem tinha endireitado a espinha, para lhe prender fortemente os pulsos por detrás do pau de carga e assim ficava durante horas sem se poder mexer e com a recomendação expressa e jurada de, fizesse ele o que fizesse, pedisse ele o que pedisse só o libertariam quando adormecesse naquela incomoda situação. Só uma vez se mostrou violentamente agitado tentando libertar-se e gritando para que lhe acudissem mas a tripulação respeitou o pedido que lhe era feito e só o socorreu depois de adormecer. Viram então um senhor Ulisses extremamente cansado mas infinitamente feliz a confessar que ficava grato por não o terem libertado fora de tempo.
Depois de muitos anos e de várias rotações da tripulação o único membro que conhecia a história de todos era o Senhor Ulisses, tudo o resto mudara e era diferente. Um dia depois de aportados a uma cidade do norte o senhor Ulisses foi chamado pelo comandante que tinha uma notícia boa para ele: iria ficar de férias durante uma viagem. O navio tinha pela primeira vez um passageiro especial e seria altamente inconveniente para o navio e para a tripulação que esse novo passageiro partilhasse esta viagem com o passageiro de todas as viagens. Tratava-se de um inspector e como o próprio senhor Ulisses sabia a sua situação no navio não era legal e consequentemente teria de ficar em terra até ao regresso do navio voltando então ao seu trabalho como já há tanto tempo o fazia. Além do mais, não deixaria nesse período de férias algo forçadas, de receber o seu ordenado, decisão unânime de toda a tripulação que iria certamente ter saudades do senhor Ulisses. Mostrava-se inflexível, o oficial, mesmo perante as lágrimas silenciosas do senhor Ulisses que ficou em terra a ver o navio a fazer-se ao mar e com a tristeza nos olhos dos que vêem alguém pela última vez.
Seria impossível não perceber o estado de alma do senhor Ulisses e o marinheiro que tinha a coluna meio fraca e que o senhor Ulisses lhe endireitara um dia, no último minuto ainda veio a terra dar um abraço ao desconsolado alinhador de espinhelas que abraçando-o gemia-lhe em surdina:
Os comandante não poder! Só eu proteger tripulação das voz das mulher. Os comandante não saber fazer isso!»
48. Leviatã [continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)]
«Ao longo dos anos lá se foram revelando os dotes anunciados pelo senhor Ulisses como sejam as mezinhas para curar esta ou aquela maleita para a qual as receitas técnicas modernas não estavam disponíveis ou não existiam de todo mas também facetas totalmente estranhas que ninguém compreendia muito bem qual seria o sentido como era a circunstância de em cada porto onde paravam ter família constituída, imagine-se, por mulher e os respectivos filhos com os quais genuinamente se preocupava e procurava ajudar por todos os meios que estavam ao seu alcance, que não eram muitos e aparentemente tal dedicação era plenamente reciprocada.
Bizarra era também a ideia de se atar durante horas ao pau de carga que ficava a meio do convés entre os dois porões de carga. Era um ritual que ocorria em situações cujo racional nunca foi explicado mas que o senhor Ulisses escondia por detrás de um sorriso tão enigmático quanto o era o próprio ritual. Começava por atafulhar os ouvidos com uma massa qualquer, normalmente pão que ele próprio, previamente, mastigava, e depois imobilizava-se, atando-se solidamente pelos tornozelos ao pau de carga, depois fazia o mesmo por altura dos joelhos, da cintura e do peito; com uma faixa de pano prendia a cabeça entrepondo uma almofada, depois pedia ajuda a um elemento da tripulação, geralmente aquele e quem tinha endireitado a espinha, para lhe prender fortemente os pulsos por detrás do pau de carga e assim ficava durante horas sem se poder mexer e com a recomendação expressa e jurada de, fizesse ele o que fizesse, pedisse ele o que pedisse só o libertariam quando adormecesse naquela incomoda situação. Só uma vez se mostrou violentamente agitado tentando libertar-se e gritando para que lhe acudissem mas a tripulação respeitou o pedido que lhe era feito e só o socorreu depois de adormecer. Viram então um senhor Ulisses extremamente cansado mas infinitamente feliz a confessar que ficava grato por não o terem libertado fora de tempo.
Depois de muitos anos e de várias rotações da tripulação o único membro que conhecia a história de todos era o Senhor Ulisses, tudo o resto mudara e era diferente. Um dia depois de aportados a uma cidade do norte o senhor Ulisses foi chamado pelo comandante que tinha uma notícia boa para ele: iria ficar de férias durante uma viagem. O navio tinha pela primeira vez um passageiro especial e seria altamente inconveniente para o navio e para a tripulação que esse novo passageiro partilhasse esta viagem com o passageiro de todas as viagens. Tratava-se de um inspector e como o próprio senhor Ulisses sabia a sua situação no navio não era legal e consequentemente teria de ficar em terra até ao regresso do navio voltando então ao seu trabalho como já há tanto tempo o fazia. Além do mais, não deixaria nesse período de férias algo forçadas, de receber o seu ordenado, decisão unânime de toda a tripulação que iria certamente ter saudades do senhor Ulisses. Mostrava-se inflexível, o oficial, mesmo perante as lágrimas silenciosas do senhor Ulisses que ficou em terra a ver o navio a fazer-se ao mar e com a tristeza nos olhos dos que vêem alguém pela última vez.
Seria impossível não perceber o estado de alma do senhor Ulisses e o marinheiro que tinha a coluna meio fraca e que o senhor Ulisses lhe endireitara um dia, no último minuto ainda veio a terra dar um abraço ao desconsolado alinhador de espinhelas que abraçando-o gemia-lhe em surdina:
Os comandante não poder! Só eu proteger tripulação das voz das mulher. Os comandante não saber fazer isso!»
Etiquetas:
delírios pontuais,
se non è vero
14/10/2016
Curtas e grossas (38) - O Estado Clientelar de Costa
«O Estado social só interessa ao governo como uma bolsa de clientelas, e não como garante de serviços.»
Rui Ramos no Observador
Rui Ramos no Observador
ELE VISTO POR ELES: Costa, um artista no jogo de pés
«António Costa, the country’s anti-austerity prime minister, has gained a reputation for fancy political footwork. But the 2017 budget that his minority Socialist government has to deliver tomorrow will play to a tough audience. In order to make it through the parliament, it has to please hard-left allies pressing for more government spending. But it must also cut the deficit sharply in order to avoid a clash with Brussels. Investors who fear Portugal could stumble towards a second bailout—a notion dismissed as “nonsense” by Mr Costa—will be watching nervously. One of the most telling verdicts on the prime minister’s performance will follow next week, when DBRS, a Canadian credit-rating agency, decides if it will downgrade Portugal’s only investment-grade rating. That could remove the safety net of the European Central Bank’s government bond-buying programme, and make Mr Costa’s tightrope-walking even more precarious.»
The Economist Espresso
The Economist Espresso
Etiquetas:
é muito para um homem só,
incorrigível
SERVIÇO PÚBLICO: Da próxima vez também não vai ser diferente (8)
[Uma espécie de continuação de «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e de «Da próxima vez também não vai ser diferente»]
Esta série de posts tem sido dedicada aos riscos das políticas de quantitative easing (QE) e de taxas de juro evanescentes adoptadas pela Fed, primeiro, e depois copiadas, sucessivamente, pelo Banco de Inglaterra, pelo BCE e pelo Banco Central do Japão.
Em resultado dessas políticas foram este ano emitidas até agora obrigações num valor estimado em $5 biliões (milhões de milhões no sistema métrico ou triliões no sistema anglo-saxónico!). Os governos e os respectivos bancos centrais que adoptaram estas políticas monetárias não convencionais tinham a esperança que esta montanha de dinheiro servisse para financiar o investimento privado, acelerar o crescimento e criar empregos.
Essa é uma esperança infundada. Metade do valor destas emissões é dentro do sector financeiro. Outras partes importantes são emissões de empresas públicas como a Pemex e a Sinopec, emissões para financiar takeovers como o do japonês Softbank sobre a ARM ou da da irlandesa Shire sobre a Baxalta. Em conclusão, para usar as palavras da Economist, «far from stimulating growth, low rates seem to be keeping zombie firms alive and encouraging financial engineering».
Outro exemplo: alguém acredita que, sem essas políticas, o Estado zombie italiano pudesse ter colocado, como colocou a semana passada, 5 mil milhões de euros a um prazo de 50 anos e uma taxa média inferior a 3% com um rateio de quase 4 para 1?
Para ir ao fundo da questão, citando Bill Gross, um dos primeiro cépticos sobre estas políticas:
«Our financial markets have become a Vegas/Macau/Monte Carlo casino, wagering that an unlimited supply of credit generated by central banks can successfully reflate global economies and reinvigorate nominal GDP growth to lower but acceptable norms in today’s highly levered world.»
«Ultimately though, in broader more subjective terms, it is capitalism itself that is threatened by the ongoing Martingale strategies of central banks. As central bank purchases grow, and negative/zero interest rate policies persist, they will increasingly inhibit capitalism from carrying out its primary function — the effective allocation of resources based upon return relative to risk.»
Felizmente o número e peso dos cépticos aumenta cada dia (ver a série «O clube dos incréus reforçou-se»), mas pode ser demasiado tarde a acreditarmos nas previsões de alguns analistas como o HSBC Holdings Plc citado pela Bloomberg que considera alto o risco de um crash nas bolsas americanas, com os óbvios riscos de propagação às bolsas europeias e asiáticas, dado o elevado nível de integração dos mercados.
Esta série de posts tem sido dedicada aos riscos das políticas de quantitative easing (QE) e de taxas de juro evanescentes adoptadas pela Fed, primeiro, e depois copiadas, sucessivamente, pelo Banco de Inglaterra, pelo BCE e pelo Banco Central do Japão.
Em resultado dessas políticas foram este ano emitidas até agora obrigações num valor estimado em $5 biliões (milhões de milhões no sistema métrico ou triliões no sistema anglo-saxónico!). Os governos e os respectivos bancos centrais que adoptaram estas políticas monetárias não convencionais tinham a esperança que esta montanha de dinheiro servisse para financiar o investimento privado, acelerar o crescimento e criar empregos.
Essa é uma esperança infundada. Metade do valor destas emissões é dentro do sector financeiro. Outras partes importantes são emissões de empresas públicas como a Pemex e a Sinopec, emissões para financiar takeovers como o do japonês Softbank sobre a ARM ou da da irlandesa Shire sobre a Baxalta. Em conclusão, para usar as palavras da Economist, «far from stimulating growth, low rates seem to be keeping zombie firms alive and encouraging financial engineering».
Outro exemplo: alguém acredita que, sem essas políticas, o Estado zombie italiano pudesse ter colocado, como colocou a semana passada, 5 mil milhões de euros a um prazo de 50 anos e uma taxa média inferior a 3% com um rateio de quase 4 para 1?
Para ir ao fundo da questão, citando Bill Gross, um dos primeiro cépticos sobre estas políticas:
«Our financial markets have become a Vegas/Macau/Monte Carlo casino, wagering that an unlimited supply of credit generated by central banks can successfully reflate global economies and reinvigorate nominal GDP growth to lower but acceptable norms in today’s highly levered world.»
«Ultimately though, in broader more subjective terms, it is capitalism itself that is threatened by the ongoing Martingale strategies of central banks. As central bank purchases grow, and negative/zero interest rate policies persist, they will increasingly inhibit capitalism from carrying out its primary function — the effective allocation of resources based upon return relative to risk.»
Felizmente o número e peso dos cépticos aumenta cada dia (ver a série «O clube dos incréus reforçou-se»), mas pode ser demasiado tarde a acreditarmos nas previsões de alguns analistas como o HSBC Holdings Plc citado pela Bloomberg que considera alto o risco de um crash nas bolsas americanas, com os óbvios riscos de propagação às bolsas europeias e asiáticas, dado o elevado nível de integração dos mercados.
13/10/2016
SERVIÇO PÚBLICO: Táxis versus Uber, o combate do século. Um testemunho de um passageiro frequente
«Sou um utilizador frequente de táxis em Lisboa (várias vezes por semana). Há vários meses sou utilizador da Uber, de forma crescente, hoje em dia quase exclusiva. Julgo que, enquanto consumidor, sei do que estou a falar.
Há 10 anos que saio de Portugal via Portela (desde Maio deste ano tem sido via Humberto Delgado) pelo menos 10 vezes por ano. Há pelo menos 10 anos que nunca mais fui apanhar um táxi às chegadas. Subo às partidas e aí apanho um táxi. Porquê? Porque os que estão lá em baixo com o único intuito de lhes sair na rifa um estrangeiro incauto e enganá-lo formam uma mafia que controla o aeroporto. Não sou eu que o digo, mas sim os inúmeros taxistas lá de cima, eles próprios maltratados pelos colegas.
Naturalmente essas poucas dezenas de taxistas não são o bolo, só são uma fatia, mas uma fatia bem podre que, não contaminando o bolo, contaminam sim a imagem do bolo.
Quanto aos outros, sejamos realistas: muitos (não todos, eu sei) têm carros velhos, nunca usam ar condicionado, andam de janela aberta, conduzem como Fitipaldis ou andam ao rallenti. Frequentemente os carros cheiram a tabaco. Mais do que uma vez, os condutores – os mais velhos – cospem pela janela ou parecem ser tuberculosos (não o digo para ser mau: é a minha experiência). Várias vezes tenho que pedir para baixarem o volume do rádio ou tirar a merda do relato do futebol. Fazem-no, normalmente de má vontade.
Há 10 anos que saio de Portugal via Portela (desde Maio deste ano tem sido via Humberto Delgado) pelo menos 10 vezes por ano. Há pelo menos 10 anos que nunca mais fui apanhar um táxi às chegadas. Subo às partidas e aí apanho um táxi. Porquê? Porque os que estão lá em baixo com o único intuito de lhes sair na rifa um estrangeiro incauto e enganá-lo formam uma mafia que controla o aeroporto. Não sou eu que o digo, mas sim os inúmeros taxistas lá de cima, eles próprios maltratados pelos colegas.
Naturalmente essas poucas dezenas de taxistas não são o bolo, só são uma fatia, mas uma fatia bem podre que, não contaminando o bolo, contaminam sim a imagem do bolo.
Quanto aos outros, sejamos realistas: muitos (não todos, eu sei) têm carros velhos, nunca usam ar condicionado, andam de janela aberta, conduzem como Fitipaldis ou andam ao rallenti. Frequentemente os carros cheiram a tabaco. Mais do que uma vez, os condutores – os mais velhos – cospem pela janela ou parecem ser tuberculosos (não o digo para ser mau: é a minha experiência). Várias vezes tenho que pedir para baixarem o volume do rádio ou tirar a merda do relato do futebol. Fazem-no, normalmente de má vontade.
12/10/2016
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O mistério do Angoche (5)
Uma espécie de conto em fascículos, a pretexto do misterioso caso do Angoche há 45 anos, sobre a aventura de Ulisses Trinta e Quatro a bordo do dito Angoche. O autor APS, de quem já aqui publicámos há dez anos os «Contributos para a Teoria Geral do Prego» é um dos detractores mais impertinentes do (Im)pertinências.
48. Leviatã [continuação de (1), (2), (3) e (4)]
«Após o almoço a decisão unânime e irrevogável (irrevogável mesmo, ou seja, sem qualquer reinterpretação pós moderna do termo) dos oficiais foi a de contratar o senhor Ulisses como passageiro tripulante com a obrigação primeira de cozinhar e, só depois, todas as outras: o fricassé de frango não permitia qualquer outra alternativa!
Os dotes extraordinários do senhor Ulisses foram-se confirmando um atrás do outro, começando com as horas cujas previsões batiam certas ao minuto tornando obsoletos e pouco competitivos os relógios de bordo e prosseguiram com as marés com indicações mais exactas do que as dos boletins meteorológicos que tinham tendência a ignorar as configurações locais das costas demasiado caprichosas para a ciência que as fundamentavam. A este respeito é importante perceber-se a importância crucial destas informações para a cabotagem. Em alguns portos as barras andavam por via de regra bastante assoreadas e sem a consideração acertada da altura da maré corria-se o risco, sempre lamentável para o currículo do comandante, de ver o navio transitoriamente quando não definitivamente encalhado. Não é muito conhecido o caso mas um comandante de um outro navio operando na mesma arte entrava num ou noutro porto aproveitando a onda que elevava um par de decímetros o fundo do navio da areia, avançando uma dezena de metros entre cada encalhe. Ao cabo de duas ou três viagens já ninguém ligava aos boletins excepto os emitidos pelo senhor Ulisses para entrar ou sair de um porto e a previsão do tempo seguiu o mesmo padrão mostrando-se consideravelmente mais eficiente do que a oficial ou seja o Senhor Ulisses para o período da semana que lhe ficava pela frente nunca falhava ou falhou uma previsão.
Numa área contudo os resultados do senhor Ulisses foram decepcionantes. Como lavadeiro não logrou conseguir e muito menos manter a tripulação minimamente limpa mas o facto de estar a lidar com a tripulação mais porca de toda a cabotagem consentiu, mesmo assim, um elogio da oficialidade que nunca vira tamanhos primores entre a marinhagem.
As operações de carga e descarga, naquela época e naquele tipo de navios, requeria intervenções humanas bastante distintas e afastadas das actuais condições em que os operadores daqueles movimentos não fazem outra coisa que não seja carregar em botões numa consola qualquer, por vezes apreciavelmente longe do local em que se efectua a movimentação da carga, isto é, aqui e ali havia que usar o físico, e bem, para enfiar os embrulhos (os contentores por essa altura eram ainda uma miragem) nos sítios certos. Num desses momentos um tripulante torceu a espinhela e umas vértebras terão saído do lugar e o homem ficou torcido sobre si próprio mais paradinho que o Cabo das Tormentas. De nada valeu terem-no levado ao hospital: as radiografias não acusavam nada partido. Mas o homem estava entrevado e, segundo a tripulação dada a pessimismos catastróficos, para sempre. De volta ao navio e já deitado na saleta que servia finalidades várias entre as quais a de enfermaria, o senhor Ulisses, na qualidade de tratador mor e único da tripulação, falava calmamente com o marinheiro encrencado tentando perceber o que lhe acontecera mas bem no fundo só para o descontrair. Depois de obter do paciente o acordo para lhe fazer uma massagem na zona onde a costeleta se tinha descarrilado propôs uma manipulação da coluna para lhe endireitar a espinhela alquebrada: Fora o milagre: cinco minutos depois o marinheiro andava no convés, pelo seu pé, mais direito do que um fuso e o senhor Ulisses conquistara, não uma posição hierárquica, mas o sentimento de irmandade entre toda a tripulação.»
(Continua)
48. Leviatã [continuação de (1), (2), (3) e (4)]
«Após o almoço a decisão unânime e irrevogável (irrevogável mesmo, ou seja, sem qualquer reinterpretação pós moderna do termo) dos oficiais foi a de contratar o senhor Ulisses como passageiro tripulante com a obrigação primeira de cozinhar e, só depois, todas as outras: o fricassé de frango não permitia qualquer outra alternativa!
Os dotes extraordinários do senhor Ulisses foram-se confirmando um atrás do outro, começando com as horas cujas previsões batiam certas ao minuto tornando obsoletos e pouco competitivos os relógios de bordo e prosseguiram com as marés com indicações mais exactas do que as dos boletins meteorológicos que tinham tendência a ignorar as configurações locais das costas demasiado caprichosas para a ciência que as fundamentavam. A este respeito é importante perceber-se a importância crucial destas informações para a cabotagem. Em alguns portos as barras andavam por via de regra bastante assoreadas e sem a consideração acertada da altura da maré corria-se o risco, sempre lamentável para o currículo do comandante, de ver o navio transitoriamente quando não definitivamente encalhado. Não é muito conhecido o caso mas um comandante de um outro navio operando na mesma arte entrava num ou noutro porto aproveitando a onda que elevava um par de decímetros o fundo do navio da areia, avançando uma dezena de metros entre cada encalhe. Ao cabo de duas ou três viagens já ninguém ligava aos boletins excepto os emitidos pelo senhor Ulisses para entrar ou sair de um porto e a previsão do tempo seguiu o mesmo padrão mostrando-se consideravelmente mais eficiente do que a oficial ou seja o Senhor Ulisses para o período da semana que lhe ficava pela frente nunca falhava ou falhou uma previsão.
Numa área contudo os resultados do senhor Ulisses foram decepcionantes. Como lavadeiro não logrou conseguir e muito menos manter a tripulação minimamente limpa mas o facto de estar a lidar com a tripulação mais porca de toda a cabotagem consentiu, mesmo assim, um elogio da oficialidade que nunca vira tamanhos primores entre a marinhagem.
As operações de carga e descarga, naquela época e naquele tipo de navios, requeria intervenções humanas bastante distintas e afastadas das actuais condições em que os operadores daqueles movimentos não fazem outra coisa que não seja carregar em botões numa consola qualquer, por vezes apreciavelmente longe do local em que se efectua a movimentação da carga, isto é, aqui e ali havia que usar o físico, e bem, para enfiar os embrulhos (os contentores por essa altura eram ainda uma miragem) nos sítios certos. Num desses momentos um tripulante torceu a espinhela e umas vértebras terão saído do lugar e o homem ficou torcido sobre si próprio mais paradinho que o Cabo das Tormentas. De nada valeu terem-no levado ao hospital: as radiografias não acusavam nada partido. Mas o homem estava entrevado e, segundo a tripulação dada a pessimismos catastróficos, para sempre. De volta ao navio e já deitado na saleta que servia finalidades várias entre as quais a de enfermaria, o senhor Ulisses, na qualidade de tratador mor e único da tripulação, falava calmamente com o marinheiro encrencado tentando perceber o que lhe acontecera mas bem no fundo só para o descontrair. Depois de obter do paciente o acordo para lhe fazer uma massagem na zona onde a costeleta se tinha descarrilado propôs uma manipulação da coluna para lhe endireitar a espinhela alquebrada: Fora o milagre: cinco minutos depois o marinheiro andava no convés, pelo seu pé, mais direito do que um fuso e o senhor Ulisses conquistara, não uma posição hierárquica, mas o sentimento de irmandade entre toda a tripulação.»
(Continua)
Etiquetas:
delírios pontuais,
se non è vero
A maldição da tabuada (40) - Não saber a tabuada nunca foi uma desculpa para errar as contas (VIII)
Episódios anteriores (I), (II), (III), (IV), (V), (VI) e (VII)
A «Curta», assim se chamava o zingarelho concebido por Curt Herzstark, que o terminou no campo de concentração de Buchenwald, começou a ser produzida depois do final da II Guerra e tornou-se uma das calculadoras mecânicas mais populares até aos anos 70.
Os números eram introduzidos nas lâminas laterais e a alavanca no topo permitir adicionar, subtrair, multiplicar e dividir, isto é tudo quanto precisa um governo socialista: adicionar mais dependentes ao Estado, subtrair aos sujeitos passivos e dividir pelos beneficiários do Estado Sucial.
E a multiplicação? perguntareis. Serve para considerar o efeito multiplicador. Exemplo clássico: o estudo de Marvão Pereira e Miguel Andraz («O impacto do investimento público na economia portuguesa»), onde os autores concluíram que «o investimento público de um Euro conduz, no longo prazo, ao aumento do produto em cerca de 9,5 euros, a receitas fiscais 3,3 vezes superiores, ao aumento do investimento privado em 8,1 euros e à criação de 230 novos empregos».
E onde pára o resultado da multiplicação? perguntareis, abusando da minha paciência. É uma pergunta impertinente e só por isso respondo: o resultado da multiplicação foi sendo adicionado à dívida pública até atingir a bela soma de 243,3 mil milhões em Agosto que, se Deus quiser, chegarão, não tardará, à conta redonda de 250 mil milhões.
A «Curta», assim se chamava o zingarelho concebido por Curt Herzstark, que o terminou no campo de concentração de Buchenwald, começou a ser produzida depois do final da II Guerra e tornou-se uma das calculadoras mecânicas mais populares até aos anos 70.
Os números eram introduzidos nas lâminas laterais e a alavanca no topo permitir adicionar, subtrair, multiplicar e dividir, isto é tudo quanto precisa um governo socialista: adicionar mais dependentes ao Estado, subtrair aos sujeitos passivos e dividir pelos beneficiários do Estado Sucial.
E a multiplicação? perguntareis. Serve para considerar o efeito multiplicador. Exemplo clássico: o estudo de Marvão Pereira e Miguel Andraz («O impacto do investimento público na economia portuguesa»), onde os autores concluíram que «o investimento público de um Euro conduz, no longo prazo, ao aumento do produto em cerca de 9,5 euros, a receitas fiscais 3,3 vezes superiores, ao aumento do investimento privado em 8,1 euros e à criação de 230 novos empregos».
E onde pára o resultado da multiplicação? perguntareis, abusando da minha paciência. É uma pergunta impertinente e só por isso respondo: o resultado da multiplicação foi sendo adicionado à dívida pública até atingir a bela soma de 243,3 mil milhões em Agosto que, se Deus quiser, chegarão, não tardará, à conta redonda de 250 mil milhões.
11/10/2016
Bons exemplos (113) - Sinais positivos do outro lado do Atlântico
Ainda é cedo para deitar foguetes porque a emenda à Constituição tem de ser votada uma segunda vez na Câmara dos Deputados e duas outras no Senado. Ainda assim, uma proposta de Michel Temer de emenda à Constituição Brasileira fixando um limite para o aumento da despesa pública nas próximas duas décadas, aprovada por 366 votos a favor e 111 contra, é um sinal muito positivo depois de uma década e meia de pletora do Estado e de despesismo pêtista.
Etiquetas:
bons exemplos,
Brasil
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (8)
Como uma continuação daqui e dali.
A sério, a minha opinião sobre António Guterres: é uma criatura honrada - tanto quanto um político profissional pode ser -, inteligente, superlativamente bem-falante e prolixo – por isso lhe chamaram picareta falante – e pusilânime. Isso ficou abundantemente provado durante os seus 6 anos como primeiro-ministro onde abria todos os dias os telejornais a lançar balões-sonda e a recuar ou avançar consoante as reacções dos jornalistas – e não dos eleitores, como as almas distraídas imaginavam. A brincar, a minha opinião escrita há quase 13 anos aqui.
Será, como dizem os seus admiradores, o melhor político da sua geração? É discutível, mas não discuto. Será a melhor escolha para secretário-geral da organização com mais regimes não democráticos ou mesmo despóticos à face da terra? Duvido. Foi escolhido pelo Conselho de Segurança por ser o mais qualificado? Duvido. Acredito que foi escolhido por ser o mais bem-falante e talvez por parecer o mais dúctil, isto é o que todos os que contam (isto é os membros permanentes) acreditaram poder manobrar com menos dificuldades.
Agora que já disse o que pensava da criatura, espero que o leitor me conceda a justiça de considerar que não estou possuído pela doutrina Somaza, e, para exemplificar os delírios dos mídia e da comentadoria doméstica, cito alguns títulos de peças laudatórias publicadas pelo Expresso, o semanário do regime:
A sério, a minha opinião sobre António Guterres: é uma criatura honrada - tanto quanto um político profissional pode ser -, inteligente, superlativamente bem-falante e prolixo – por isso lhe chamaram picareta falante – e pusilânime. Isso ficou abundantemente provado durante os seus 6 anos como primeiro-ministro onde abria todos os dias os telejornais a lançar balões-sonda e a recuar ou avançar consoante as reacções dos jornalistas – e não dos eleitores, como as almas distraídas imaginavam. A brincar, a minha opinião escrita há quase 13 anos aqui.
Será, como dizem os seus admiradores, o melhor político da sua geração? É discutível, mas não discuto. Será a melhor escolha para secretário-geral da organização com mais regimes não democráticos ou mesmo despóticos à face da terra? Duvido. Foi escolhido pelo Conselho de Segurança por ser o mais qualificado? Duvido. Acredito que foi escolhido por ser o mais bem-falante e talvez por parecer o mais dúctil, isto é o que todos os que contam (isto é os membros permanentes) acreditaram poder manobrar com menos dificuldades.
Agora que já disse o que pensava da criatura, espero que o leitor me conceda a justiça de considerar que não estou possuído pela doutrina Somaza, e, para exemplificar os delírios dos mídia e da comentadoria doméstica, cito alguns títulos de peças laudatórias publicadas pelo Expresso, o semanário do regime:
- «Vitória histórica. Governo enganado por Merkel no apoio a Guterres» (chamada na 1.ª página)
- «O mundo à sua procura» (Ricardo Costa)
- «Bruxelas deu instruções para lóbi a favor de Georgieva» (uma teoria da conspiração assente na notícia que «chegou ao governo português através de países amigos», mas negada pelo governo português na pessoa do seu MNE)
- «Costa: Não queremos fragilizar a Comissão» (um gesto piedoso do chefe Costa que poupa a Comissão à vergonha de não ter apoiado Guterres, segundo as teorias da conspiração prevalecentes)
- «Maior do que Portugal» (uma peça de Miguel Sousa Tavares, que acrescenta Guterres ao trio de quem não dizia mal: Pinto da Costa, Sócrates e Ricardo Salgado)
- «A vitória do melhor de nós» (editorial)
10/10/2016
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (52)
Outras avarias da geringonça.
Podemos medir o grau de descontrolo da execução orçamental pela crescente sofisticação da engenharia contabilística do governo socialista, na melhor tradição socrática. A acrescentar às cativações, ao congelamento do investimento e das despesas de capital e ao acumular de pagamentos em atraso (expediente que só conta a curto prazo, até serem conhecidas as contas nacionais, que no fim do dia são as que interessam para Bruxelas), surge agora o perdão fiscal e a reavaliação dos activos das empresas.
O expediente do perdão fiscal é genial. Às empresas e aos contribuintes é-lhe oferecida a possibilidade de pagarem os seus impostos em atraso sem coimas e sem juros de mora para o que basta pagarem 8% da sua dívida fiscal. Os restantes 92% podem ser pagos durante os próximos 10 anos, mas nas contas nacionais são desde já considerados como receita na sua totalidade reduzindo, nessa medida o défice que é importante para Bruxelas. E se nos próximos anos não for recebida uma parte desses 92%? Depois logo se vê.
Podemos medir o grau de descontrolo da execução orçamental pela crescente sofisticação da engenharia contabilística do governo socialista, na melhor tradição socrática. A acrescentar às cativações, ao congelamento do investimento e das despesas de capital e ao acumular de pagamentos em atraso (expediente que só conta a curto prazo, até serem conhecidas as contas nacionais, que no fim do dia são as que interessam para Bruxelas), surge agora o perdão fiscal e a reavaliação dos activos das empresas.
O expediente do perdão fiscal é genial. Às empresas e aos contribuintes é-lhe oferecida a possibilidade de pagarem os seus impostos em atraso sem coimas e sem juros de mora para o que basta pagarem 8% da sua dívida fiscal. Os restantes 92% podem ser pagos durante os próximos 10 anos, mas nas contas nacionais são desde já considerados como receita na sua totalidade reduzindo, nessa medida o défice que é importante para Bruxelas. E se nos próximos anos não for recebida uma parte desses 92%? Depois logo se vê.
A maldição da tabuada (39) - Não saber a tabuada nunca foi uma desculpa para errar as contas (VII)
Episódios anteriores (I), (II), (III), (IV), (V) e (VI)
A primeira versão do «crivo» foi construída em 1926 por Derrick Norman Lehmer, professor de matemática em Berkeley, com a ajuda do seu filho e das suas correntes de bicicleta.
O zingarelho permitia pôr em prática a teoria dos crivos, processos da teoria dos números para contar ou estimar a dimensão de um conjunto de números inteiros (por exemplo, o conjunto dos números primos inferior a x). O «crivo» de Lehmer permitia em concreto determinar os restos da divisão de um conjunto de números por outro conjunto. Teria dado imenso jeito ao governo da geringonça para calcular o que sobrava do orçamento depois de dividir as receitas pelos militantes socialistas, funcionários públicos, reformados, sindicatos da CGTP e restantes dependentes do Estado Sucial.
A primeira versão do «crivo» foi construída em 1926 por Derrick Norman Lehmer, professor de matemática em Berkeley, com a ajuda do seu filho e das suas correntes de bicicleta.
O zingarelho permitia pôr em prática a teoria dos crivos, processos da teoria dos números para contar ou estimar a dimensão de um conjunto de números inteiros (por exemplo, o conjunto dos números primos inferior a x). O «crivo» de Lehmer permitia em concreto determinar os restos da divisão de um conjunto de números por outro conjunto. Teria dado imenso jeito ao governo da geringonça para calcular o que sobrava do orçamento depois de dividir as receitas pelos militantes socialistas, funcionários públicos, reformados, sindicatos da CGTP e restantes dependentes do Estado Sucial.
Subscrever:
Mensagens (Atom)