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10/07/2013

CASE STUDY: No pain, no gain

Tenho pouca fé nos estudos económicos baseados em modelos matemáticos, ainda menos nos modelos DSGE (Dynamic stochastic general equilibrium) – ver a propósito o artigo recente da Economist New model army que aponta, com grande benignidade, diga-se, algumas das fragilidades destes modelos. E quando esses modelos tratam de multiplicadores, puxo logo da pistola, como Goebbels, o ministro da Propaganda do III Reich, quando ouvia falar de cultura.

Foi, por isso, com bastante cepticismo que resolvi fazer uma leitura em diagonal do estudo FISCAL MULTIPLIERS IN A SMALL EURO AREA ECONOMY: HOW BIG CAN THEY GET IN CRISIS TIMES? de Gabriela Castro e outros economistas do BdeP. Leitura que, sob reserva da minha parca familiaridade com estas elucubrações, me leva a concluir, uma vez mais, que este tipo de estudos baseados em modelos que simplificam grosseiramente a realidade estritamente económica e desconsideram as envolventes sociais, políticas e culturais, pertencem a uma de duas categorias: a dos que nos conduzem a conclusões erróneas e nocivas para a definição das políticas ou a dos que não nos dizem nada que não suspeitássemos.

Felizmente este estudo pertence à segunda categoria e, baseado num modelo DSGE com o curioso nome de PESSOA, conclui que os efeitos no PIB das mudanças nas políticas fiscais e orçamentais são substancialmente mais intensos nos tempos de crise do que nos tempos normais e que essa diferença se esbate ao longo do tempo, como o diagrama seguinte mostra.

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O estudo mostra-nos ainda que essas diferenças conjunturais nos multiplicadores são mais acentuadas quando a consolidação orçamental se baseia em reduções da despesa pública cujos efeitos são ainda mais recessivos. Ou seja, para poupar na recessão é melhor aumentar impostos do que reduzir a despesa. Chegados aqui, poderíamos construir uma teoria da conspiração (para os distraídos: it’s a joke!) baseada na coincidência entre a publicação deste estudo do BdeP e a demissão daquele quadro do BdeP até recentemente ministro das Finanças, que adoptou ou, mais provavelmente, foi obrigado a adoptar esse approach à consolidação orçamental mais à custa do aumento dos impostos do que da redução da despesa.

Moral da estória? Se a estória tivesse moral seria: no pain, no gain. Querendo-se evitar a todo o custo a recessão no curto prazo, isso implica manter o peso do monstro do Estado na economia e na sociedade, monstro ele próprio um factor decisivo nas recessões do passado… e nas recessões do futuro. Sendo certo que, à boa maneira lusitana, sempre podemos penar com a recessão sem nada ganhar - suspeito seja essa via que percorremos até aqui e na qual, daqui para a frente, com o Dr. Paulo Portas a coordenar as áreas económicas, corremos o risco de continuar estugando o passo.

1 comentário:

agent provocateur disse...

Os modelos são por definição simplificações da realidade e representam a afirmação das limitações que o homem tem em apreender a realidade. Como então ficar espantado quando os resultados saem errado?

Isto da economia é tão complicado que quase todos os estudos começam com uma hipótese «ceteris paribus», errada à partida pois, na realidade, nada mas mesmo nada é constante. O problema é que não existe verdadeira alternativa.