Continuação deste mito.
O equivalente actual à palavra de ordem do esquerdismo lunático do PREC «os ricos que paguem a crise», é o mote implicitamente adoptado, desta vez pela esquerda em geral a pretexto do seu conteúdo nacional-popularucho, «os alemães que paguem a crise», significando no contexto da crise europeia poupem-nos à austeridade, mandem dinheiro, perdoem as nossas dívidas passadas e deixem-nos emitir eurobonds, isto é responsabilizem-se pelas nossas dívidas futuras.
Como todos os desígnios, este também é sobretudo matéria de fé, pelo que os seus seguidores não se maçam muito a formular um racional que justifique o desígnio. Uma das poucas justificações mais elaboradas, ainda que bastante primitivas, mas não se deve esperar muito em matéria de crenças, é a putativa obrigação moral que Alemanha teria de retribuir as ajudas de que beneficiou com o Plano Marshall, depois de ter destruído metade da Europa e a uma boa parte de si própria.
No post anterior, citei o artigo do NYT de Hans-Werner Sinn que estimou o equivalente da ajuda que a Grécia recebeu ou vai receber, em termos relativos, a 115 Planos Marshall dos quais 29, ou seja um quarto, directamente assumidos pela Alemanha. Estas estimativas evidenciam a pipa de massa que os gregos já torraram ou se propõem ainda torrar. Faltava aferir, no contexto das alegadas obrigações morais dos receptores das ajudas do Plano Marshall, se a Alemanha estaria a cumprir a sua parte.
Um amigo e detractor habitual chamou a minha atenção para o facto de só uma pequena fracção das ajudas do Plano Marshall ter sido recebida pela Alemanha. Dei corda aos sapatos e fui aqui recolher alguns dados para construir o gráfico seguinte que fala por si próprio.
Considerando ter a Alemanha contribuído com um quarto da ajuda à Grécia apesar de ter recebido pouco mais de um décimo da ajuda total do Plano Marshall, parece mais adequado reverter o mote da esquerda à palavra de ordem original «os ricos que paguem a crise». Sendo assim, seria lógico considerar ricos os 3 países que mais ajuda receberam, a saber: Reino Unido (25,9%), França (18,%) e a inevitável Alemanha (11,4%), totalizando 55,3% da ajuda total.
Contudo, como o Reino Unido decidiu premonitoriamente ficar fora da Zona Euro e além disso, é governado, tal como a Alemanha, por uma coligação que a nossa vetusta esquerda costuma considerar inspirada por um neocoisismo a que costuma chamar neoliberalismo, do qual não se deve esperar nada, parece-me razoável concluir que a esquerda deveria concentrar as suas esperanças e esforços no seu correligionário senhor Hollande e enviar-lhe a factura.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário