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25/06/2012

CASE STUDY: Crescimento ou austeridade? Os quiproquós da Óropa

Os amanhãs que cantam de François Hollande, tão celebrados pelo socialismo doméstico, limitam-se até ver a uma vaga promessa de contratar durante os próximos anos 60 mil novos funcionários públicos e à reposição da idade de reforma dos franceses nos 60 anos, destruindo o quase único acquis de Nicolas Boina-aparte Sakorzy conseguido contra inúmeras manifestações. Em boa verdade, até essa reposição pode estar ameaçada pela ofensiva alemã cuja face visível é, neste caso, Herman Van Rompuy que numa entrevista a um jornal alemão (só podia) anuncia poder o Conselho Europeu recomendar aos Estados-membros a reforma dos seus sistemas de segurança social no sentido de ligaram a idade de aposentação à esperança de vida.

Quanto às políticas de crescimento, Hollande convenceu numa mini-cimeira a Alemanha, a Itália e a Espanha a apresentarem no Conselho Europeu de 27 e 28 um plano de crescimento de 130 mil milhões. Sabendo-se que o PIB da EU-27 ronda os 12 biliões, o plano de «crescimento» representa cerca de 1% do PIB para investir num número não especificado de anos. No caso português estamos a falar de dividir por vários anos um montante de investimento de 1,7 mil milhões de euros, equivalente a 35% das despesas públicas de capital orçamentadas em 2012 - ano de grandes cortes no investimento público – ou cerca de 4% da formação bruta de capital fixo de 2011. A montanha irá parir um rato, se parir.

O «crescimento» converte-se em algo pífio e a «austeridade» sai de dentro da gaveta, onde havia sido enfiada antes das eleições. O ministro das Finanças Moscovici reconhece que o Estado francês precisa cortar 7 a 10 mil milhões da despesa pública anual ou seja uns três quartos da parte francesa do famoso «plano de crescimento».

Quanto às eurobonds, logo se verá, porque se os alemães parecem conformados com deixarem os franceses brunirem o seu coçado ego com o «crescimento», não aceitarão a mutualização das dívidas nacionais sem um governo económico e financeiro europeu e a consequente transferência de soberania, como resulta claro como água cristalina das palavras de Angela Merkel no parlamento alemão dirigidas «a todos os que [...] estão empenhados em persuadir a Alemanha de que precisamos dos eurobonds, dos fundos de estabilidade, de um esquema de garantia de depósitos bancários coordenado a nível europeu, de vários milhares de milhões de euros e muito mais: sim, a Alemanha é forte. Mas também temos consciência de que a força da Alemanha não é infinita. [...] A mediocridade passaria a ser a bitola da Europa e seríamos obrigados a abandonar a nossa meta de manter a prosperidade face à concorrência internacional.» (ver artigo de Martin Wolf no FT, reproduzido aqui e traduzido aqui)

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