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04/12/2013

Comentário a um comentário que merece ser comentado

Comentário de Fernando Nogueira ao post «De boas intenções está o inferno cheio (17) – A religião é a política por outros meios?»:

«Existe uma grande diferença entre o 'capitalismo selvagem' e desumano e a 'monetarização social' a que o Papa se refere a meu ver correctamente e o sistema capitalista 'per se' para o qual ainda não conseguimos arranjar uma alternativa melhor. Não misturemos alhos com bugalhos... Ninguém está a defender o 'populismo', o comunismo, o socialismo ou o 'papismo' mas uma coisa é certa: O sistema capitalista não sobreviverá no seu presente formato, se não conseguirmos resolver rapidamente as desigualdades humanas e financeiras existentes globalmente. E a não existência actual de um sistema mais justo que promova o crescimento e ao mesmo tempo diminua as desigualdades financeiras, não quer dizer que não possa vir a existir. Tomemos por exemplo a Suécia e a Noruega onde tais disparidades não existem devido ao sistema social desenvolvido ao longo dos anos. Se queremos um sistema mais justo, é responsabilidade de todos nós, incluindo o actual Papa, denunciar e tentar eliminar as desigualdades existentes. E não estou a defender o actual Papa... faria exactamente as mesmas afirmações se fosse o Dalai Lama ou o Zé da Esquina...»

Comentário ao comentário:

O meu post não visava a exegese da exortação apostólica Evangelii Gaudium, aliás para além das minhas competências. O seu propósito era salientar as consequências político-sociais deste manifesto papal anticapitalista em linguagem panfletária e incendiária. É disto que se trata quando se lêem os n.ºs 53 a 60, que incluem leads com textos tão sugestivos como: «Não a uma economia da exclusão», «Não à nova idolatria do dinheiro», «Não a um dinheiro que governa em vez de servir», «Não à desigualdade social que gera violência».

Aliás, basta ver a recepção entusiástica dos papas e bispos da esquerda e do jornalismo de causas para se concluir que, quaisquer que tenham sido as intenções do Papa Francisco, está em causa, não apenas a denúncia dos «desvios», mas o capitalismo per se, arquétipo que nem existe no mundo real. E esse entusiasmo tem razão de ser porque o Papa Francisco, como a esquerda colectivista (na prática, toda a esquerda existente, porque um liberal de esquerda é mais raro do que um lince da serra de Malcata) rejeita o «livre mercado» e desconfia da propriedade privada, ou seja, à boleia dos seus supostos excessos, não aceita os dois pilares sem os quais não é possível a democracia nem uma vida decente para as grandes maiorias, realização nunca proporcionada pelas grandes utopias, talvez da simpatia de Francisco.

Em minha opinião, a Evangelii Gaudium é no propósito e no desenho comparável a um manifesto que um anticlerical poderia escrever demolindo a Igreja católica e os fundamentos do catolicismo à boleia das Cruzadas, da Inquisição, dos Bórgias e do money laundering do Banco do Vaticano.

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