Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

19/09/2015

DIÁRIO DE BORDO: Clowning for a cause

Aqui no (Im)pertinências já estudámos várias áreas de causas: o jornalismo de causas, as estatísticas de causas, a ciência de causas, a justiça de causas e até, pasme-se, a tradução de causas. Todas estas áreas partilham de características genialmente identificadas pelo jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos a respeito do jornalismo de causas.

Para B-B o jornalismo de causas é «sobretudo o porta-voz daqueles que não têm voz». É o jornalismo em que «não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador, do repórter». É o «jornalismo de indignação». Mutatis mutandis, isto aplica-se às restantes áreas de causas, cuja ideia central é a relatividade da verdade que depende sempre da bondade da causa.

Um exemplo clássico da ciência de causas é a genética de causas desenvolvida por Trofim Denisovich Lysenko que Estaline tornou ciência oficial até que, caído Lysenko em desgraça, a sua teoria da influência ambiental na hereditariedade das plantas foi banida em 1948.

Concluí agora que devemos acrescentar mais uma área de causas na actividade humana: o humor de causas. Para simplificar, se o jornalismo praticado por B-B é um paradigma do jornalismo de causas, o humor dos Gato Fedorento – os rapazes que trabalham na publicidade da PT e entregaram as suas economias ao GES – é um paradigma do humor de causas.

Ocorreu-me isso quando li que tinham dado um acolhimento muito ternurento ao tio Jerónimo do PCP no tempo de antena de que dispõem na TVI, em contraponto - usando as palavras Luís Osório no jornal SOL - ao «efeito Ricardo Araújo Pereira em prime time é (que) uma demolidora ameaça. Os Gato Fedorento chegam a milhões de pessoas e têm um alvo a abater: Passos Coelho. O principal e mais popular humorista português é uma faca aguçada que influenciará mais do que todos os editoriais, comentários de especialistas ou primeiras páginas de jornais. Não é um pormenor.»

A clarividente explicação de Luís Osório não é um pormenor e sugere-me que, se o jornalismo de causa não precisa de factos, o humor de causas não precisa de humor. Há um alvo a abater.

1 comentário:

Unknown disse...

O profissionalismo do humor dos gatos, não se compadece com leituras enviesadas.Não é só o RAP que sente simpatia pelo tio Jeronimo, muito amigos e eu temos, sem nuca votarmos no seu partido.