É certo que se deve esperar quase tudo de uma criatura que andou semanas a promover um vigarista chamado «Artur Baptista da Silva, suposto membro do PNUD e supostamente encarregue pela ONU de montar em Portugal um Observatório dos países da Europa do sul em processos de ajustamento», um episódio que num país decente acabaria com a credibilidade de um jornalista durante uma década.
E, só por isso, temos de relativizar os dislates de Nicolau Santos, um notório pastorinho da economia dos amanhãs que cantaram, deixaram de cantar e ele tem esperança que voltem a cantar logo que chegue a S. Bento o ungido. Como, por exemplo, as indignações da criatura no Expresso de ontem com o facto de, mesmo depois do aumento, o salário mínimo continua «o mais baixo de todos os países da EU antes do alargamento a Leste».
Se não fosse por relativizar, deveríamos fazer uma petição ao Dr. Balsemão para retirar o púlpito do caderno de Economia do Expresso a uma criatura que passa ao lado de factos básicos, como sejam: (1) O PIB per capita em ppc (EU28 = 100) de Portugal é 75, um valor que só não é ultrapassado por 8 dos 10 países ex-comunistas sobreviventes do colapso do império soviético; (2) a produtividade por hora de trabalho em Portugal é de 17,1€ (53% EU28) que só não é ultrapassado por aqueles 8 países ex-comunistas e mais 2 (República Checa e Eslováquia) e Malta; (3) nos últimos 10 anos, o PIB per capita em ppc de Portugal diminuiu, e o 9 dos 10 países ex-comunistas (com excepção da Eslovénia) aumentou e todos eles tiveram aumentos significativos da produtividade. [Dados do Eurostat 2003-13: GDP per capita in PPS; Labour productivity per hour worked]
Ainda um dia vamos ler o Dr. Nicolau a escrever a tese do sindicalista da Intersindical que há 40 anos fez umas contas de cabeça para demonstrar que o salário mínimo para um trabalhador fazer face ao que, segundo ele, seriam as necessidades básicas teria de ser não sei quantos contos. E lá teremos de ressuscitar o professor Francisco Pereira de Moura para lhe explicar as coisas no seu estilo calmo e paciente (ver este post para a estória com mais detalhes).
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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