Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

06/03/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (73)

Outras avarias da geringonça.

O apego de comunistas e berloquistas à geringonça e a dependência, sobretudo dos segundos, para apresentarem uma prova de vida é tão grande que as suas gargantas - no passado delicadas e no presente cada vez mais fundas - engolem um sapo dia sim, dia não, Como o da «reposição» dos «direitos laborais» no sector privado, em que aquelas duas pernas da geringonça, geralmente inquieta, se têm mantido prudentemente sossegadas,

Depois da euforia com «o défice mais baixo de sempre», a execução orçamental de Janeiro vem colocar água fria nas comemorações. A arrecadação de impostos diminui em relação a Janeiro do ano passado 335 milhões ou menos 11%. A despesa, apesar no conjunto não ter sofrido alterações significativas, já dá sinais de que os truques do ano passado (cativações e outros) estão a começar a emergir. como no caso dos hospitais cuja dívida não cessa de aumentar.

Por isso, só marcianos ficariam surpreendidos com o aumento em Janeiro de 1,8 mil milhões da dívida pública que subiu para uns estratosféricos mil 243 milhões.

Ainda quanto ao défice, que Teodora Cardoso classificou ironicamente de «milagre» - tradução para «medidas insustentáveis» -, classificação que o presidente Marcelo acolitado pelo primeiro-ministro se apressou a desvalorizar comparando-o com o da aparição da Senhora de Fátima, recorde-se que foi um «milagre» conseguido à custa de muita oração do ministro das Finanças (perdão fiscal, cativações, enorme redução do investimento e outros pequenos golpes) e, já agora, registe-se que não foi o melhor défice.

O melhor défice, como recordou Mira Amaral no Expresso deste fim de semana, foi o de 2,1% em 1989 de Cadilhe com juros cujo montante era na época eram em percentagem do PIB uma vez e meia os actuais, De facto, apesar da dívida actual ultrapassar os 130% do PIB o montante dos juros é de 4,2% contra os 6,2% de 1989 quando a dívida era apenas 53% do PIB, e, apesar disso, o saldo primário positivo que em 2016 foi de +2,2% foi em 1989 quase o dobro (4,1%). Não esquecendo que sem o aumento da carga fiscal o défice de 2,1% não teria sido possível (veja-se o diagrama seguinte). Como escreveu O Insurgente, «Deve Ser Isto O Virar Da Página Da Austeridade».


E para fechar o tema défice, sublinhe-se o sentido de Estado de Costa que, com uma abordagem mais própria de um capo regional socialista do que de um primeiro-ministro, se referiu às previsões do CFP como um «monumental falhanço». Para quem previu um aumento do PIB de 2,4% em 2016 que ficou em 1,4%, chamar monumental falhanço é preciso um monumental descaramento.

Já por diversas vezes nos últimos posts desta série tratei das «reformas» na educação que a geringonça pretende introduzir visando essencialmente dois propósitos: (1) satisfazer a sua clientela eleitoral aumentando o número de professores (quando o número de alunos diminui cada dia) e os seus «direitos» e (2) modificar os métodos e os conteúdos para dar satisfação às obsessões ideológicas da esquerdalhada. Resultado? Comprometer todo o trabalho dos últimos anos de Nuno Crato (e, reconheça-se, de Maria de Lurdes Rodrigues por isso substituída pela mosquinha morta Isabel Alçada). Quanto a (1), foram já contratados 3.200 «precários» com a ajuda do presidente Marcelo dos Afectos que promulgou o diploma sacudindo as mãos, como é seu costume, onde cairão também as castanhas quentes.

Sobre os «precários» leia-se este artigo de Miguel Gouveia que classifica a integração dos ditos como «um golpe baixo nas mais básicas regras de justiça e transparência, é também uma forma politiqueira de comprar votos e apoios à custa dos contribuintes».

Para terminar, cito o Expresso Diário de há dias festejando os sucessos da geringonça, não reparando que 2010 foi o ano anterior ao resgate, 2009 foi dois anos antes do resgate e os últimos 17 anos começaram em 2000 quando o euro estava à vista, os juros baixos e as ilusões monetárias estavam no auge, fez ironia sem querer: «a economia portuguesa cresceu no quarto trimestre de 2016 ao ritmo mais alto desde o segundo trimestre de 2010, o desemprego está em mínimos desde março de 2009 e a confiança dos consumidores está no valor mais alto dos últimos 17 anos.»

Sem comentários: